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LOUCURA: UM "DEFEITO" NA MENTE ? "A tripulação da espaçonave Terra amotinou-se contra a ordem do Universo. " Edgar Mitchell Como pode, perguntamos, uma espécie que desenvolveu razão, previsão e escolha, conduzir-se com tanta estreiteza de visão? Como podemos ser tão inteligentes e tão estúpidos? Somos realmente tão inteligentes como gostamos de acreditar? Qual é o nível de inteligência de uma espécie capaz de se apoderar de muitos milhares de quilômetros quadrados de terra fértil, batizá-la com o nome de um santo e então cobrir essa terra fértil com concreto, poluir seu ar, banir a maioria das outras criaturas vivas e pagar fortunas para nela viver? Qual é o nível de inteligência de uma espécie que pode perceber que a vida é mais do que aquilo que seus olhos vêem, uma espécie que pode falar da unidade da raça humana e da supremacia do amor; e então transforma sua sabedoria em doutrinas, que defende matando todo aquele que descrever essa unidade e esse amor em termos ligeiramente diferentes? Qual é o nível de inteligência de uma espécie que pode entender que está destruindo o ecossistema vital à sua própria existência - mas que continua a destruí-lo? Qualquer pessoa que se comportasse de modo tão irracional, sem nenhum cuidado ou respeito por seu próprio bem-estar ou o dos outros, seria classificada como insana. Um câncer planetário O comportamento não-inteligente da humanidade com relação ao seu ambiente é algo que nos lembra o câncer. O câncer pode se reproduzir com muita rapidez e sem a mínima consideração pelo resto do organismo. Ele é uma parte do corpo mas, em muitos aspectos, comporta-se como se fosse completamente separado. Ele também é estúpido, pois destrói o próprio sistema do qual é totalmente dependente. Do mesmo modo, a população humana está crescendo com muita rapidez e sem a mínima consideração pelo seu meio ambiente. Somos uma parte da biosfera da Terra e totalmente dependentes dela, mas, mesmo assim, continuamos a nos comportar como se dela fôssemos apartados. Nossas cidades corroem os campos, erradicando os ecossistemas naturais, espalhando desertos de areia e concreto. Permitimos, sem sequer pestanejar, que nosso lixo tóxico penetre nosso ambiente e envenene outras espécies. E também temos visão estreita. Pois, se continuarmos nesse caminho, é provável que causemos danos irreversíveis à biosfera e talvez destruamos a nós mesmos. Mas os paralelos vão muito além da aparência superficial e do comportamento. Quando olhamos para o que existe sob o câncer e para o que existe sob as tendências malignas da humanidade, mais uma vez encontramos padrões assombrosamente semelhantes. Pode-se pensar no câncer, em essência, como um erro de programação. Os genes no interior de cada célula são, essencialmente, um conjunto de programas químicos que dão instruções para a construção de várias proteínas complexas; o número e o tipo das proteínas que são construídas determinam a estrutura e o comportamento da célula. Embora praticamente todas as células do nosso corpo contenham o mesmo conjunto de instruções, apenas as instruções apropriadas àquele tipo de célula e sua fase atual de desenvolvimento são "ligadas" num dado momento. Mas, às vezes, conjuntos de instruções que deveriam estar "desligados" são "ligados" ou vice-versa. Isso pode ocorrer por inúmeras razões. Radiações espaciais, reatores nucleares ou tratamentos médicos podem danificar as seqüências de controle - os "interruptores" dos genes. Produtos químicos tóxicos no ar, na água ou na comida podem produzir mutações nas informações moleculares. Ou um vírus pode entrar na célula e inserir-se num gene, interrompendo sua seqüência de instruções. Guiada por um conjunto de programas inadequado, a célula danificada deixa de agir em harmonia com o resto do corpo. Torna-se uma célula "criminosa". Os resultados, em geral, são benignos. Mas, se as instruções para crescer e se multiplicar forem "ligadas", a célula "criminosa" pode começar a proliferar. Esse é o começo do câncer. Um erro em nosso software As tendências malignas da humanidade também podem ser consideradas como erros de programação. No entanto, a transição da evolução biológica para a evolução cultural significa que os "programas" que agora influenciam nosso comportamento e desenvolvimento serão encontrados não em nossos genes, mas em nossa mente. São nossas atitudes e nossos valores - o modo como vemos a vida, o modo como vemos a nós mesmos e as coisas que consideramos importantes. São essas atitudes e valores, não os nossos genes, que determinam nossas decisões e nossa atividade cotidiana. E é aqui que estão nossos erros. Podemos, por exemplo, assumir a atitude de que nosso próprio benefício vem antes do benefício dos outros. Ou imaginar que podemos possuir a terra, possuir os recursos da Terra e mesmo possuir outras criaturas. Podemos valorizar nossas posses materiais, mais pelo status