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ENTREVISTAS PERGUNTAS E RESPOSTAS COM ALAN MOORE Por Mike Cotton Publicado originalmente na Wizard Magazine #130, em Julho de 2002 Wizard: Joe Quesada, o editor-chefe da Marvel, admitiu que está no topo de sua lista de "coisas-a-fazer" conseguir com que você trabalhe para a Marvel. Há alguma chance de isso acontecer? Alan Moore: Hmmm. Como eu disse ao Joe, a única coisa que me impede de trabalhar para a Marvel são esses problemas com Marvelman, como ele costumava ser chamado [nota: a editora americana do material de Marvelman, a Eclipse Comics, foi forçada a mudar o nome da série para Miracleman por que a Marvel declarou que o título infringia seu copyright, e desde então, Moore tem recusado-se a trabalhar para a Marvel]. E o relacionamento - ou o esperado relacionamento entre a Marvel e eu - não teve o melhor dos começos devido aquela pequena coisa do Capitão Bretanha [Nota: Foi prometido à Moore a adição de uma linha nos créditos da edição encadernada do Capitão Bretanha, onde estaria escrito que os personagens pertenciam à Marvel, mas as histórias pertenciam à Moore e ao desenhista Alan Davis. A adição não foi impressa na primeira edição da encadernação]. Joe foi muito gentil e fez o seu melhor para endireitar as coisas. Isso ao menos repara os danos feitos pelo engano. E se a Marvel puder endireitar as coisas sobre Marvelman, vai depender de outros fatores. Mesmo que isso seja reparado, eu disse a Joe que isso apenas nos colocaria de volta ao ponto onde estávamos antes de toda essa merda lamentável acontecer. Não significa necessariamente que eu irei trabalhar para a Marvel.
Alan Moore: Disse ao Joe que eu não estava realmente interessado em nenhum de seus super-heróis. Um monte de gente gosta desse tipo de coisa. E tenho ouvido que as revistas da Marvel são muito melhores hoje em dia do que costumavam ser. Realmente não tenho nenhum interesse em nenhum desses personagens de super-heróis mainstream - nenhum desses ícones. Olho para eles nesses dias e apenas vejo os homens mortos que dos quais eles foram roubados, o que é um tipo de avaliação da situação completamente fria. Se eu tiver que fazer alguma coisa para a Marvel, não será nada parecido com essas revistas. Não tenho nada a fazer com esses personagens preexistentes da Marvel.
Alan Moore: Não sei por quanto tempo vou esperar, sabe? Daqui a dois anos, posso me ver querendo voltar para os quadrinhos da linha comercial. Eu apenas meio que vou desaparecer e deixar uma espécie de fumaça negra e nociva para trás - meio que fazer os tipos de coisas obscuras que ninguém estará remotamente interessado em alguns anos, talvez fazer outro romance.
Alan Moore: Claro, quero dizer que gostaria de ver reimpresso o meu trabalho anterior e o trabalho de todas as outras pessoas que fizeram grandes coisas nessa série. E estou um pouco irritado por haver pessoas por aí que tentam impedir que isso aconteça. Pessoas que não acham que esse trabalho deva ser publicado ou que ele não pertença a mim e aos outros escritores e desenhistas interessados [Nota: Os direitos de Miracleman estão atualmente sendo disputados judicialmente por Todd McFarlane e Neil Gaiman]. Isso é o que eu gostaria. A industria dos quadrinhos está nesse tipo de arena imbecil e provavelmente sempre estará enquanto tivermos esse tipo de estrutura e controle. Da mesma forma que esse meio, ao longo dos anos, tem sido agraciado com todos esses maravilhosos artistas e escritores, ela também tem sido agraciada com uma quantidade ainda maior de babacas. Mas, como eu disse, isso não está em minhas mãos. Mas espero que isso se resolva antes minha opinião sobre a raça humana em geral e sobre a industria americana de quadrinhos em particular caia ainda mais. Todos têm um par de anos para realmente fazerem-me feliz. Mas veremos como o fazem.
