É possível uma definição de vida?



Na história da humanidade a morte já foi um espetáculo público, algo tenebroso e agora não passa de um mistério espiritual. Cientificamente já foi definido quando alguém pode ser considerado morto: a partir do momento que há morte cerebral. Mas e para a vida, existe uma definição? Aborto, eutanásia e células-tronco são mesmo um atentado contra ela?
Alguns médicos e religiosos defendem que o início de uma vida acontece na concepção e qualquer ato feito contra um embrião é crime, já que se opõe à Declaração Universal dos Direitos Humanos, que afirma que todo indivíduo tem direito à vida.
O aborto foi (e é) motivo de discussão entre pessoas de diferentes credos, culturas e intelectos. Antigamente, o direito de abortar, mediante a apresentação do BO (boletim de ocorrência), era dado às mulheres grávidas de fetos anencefálicos ou vítimas de estupro. Atualmente, já não é necessário apresentar o BO e, caso uma mulher queira abortar e não tenha sido vítima de estupro, basta alegar ter sofrido tal violência e uma permissão lhe será concedida. Alguns defendem esta lei, pois confiam na honestidade das mulheres e preocupam-se com sua saúde; outros, porém, são radicais ao defenderem a tese dos "Direitos Humanos", que todos têm direito à vida, independentemente de como ela foi gerada.
Após a polêmica do "caso Terri Schiavo", em que a eutanásia foi feita, esta foi um foco midiático por tempo suficiente para todos refletirem e pensarem no que é certo ou errado. Schiavo passou 15 anos em estado vegetativo (que não é morte, pois algumas regiões do organismo permanecem ativas) e, após este tempo, os médicos, a pedido de seu marido, desligaram os aparelhos, causando sua morte. Isto é considerado crime, mas neste caso a eutanásia foi aceita, e por quê? Será que os médicos (e a justiça) estavam compadecidos com o sofrimento da família ou apenas perceberam as despesas que tantos cuidados estavam resultando?
Contemporaneamente, os cientistas "apostam" em células-tronco, que são como "células-virgens", podendo executar a função de outras que estariam danificadas. O problema é que o estudo de tais células ainda é recente e, apesar de a mídia não divulgar, muitos erros estão acontecendo, principalmente em células adultas. Sendo assim, a esperança é baseada em células embrionárias, mas ao nos depararmos, novamente, com a questão do que pode ser considerado crime, não se tem uma certeza a este respeito, pois há mulheres que ficam grávidas apenas para utilizar as células do embrião, enquanto há quem diga que a vida é gerada no momento da concepção e utilizar células de um embrião é o mesmo que privá-lo do direito à vida.
Será que um dia alguém encontrará, verdadeiramente, a definição de "vida" sem que haja controvérsias? Com temas tão polêmicos como aborto, células-tronco e eutanásia, uma pergunta fica no pensamento de todos: "matar para viver ou morrer para não matar"? Seria isto algo lógico ou estamos regredindo à irracionalidade da "lei do mais forte", característica dos primórdios da humanidade?


Anne Mendes