que elas nos trazem do que por sua utilidade. E podemos acreditar que as conveniências financeiras ou políticas são mais importantes do que nosso bem-estar a longo prazo. Levando o paralelo com o câncer um pouquinho adiante, podemos dizer que um "vírus" penetrou na mente humana. Um conjunto de programas mentais erráticos causou mutações na consciência humana, inclinando-nos para o egoísmo e estreiteza de visão e perturbando nossa sanidade coletiva. Como isso aconteceu? Qual é a origem dessa disfunção do pensamento? Arthur Koestler argumentou que, em algum momento da jornada evolucionária, o ser humano desenvolveu uma "falha de hardware". Nosso cérebro tornou-se "mal ligado", fazendo-nos nascer com uma natureza intrinsecamente egoísta. Se assim for, parece haver pouca esperança - exceto talvez por neurocirurgia ou alguma nova droga. Mas existe uma outra possibilidade: a falha fundamental pode ser um "problema de software" - um "defeito" no nosso pensamento. Veremos a seguir que, assim como os genes numa célula "criminosa" são ligados inadequadamente, alguns dos nossos programas mentais parecem estar ativos quando melhor seria que estivessem desligados. NECESSIDADES: A SOBREVIVÊNCIA DO SELF "A felicidade pertence àqueles que são suficientes a si mesmos. Pois todas as fontes externas de felicidade são, por sua própria natureza, altamente incertas, precárias, efêmeras e sujeitas a mudanças. " Arthur Schopenhauer De todos os nossos impulsos inatos, o mais fundamental é o da sobrevivência física. É o instinto básico de evitar o perigo e buscar a segurança. Sem ele, a humanidade certamente teria se extinguido há muito tempo. Esse impulso assegura que satisfaçamos nossas necessidades fisiológicas de ar, água e alimento - necessidades que são essenciais para a continuidade do nosso ser biológico. Quando elas estão satisfeitas, somos livres para cuidar de outras exigências corporais, como as de repouso, valor, abrigo e proteção que, embora de prioridade menor, ainda são muito importantes para a continuidade de nossa existência e bem-estar. Uma vez que nossa sobrevivência cotidiana individual tenha sido garantida, podemos satisfazer outras necessidades, menos urgentes mas igualmente importantes - como a da reprodução, que assegura a sobrevivência da espécie. Como demonstrou Abraham Maslow há cerca de 40 anos, nossas várias necessidades são arranjadas hierarquicamente. As necessidades na base da hierarquia têm prioridade, mas, uma vez satisfeitas, liberam-nos para galgarmos níveis progressivamente mais elevados de necessidades. Necessidades psicológicas Uma vez que nossas inúmeras exigências físicas tenham sido atendidas, não nos enrodilhamos para dormir como fazem muito animais. Como entidades autoconscientes, temos ainda outras necessidades. Capazes de pensar no futuro, queremos saber que nosso futuro está garantido. Capazes de fazer escolhas sobre nosso futuro, queremos sentir que controlamos as coisas. Como parte de uma comunidade, o modo como os outros nos vêem é importante - queremos ser reconhecidos e aprovados. Conscientes do nosso próprio potencial, queremos sentir uma certa auto-estima. E, conscientes de nós mesmos, temos necessidade de identidade - queremos saber quem somos. Assim como as necessidades físicas, essas necessidades psicológicas são importantes para nossa sobrevivência. Elas desempenharam um papel crítico em nosso desenvolvimento como uma espécie. O reconhecimento e a aprovação, por exemplo, ajudaram-nos a nos adaptarmos ao nosso grupo social; já a necessidade de segurança ajudou-nos a evitar situações perigosas e a ter acesso aos recursos naturais que nos permitiriam satisfazer futuras necessidades corporais. Essas necessidades interiores também foram valiosas para o nosso desenvolvimento como indivíduos. Conforme íamos crescendo, elas nos ajudaram a nos relacionarmos com o mundo, a nos adaptarmos à cultura onde nos encontrávamos e a desenvolver um senso do self. Embora precisemos ocasionalmente atender aos níveis inferiores da hierarquia, a maioria de nós no mundo mais desenvolvido é impulsionada mais pelas necessidades psicológicas do que pelas físicas. São essas necessidades psicológicas que estão por trás da maioria dos nossos desejos. A necessidade de segurança, por exemplo, manifesta-se freqüentemente como o desejo por riqueza - embora o dinheiro também possa conferir um sentimento de status. Grande parte do nosso comportamento social é direcionado para ganharmos a aprovação e o reconhecimento dos outros - e o mesmo ocorre com muitas de nossas posses. Os alimentos que comemos são escolhidos, com freqüência, mais por seu estímulo ao paladar do que por seu valor nutritivo - e, se forem consumidos num restaurante de classe, melhor ainda. E o desejo sexual raramente é reflexo de uma necessidade biológica e sim de uma ou mais necessidades interiores - auto-estima, atenção, aprovação, intimidade, amor, segurança, controle, poder, excitação. Nenhuma