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Depoimento Giovanni
Meu nome é Giovanni, moro na cidade de São Paulo e decidi escrever meu depoimento com o intuito de ajudar as pessoas que sofrem de algum tipo de fobia.
Quero de antemão dizer que, embora o meu tratamento tenha sido realizado sem o auxílio de um profissional gabaritado, é aconselhável que a pessoa que queira se tratar, procure a ajuda de algum psiquiatra ou psicólogo para que seja possível determinar a melhor forma de tratamento.
Espero desde já que o meu depoimento venha a ajudar de alguma forma as pessoas que sofrem de síndrome do pânico ou outras fobias a conseguir superar este obstáculo tão doloroso e prejudicial as nossa vidas.
MEU DEPOIMENTO
Abril de 1.997
Quero começar o meu depoimento, falando um pouco das semanas que antecederam ao meu primeiro ataque de pânico. Nesta época, eu vinha trazendo comigo alguns problemas pessoais, financeiros e físicos. Não ficarei explanando muito sobre estes problemas com exceção da questão física que de certa forma ajudou em muito nos acontecimentos que aconteceram posteriormente.
Para resumir minha situação física na época, posso resumir como sendo uma pessoas muita acima do meu peso, hipertenso, com suspeitas de diabetes .Reconheço que este meu estado físico deveu-se ao fato de eu sempre ter "deixado para depois" a ida a um médico, fato esse, que ajudou em muito no meu estado.
Mas foi em Abril que comecei a sentir que alguma coisa de errado estava acontecendo, pois já comecei a sentir sintomas esquisitos que ocorriam aos Domingos após o almoço. Era uma sensação de sufoco, parecia que meu coração estava rígido, minha respiração se tornava ofegante, e tinha a sensação de ter um caroço de abacate na minha garganta.
Para eliminar estas sensações, buscava dar umas voltas para "espairecer a cabeça" e com isso todos estes sintomas desapareciam, mas chegou um momento que meu organismo deu o sinal vermelho, mas isso vou relatar a seguir.
1º de Maio de 1.997
Era feriado e eu tinha almoçado um belo bife à parmejana com direito a arroz e fritas. Fui ao meu quarto e coloquei um disco do Legião Urbana quando de repente, aquela sensação apareceu novamente.
Não pensei duas vezes. Fui dar uma volta para espairecer a cabeça. Andei por quase uma hora mas voltei para casa sem que aquelas sensação tivessem sumido. Comecei a ficar desesperado, mas procurei me controlar. Era já no fim da tarde, meu pai resolveu sair para dar uma volta e eu decidi ir com ele. Estávamos na Av. Tirandente, no centro de S.Paulo, e meu sintomas não diminuíam e meu desespero aumentava. Tinha vontade de falar para meu pai dar meia volta e correr para casa, mas tinha medo de assustá-lo.
Chegando em casa, logo sentamos à mesa para jantar e já não conseguia disfarçar que não estava me sentindo bem, tanto que, minha mãe me perguntou se eu tinha alguma coisa. Bem, só tive forças para dizer "Não sei" e comecei a chorar sem parar. Meus pais assustados sem saber o que estavam acontecendo, procuravam me acalmar e me perguntavam o que eu estava sentindo e eu, sem saber como explicar, ficava mais desesperado ainda.
Minha mãe acabou me dando um calmante e conversamos um pouco. Combinamos que eu ia procurar um médico e fui logo para a cama. Acordei no dia seguinte sem aquela pressão no peito, mas o sentimento de medo ainda estava lá. Tinha que ir visitar um cliente e só de pensar nisso me deixava desesperado. Mas mesmo assim, me arrumei, entrei no meu carro e me coloquei a caminho. Estava dentro do carro, respirando ofegante e com muito medo de que algo pudesse acontecer comigo. Parei em um posto de gasolina para abastecer o carro, e mal consegui falar com o frentista. A partir daí, só me lembro de ter ligado o motor do carro e dado meia volta, para casa. Naquele momento percebi que tinha perdido completamente o controle da situação.
No dias subsequentes, procurei relaxar ao máximo, cancelei todos os compromissos que tinha e marquei uma consulta com um clínico geral. Só de pensar que precisava sair na rua entrava-me desespero. Andar pela rua passou a ser um sacrifício enorme. Um sensação de tragédia percorria o meu pensamento e a única vontade que tinha era de voltar para casa.
