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TEXTOS SELECIONADOS
KFB1M£
(sigla para K Foundation Burn A Million Quid)
No dia 7 de março, a Fundação K exibiu um
filme no qual ela queima um cheque de um milhão de Libras esterlinas
no meio da sala de estar do escritor e ocultista Alan Moore, em
Northampton. Eles estavam interessados na sua opinião sobre o evento,
dentro de um contexto mágico. O texto a seguir é uma cópia
editada das suas respostas:
Eu achei que foi terrível, de algum modo, mas muito engraçado
de outro; totalmente libertário. E queimou bem - em chamas muito
claras. Eu gostaria de saber se foi como a imagem de [Isaac] Newton
aos cinqüenta anos, mas ele é representado de muitos modos
- ele organizou A Casa da Moeda Real, e isso é interessante porque
Newton foi um tipo de ponte entre a magia e a Idade da Razão. De
um lado, ele foi um alquimista e, por outro lado, ainda foi o pai de toda
a ciência contemporânea.
William Blake chamou a Idade da Razão de O Sono
de Newton, a hibernação de tudo o que estava além
da racionalidade e da razão... os valores espirituais. Este filme
representa as roupas de cama de Newton pegando fogo. É que
o dinheiro representa algo que é magicamente importante. Provavelmente,
alguém teria a reação de perguntar Por que
você não o doou à caridade? Mas na verdade quer
dizer Por que você não o deu pra mim?
Muitos ocultistas parecem gastar muito de seu tempo e energia na tentativa
de ganhar dinheiro - o que sempre pensei ser um pouco demagógico.
Se você olhar para a autobiografia de Crowley, muito de seu
tempo é gasto tentando conseguir com que alguma viúva rica
se torne logo em sua dama de vermelho, que vai lhe dar muito dinheiro.
Austin Osman preferiu, por outro lado, viver na pobreza durante
toda sua vida. Ele era um mago melhor que Crowley, sob vários
aspectos... um artista maravilhoso. Alguém disse a ele, Se
você é um mágico tão poderoso, por que não
fica rico? E ele respondeu, Você realmente acredita
que eu usaria o que posso fazer para atrair centavos? Ele ficou
horrorizado com tal noção.
Dinheiro é um fenômeno mágico. Porque não
há nada demais nele. Você não queimou, por exemplo,
comida. A maioria dos governos do mundo destróem comida diariamente
apenas para que o seu preço de mercado não caia. Você
não queimou Arte (tudo bem com os desenhos nas notas, mas
você não gostaria de tê-los em sua parede); você
não queimou Literatura - estas coisas são diariamente
queimadas; você não queimou pessoas. O que você queimou
foi um papel que simboliza algum valor.
Dinheiro como eu o entendo... tomemos o sistema americano... Nele, se
você quiser emitir novas notas você tem que tê-las garantidas
pelo Tesouro Nacional - eles emitirão notas promissórias
que garantirão o valor do dinheiro. Mas o Governo tem que sustentar
o valor destas notas promissórias com letras de câmbio governamentais.
Estas, por sua vez, têm seu valor garantido por dinheiro vivo -
é um ciclo completo; não há nada real ali. Cada vez
mais, o dinheiro é apenas uma idéia na forma de sinais elétricos
transmitidos através do mundo. Oficialmente, os bancos ainda se
comprometem em lhe pagar o valor em ouro de sua nota de £5 (cinco
libras). Mas racionalmente, se você pegasse todo o ouro do mundo,
você faria um cubo cujos lados teriam a área de uma quadra
de tênis de Wimbledon. Não há tanto ouro. Todo o dinheiro
é uma idéia na qual todas as pessoas aceitam, e por causa
disso, ele é real - não importando o fato de não
haver nada ali. Não é nada físico, e todavia é
um força que pode nivelar continentes.
Se você olhar para as sociedades da Idade de Pedra... veja a situação
dos índios norte-americanos quando os colonos brancos chegaram
e disseram Nós queremos comprar Manhattan de vocês
em troca de seis colares de contas, os índios pensaram que
estavam levando vantagem sobre os homens brancos, porque, ao seu modo
de pensar, você não possui nada. Consideravam ridícula
a idéia de que alguém poderia possuir um país. Eles
imaginaram que era como vender a Ponte do Brooklyn: Nos dê
as contas e vocês podem ficar com Manhattan. Eles não
imaginavam que a outra parte na barganha achava isso um pouco mais vantajoso.
Antes de existir dinheiro, o costume de permutar e trocar era até
certo ponto muito mais justo. Você sempre terá forças
que controlam o dinheiro e que inevitavelmente terminarão ficando
com a maior parte dele. Uma vez que você tiver controle sobre esta
força imaginária, então você poderá
começar a abusar dela. E os abusos podem ser terríveis.
Assim, se dinheiro é apenas um símbolo, então o
único gesto efetivo que pode ser feito contra o dinheiro é
um gesto simbólico. O único ataque que pode ser feito contra
o dinheiro é queimá-lo. Queimando-o, você está
essencialmente dizendo eu não acredito nisso e é
perigoso dizer que agindo assim você está se relacionando
com magia. Se as pessoas deixam de acreditar, então o dinheiro
deixa de existir. Você está fazendo uma declaração
que eu chamaria de idéia espacial coletiva da população.