satisfação A maioria de nós tenta satisfazer essas necessidades psicológicas através da interação com o mundo. Buscamos a realização interior através daquilo que temos ou daquilo que fazemos, através das experiências que o mundo oferece e do modo como os outros se comportam em relação a nós. Mas isso raramente parece proporcionar qualquer satisfação duradoura. Uma pessoa pode acumular imensa riqueza, mas estará ela realmente mais segura? O mais provável é que logo encontre novas fontes de insegurança: meus investimentos são seguros? Será que a Bolsa não vai quebrar? Posso confiar nos meus amigos? Devo contratar uma empresa de segurança para proteger meus bens? Outra pessoa, buscando a realização através do estímulo sensorial, pode finalmente descobrir a excelência gastronômica que procurava. Isso a satisfaz? Ou não estará ela, no dia seguinte, se perguntando se será capaz de repetir a experiência? Outra busca a fama para ser aprovada e aceita. Será feliz quando for famosa? Ou irá se preocupar por ter perdido o amor de sua família, ou por não mais encontrar satisfação em seu trabalho? Outras andam à caça do poder. Mas o poder também pode ter o efeito oposto, levando as pessoas - e, às vezes, os países - a conflitos sobre os quais têm pouco controle. Talvez acreditemos que bastaria encontrar o relacionamento certo para nos realizarmos. E assim procuramos, continuamente, pela pessoa perfeita, a pessoa que satisfaz nossas expectativas; a pessoa que satisfará nossas necessidades interiores e nos fará felizes. Mas tal realização pode ter vida curta. Talvez não se passe muito tempo até começarmos a encontrar imperfeições mesmo na pessoa mais perfeita. Parte do problema é que procuramos realização num mundo que está constantemente mudando - e mudando cada vez mais depressa. Mercados de ações sobem e descem, carros se acidentam, a moda vem e vai, os amigos ficam diferentes. É provável que qualquer satisfação que possamos ganhar seja impermanente. Mas há uma razão mais fundamental pela qual essa abordagem não funciona. Estamos reagindo às nossas necessidades mentais como se elas fossem necessidades corporais - como se sua causa estivesse no mundo exterior. Enquanto nossas necessidades corporais são um sintoma de alguma carência física (falta de alimento ou de calor), o mesmo não é verdadeiro para nossas necessidades psicológicas. A maior parte do tempo, a causa está em nossa própria mente. Sentimo-nos inseguros porque imaginamos desgraças que podem se abater sobre nós no futuro. Ou sentimo-nos com pouca auto-estima porque dizemos a nós mesmos que não somos capazes de atingir algum ideal que nos impusemos. É claro que pode haver causas físicas para nossas preocupações - as coisas não saíram como queríamos, podemos não estar atingindo nossos objetivos - mas, como veremos mais adiante, a razão pela qual nos sentimos inseguros, indignos ou o que quer que seja é tanto o resultado do modo como interpretamos e julgamos os eventos quanto um resultado dos próprios eventos. A maior parte do tempo, no entanto, esquecemos que nossas necessidades interiores têm uma causa interior tanto quanto uma causa exterior. Percebemos outras pessoas ou circunstâncias externas como as raízes do nosso mal-estar e reagimos do modo como faríamos com uma carência física - fazendo ajustamentos ao mundo físico. Mas isso trata apenas de uma parte do problema. A carência interior continua e logo reaparece sob algum outro disfarce. E assim, a aparente necessidade continua a existir. A sobrevivência do self O mesmo é verdadeiro para a nossa necessidade de um senso do self: A maioria das pessoas deriva um sentido de identidade de suas experiências no mundo e de sua interação com o mundo. Eu "sou" minha personalidade e meu caráter; eu sou meu status social e meu emprego; eu sou meu corpo e meu sexo; eu sou minha nacionalidade, meu nome, minha família; eu sou minhas crenças, minha educação, meus interesses, minhas roupas - e até, às vezes, meu carro! Tal identidade é sempre vulnerável. Ela não tem uma base permanente e, por isso, está sempre à mercê dos acontecimentos no mundo exterior. O resultado é a contínua exigência de reafirmar um senso do self e de redescobrir quem somos nós. Isso pode levar a muitos comportamentos desnecessários e, com freqüência, indesejáveis. Alguns se preocupam demasiado com sua aparência. Outros precisam defender constantemente o papel que representam. Outros se sentem insultados se alguém esquece seu nome. Outros se orgulham de sua educação e querem que os outros a percebam. Alguns argumentam durante horas em defesa de suas crenças. Outros dizem coisas nas quais não acreditam, para serem notados. Outros compram roupas caríssimas ou na moda, não por precisar delas, mas porque elas se tornaram parte deles mesmos. E se alguém danificar nosso carro - ou fizer pouco dele - nem sempre reagimos do modo que se espera de um ser racional e inteligente. Se as coisas parassem por aí, tais comportamentos seriam razoavelmente inofensivos. Mas suas conseqüências se estendem por todo nosso ambiente. E mais, quando amplificadas pela nossa tecnologia, as repercussões podem ser extremamente danosas. A amplificação do erro A tecnologia amplifica o poder inerente da mão humana e, portanto, amplifica nossa capacidade de mudar o mundo de acordo com nossos desejos. A serviço das nossas necessidades físicas, isso foi benéfico: deu-nos arados, irrigação, habitação, instalações sanitárias e aquecimento. Mas, a serviço das nossas necessidades interiores, longe está de ser benéfico. Ao assumir inconscientemente que tais necessidades também podem ser satisfeitas mudando o mundo exterior - e não sendo seres que desistem com facilidade - aplicamos nossas energias criativas e nossas tecnologias na busca de modos cada vez mais potentes de conseguir aquilo que pensamos que queremos. Mas, uma vez que nada do que temos ou fazemos trará a satisfação duradoura de nossas necessidades interiores, tudo que a tecnologia amplificou foi o erro do nosso pensamento. E com conseqüências potencialmente desastrosas. São as demandas que fazemos ao mundo, em nossa busca incansável de realização interior, que nos levam a consumir muito mais do que necessitamos fisicamente. Nenhuma outra espécie consome mais do que precisa. Mas nenhuma outra espécie tem nossas necessidades interiores ou os meios de amplificar as demandas que elas originam. É essa combinação que está fazendo com que suguemos a Terra até deixá-la seca. Nossas necessidades insatisfeitas de segurança, poder e aprovação levam-nos a tomar decisões políticas, econômicas, ambientais e industriais inadequadas. Demasiado preocupados com nosso bem-estar, dispersamos toxinas que poderíamos represar e eliminamos, descuidadamente, dezenas de milhares de outras espécies que compartilham do nosso planeta. E nossa necessidade de defender nossas próprias crenças transforma os outros em inimigos, faz-nos matar em massa e concentra metade da nossa pesquisa científica sobre a defesa nacional. Vistos sob essa luz, a ameaça nuclear, o efeito estufa, a destruição das florestas tropicais, a extinção em larga escala de espécies, a chuva ácida, a erosão do solo, o buraco na camada de ozônio, o problema do lixo atômico, a poluição, a crise de energia, a crise Norte-Sul, a crise econômica, a crise de alimentos, a crise da água, a crise habitacional, a crise da saúde pública e muitas outras crises que a humanidade enfrenta, são sintomas de uma crise psicológica mais profunda. A crise real está em nosso pensamento, em nossa percepção daquilo que realmente queremos e como fazer para consegui-lo. Como isso aconteceu? Por que presumimos que aquilo que temos ou fazemos irá satisfazer nossas necessidades interiores? HIPNOTIZADOS: A POSTURA MATERIALISTA "A sociedade conspira contra a dignidade de cada um de seus membros. A sociedade é uma empresa de capital aberto cujos membros concordam, para melhor defender o pão de cada acionista, em suprimir a liberdade de quem come esse pão. " Ralph Waldo Emerson Uma das razões pelas quais buscamos no mundo a satisfação de nossas necessidades interiores é nossa experiência passada. Quando éramos crianças em crescimento, descobrimos que podíamos satisfazer nossas necessidades de calor, alimento, conforto e estímulo influenciando o mundo exterior. Descobrimos o poder de nossas mãos. E, enquanto cultura em evolução, aprendemos o poder da tecnologia. Experimentamos como criar muitas ferramentas e aparatos adicionais através de mais modificações do nosso ambiente. Fomos tão bem-sucedidos em moldar e manipular o mundo que passamos a acreditar que a modificação do nosso ambiente seria o modo de resolver todos os nossos problemas - não necessariamente o único modo, mas o mais fácil, o mais simples. Pelas razões que já mencionamos e às quais voltaremos mais adiante, essa abordagem não funciona tão bem quando se trata das nossas necessidades interiores. Mas, seduzidos pelo poder de nossas mãos e condicionados pela experiência passada, ainda tentamos satisfazê-las do modo que melhor conhecemos. Quando esse processo deixa de nos trazer qualquer satisfação real ou permanente, não questionamos se nossa abordagem poderia estar equivocada. Em vez disso, tentamos, cada vez mais arduamente, fazer com que o mundo nos dê aquilo que queremos. Compramos mais roupas, vamos a mais festas, comemos mais comida, tentamos ganhar mais dinheiro. Ou desistimos de tudo isso e tentamos coisas diferentes. Passamos a jogar squash, compramos uma câmera de vídeo, decidimos mudar de casa ou procurar novos amigos. E, mesmo assim, a verdadeira paz interior continua tão esquiva como antes. Somos como Nasrudhin, o "tolo sábio" das fábulas sufi, que perdeu sua chave em algum lugar da casa. Mas foi procurá-la na rua, "porque", diz ele, "aqui fora está mais claro". Nós também procuramos a chave da realização no mundo exterior, porque