Entregar-se ao Amor é
Entregar-se ao Outro?
(Osho)
A primeira coisa: Vocês não podem se entregar um ao outro. Vocês podem, ambos,
se entregar ao amor mas não podem se entregar um ao outro. E se vocês quiserem
se entregar um ao outro, estarão pedindo por dificuldades. Esse é um dos maiores
erros que os amantes cometem - quase todos os amantes o cometem: eles acham
que a entrega tem de ser de um para o outro. Então, sob o nome de entrega, começa
uma sutil dominação. A entrega tem de ser para o deus do amor, não para o outro,
do contrário haverá dificuldade, muita dificuldade.
Primeiro abandone essa idéia de entrega. Você se entrega para o amor, ela se
entrega para o amor - aí vocês se encontram. Mas ela não está se entregando
a você e você não está se entregando a ela, então você não pode dizer a ela
que se entregou e agora ela tem de se entregar - esse jogo não pode ser jogado.
Você não pode dominar através da entrega e ela não pode dominar através da entrega
porque ambos vocês estão entregues ao amor. Agora não existe maneira de dominar
o amor. Você está entregue a uma coisa maior do que ambos vocês - esse é o significado
de "deus do amor".
O próprio mito, de que existe o deus do amor, é bonito, é uma tremenda compreensão.
Então os dois amantes podem se entregar ao deus e permanecem independentes.
E quando vocês são independentes, existe beleza - do contrário, você se torna
apenas uma sombra, ou ela se torna uma sombra.
Não há necessidade de se tornar sombra de ninguém: você permanece você mesmo,
ela permanece ela mesma. De fato, entregando-se ao deus do amor, você se torna
autenticamente você mesmo e ela se torna autenticamente ela mesma. Você nunca
é tão autêntico como quando se torna autêntico pela primeira vez. Dois seres
autênticos podem amar e podem amar autenticamente... e então não há necessidade
de se segurar.
De fato, por que você está se segurando? Existe um medo de que se você não se
segurar, se der tudo, ela irá dominar - então você não tem nada mais para dar.
Então damos apenas em partes... mantemos a cenoura pendurada à frente - essa
é a razão pela qual seguramos. Mantemos o mistério.
Existe alguma compreensão nisso, uma compreensão animal, de que uma vez que
o mistério seja conhecido, o mistério está acabado. Nós amamos o mistério, amamos
o desconhecido: quando é conhecido, mapeado, mensurado, fim! Então o que mais
existe aí? A sua mente aventureira vai começar a pensar em outras mulheres e
ela começará a pensar em outros homens. Isso é o que tem acontecido com milhares,
milhões de maridos e esposas: eles olharam um no outro totalmente - está acabado.
Agora o outro não tem alma porque não existe mistério - a alma existe no mistério.
Essa é a lógica nisso. Mas quando você é completamente independente e não está
preocupado de que ela possa dominar, e você não está entregue a ela mas ao deus
do amor, então você pode se abrir totalmente. Porque, então, não é uma questão
dela estar com você ou não estar com você. Deixe-me sublinhar essa idéia: quando
você está entregue ao deus do amor, então não é muito importante se ela permanece
com você ou se o deixa ou se você a deixa ou permanece com ela. Uma coisa é
importante, que o amor permaneça. A sua entrega é em direção ao amor, não em
direção a ela. E a entrega dela é em direção ao amor, não na sua direção. Então,
a única questão é não trair o amor. Os amantes podem mudar, o amor permanece.
Uma vez que você tenha compreendido isso, não existe medo.
Não estou dizendo que você tenha que mudar - não há necessidade - mas isso tem
que ser compreendido absolutamente: os amantes podem mudar e, ainda assim, o
amor não é traído. Você ainda estará amando - alguém mais, alguma outra imagem,
alguma outra forma, mas você ainda estará amando, ela ainda estará amando. O
amor tornou-o tão feliz que você não pode traí-lo. Uma vez que isso tenha sido
compreendido, tomado como garantido, então você pode se abrir totalmente. E
nesse próprio abrir-se, vocês se tornam um. Quando duas pessoas estão abertas,
elas não são duas. E é aí que está o preenchimento. Isso é o que todo amante
está buscando, procurando, ansiando por isso, sonhando com isso, desejando,
mas não compreendendo corretamente - vocês continuam buscando e procurando numa
direção errada.
Então, a primeira coisa errada é a idéia de se entregar um ao outro. A segunda
coisa errada é ficar com medo de que ela possa deixá-lo ou que você possa deixá-la.
Ambas estão erradas e, uma vez que essas atitudes erradas desapareçam, você
pode realmente se abrir - não existe medo então; por que ficar fechado?
Ela pode não estar aí no momento seguinte, por que não permitir que ela o veja
totalmente? Ela pode não encontrá-lo novamente - não há obrigatoriedade, não
há inevitabilidade. Esse pode ser o último encontro de vocês, esse momento pode
ser o último momento. No momento seguinte ela pode morrer, no momento seguinte
ela pode se tornar atraída por alguém mais. No momento seguinte, você pode morrer,
no momento seguinte você pode começar a pensar em alguma outra mulher.
Então, o momento seguinte não pode ser predito. Esse é o último momento - por
que não se abrir? Por que não dar totalmente seja o que for que tenha para dar?
Assim não há arrependimento mais tarde sobre o que você não deu para aquela
mulher, sobre o estar se segurando. Quando não existe medo do futuro, quando
você não está tentando manipular o futuro, você não quer que o futuro seja de
uma certa maneira - você nunca sabe. Quando você permanece na ignorância sobre
o futuro, existe uma abertura.
E a entrega não é de um para o outro, então não existe medo de dominação. Você
pode relaxar, ela pode relaxar. Nesse relaxamento as duas energias se encontram
e se misturam e um único momento pode se tornar quase uma eternidade. Um único
momento pode ser tão preenchedor que você pode viver por vidas e não ser capaz
de conseguir aquele preenchimento.
Isso acontece naquele único momento de eternidade, então você conheceu o outro
e o outro conheceu você. E esse conhecimento não destrói o mistério de vocês
- de fato, pela primeira vez, ele abre a porta para o mistério mais íntimo.
Esse conhecimento não destrói o desconhecido. Esse conhecimento prova que o
desconhecido é incognoscível.
Osho