Roda dos sonhos e nostalgia eterna: viril sensações
A última praga sentenciada pelo malgrado deus do espetáculo foi certamente um sentir-se ruim ad aeternu. Não é preciso gastar tantos esforços para perceber que sempre há alguém disposto a jogar tudo pro alto ou a se prender a qualquer coisa. Talvez, todos nós, em graus diferentes, nos sintamos assim. Não posso dizer que a bem aventurada burguesia se sinta bem em pleno tédio capitalista. Nossos planos imaginários – correspondentes vivos da luta contra o racionalismo científico – começam a delirar e a rodar em círculos contra nós mesmos. Todos esses métodos e princípios de resistências sempre nos ensinam algo, e tem nos dito ultimamente que a incompatibilidade destes com os termos “certo”, “correto”, “verdadeiro” não é nada mais que um soluço em meio a masturbação.
Variando entre as estações de purgatório florido, inferno, purgatório frutífero e paraíso, estão todos que conscientemente laçaram-se à recusa do padrão imposto. Essa certeza que há algo errado, sempre nos rondou. Quem nunca sentiu estar sendo vigiado? Quem nunca se entristeceu por pouco? Quem nunca se inconformou com o mundo? Todas estas sensações que perambulam nosso cotidiano estão dispostas apenas porque nossos ambientes não nos agradam. Hora ele nos vigia, hora nos puni. Daí é fácil dizer porque é tão bom gozar. É a certeza que verdadeiro prazer só encontramos em tal momento, que por sinal não dura muito.
De um lado se sentam aqueles que não vêem como criar nossas próprias situações de vivência, do outro sentam os que querem impor seus métodos para administrarem suas mudanças. E onde sentamos nós? Obviamente não estamos sentados, pois temos mais o que fazer do que teorizar posições. Sabemos que o conformismo assola a todos que ou são cooptados pelas beneficies do espetáculo ou não encontram alternativas ao seu redor. Para o ultimo caso a explicação é bem simples, a alternativa não está ao redor, mas é você mesmo. Não é nas imagens dos outros, mas em sua própria sexualidade. Nossos sonhos não estão dispostos nos ambientes cotidianos. Não cabem em nenhum desses desenhos televisivos, pois nossos desejos vão além. Não podemos mais ambientar nossos sonhos nessa realidade a qual não realizamos, nem formatá-lo conforme a situação. Só há uma razão para a manutenção de nossas vidas: a experiência dos prazeres humanos. Esperar que a próxima encarnação venha ou mesmo o reino de Deus, é simplesmente interromper o gozo e querer desfrutar do furor total.
O olhar com que nos vestimos para participar de um jogo cujas regras não criamos é de lástima. Os burgueses pedem a expressão do capital financeiro, os burocratas clamam pelo capital político e suas legalidades, os ditos libertários por um assembleismo ótimo para trocar idéias. Uma visão de sonhos nos trás a lembrança (triste para alguns) que o poder se emana de todos os indivíduos, e que mesmo em uma assembléia o poder simbólico se instaura. A falta de alternativas nos cria um fenômeno interessante (no caso dos homens): a certeza da futura impotência, nos faz desde já malhar os dedos treinar a língua. É a decadência viril.
Mas temos de nos preocupar ainda conosco. Nossos problemas se resumem na não realização dos nossos sonhos, mediante uma nostalgia pseudonatural. Enquanto a revolução não “chega” finjamos estar nos preparando para mais uma roda de sonhos em uma noite impossível de ser boa. Nossos rifles – que alguns já transformaram em canetas – aguardam angustiados, o dia do uso. O ultimo carneirinho, após pular a cerca nos dá a mensagem que não estamos mais dormindo. Não há em lugar algum algo que nos faça nos submeter àquilo que não condizem com nossos sonhos. As cidades não são os lugares ideais, a escola não é o local de aprendizagem, o banco não é onde tem valor... O que realmente nos importa é estender ad aeternu esse momento do gozo. Parar de nos adaptar ao meio, criar um ambiente satisfatório para nós.
Não posso imaginar que o padrão tem que ser seguido. Todos estão lutando contra tudo, e pela realização subjetiva de seu prazer. A transcendência é o lugar ideal para realização de todas as assembléias, pois é o lugar comum que todos visitamos e dialogamos. Não esperemos o verde, este vermelho demora demais. E depois não há prazer algum em ficar parado. O melhor é realizar a cena perfeita para o torpor após a impossível arte de satisfazer-se.
A roda de sonhos nos selecionará para realizar um por cada vontade, e a nostalgia eterna é a motivação perfeita para que não subjuguemos ao tempo. Uma advertência, no entanto é necessária: os sonhos não nos satisfazem, apenas sua realização tem um valor admirável. “a punheta é pura imaginação/ quando você ta gozando/ você pensa que ta trepando/ e ta com o caralho na mão” (O Vendedor de Bucetas).
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