esse é o mundo que melhor conhecemos. Sabemos como mudar esse mundo, como acumular bens, como fazer as pessoas e as coisas se conduzirem do modo que queremos - o modo que pensamos nos trará a felicidade. Sabemos bem menos sobre nossa mente e como encontrar a realização dentro de nós mesmos. Parece haver "menos luz lá dentro". Um transe cultural A experiência passada não é a única razão pela qual concentramos tanto de nossa atenção em modificar o mundo exterior. A partir do momento em que nascemos, nossa cultura nos encoraja a acreditar que o bem-estar exterior é a fonte da realização interior. Enquanto somos criancinhas, aprendemos com o exemplo dos mais velhos que é importante controlar as coisas, que as posses materiais oferecem segurança e que fazer e dizer a coisa certa é o modo de ganhar o amor do outro. Conforme crescemos, muito de nossa educação se concentra sobre o conhecimento dos caminhos do mundo, para podermos conduzir melhor nossos negócios e assim satisfazer nossas necessidades, tanto físicas quanto psicológicas. E, conforme passamos através da vida, o dilúvio diário de televisão, rádio, jornais, revistas e cartazes reforça a crença de que a felicidade vem daquilo que nos acontece. Para onde quer que nos voltemos, esse princípio é confirmado, encorajando-nos a nos tornarmos um "ter humano" e um "fazer humano" em vez de um ser humano. Lá no íntimo, a maioria de nós sabe que esse modo de agir tem seus limites. Reconhecemos que estarmos ou não contentes depende tanto de como somos por dentro quanto de como as coisas são à nossa volta. Todos nós conhecemos pessoas que podem permanecer alegres quando tudo parece estar indo mal; que não se aborrecem quando precisam esperar numa longa fila - mesmo na chuva. E sabemos de exemplos mais inusitados - pessoas que mantiveram a serenidade interior apesar das atrocidades da guerra ou iogues que parecem dormir em paz numa cama de pregos. O problema é que nossa hipnose cultural é tão forte que esse conhecimento interior raramente vem à tona. Nossa sociedade prendeu-se num círculo vicioso. Se a maioria de nós passa pela vida acreditando que o contentamento psicológico vem daquilo que temos ou fazemos, então essa é a mensagem que ensinamos uns aos outros. Se vemos uma pessoa sofrendo, é bastante provável que lhe indiquemos alguns modos de mudar a situação para que ela se sinta melhor. Quando queremos persuadir uma pessoa a comprar alguma coisa, dizemo-lhe como essa coisa a tornará mais feliz. E quando nossos melhores planos deixam de nos dar aquilo que buscamos, encorajamo-nos a tentar novamente. É como se todos nós tivéssemos sido hipnotizados - ou, para ser mais exato, como se nos tivéssemos hipnotizado uns aos outros. Uma consciência exploradora Poucos de nós questionam a validade do nosso condicionamento. Como acontece na hipnose clássica, deixamos de lado nosso próprio conhecimento e seguimos as sugestões do outro sobre o modo de ver a realidade e de nos comportar. Fazemos como todos os outros fazem. Buscar fora de nós mesmos a realização de nossas necessidades pode ter sido de muito valor no passado, quando a sobrevivência física era nossa preocupação primordial - e pode ter ainda seu valor, quando temos fome ou outra necessidade física - mas os impulsos que agora dominam nossa vida são psicológicos e não físicos; e essa abordagem raramente traz qualquer satisfação verdadeira ou duradoura. Pior, ela agora ameaça nossa sobrevivência coletiva. Esse modo operacional não apenas nos induz à proliferação dos excessos consumistas; também é a base do nosso comportamento maligno. Uma das mais danosas conseqüências de buscar no mundo a satisfação de nossas necessidades interiores é o modo competitivo de consciência. Ao perceber que o ambiente é limitado quanto ao que pode nos oferecer, competimos pelas coisas que acreditamos que nos trarão felicidade - fama, sucesso, amigos, promoção, poder, atenção e dinheiro. Tal competição é um desperdício. Leva-nos a produzir coisas de que ninguém realmente precisa e a fazer coisas que não são realmente necessárias. Encoraja atalhos por questões de conveniência financeira. Promove o pensamento canalizado e a estreiteza de visão. Leva-nos a cuidar menos do mundo do que de nosso próprio bem-estar. E até nos faz competir com a própria Natureza - inseticidas, herbicidas e fungicidas mantêm outras espécies encurraladas para que possamos, com mais facilidade e maior lucratividade, atingir nossos próprios objetivos. Esse princípio básico de operação também resulta num modo explorador de consciência. Usamos - talvez fosse melhor dizer "abusamos" - do nosso ambiente, das outras pessoas e até do nosso próprio corpo na busca por maior satisfação. Esta é a origem da nossa exploração do mundo: as atitudes e valores que se originam na crença de que nosso bem-estar interior depende daquilo que temos ou fazemos. O dinheiro, o poder e outras coisas que as pessoas freqüentemente censuram não