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ENTREVISTAS
NÓS PRECISAMOS DE OUTRO HERÓI
Por Sridhar Pappu
Depois de Monstro do Pântano, todo o mundo viu o gênio
com Watchmen que, junto com Batman: O Retorno do Cavaleiro das
Trevas de Frank Miller, uma representação de
um Batman mais velho, alcoólico e semi-trágico, gerou um
grande número de imitadores. Por boa parte dos cinco anos seguintes,
toda revista parecia retratar desestruturados sujeitos "durões"
transformados em gentis mocinhos que, como que saídos dos esgotos,
diziam pouco e matavam rapidamente.
Tendo se tornado o primeiro escritor pop star dos quadrinhos,
Moore foi cercado nas convenções e convidado a aparecer
na televisão. Ele e o artista Dave Gibbons lutaram contra
a DC por dinheiro. Então a DC, em resposta a pressão
evangélica, estampou alguns de seus títulos com rótulos
de Recomendado para Leitores Maduros. Em resposta, Moore
saiu da DC, dos quadrinhos mainstream e até mesmo
do gênero dos super-heróis, para sempre.
Moore usou todo o dinheiro de Watchmen em sua própria
editora, e começou seu infortunado magnum opus. Foi chamado
de Big Numbers, e foi realizado para ser um trabalho de 12 partes,
de 480 a 500 páginas, com 40 personagens. O script era enorme.
Moore, sua esposa e a namorada deles passaram dias inteiros fotografando
cenas para as últimas quatro ou cinco páginas da revista.
Nossos mais ambiciosos esforços são aqueles mais propensos
a grandes fracassos. O artista Bill Sienkiewicz começou
a atrasar cada vez mais seus desenhos, e então abandonou o projeto
depois da segunda edição. O seu substituto, Al Columbia,
trabalhou em uma edição e depois sumiu. No curso das coisas,
O casamento de Moore acabou e ele perdeu quase todo o dinheiro
que ele tinha ganho com Watchmen.
Não acho que [Big Numbers] foi um erro, diz Gary Groth,
editor do The Comics Journal. Acho que foi a melhor coisa que
Alan poderia ter feito - para ele e para os quadrinhos. O que aconteceu
foi uma tragédia real.
A saída de Moore era retornar aos super-herói, mas
não pela mesma porta. Ele agora acreditava que falar sobre um assunto
tal como o meio-ambiente dentro de uma revista em quadrinhos era perfeitamente
correto, mas usar um monstro de pântano para fazer isso apenas
banalizava a questão. Além disso, prendendo uma autoconsciência
aos super-heróis, uma convicção de que eles tinham
que estar fundamentados no que freqüentemente é uma realidade
terrível, o artista estava desperdiçando a grandeza fundamental
deles: a misteriosa habilidade de erguer nossos espíritos, nos
trazer mais para perto para do cenário primordial do contador de
histórias que se senta ao redor de uma fogueira num acampamento,
inventando histórias improvisadas sobre um sujeito que podia voar.
O projeto de recuperação de Moore começou
em 1996, quando ele assumiu um super-herói muito, muito ruim
mesmo chamado Supremo. Criado por Rob Liefeld, Supremo
tinha sido desenhado e escrito como um estúpido musculoso, um guerreiro
que dizia com freqüência coisas incompreensíveis do
tipo cachorrinho idiota! Volte para sua mãe! Moore
usou esta severidade para refazer a origem do herói e reciclou
elementos que tinham sido descartados pelos vários revisionistas
do Super-homem da DC. Ele encheu a revista com componentes
ingênuos e maravilhosos, e converteu o personagem central em um
modelo de perfeição moral. Supremo foi o ponto de
partida para a atual idéia de Moore de salvar a indústria
dos quadrinhos, aquele que o levara de volta aos auspícios financeiros
da DC. Em agosto de 1998, Moore tinha começado a
trabalhar em um projeto central para a Wildstorm, desenvolvendo
esboços de histórias em e escolhendo os artistas, quando
ele recebeu a visita do então dono de Wildstorm, Jim
Lee e o editor-chefe da companhia, Scott Dunbier. Durante o
almoço, Lee falou à Moore que, por causa do
instabilidade do mercado, ele tinha concordado em vender a Wildstorm
ao mastodonte comercial de onde Moore tinha se demitido a mais
de 10 anos atrás. Moore pensou em abortar todo o projeto,
mas foi lhe assegurado que ele ficaria trabalhando diretamente para os
editores da Wildstorm na Califórnia, não para os
editores da Time Warner (dona da DC Comics) sediados em
Nova Iorque.
Alan recebeu toda contribuição que ele
precisava, disse Dunbier. E sempre terá tanta contribuição
quanto quiser. Mas ele confia em nós. Quero dizer, ele confia muito
mais em nós que em muitos outros editores por aí.
É difícil dizer se todos os esforços de Moore
terão sucesso. Os varejistas reclamaram que as revistas da linha
ABC estão constantemente atrasadas, e em fevereiro, a sétima
edição de Top 10 ficou na 59a posição
da lista dos quadrinhos mais vendidos, com 32.000 cópias vendidas
no mercado direto, enquanto que Promethea vendeu 29.000, o que
é bom para um 70º lugar. Estes números são lucrativos,
mas não estão nem perto de ressuscitar as comic shops que
continuam a vender brinquedos, memorabília e até mesmo publicações
adultas para permanecerem no negócio.
Alan disseram que ele está tentando salvar os
quadrinhos? pergunta Groth, que detesta quadrinhos de super-heróis
e ainda tem que ler qualquer um das revistas da linha ABC. Bom
Deus, isso soa como um exagero desesperado. Por que alguém iria
querer salvar quadrinhos mainstream?
Há muitas coisas na indústria que Moore não
pode mudar. Tudo que ele pode fazer é esperar que apareçam
novos fãs, e esperar que os antigos fãs, que o viram redefinir
os super-heróis 14 anos atrás, voltem para ver o ressurgimento
do mito.
O que posso fazer é o que todo mundo espera que eu faça,
diz Moore durante o café, tendo voltado comigo à
sala de estar do hotel onde ele uma vez esfregara banheiros, e ignorar
o fato de o mercado popular estar afundando na privada. Eu poderia fazer
algo realmente obscuro. Eu conseguiria o apoio da crítica e venderia
1.500 cópias e incidentalmente iria falir e ganharia o respeito
de Gary Groth, e a indústria dos quadrinhos se despedaçaria
de vez. E mesmo se tudo isso acontecer e os quadrinhos caírem aos
pedaços, pelo menos eu fiz o meu melhor.
Sobre o entrevistador...
Sridhar Pappu é um escritor do staff do Chicago
Reader.
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