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  • 09/10/2001

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DEPUTADA IDELI SALVATTI
PRONUNCIAMENTO PROFERIDO EM 09/10/2001 NA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DE SANTA CATARINA
SOBRE O ATAQUE DOS EUA AO AFEGANISTÃO
"Gostaria de iniciar o assunto que me traz à tribuna no dia de hoje exatamente com a demonstração de uma posição lúcida, clara e corajosa de uma mulher, de uma Parlamentar americana, Deputada democrata pelo Distrito da Califórnia, que foi a única a se manifestar, em todo o Congresso americano, contra os projetos que ampliavam os poderes do Governo americano.
A Deputada democrata Barbara Lee foi o único voto contra.
E a posição dessa Deputada, mulher, negra, que demonstrou de forma inequívoca a coragem de ser a única voz a se levantar no Congresso americano para colocar que não é a resposta com violência que vai resolver o problema da violência, colocou-a numa situação de significativa insegurança, porque ela recebeu milhares de ameaças e está com segurança dia e noite em sua residência.
Mas não foi a primeira vez que Barbara Lee se manifestou na ótica pacifista contra os abusos de poder em nome das represálias políticas do Governo americano.
Ela foi também um dos cinco Deputados americanos que votaram contra uma resolução que autorizava o bombardeio do Iraque, em 1998.
Em 1999, também ela foi a única que votou contra o envio de tropas para a Iugoslávia.
Eu homenageio Barbara Lee pela coragem que teve no Congresso americano, enquanto mulher, negra, de ser a única voz contrária ao posicionamento ofensivo, beligerante do Governo americano, porque, como ela, estou absolutamente convencida de que esse tipo de posicionamento não é a melhor solução.
E nós já estamos tendo resultado.
As bombas derramadas sobre o Afeganistão mataram civis e funcionários da ONU. E todos estão - os de bom senso, pelo menos - de forma clara, sabendo que não será com esse tipo de ataque que será combatido o terrorismo.
O terrorismo é condenável inequivocamente! Não há ninguém que possa defender o terrorismo!
Mas aquilo que alimenta o terrorismo é tão condenável quanto.
Temos uma situação permanente de falta de respeito à soberania dos povos. E talvez o exemplo mais concreto no mundo é a questão dos Palestinos, aos quais não é dado o reconhecimento, o direito de ter o seu estado garantido! Isso faz com que o Oriente Médio seja um permanente barril de pólvora!
E a política dos Estados Unidos mantém, indiscutivelmente, essa impossibilidade de se constituir o Estado Palestino.
A política externa dos Estados Unidos é geradora, sim, de uma profunda insatisfação de amplos setores da população mundial, porque na política externa dos Estados Unidos está colocada uma política de exclusão social, de falta de respeito à soberania dos povos, de discriminação cultural, econômica e política; essa política externa que vem colocando milhões e milhões de seres humanos em todo o planeta na mais absoluta miséria; essa política externa, estou convencida, é o que alimenta o fanatismo e o terror.
Se não for atacada, se não for modificada a política externa americana, não vai adiantar jogar bombas em metade do planeta. Não vamos estar combatendo o terrorismo.
Talvez, até, essa jogada de bombas e ataques estejam camuflando outras intenções dos Estados Unidos.
Todos nós sabemos o papel estratégico que o Afeganistão tem naquele trecho do planeta. Por ele tem que passar os oleodutos estratégicos para o petróleo. E o que estão em disputa, indiscutivelmente, são questões de fundo econômico.
Não adianta ficar camuflando, como está também colocado na questão do Oriente Médio.
Então, os Estados Unidos, que têm tido essa política externa condenável, estão, de forma ofensiva, ostensiva, criando no planeta uma opinião pública de homogeneizar através da sua prepotência o combate ao terrorismo, não de forma que vá eliminá-lo, estou convencida disto, mas de forma que crie mais sustentação à situação de miséria, de destruição, de matança de inocentes sem resolver nenhuma das questões que estão colocadas na ordem do dia.
Por isso, nesse contexto, é louvável a posição da única mulher, única Parlamentar que teve a coragem de se contrapor, poucos dias depois daquele episódio do ataque às torres do World Trade Center, mas também dos ataques ao Pentágono, porque parece que isso foi apagado da história!
Houve um ataque terrorista ao Pentágono, ao órgão máximo da política externa americana, e a mídia apagou isso.
Apenas mostra o ataque às Torres do World Trade Center, porque o ataque ao Pentágono é simbólico! Ele tem uma simbologia muito forte, porque é uma forma inequívoca de colocar que a política externa americana erra, indiscutivelmente, daquilo que alimenta a revolta em amplos setores da população do planeta.
E é, estou convencida disso, o que alimenta o fanatismo e que permite que o terrorismo tenha esse grau de operacionalidade. Mas sair jogando bomba em cima de civis, matando funcionários da ONU, fazendo com que a opinião pública fique mais tranqüila, nos Estados Unidos, porque o Governo americano está reagindo, está buscando combater o terrorismo, não vai levar a nada, no meu ponto vista, a não ser ampliar e acentuar as injustiças, a miséria a que estão submetidos amplos setores da população e não vai desalimentar a crescente insatisfação que acaba gerando o terrorismo no nosso planeta.
Por isso é que eu quero homenagear neste dia em que tivemos trinta minutos dedicados às mulheres, a esta corajosa Parlamentar americana Barbara Lee.
Muito obrigada!