são sua causa; são meros sintomas de um erro que está muito mais aprofundado em nosso pensamento. O modo-ego Esse é o modo de consciência que torna a humanidade tão enredada no egoísmo. Queremos as coisas para nós. Queremos controlar nosso ambiente. Queremos ter nosso próprio caminho. Em geral, vemos o egocentrismo como a influência de uma parte de nós mesmos chamada "ego" - a parte que está interessada em si mesma e preocupada com seu próprio bem-estar. Mas também podemos ver o egocentrismo como um modo de pensar. É o modo que se origina da premissa de que nossa felicidade depende daquilo que nos acontece. Pois é essa postura mental que nos leva a fazer e dizer todos os tipos de coisas para manipular o mundo - e que inclui outras pessoas - para que ele nos dê aquilo que queremos. Assim, em vez de ver o nosso eu como composto de várias partes diferentes - o que seria, afinal, um tanto contraditório - podemos considerar o eu como um único eu que funciona de modos diferentes, um dos quais é o modo-ego. A esse respeito, o ego não é tanto uma coisa como um sistema de crença - embora seja uma crença mais profundamente enraizada. O limiar da mente Nosso instinto de autopreservação é freqüentemente censurado pelos males do mundo. Mas não há nada de errado com o instinto de autopreservação em si. É perfeitamente natural buscar o próprio bem-estar e sobrevivência. Nem há nada de errado em buscar a felicidade para si mesmo. Afastar-se da dor e do sofrimento rumo a um contentamento maior é a natureza intrínseca da consciência. É o objetivo fundamental da mente. Posso decidir mudar de emprego porque acredito que serei mais feliz. Posso escolher jogar tênis de mesa com um amigo porque espero extrair algum prazer do jogo, algumas sensações boas do exercício e alguma satisfação da vitória - ou talvez de ver meu amigo vencer. Posso praticar asa-delta porque acho o desafio agradável - ou porque acho excitante a descarga de adrenalina. Posso passar meu tempo escrevendo um livro e renunciando a outros prazeres, porque ganho a satisfação de seguir meu impulso interior. Se minha mente devaneia, talvez seja porque os devaneios são mais agradáveis do que o trabalho que estou fazendo. E posso meditar, para estar em paz comigo mesmo. Isso não significa que nossa busca é sempre bem sucedida. Às vezes, por causa de estreiteza de visão ou de fatores além do nosso controle, não alcançamos nossos objetivos. Ou conseguimos as coisas que queríamos apenas para descobrir que elas não nos fizeram nem um pouco mais felizes; talvez até nos tenham feito sofrer mais. Quantas pessoas não começaram um novo emprego, um novo curso ou um novo relacionamento acreditando que eles as fariam mais felizes, apenas para descobrir mais tarde que eram mais felizes antes? Nem sempre é a gratificação imediata que estamos buscando. Podemos não gostar de ir ao dentista, mas vamos assim mesmo, para que a vida seja mais agradável mais tarde. Podemos nos preocupar com o futuro e assim criar muita inquietação para nós mesmos, porque assumimos inconscientemente que nossa preocupação nos ajudará a evitar futuras fontes de inquietação. O mesmo princípio está por trás das nossas ações mais altruístas. Podemos abandonar todo o sentido de ganho pessoal e devotar nosso tempo a ajudar os outros a se sentirem melhor, talvez expondo-nos a consideráveis inconveniências ou dificuldades. Mas nós o fazemos porque, em algum nível mais profundo, sentimo-nos melhor assim. Até mesmo o masoquista que busca infligir dor a si mesmo o faz porque isso lhe dá prazer - ou assim ele imagina. Um estado de consciência mais feliz é o limiar da mente. É o critério fundamental pelo qual, consciente ou inconscientemente, tomamos nossas decisões. Tentar desencorajar esse impulso é deixar de ver o sentido da vida. Nosso erro não está em buscar um estado interior mais agradável, mas nos modos como o buscamos. Nosso condicionamento cultural aprisionou-nos numa postura materialista - um sistema de crença que diz que, se não somos felizes, então algo no mundo da matéria precisa mudar. Esse é o "vírus" que infectou nossa mente. Esse é o "defeito" no nosso pensamento - o "defeito" que dá origem a nossas atitudes e comportamentos malignos. Pois é nessa tautologia que se baseia tanto da nossa avidez. É a razão pela qual nos tornamos tão viciados naquilo que temos e naquilo que fazemos. Viciados no mundo material Geralmente pensamos no vício em termos de drogas, mas os efeitos da nossa postura materialista têm todos os sinais que indicam a dependência aos produtos químicos. Qualquer que seja a droga (álcool, tabaco, café, tranqüilizantes ou alguma substância ilícita), as pessoas a tomam por uma simples razão: querem sentir-se melhor. Querem sentir-se felizes, alegres, relaxadas, controladas, livres do medo, mais em contato com a vida. Nesse ponto, o drogado não busca nada diferente de outra pessoa qualquer - é apenas o modo como ele o faz que a sociedade