Tio Nicácio, ou Ludugero, ou algum dos 439 tios dissera, não misture Vostok e Nikov, é bomba. Renara marginal na própria festa depois de virar três taças de Moet Chandon fez exatamente isso. Engoliu dois dedos da vodca de subúrbio, mais três da outra, o mundo deu pinotes. Quando parou ficou macio, as coisas claras, muito. Renara a casa entupida com 7 irmãos, 77 sobrinhos e 777 primos enxergou tudo, o que não via. Transformou os braços em laços e puxou os pescoços das sobrinhas de 11, 13 e 15, olhos a brilhar de futuro:
- Escutem a tia Renara. Quando tinha a idade de vocês, só pensava em me casar. E sabem por que eu casei?
Fizeram Hum-hum. A tia Renara fechou olhos e esmagou sílabas.
- Por que eu estava lou-ca-pa-ra-tre-par.
Garfos de bolo de aniversário pararam no ar. Até tia Gerusa parou de fazer gozação com as 41 velinhas dizendo que era incêndio. O incêndio continuava:
- Eu que-ri-a-me-li-vrar-da-que-la droga de virgindade que não servia para nada – e empurrou mais um gole de vodka misturada, as meninas com olhos ao tamanho quádruplo.
A festa de aniversário prevista para terminar à meia-noite acabou seis minutos depois, todo mundo tossindo e olhando de lado. A última prima disse: Você bebeu demais, vamos terminar antes que você diga mais coisas para se arrepender.
- E vou me arrepender mesmo – gritou Renara para a porta fechada.
Lembrou que o ex-marido não telefonara.
- Vá para o infernoooooo! – gritou para a porta e para ele.
Pratos melados de bolo de ameixa formando arranha-céus na pia, duas garrafas tinham quebrado. Esqueceu disso e chafurdou presentes. Achou preciosidades: um conjunto vaporoso de sutiã e calcinha pretos dado por um primo conhecido por dar presentes desajeitados; sapatos de salto; um espelho.
Têmporas latejando, a vodca. Ajeitou o espelho no sofá, à noite os espelhos viram pessoas. E ele virou um misto de cérebro de Ruy Barbosa e músculos de Big Brother.
- Prepare-se para ver o que nunca viu, que-ri-do.
Foi tomar um banho, não iria se entregar ao amante com a pele suada. Gargalhou. O pedacinho de poliamida negra da calcinha não se ajustava ao corpo dela, antes procurava entrar nele. E o sutiã, ao se colocar no lugar além dos relevos negros mostrava mais que escondia dois delicados discos marrons, três dedos de tamanho.
Sentiu-se Rita Hayworth em Gilda. Salto alto, não sabia fazer dança de strip. Deu três voltinhas em frente ao espelho.
- Se disser “Eu nunca disse que te amava, Rita Hayworth” – leva uns tabefes. – Gosta disso? – e trouxe o bico mal coberto pelo sutiã transparente a um par de centímetros da cara do amante. E tirou a pouca cobertura. O espelho sorriu, excitado.
Enganchou a ponta dos dedos da borda lateral da calcinha e perguntaria se ele gostava daquilo também e a puxaria de lado. Mas o mundo estourou em sua cabeça TR-TRRRRRRRRRR, tinha vontade de dar socos na cabeça, mas a irritação era fora, a vodca é que transformava o telefone num alto-falante.
Mão tremendo, arranca o fone do gancho. Convite.
Renara recebe convite para
a) rever os velhos colegas na festa de 25 anos de formatura do colégio
b) jantar com uma velha amiga que lembrou de seu aniversário
c) ir à praia com o sobrinho de 18 anos e uns amigos dele
d) mostrar a cidade a um casal de turistas que não a conhece.
Continuação na sexta, dia 18. Aguardo os votos.
