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ENTREVISTAS PERGUNTAS E RESPOSTAS COM ALAN MOORE Por Chris Hutchins Publicado originalmente na Wizard Magazine #95, em Julho de 1999
É muito bom, muito lisonjeiro! É bom saber que sirvo de apoio para todos meus camaradas criadores - eles podem ficar tranqüilos, pois têm o meu apoio. Com relação aos fãs que admiram meu trabalho, sou muito grato por isso. Eu só queria... [pausa] que eles tivessem mais escolhas.
Moore: [Pausa] Lembre-se, você está falando de Alan "grande-nos-anos-oitenta" Moore. Watchmen foi a mais de 10 anos atrás. Não quero ser rude ou protetor de maneira alguma, mas apenas queria que tivesse havido... [pausa novamente]. Eu gostaria de pensar nos anos oitenta agora, e tivesse acontecido algo que fosse maior e fizesse com que [Watchmen] fosse esquecida. Talvez tivesse sido ruim para mim, mas teria sido melhor para a industria. Mas não tenho certeza de que tenha havido algum trabalho que fosse tão longe, ou tentado tanto. E isso não desmerece nenhum trabalho que tenha surgido desde então, pois tem aparecido trabalhos muito bons. Eu não sei. Provavelmente eu esteja muito agitado e esteja insultando o trabalho de muitas pessoas. Mas, de qualquer maneira, esse é meu único arrependimento. Mas é muita lisonja saber que as pessoas ainda tenham meu trabalho em alta estima.
Moore: Durante boa parte de minha vida, não tive simpatia pelo oculto. Se você for em muitas dessas lojas esotéricas, você encontrará muitas pessoas que possuem lacunas emocionais em suas vidas e que tentam preenchê-las com algum estranho sistema de crenças. Mas comecei a ver pessoas que não pude deixar de não reparar. Pessoas como o doutor John Dee, um homem que inventou o conceito do império britânico, escreveu o livro definitivo sobre navegação e foi o astrólogo da corte da rainha Elizabeth. Um homem brilhante, em muitos aspectos. Mas ele gastou a última metade da sua vida transcrevendo essa coisa estranha que ele acreditava ser a "linguagem dos anjos".
Moore: Certo, mas acho que é difícil de não reparar. Pensei que não era lógico que esse homem fosse um gênio apesar disso. Achei que eu poderia olhar isso um pouco mais de perto. Então, no meu quadragésimo aniversário, decidi que antes que tivesse uma crise de meia idade, faria algo um pouco mais insano. Decidi explorar as idéias por trás da magia. Para mim, a magia tem muito a ver com criatividade, e criatividade tem muito a ver com magia. Então, se eu quisesse descobrir mais sobre criatividade, eu teria
que dar o último passo além da fronteira do racional.
Moore: Li um monte de livros. Estudei. Tentei imaginar meu caminho no meio disso. Então, em um ritual com um amigo meu, por volta de janeiro de 94, algo aconteceu, algo difícil de descrever em detalhes. Houve um tipo de fluxo de algo, algo... [pausa] que aconteceu para nós dois ao mesmo tempo. Em minha mente, sabia que era loucura. Não poderia ser possível. Mas, ao mesmo tempo, senti que um deus - um tipo de inteligência ou consciência extraordinária - nos atravessou. Fiquei completamente atônito. Passei os dias seguintes pensando, será que tenho coragem de contar isso a alguém? Mas decidi ir em frente. As pessoas ficaram preocupadas no início, mas também ficaram muito curiosas, pois eu falava com convicção. Agora, até mesmo algumas delas praticam comigo [risos]. Há um subtexto nas minhas experiências sobre magia: estou ficando louco, e estou levando [à loucura] tantas pessoas quanto posso comigo.
Moore: Qabalah é uma. É parte da tradição ocultista do ocidente. Ela inclui todos os sistemas religiosos: grego, egípcio, nórdico, cristianismo, tudo isso está lá. Em um nível, parece como um mapa do universo, mas também parece como um mapa seu, individual. Eu poderia fazer um ritual que envolvesse o deus Mercúrio. Você pode ter um diálogo com essa energia, esse conjunto de idéias que batizamos como Mercúrio.
Moore: Talvez. Durante a experiência, você realmente acredita que está falando com um deus. Quem vai dizer que você está ou não? Tentei manter minha mente aberto em relação a isso. Disse a mim mesmo, de certo modo, isso é uma alucinação. Isso é um elemento de minha própria personalidade, algum elemento do meu subconsciente. Quero dizer, se late como um deus, e cheira como um deus, provavelmente é um deus. [risos]
Moore: Você tem que ter. Muito disso é muito menos dramático do que você pode supor. É a leitura de muitos livros. E aproximadamente a cada três meses, fazemos um ritual. Ao fazermos um ritual apropriado, algo peculiar irá acontecer, e então iremos recuperar nossas forças em alguns meses e faremos tudo novamente.
Moore: [Risos] Ah, a foto. Isso é coisa do [fotografo] Mitch Jenkins. Ele sempre quis aquele olhar sombrio, assustador. Eu não sei. Para mim, minha vida é completamente normal. Não tenho nenhum desejo de ter essa aura sobrenatural. Mantenho meu cabelo desse jeito porque, francamente, acho que ele fica muito charmoso [risos]. Todos esses cachos bem naturais, sabe? Mas tenho certeza de que pareço perigoso para algumas pessoas. Por experiência, sei que se me encontrarem em alguma circunstância enevoada, eles me acharam um pouco amedrontador.
Moore: [Risos] Lembro-me de caminhar através de um conhecido parque aqui de Northampton, durante uma noite enevoada. Ouvi alguns caras se aproximando, provavelmente de um pub ou algo assim, e sabia que nossos caminhos iriam se cruzar. Eram barulhentos e espalhafatosos. Finalmente, cruzamos nossos caminhos no meio da névoa. Eles ficaram paralisados de medo. Eu continuei andando. E finalmente, um deles deu uma risada nervosa.
Moore: Sim, ele disse [com uma voz assustadora], Não sei o que foi aquilo.
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