Dinheiro é um código para todo o mundo material. Tudo tem
seu preço. Você pode comprar muitas vidas. Você pode
comprar muitas mortes. Eu quase posso ver esse ato como um evento profético:
o próprio mundo material é quase igual ao dinheiro e ele
é uma idéia e nossas idéias vão mudar drasticamente
dentro dos próximos 15 ou 20 anos.
Eu penso que estamos nos movendo para algum tipo de substituição
de paradigma, ou um massivo colapso coletivo mental, após algum
grande passo de algum tipo; um mudança básica em nosso pensamento.
Na política, nas religiões e nas várias estruturas
que temos construído, é provável que o mundo, não
o planeta, mas a idéia do mundo que nós criamos, arderá
em chamas no fim do mundo, ao menos conceitualmente e figurativamente
falando, mas não de modo apocalíptico, não como na
nossa noção tradicional do Armageddon. Talvez nós
sempre tenhamos imaginado que ele está caminhando em direção
ao colapso. Eu não estou tentando ser milenário sobre esse
assunto, eu não vejo a destruição e o fim do
mundo, aquela quimera que sempre parece oscilar por sob nossas cabeças.
Especialmente tão perto dessa conjuntura da História, quando
todos nossos sistemas são instáveis e oscilam para este
ponto de clímax e colapso, nós deveríamos considerar
a velocidade na qual nossa cultura está aprendendo.
Estas idéias talvez sejam melhor explicadas pela noção
de Períodos de Informação Dupla. Se você
tomar um período na informação humana, como por exemplo
quando o primeiro machado foi inventado, e considerar esse ponto arbitrário
como o início da informação humana, ao levá-lo
até o fim do Império romano nestes dez mil anos, você
tem um período de informação humana. Se você
avaliar o quanto foi descoberto e inventado durante esse período,
permitindo a você perceber um ponto subseqüente onde você
novamente tem a mesma quantidade de descoberta e invenção,
dobrando a quantidade de informação humana é óbvio
que este processo não leva dez mil anos - ele pode levar apenas
mil anos.
Entre 1960 e 1970, a quantidade de informações humanas
dobrou. Recentemente, a informação humana tem dobrado a
cada 18 meses, o que significa dizer que nesses últimos 18 meses
houve mais informação e descoberta do que em todo a história
humana anterior. Em um ponto qualquer, lá por volta de 2020, o
gráfico dispara: a informação humana estará
dobrando a cada duas semanas e ninguém saberá o que vai
acontecer depois disso. É inimaginável. Então nós
estamos em um horizonte de eventos onde você se torna um singularidade
(a velocidade de luz sendo experimentada). Isso parece representar algum
tipo de mudança séria no modo como nós pensamos.
Nós tivemos esses tipos de mudanças um pouco antes da troca
do sistema agrícola pelo industrial e etc, mas isto é, penso
eu, de um tipo diferente, algo maior. Os computadores estão inventando
mais computadores. É como se tudo o que nós sempre sonhamos
se tornasse possível no primeiro centésimo de segundo e
então toda a merda que nós não sonhamos também
se tornasse possível no centésimo de segundo seguinte. E
assim por diante...
É isso o que quero dizer quanto ao final do mundo. Não
o fim do planeta ou das pessoas, mas o fim do sistema de idéias
que representa, em verdade, tudo o que o mundo realmente é. Sonhos.
O mundo é só a nossa percepção do mundo.
Nos sistemas Cabalísticos, a percepção do mundo
físico é chamada de malkuth, e eles têm um
exercício para lhe explicar o que é isso. Por exemplo, pense
no perfume de alguma coisa que signifique algo para você. Poderia
ser o de uma rosa. Você cheira o perfume e pensa em tudo o que você
associou a esse perfume: o cheiro de cartões comemorativos perfumados,
a Guerra das Rosas, todo o que simboliza rosa e que você
consegue pensar. Isso não é nenhum malkuth. Então,
cheire o perfume novamente e apenas se focalize na pura percepção
do cheiro. Isso é malkuth.
Quando nossa percepção do mundo mudar tão radicalmente
quanto eu penso que vai mudar, então será o começo
de algo mais... inimaginável. Na luz do fogo você tem um
símbolo, o dinheiro é um código para todo o mundo
material. Você pode comprar qualquer coisa com dinheiro: informação,
todos nossos pensamentos, ações, vida, morte, nascimento,
comida, sexo... tudo. Tempo humano. Dinheiro é um código
para tempo humano, tudo, todas as nossas idéias são amarradas
àquele símbolo. No brilho de seu queimar eu posso ver o
precursor de um tipo de Armageddon simbólico.
Filmando isto, você agora pode até ver de um modo diferente.
Nós estamos a quase uns dois anos dele e ainda assim pode-se vê-lo.
Eu gosto da idéia de fazer disso algo bem remoto, um intenso espaço
pessoal, mas é filmando-a que a luz do fogo pode ser passada para
quem quiser assistí-la.
É um evento poderoso, mágico - na verdade, eu não
posso imaginar nenhuma outra explicação para isto. Você
está lidando com uma forma de idioma, um conversação
- mas você não está certo sobre o que a conversação
é, você está esperando por uma resposta.
Alan Moore
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