Quis deixar cair o fone da mão. Era a irmã, pedindo para levar Adrianinho para a praia. Havia exatos onze anos e sete meses que pedia para levar Adrianinho para a praia. Nesse período Adrianinho inchara uns noventa centímetros, acrescentou uns sessenta quilos, deixara de ser Adrianinho. Antes era um menino preocupado, agora era um jovem preocupado. Antes com o vestibular, agora com o estágio. Não conseguia namorada nem pagando. Os amigos eram piores.
Tão piores que no dia seguinte nem se deu ao trabalho de decorar seus nomes. Só decorou o nome de um, César, decorou por causa do Imperador romano, que detestava por sinal. O de sempre: a tia de quarenta com quilométrico maiô preto do tipo vovó-mandou, os garotos com calções quilométricos como manda a indústria de moda praia. Exceto César, que usava sunga daquelas do tipo antigo, colada, pequena. Instalou-se ao lado da toalha de Renara, sorriso de 400 dentes, declarou: “Sabe, ultimamente estou interessadíssimo em lixo!” e ela quase chamou o pessoal do Pinel.
Com um par de minutos entendeu, era reciclagem de lixo. Ela revelou que lavava e separava os vidros e tetra-paks e ele tomou isso como declaração de aliança e meteu o malho a falar sobre os 4 tipos de reciclagem de vidro, os 44 de plástico e os 444 de sabe-se lá o quê. Renara no começo ouviu divertida, depois interessada àquele menino que queria mudar o mundo através do... lixo. Pela primeira vez deu olhada boa nele: um palmo mais alto que ela, a carinha-de-bebê de olhos castanho-claros. E o sorriso, o sorriso que agora a ela só lembrava... lixo.
Calou-se. Garotas circulavam, lado a outro, e Renara quando pensou já dissera, Vestida como estou, não vou queimar nunca. Sem nenhuma espera César disparou:
- Você mora perto daqui. Porque não troca por um biquíni menor?
E falou como quem comenta as conclusões do painel da ONU sobre aquecimento global. Renara desarmada respondeu que tinha, mas eram um tanto pequenos.
- Quanto menor, melhor. Você não teria nenhum fio-dental?
De novo como quem discute as conseqüências sociológicas da moderna física quântica. Diante dessa lógica inflexível, não teve nada o que dizer. Levantou a toalha com estampa de coqueiros. Perguntou: Quer ir comigo?
Atravessavam a avenida quando o pensamento lhe bateu como um tijolo; Esse-menino-quer-me-ver-quase-nua. O tijolo a fez flutuar. Durante um par de quarteirões ela foi a mulher mais bela e desejável do Sistema Solar, nem Giselle nem Vera Fixher nem Marta Rocha nem nada. E o menino por incrível descobrira algo mais a falar sobre reciclagem de garrafas. No fim do segundo quarteirão ela o pegou no braço, virou-o para si, ele fechou a matraca.
E quando foram pensar os lábios de batom gloss bege de Renara já se encontravam com os lábios grossos de César, ou não se encontraram, pois suas línguas se encontraram no meio do caminho.
Sem sentir o chão, Renara e César entraram no apartamento.
O que vai acontecer no apartamento?a) César pega nos seios de Renara
b) Renara acaricia o falo de César, por cima do calção
c) Renara faz um strip-tease para César
d) César faz um strip-tease para Renara.
Continuação no sábado, 19/5.
Sem sentir o chão, Renara e César entraram no apartamento, aquela conversa de pós-beijo, Como-você-beija-bem, Não-será-a-prática, Quantas-você-já-beijou, Ih-ex-marido-não-conta. César mal conseguiu ficar sentado num pufe molão enquanto Renara ajeitava o biquíni.
Coube na mão. Não o usava havia uns cinco anos, calculou que engordara um ou dois quilos no período, nada que o fizesse entrar mais do que já entrava. Pensou no garoto. E pensou de novo: “Não, mulheres não são assim”. Uma mulher, pensou, quer segurança. Estabilidade. Um sobrenome. Casamento. Filhos. Posição social. Por isso as mulheres querem amor, e não sexo. Ela deveria deixar isso bem claro ao rapaz. Como mulher, deveria tomar cuidado com aventuras.
