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A Subida
No Brasil, no interior do estado de Minas Gerais, existe algo que dizem ser o "relógio para o fim do mundo". A origem de tal Lenda se encontra numa fazenda no distrito de Monte Verde. Essa fazenda , que remonta ao século XIX, no  período do Segundo Império,  foi uma das maiores produtoras de café da região e  tinha um grande número de escravos negros. Dentre as várias lendas da região, sempre envolvendo almas penadas dos escravos mortos pela crueldade de seus senhores, uma delas se destaca pelo seu modo sutil e aterrorizante.

O Senhor do Cafezal, que era um homem muito rico, possuía um belíssimo Casarão. O Casarão ficava no alto de um platô, dando um maior aspecto de imponência visto da estrada. Tinha dois andares, num total de 36 cômodos, um "pé direito" de 3 metros e uma varanda de vinte metros na frente do Casarão. Realmente era um símbolo de poder e riqueza. Mas para seu dono algo estava faltando. Na varanda havia uma grande parede lisa e branca, que para o fazendeiro, deveria ser ocupada por um afresco que desse mais beleza ao Casarão.

Mas não era uma tarefa fácil, pois havia poucos bons pintores de afrescos no Brasil Imperial e os poucos estavam com trabalhos no Rio de Janeiro, Salvador e Ouro Preto.

Certo dia, o feitor de escravos da fazenda disse ao senhor que um dos escravos era um ótimo pintor de afrescos no Haiti antes de ter sido trazido para o Brasil no começo do século. Interessado em saber que havia um artista em sua senzala, o Senhor mandou chamá-lo. A conversa não demorou mais do que dois minutos.

_Negro!! Quero que você pinte um afresco na varanda da Casa Grande...e que seja bem bonita.
O velho escravo assentiu com um baixar de cabeça.

_Pinte uma paisagem, ou uma cena agrícola... Você sabe o que é isso?
O escravo repetiu o movimento.

_Ótimo, agora saia!

Na manhã seguinte o fazendeiro viajou para o Rio de Janeiro e disse ao escravo que queria ver o afresco pronto quando chegasse de viagem. O velho tratou logo de começar seu trabalho.

O resultado foi maravilhoso. O escravo pintou com uma técnica barroco-impressionista (o termo não é meu) aquilo que apresentava uma mulher negra com uma trouxa de roupa na cabeça subindo a estrada que a levaria até um Casarão. Qualquer pessoa que olhasse com cuidado, perceberia que aquele lugar era a própria fazenda e dizem que aquela mulher era a própria esposa do escravo. Ela lavava as roupas da Casa Grande no rio e fazia aquele trajeto todos os dias.

Quando o senhor voltou alguns dias depois, uma onda de ódio tomou conta do fazendeiro.

_Como aquele negro desgraçado foi pintar uma negra fedida na varanda da minha casa???

Como retaliação de tal ato, o senhor mandou espancar até a morte o escravo pintor e sua musa inspiradora. Os dois morreram no tronco no meio do pátio da fazenda na frente de todos os outros.

O fazendeiro tomou a decisão de na manhã seguinte arrancar o desenho à marteladas. Mas na manhã seguinte o fazendeiro apareceu misteriosamente morto em sua cama, deixando todos amedrontados. Sua esposa e filhos, temendo que aquilo fosse uma maldição, mudaram-se para o Rio de Janeiro e nunca mais voltaram.

Mas o mais espetacular é que segundo as testemunhas que viveram todos os acontecimentos, o desenho na  parede é uma contagem até o final do mundo. O desenho original mostrava a mulher negra no começo da subida até o Casarão. Hoje, qualquer pessoa que visitar a fazenda, verá que a mulher se encontra um pouco acima da metade da subida.

Dizem que a mulher sobe um pouco a cada dia e só com intervalos muito grandes de tempo pode-se perceber a sua lenta subida. Hoje existem marcas com datas no desenho mostrando a progressão da escrava; assim que ela atingir o Casarão - dizem -  será o final do tempos. Os atuais donos da fazenda não moram no Casarão (que hoje está em ruínas) e evitam o local . Mas os colonos visitam o local sempre para rezar e pedir perdão à alma da mulher que morreu de maneira tão violenta.
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