contemporânea considera inaceitável. O mesmo ocorre com nosso vício ao materialismo. Estamos tentando nos sentir melhor. Mas qualquer felicidade que obtenhamos é, em geral, apenas temporária; tão logo um "êxtase" se desvanece, saímos em busca de outro "pico". Tornamo-nos psicologicamente dependentes das nossas fontes favoritas de prazer - sexo, comida, rock'n'roll, direção, debates, futebol, brigas, televisão - o que quer que seja que nos "ligue". (Ou o que quer que acreditemos que devesse nos "ligar"). E o problema da habituação significa que precisamos de doses cada vez maiores para conseguir o mesmo efeito. Esse é nosso vício mais perigoso - nosso vício às coisas. Pois é esse vício que está sob o materialismo dos nossos tempos. E em parte alguma é esse vício tão aparente como em nosso vício ao dinheiro. DINHEIRO: A ORIGEM DE TODOS OS MALES ? "Todo o dinheiro no mundo é gasto para fazer a gente se sentir bem. " Ry Cooder Podemos agora começar a entender por que as pessoas valorizam tanto o dinheiro. O dinheiro dá-nos os meios para obter as coisas ou as situações que desejamos. Permite-nos comprar alimentos, roupas, abrigo, aquecimento e satisfazer outras necessidades físicas. Porém, muito mais importante em termos da nossa dependência psicológica, permite-nos comprar os bens e serviços que achamos que nos farão o futuro mais seguro, nos darão maior controle sobre nosso mundo, nos trarão o reconhecimento e a aprovação dos outros, nos manterão alegres e reforçarão nosso sentido de identidade. Com dinheiro, podemos comprar o que quer que seja que acreditemos que nos levará rumo a um estado espiritual mais feliz. Mas tão útil é o dinheiro para nos ajudar a conseguir as coisas que desejamos que alguns de nós parecem haver esquecido o que realmente estamos buscando. Muitos se comportam como se o dinheiro em si fosse o limiar último. Para eles, simplesmente ter dinheiro torna-se uma fonte de segurança, reconhecimento, poder e identidade. O valor de si mesmo e o valor financeiro tornam-se indistingüíveis. No mundo de hoje, aqueles que têm dinheiro são freqüentemente vistos como os "felizardos". Muitos dos "menos afortunados" desejariam ter mais dinheiro; pois então, pensam eles, todos os seus problemas se resolveriam. Como resultado, muitos de nós estamos continuamente em busca da melhor aquisição, do melhor negócio, do melhor salário, do melhor retorno sobre o investimento. A premissa implícita é: quanto mais dinheiro tivermos, mais felizes seremos. Não entrarei nos "certos e errados" de sistemas econômicos específicos. Nem explorarei a realidade (ou irrealidade) do dinheiro, a natureza do crédito, os mistérios secretos do sistema bancário mundial ou a moralidade questionável da usura. Outras pessoas, bem mais qualificadas do que eu, já trataram de tais assuntos - e, sem dúvida, continuarão a fazê-lo. Basta dizer que a maioria de nós foi aprisionada, e muito bem aprisionada, pelo dinheiro. Mais lenha na fogueira Não é preciso um grande intelecto para ver que as conveniências financeiras estão por trás de muitas das nossas decisões equivocadas, da nossa desumanidade uns para os outros, do tratamento cruel que infligimos a outras criaturas e da nossa atitude arrogante em relação ao nosso ambiente. Quantas vezes não ouvimos dizer que sairia caro demais evitar um certo tipo de poluição? Por que outra razão deixamos montanhas de cereais encalhadas num país, enquanto milhões de pessoas morrem de fome e poucos milhares de quilômetros dali? Há outros modos, também, pelos quais nosso apego ao dinheiro exacerba a crise global. A teoria econômica afirma que uma economia em crescimento é saudável. Até certo ponto, pode ser verdade; crescimento econômico significa mais produtos e serviços e, na maioria dos casos, um padrão de vida mais elevado. Mas poucas pessoas param para pensar se nós, no Ocidente, realmente precisamos melhorar ainda mais nosso padrão de vida. Continuamos aferrados à noção de crescimento econômico - e quanto mais rápido crescem nossas economias, mais consumimos e mais resíduos produzimos. E tampouco devemos ignorar o provável impacto de países do Terceiro Mundo lutando arduamente para nos alcançar e atingir padrões similares aos que desfrutamos. Pode-se argumentar que sua necessidade de crescimento é muito mais urgente que a nossa. Mas a que custo? Ela aumentará, inevitavelmente, o consumo de recursos e a produção de resíduos, adicionando mais lenha à fogueira global. Além disso, a maioria desses países mais pobres tomou grandes empréstimos para poder financiar seu desenvolvimento. Muitos acham-se, agora, incapazes de gerar riqueza adicional suficiente para pagar os juros - que dirá o principal! - de suas dívidas e são forçados a vender seus recursos naturais pela melhor oferta. Como resultado, florestas tropicais são consumidas ainda mais rapidamente. Espécies tornam-se extintas antes mesmo de podermos classificá-las como ameaçadas. Mais e mais é