E cruzou a porta da saleta decidida como general em quadro de batalha, César lutando para ficar de costas retas naquela coisa fofa-em-excesso. Aproveitou-se das dificuldades dele, ajoelhou-se no pufe e seus lábios de novo se encontraram com os dele. A mão de unhas curtas e esmalte rosa-choque tocou a meio-caminho no interior da coxa peluda do garoto, a boca dela engolindo o gemido dele. Deslocou-se meio dedo se tanto e o apalpou de novo, e de novo. Um par de milênios depois a mão de Renara sentiu a lycra, já bem distendida por algo que ansiava por liberdade e apontar o céu. As línguas pararam de lutar meio segundo.
- Quantos anos você tem?
- Dezoito.
- Quarenta e um – e voltaram ao ringue enquanto a mão dela sentia o pão-de-açúcar tentar contido pelo pano preto. Levou o volume cilíndrico que tentava se erguer para um lado e outro do calção.
O mesmo volume que meia dúzia de minutos depois Renara segurava enquanto ela também tentava se sentar no pufe, com César de recheio entre ela e a mobília. Pela terceira vez seus lábios se encontraram, mas dessa vez não os lábios do batom. A cabeça do rapaz desapareceu entre os pelos negros da mulher de quarenta. Ele imitava lobos, uivava, ela olhava sem ver o lustre do teto comprado um par de meses antes.
Nenhum dos dois teve a menor idéia de quanto tempo depois estavam abraçados, César a abrir e fechar a mão como pétalas de rosa nos grandes bicos da amante, Renara os pelos com três ou quatro faixas brancas e cremosas acariciava o falo meio batido, sentindo-lhe a cabeça rosada.
a) Renara e César se tornam amantes e swingers
b) O ex-marido de Renara tenta voltar e acabam transando a três
c) César apresenta uma ex-namorada e Renara descobre como é bom transar mulher-mulher
d) Renara e César se casam e se tornam exibicionistas
Capítulo final na terça, dia 22.
Renara tinha experiência em arrastar sobrinhos, puxar pelo braço e o menino com freio de mão puxado. Mais ou menos o que acontecia com ela e César quatro semanitas depois. Karina e Antonione, foram os nomes fornecidos por meios internéticos, fakes, fakes, falsos como nariz vermelho de palhaço. Boate de nome idiota em inglês ruim, visibilidade inferior a meio palmo adiante da cara. Viu Karina, que informara que iria de vermelho, veio de branco. Antonione viria de azul, veio de preto. Apesar do esforço para observar antes de serem reconhecidos, Renara soprou seus nomes/fakes no ouvido e abriram o jogo, eles eram eles.
Três margueritas e um chope preto na mesa depois, Renara aprovou Karina, quarenta e cinco anos e decotaço super-hiper-generoso imitando Sofia Loren nos velhos bons. Antonione com charme grisalho parecendo médico de novela. Conversa de sempre, generalidades, praias, iniciantes, experiência. Foram dançar, comportados, os dois casais de origem. Renara sem precisar da ajuda dos coquetéis deslizou as mãos às nádegas do garoto, deu-lhes um tranco que o fez duplicar os olhos de tamanho. Inspirou Karina que a imitou o no seu próprio homem. Dois pares de minutos depois os lábios de batom gloss bege de Renara se enfiavam nos cabelos grisalhos de Antonione, e o peito-de-malhação de César eram amortecidos pela frente muito ampla de Karina.
Quase amanhecia quando saíram de um prédio com a discretíssima cor roxa e o estúpido nome de L´amour. Renara deixou o seu garotinho em casa, inexperiente mas adquirindo competência. Foi só a primeira. Amantes e swingers.
THE END