Fui ao médico e em seguida passei por uma baterias de exames preliminares que resultaram em outros mais específicos e completos. No final, meu quadro clinico era esse:
>Hipertensão Arterial (18 por 12)
>Diabetes
>Colesterol Altíssimo
>Obesidade
Diante deste quadro o clínico geral me mandou direto para um endocrinologista para iniciar meu tratamento.
A consulta inicial com o médico endocrinologista foi maravilhosa. Ficamos praticamente 1 hora conversando sobre meu quadro clínico, os perigos que eu corria e o tratamento proposto por ele que consistia em voltar ao meu peso ideal e abaixar minha diabete e glicose . Senti-me motivado, pois acreditava que com isso, todo "aquele negócio" que eu sentia ia desaparecer.
Após 3 meses
Uma das tarefa dadas pelo meu médico, foi voltar a praticar exercícios físicos visando com isso diminuir meu peso, meu colesterol e por fim, a minha diabete. Me propus a caminhar todos os dias, mas eu tinha um grande obstáculo. Como caminhar todos os dias pela rua? Uma coisa tão simples se tornou um obstáculo difícil de superar. Nos primeiros dias só andava duas quadras e fui aumentando minha "área segura" a um raio de 5 km da minha casa. Não era fácil, pois a cada nova quadra que eu resolvia "arriscar" aquela sensação de medo voltava.
Passado 3 meses meu médico foi me receber na sala de espera com satisfação. Com certeza, para ele eu era um dos seus melhores pacientes. Tinha perdido 30 kilos, minha glicose e colesterol estavam em um patamar normal. Minha situação estava segundo ele normal, e agora o tratamento só exigia um acompanhamento. Mas para mim, nada estava bem. Como já estava mais íntimo deste médico, resolvi perder a vergonha e falar um pouco do meu "outro" problema, mas ele acreditou que "aquilo" que eu sentia não passava de um pouco de estresses e que, se eu quisesse, poderia procurar um psiquiatra. Mas infelizmente meu convênio não cobria um psiquiatra e acabei ficando na mesma.
Final de Ano
Chegara dezembro, e a única coisa boa que eu tinha para encerrar o ano era que meu quadro clínico estava estável, estava com corpo de modelo e minha diabete sob controle. Do mais, tudo estava péssimo. Qualquer atividade que consistisse em eu ter de ir a um lugar diferente do normal tornava-se uma tarefa complicada. Quantos trabalhos e clientes perdi pelo simples fato de "não poder atendê-lo" que em outras palavras era a minha incapacidade de controlar o meu medo de enfrentar uma situação diferente.
Fora isso, minha família decidiu passar o final de ano na praia e eu até que no primeiro momento tinha adorado a idéia, mas confesso que a semana que antecedeu à viagem foi um terror. Ficava pensando em como iria suportar descer a Serra do Mar. E se me desse alguma coisa? Como meu pai poderia dar meia volta, já que isso somente seria possível quando chegássemos ao litoral? Como ficariam os meus país ao me verem tendo um ataque?
Sempre tive um prazer enorme em descer a Serra do Mar e admirar a bela paisagem mas naquele dia, a única coisa que eu conseguia pensar era a de tentar disfarçar ao máximo o pânico que estava sentindo em toda a viagem.
Eu não quero morrer!!!!
Passado tantos meses sofrendo de um mal que eu não conhecia, tive em muitos momentos vontade de não viver mais. Não que com isso, quisesse me suicidar mais suportar tanta pressão vinda de dentro de mim, acabou completamente com qualquer possibilidade de reação minha. Me via como incapacitado.
Na primeira noite que estive no litoral, me recordo que fiquei na sala para dormir. Todos já tinham se recolhido mas eu não conseguia fechar os olhos. Por ter perdido o controle da situação e por às vezes me virem a mente a vontade de não viver mais, fez com que minha cabeça entrasse em parafuso. Em suma, estava com medo de dormir e meu celebro por conta própria fizesse alguma "besteira".
Já se passavam das 2 da madrugada quando tive 5 minutos de racionalidade. Fiquei pensando comigo mesmo. "Giovanni, o que você está sentindo é medo. Se você tem medo, é porque você receia que alguma coisa possa acontecer com você portanto, você tem medo de morrer. Se você tem medo de morrer significa que você na verdade quer viver"
Não sei se serei capaz de descrever o que senti naquele instante, mas o que me recordo é que comecei a rir e a chorar ao mesmo tempo e aos poucos fui entrando no sono calmamente.....
