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  • 25/10/2001

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CONTRA O TERROR E A GUERRA, A ONU É A SOLUÇÃO

**Nelson Pellegrino

Se a guerra – como já se disse – é o ato extremo da política e da diplomacia dos Estados, o terrorismo é a arma dos desesperados, daqueles a quem não foi dado lugar à mesa de negociação nem acesso a uma porta de saída. Mas isso não diminui nem justifica o caráter hediondo e a covardia de quem, desprezando o valor da vida (a própria e a dos outros) mata inocentes, produz sofrimento e medo, instabilidade e danos materiais.
Os atentados contra os Estados Unidos da América, presumidamente perpetrados por extremistas islâmicos, encaixam-se perfeitamente nesse padrão. Creio mesmo que muitos analistas e políticos, lá no íntimo, esperavam um dia o que extremistas árabes consideram uma vingança contra o apoio dos Estados Unidos à criação e o expansionismo de Israel. O ódio contra o "grande império americano" foi especialmente acalentado no mundo islâmico depois da revolução de 1979 no Irã, que expôs ao mundo ocidental uma unidade que caíra em desuso entre nós, a unidade entre política e religião. Ou seja, o poder de causar danos aos Estados Unidos e aliados cresceu, legitimado pela motivação que nasce na seara religiosa para ganhar expressão na política ou, pior, no terror.
Inesperado foi o tamanho da ação. Ninguém esperava ver um dia as formidáveis torres do Word Trade Center vir abaixo, como numa ficção à moda hollywoodiana, com transmissão ao vivo pela CNN pelo mundo afora. O primeiro impulso foi o do desejo de retaliar, que parece ter irrompido das entranhas de George W. Bush. Sabe-se que a raiva, compreensível na pessoa comum, é inconveniente como conselheira política. Os Estados Unidos podem despejar milhões de mísseis sobre os miseráveis afegãos, não deixar pedra sobre pedra; poderá destruir o taleban e, com ele, o Afeganistão, aplacando um pouco da sede de vingança de cidadãos transtornados pela tragédia. Mas essa ação militar, ao contrário de atacar a causa, é provável que venha a fortalecê-la, realçando no mundo muçulmano a imagem dos Estados Unidos e aliados como fontes de todo o mal.
A conclusão óbvia é a de que tanto o terrorismo quanto o emprego da máquina de guerra norte-americana não são solução para nada. Insistir nessa estratégia de soma zero, em que cada um é o dono da verdade e executor da justiça universal, é caminhar em grandes passadas para a autodestruição. Felizmente também é obvio o caminho da paz. Ele se chama Organização das Nações Unidas e fica ali bem perto do palco do maior atentado terrorista da História, em Nova Iorque. A ONU foi criada após amargas experiências exatamente para ser a instância global de mediação dos conflitos entre Estados e povos. Só ela possui a legitimidade para agir em casos como esses, mesmo sem dispor, ainda, de instrumentos como o Tribunal Penal Internacional, em fase de instalação – mesmo diante do boicote norte-americano, que, aliás, tem atuado no sentido de enfraquecer a ONU de todas as formas.
Cabe ao mais forte tomar a iniciativa que pode parecer ato de fraqueza. Os Estados Unidos dariam uma demonstração de compreenderem a grandeza possível de seu papel no processo civilizatório neste momento histórico, se renunciarem à vingança sem-fim e às possíveis vantagens da guerra à sua poderosa indústria bélica, para sentarem-se à mesa de negociação na ONU, em busca de soluções duradouras para a questão da convivência entre Israel e Palestina, a criação de regras para a tolerância religiosa e o direito à democracia e ao desenvolvimento em todos os países do mundo.

***O deputado Nelson Pellegrino (PT-BA) é presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados