MINHAS POESIAS PREFERIDAS

 

"Sonetos Noturnos", n. VIII (1984)


Nos casarões fechados, em seu ar
de mistérios e sombra acontecido,
no místico sinal do envelhecido,
lembranças, as gavetas e o arsenal


que o tempo trovoou por seu suster
de maravilhas, só cintilamento,
e do que conservou para morrer,
tão devagar chovido, o sentimento,


fica a pergunta de quem olha fora
essas graves janelas tão fechadas
por rarefeito orgulho no seu ar


desfolhado de rosa ou jasminzal,
pois não se vê se a vida é tal retrato
acontecido, ou nuvem do irreal.

Marigê Quirino

Soneto Ingles

E eu galguei o alcantil tendo-a em meus braços,
vestida não de sól, porém de lua,
e havia cavalgadas nos espaços,
seu suave suor e estava nua.

Houve então cavalgadas sobre a terra,
o espanto do luar que tudo via,
a grande paz que habita nessa guerra
de corpos enlaçados em porfia.

veio depois o estranho cataclismo
desse grande vazio de depois.
À margem desse negro mar, o abismo
do mar, ao pé da soma de nós dois.

A mão do Orvalho então - sabe fazê-lo -
pôs estrelas sem conta em seu cabelo.

Edmir Domingues


Terrar

Mudo e triste, conviva cotidiano
da grande solidão, sinto-me em casa,
o vôo que se voa sem ter-se asa
lançou-me a estas paragens do antiplano.

A esse deserto estranho e anti-humano
de geladas crateras,que se arrasa
e se perde no pó da antiga brasa,
fogo estelar do mais antigo arcano.

Silencioso e só, o tempo espia
esse mundo que é apenas o esqueleto
do universo futuro de algum dia.

De súbito a surpresa. Eis que se alteia
na linha do horizonte, em fundo preto,
o grande globo azul da Terra-cheia.

Edmir Domingues

 

 


 


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