Alan Moore: Aniversário de quinzes anos? O que é isso? São suas bodas de poliestireno? Quinze anos não é um número grande o bastante para permanecer em minha consciência. Não é algo que estivesse desejando começar. E houve esses problemas, sabe? Esses problemas eram completamente evitáveis à medida que surgiam. Mas coisas estúpidas aconteceram. E isso acabou com todos os meus interesses, que de início já não eram grandes. Watchmen foi uma história em quadrinhos genial. Estou muito, muito orgulhoso dela. Ainda vende bem. Está na lista de leitura de algumas universidades. Foi há vinte anos atrás! [risos] Sim, poderíamos ter vendido toneladas de coisas, merchandising e bonecos de plástico, e todas essas coisas as quais nem presto atenção. Coisas que nada têm a ver com quadrinhos. Se as pessoas querem fazer essas coisas, não vou ser estraga-prazeres... Mas não estou interessado. Não afeta a mim, mas afeta a industria, e creio que a industria é mais pobre por isso. Mas espere, a industria já é grande o bastante para tomar suas próprias decisões. Também soa meio que falso para mim. Sinto como, Vamos fingir que é a década de oitenta novamente. Vamos fingir que é 1986. Vamos promover ainda mais todas essas coisas que eram perfeitamente admiráveis para sua época. Não consigo ver outra coisa senão todo mundo tirando um monte de dinheiro dos leitores de quadrinhos, não vejo a quem isso poderia servir.
Alan Moore: Bom Deus, não! Não acho que alguém tenha recebido. Talvez haja alguns poucos protótipos, mas nunca estive interessado neles. Nunca os vi, nunca quis ver nenhum deles. Tenho certeza que estavam muito bem feitos, mas isso não é assunto meu. Não estou interessado neles como escritor.
Alan Moore: Não, não, não, não, não,
não, não, não, não. Deixe-me dizer novamente
- não! [risos] não farei nada relacionado com Watchmen.
Só houve doze números. Essa é a história completa.
Os personagens deixaram de existir ao fim do número 12. Não
existiam antes do número um. Essa é a história completa.
Não quero traí-los. Foi uma boa história. Nada disso
foi feito anteriormente nos quadrinhos, e não consigo imaginar
em muitas outras coisas como essas que tenham sido feitas depois. Estou
falando sobre o que foi realmente importante em Watchmen, que não
eram os super-heróis, foi o modo com o qual a história foi
contada. Estou muito, muito orgulhoso disso. Creio que fazer seqüências
ou qualquer coisa conectada com a série, só conseguiria
empobrecer o trabalho original. Wizard: Não poderia Haver alguma razão de revisitar Watchmen? Alguma idéia que não foi usada na série original? Alan Moore: A única razão pela qual o faria seria ganhar muito dinheiro às custas dos leitores. Por que eu deveria fazer isso? Sim, poderíamos fazer algo. Imagine como seria fácil eu dizer, Sim, vamos fazer uma minissérie dos Minutemen ou uma minissérie com a seqüência de Watchmen e vamos lançar um monte de brinquedos e muito merchandising e talvez um jogo para computador. Poderíamos fazer milhões as custas dos leitores inocentes se eu fosse cínico em relação ao meu público. Não sou o mais amistoso dos criadores de quadrinhos, sou consciente disso. Não vou a convenções. Não estou por aí, dando voltas com meus leitores. Não sou amistoso. Não sou carinhoso. Sei de tudo isso. Mas não é por não respeitá-los. É precisamente por respeitá-los. Não quero ver ninguém me tratando como um deus, sem respeitarem a si mesmos. Então, eu permaneço em casa. Mas respeito muito meus leitores, não os trato cinicamente. Não os trato como vacas leiteiras que posso ordenhar toda vez que me der vontade. Sei que sentem uma afeição genuína por meus trabalhos. Muito freqüentemente eles os lêem quando são jovens e provavelmente terão um lugar especial em suas vidas. Aprecio isso. Respeito isso, sinto-me comovido com isso. Como eu disse, sou distante e inacessível, mas isso não significa que não tenha respeito por meus leitores. Muito pelo contrário, sinto um grande respeito por eles; creio que sentem um grande respeito por mim. E não creio que esse respeito irá melhorar de algum modo se eu o monopolizar.
Alan Moore: [Risos] E o que eles irão fazer, me despedir? Mike Cotton é escritor do staff da Wizard e também
não vai à convenções - ele está cansado
de ser bem-vindo em cada um dos eventos realizados nos Estados Unidos. Leia também:
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