O ano de 1.998
Durante o ano seguinte, embora tivesse chegado a conclusão que não queria morrer, minha crises de pânico iam acontecendo. Aos poucos fui deixando o carro de lado, só utilizando ele quando era muito necessário. O ato de ficar parado em um simples congestionamento fazia com que eu perdesse completamente o controle da situação e aqueles sentimento de tragédia vinha sem pedir licença. Comecei a ir de ônibus (principalmente para a cidade de São Bernardo do Campo) mas, com o tempo as mesmas sensações de pânico voltavam a acontecer. Sentia que aos poucos meu raio de atuação ia ficando cada vez mais restrito, pois a cada crise a minha reação natural era evitar aquela situação.
Mas ainda podia andar de carro, mesmo que com isso, meu desgaste físico e emocional fosse para o buraco. Até que certo dia, tinha que ir ao dentista em São Caetano do Sul. Como sempre tive que me "preparar" e criar coragem para encarar aquela nova missão. Já me encontrava na Rua Silva Romero quando um ataque violento tomou conta de mim. Fiquei pensando como eu poderia chegar à Avenida Dante Delamare sem correr o risco de ocorrer alguma tragédia? Não me contive e antes de subir o viaduto do Sacomã, entrei em uma rua paralela para fugir daquilo. Parei o carro em uma rua tranquila e fiquei ali por alguns minutos. Eu não podia desistir!!!!. Tentei novamente, mas a segunda tentativa foi pior ainda e não tive outra alternativa senão voltar para casa.....
Ao chegar em casa, minha mãe me perguntou o que havia acontecido e a única coisa que falei foi "Não consegui chegar" embargado eu um choro que eu não conseguia controlar. Fui para o meu quarto e me deitei na cama, com minha mãe tentando ao jeito dela me ajudar. Mas como ela podia me ajudar se ela não conseguia entender o que eu sentia? Como explicar a ela, que aquilo que acontecia comigo não dependia de mim?
Fiquei alí chorando impotente, me sentindo a pior pessoa do mundo. Mas pedi a Deus que não me desse simplesmente um milagre mas sim uma pequena luz naquele túnel escuro em que eu estava enfiado.....
A ida a uma livraria
Alguns dias depois, minha mãe me perguntou se eu queria ir até a uma livraria próxima a minha casa. Resolvi ir para espairecer a cabeça e esquecer um pouco o meu problema. Chegando lá, como de costume, não resisti e fiquei vendo os livros e lendo o seu conteúdo. Até que encontrei um livro que me chamou a atenção. Falava sobre medo, pânico, fobia. Não me contive e abri e comecei a ler alguns tópicos rapidamente. Uma onda de alegria invadiu meu coração naquele momento. Percebi que fora eu, tinha mais alguém neste mundo que sabia o que era "aquilo" que eu sentia. Não perdi tempo e comprei o livro.
Tamanha era minha vontade de procurar uma cura para o meu problema, que não vi a hora de chegar em casa. Ao chegar, me tranquei no quarto e comecei a ler (para não dizer devorar) o livro.
A cada página que eu virava, uma lágrima corria pelo meu rosto. Era como se a autora falasse de mim. Como era de se esperar, acabei assimilando o meu problema a todos os casos de fobias apresentado por ela, mas os poucos fui fazendo uma triagem e cheguei a uma conclusão particular. Mas o mais importante era que a partir daquele momento eu começava a entender tudo aquilo que acontecia comigo e isso me fez passar a compreender tudo o que eu sentia.
Em termos gerais, este livro fala sobre vários tipos de fobia (inclusive a Síndrome do Pânico) em um linguajar simples, e propõe uma terapia para ajudar a resolver este problema. Chamada de terapia cognitiva comportamental, ela em linha gerais visa colocar o paciente "de frente" com aquilo que lhe traz medo, ou seja, é uma terapia de enfrentamento.