arrancado da Terra, para satisfazer a demanda crescente de matérias-primas. E os resíduos gerados por toda essa atividade industrial adicional empestam o ar, poluem a água e envenenam o solo. E continuamos a ouvir que crescimento econômico sustentado é riqueza. Riqueza para quem? Vivendo de ilusões Uma vez que quase todos nós no Primeiro Mundo já temos a maioria das coisas de que precisamos para nosso bem-estar físico, o único modo de nossas economias poderem continuar a crescer é voltando-se para a satisfação das nossas necessidades psicológicas. O fato de que os bens materiais não podem nunca saciar realmente essas necessidades precisa ser mantido em silêncio. Em vez disso, um sentido artificial de escassez deve ser criado. Precisamos ser convencidos de que não estamos realizados do modo que somos. Que não podemos nos contentar com aquilo que temos. Precisamos ser persuadidos de que usar o último modelo de jeans nos fará sentir melhor; fumar uma certa marca de cigarro irá melhorar nossa imagem; ser cliente de um certo banco nos trará maior segurança; comprar um carro novo fará nossa vida mais confortável; jantar num certo restaurante nos trará maior satisfação. E por aí em diante. No entanto, antes de censurar o "sistema", devemos lembrar que, para que tal persuasão funcione, precisamos primeiro sucumbir a ela. E sucumbimos a ela porque permanecemos sob a ilusão de que nossas necessidades interiores podem ser satisfeitas por aquilo que temos ou fazemos. Raramente paramos para perguntar: serei realmente mais feliz se comprar este novo produto? Em vez disso, continuamos com a sedução. Somos os perpetuadores do sistema, tanto quanto somos suas vítimas. O arqui-hipnotizador A última coisa que nosso atual sistema econômico deseja é ver que acordamos e percebamos que não precisamos realmente da maioria das coisas que compramos. Ele não quer que percebamos que existem melhores caminhos para a satisfação interior do que o consumo ininterrupto. Isso removeria o motor da economia. Será por isso que nossa cultura materialista reluta em levar a sério o desenvolvimento espiritual? Será que ela suspeita (talvez de modo inconsciente) que, se nos tornássemos menos apegados ao mundo material, menos viciados naquilo que temos e fazemos, nosso sistema econômico cairia em pedaços? O sistema que nos elevou da pobreza, do sofrimento físico e das dificuldades está, de súbito, dizendo-nos: "Parem aí." Ele agora nos bloqueia o caminho para uma maior libertação, dizendo-nos que "isso é tudo o que existe" e que "o progresso material é o melhor caminho para a paz interior". Ele não pode dar-se ao luxo de nos deixar ver as limitações da nossa postura redundante. Pelo contrário, ele precisa manter-nos convencidos de que basta termos um pouquinho mais das coisas que ele tem a nos oferecer para nos aproximarmos da satisfação interior. A sociedade está presa num círculo vicioso. A premissa de que o bem-estar material é o caminho para o bem-estar interior serve de base para nosso amor ao dinheiro. E nosso amor ao dinheiro leva a um sistema econômico que precisa manter essa ilusão. Precisa assegurar que permanecemos nesse estado de transe. Em outras palavras, nosso atual sistema econômico pode muito bem ser o mais penetrante e persuasivo de todos os nossos hipnotizadores culturais. Rompendo o círculo De algum modo, esse círculo vicioso precisa ser rompido. Mas precisamos rompê-lo na base. Um médico não cura o paciente simplesmente tratando os sintomas. Se ele não procurar a causa subjacente, é quase certo que o problema reaparecerá mais tarde ou voltará sob algum outro disfarce. Do mesmo modo, não curaremos as doenças do mundo pela introdução de novos modelos econômicos. Eles apenas suprimem os sintomas das nossas inquietações. A raiz do problema - nosso apego às coisas - persistirá e com ela, o anseio por dinheiro para comprá-las. A corrupção continuará; quem puder, acumulará e esconderá o máximo possível - como mostram as contas nos bancos suíços de muitos líderes depostos, de qualquer linha política. Tampouco devemos eliminar o dinheiro da nossa sociedade, como propuseram alguns pensadores mais radicais. É essencial que haja algum meio simbólico de troca - talvez eu não queira sempre receber frangos em troca dos meus painéis solares. Não é o "dinheiro" que é a origem de todos os males - como afirmam muitos, equivocadamente - mas "o amor ao dinheiro". E o nosso amor ao dinheiro é, em si, apenas um sintoma de um erro mais profundo: nosso vício ao mundo das coisas. Se quisermos ultrapassar essa fase materialista da nossa evolução, é à raiz de nossas inquietações que devemos dar atenção. Para ver o que isso acarreta e para onde pode nos levar, precisamos primeiro observar alguns dos efeitos desse modo operacional ultrapassado sobre nossa vida pessoal. Pois é em nossa vida pessoal que começaremos a encontrar as chaves para a mudança. |
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