Caso você nunca tenha passado por uma crise de pânico, pedir para um fóbico encarar um situação de pânico é o mesmo que pedir para você entrar em uma jaula repleta de leões. Será que você ficaria tranqüilo mesmo que te assegurassem que o leões que estão não jaula estão bem alimentados e que não existe nenhum perigo? A única diferença entre um leão e uma situação qualquer de pânico é que a primeira é uma situação de perigo real e a segunda irreal, mas o sentimento é o mesmo.....
Tudo bonito e maravilhoso. Tinha entendido tudo e na realidade era tão simples tudo aquilo. Mas como transportar tudo isso para vida real???? Em resumo, o que a autora estava me dizendo era que eu deveria pegar o ônibus e ir a São Bernardo do Campo. Tudo muito simples..... Mas nem morto!!!!! Será que ela sabe o que era para mim ter que enfrentar esta situação???? Ela na certa sabia, afinal a própria autora é uma fóbica, e eu sabia que só me sentiria "curado" se eu conseguisse enfrentar as situações que me deixavam em pânico.
Seguindo os passos do livro, procurei preparar o campo para o meu tratamento. Esta tarefa consistia em colocar a minha família ao par do que eu realmente tinha, e procurar a ajuda de um profissional que me ajudasse nesta árduo caminho que eu iria enfrentar.
Comecei com minha família. Aproveitei que era Domingo e estavam todos na sala e falei sobre o livro. Tamanha era a vontade de todos em me ajudar, que ficaram ali sentados quietos me ouvindo atentamente.
Após esta exposição, recebi os primeiros apoios a minha vontade de sair daquele estado. Todos aprovaram a minha iniciativa e me detram força para tentar esta terapia.
Procurando a ajuda de um profissional
Talvez este foi o maior obstáculo de todos para conseguir iniciar meu tratamento. Aonde procurar o profissional? Meu convênio não cobria tratamentos psiquiátricos nem psicológicos. Procurei utilizar a internet mas não encontrei nada. Honestamente me senti frustrado. Cheguei a entrar em uma sala de bate papo e escrever: "Tem alguém aqui que conhece Síndrome do Pânico? ". Não obtive resposta. Mas mesmo assim, eu não queria desistir, afinal eu queria viver novamente.
Lendo o jornal de Domingo, me deparei com um matéria que falava de TOC (Trauma Obsessivo Compulsivo) e de um grupo que estava sendo montado no Hospital das Clínicas que visava tratar os pacientes com uma terapia chamada de cognitiva comportamental. Bem, não preciso dizer que me interessei e muito pela matéria. Tanto que, li que eles estavam recrutando pessoas que sofriam deste mal, para fazer parte "gratuitamente" deste grupo de estudo e lá constava um telefone para as pessoas interessadas.
Não perdi tempo e na Segunda estava eu ligando para o hospital das Clínicas. A pessoa que me atendeu, disse que o médico responsável não estava mas que eu podia deixar meu telefone que ele ligaria. Passei meu telefone meio desconfiado de que ele não ligaria. Mas tive que morder a língua. Ele ligou!!!!!! Para resumir, tudo o que está escrito desta linha para cima, eu falei para este médico. Ele ficou me ouvindo com uma paciência oriental. Não me parou por um só segundo. Por fim ele falou sobre a terapia, e muitas coisas mais. Estava radiante de poder falar isso com um médico mas até que ele me disse: "Bem, segundo seu relato, a "priori " seu caso é de "agorafoia" e infelizmente não poderei incluí-lo neste grupo que estou montado."
Foi como se um saco de areia tivesse caído na minha cabeça. mas ele completou: "Mas você deve procurar ajuda de um profissional, para que ele possa fazer uma avaliação precisa do teu problema e, você pode ter certeza que exista uma solução para teu problema" . Isso foi como se o saco de areia tivesse se transformado em uma simples pena.
Mas como procurar um profissional se eu não podia financiar um tratamento tão longo? Mas eu não quis desistir e resolvi dar a mim mesmo ao menos uma tentativa.....
O sabor de Voltar a Viver.....
Munido de muita vontade de dar a volta por cima, me preparei para as tarefas que devia executar, que consistia em elaborar o planejamento dos lugares que eu deveria ir e que me causavam pânico, criar um formulário para o registro das tarefas executadas, definir a pessoa que seria meu "porto seguro" e a montagem de um "estojo de primeiros socorros" .
O planejamento consistia em determinar os lugares ou situações que me causavam pânico e e programar , dividi-los a curto, médio e a longo prazo, sempre tendo em mente que o importante era dar "um passo por vez", ou seja, para avançar em uma nova tarefa, a anterior deveria estar devidamente sanada.
Não foi fácil montar o meu planejamento. Primeiro teria que definir por onde começar. Era necessário escolher entre todas as situações que me causavam pânico qual era a "mais fácil" de ser superada. Na verdade, todas eram extremamente difíceis de serem realizadas. mas cheguei a conclusão que ir a S. Bernardo do Campo de ônibus seria a "menos arriscada". A partir desta primeira tarefa fui colocando no papel as situações seguinte e o prazo de inicio, término e tempo de exposição e assim sucessivamente. Quando terminei o meu planejamento, visualizei-o e tive uma sensação de "sonho impossível", mas já que eu havia me predisposto a isso, não desisti.
A pessoa que iria me acompanhar seria um grande problema. Quem escolher? Pensei ,pensei e decidi para nesta minha primeira tentativa eu iria experimentar ir sozinho e caso no decorrer do exercício, se fosse necessário, escolheria uma pessoa para ocupar esta vaga.
Em seguida construi uma planilha para registrar as tarefas e o resultado delas, e por fim montei meu "estojo de primeiros socorros" que consistia em uma bíblia e um terço (colaboração da minha mãe).
A data estava marcada para o início da primeira tarefa. Seria em uma Segunda-feira e se estenderia por toda a semana, sendo que, Domingo seria o dia do "fechamento" desejado desta etapa.
Um pequeno passo
Confesso que o dia que antecedeu a primeira prova foi de completa anciedade que aumentava de hora em hora. O velho pensamento de tragédias e possíveis situações embaraçosas povoavam minha mente mas o que se diferenciou neste momento foi que agora eu sabia que esta angústia ia aparecer, e deveria encará-la como uma situação "normal" para o meu estado naquele momento.
Não consegui dormir bem naquela noite, e de manhã estive prestes a desistir. Me vesti, fui ao banheiro e me olhei no espelho, e falei comigo mesmo: "Giovanni, o importante não e vencer, mas tentar. Pior que não conseguir realizar um sonho , é o sentimento de não ter tentando realizá-lo. Dê a você mesmo esta oportunidade. Não importa se você não conseguir hoje. Lembre-se que amanhã você pode voltar a tentar". Este pensamento me deu a pouca força que eu necessitava para tentar.
Subi até a estação Ana Rosa, procurando ao máximo desviar minha atenção do meu problema. Ia pensando nas coisas boas que iam surgir após esta etapa e isso ia me dando um pouco de força. Ao entrar no trem, liguei o cronômetro do relógio, pois seria útil determinar o tempo de cada uma das exposições a serem enfrentadas para um panejamento mais correto. Minha anciedade quando a porta do metrô se fechou era de 2 (Numa escala de 0 a 10). Quanto cheguei a estação Jabaquara ela já era de 5.
Andei até o terminal de ônibus, e como o planejado, esperei um novo ônibus mais vazio para poder escolher uma cadeira ao lado da porta de saída. Escolhi as cadeiras "no fundão do ônibus". Ao meu lado sentou-se um rapaz. Adivinha o que eu pensei????? Achei minha companhia!!!!! Tinha que conversar com ele. Por onde começar??? Bem, confesso que eu me passei por uma pessoa que utilizava aquela linha de ônibus e perguntei a ele: "Este ônibus vai para São Bernardo?"
Tive sorte porque ele era uma pessoa bem falante e a conversa rolou solta. Minha anciedade a partir daí voltou a 2. Chegamos no terminal Diadema e de lá o ônibus seguiu adiante. Estávamos no meio do caminho entre o terminal Diadema e o de Piraporinha quando de repente a sensação de pânico veio. O meu peito começou a ficar apertado, o velho "caroço na garganta" deu sinal de vida e quase não pude falar. Coloquei a mão no olhos, e exclamei: "Droga, entrou algo no meu olho". Abaixei a cabeça, e iniciei o meu "contra-ataque". Comecei a contar de 100 a 0 subtraindo de 3 em 3 (100..97..94..), além do que, construi na minha mente uma TV virtual, onde os número apareciam. Não me lembro o tempo que demorou esta "batalha", mas só contei até 85, fato esse que me faz pensar que não demorou mais de 1 minuto.
Levantei a cabeça e como por milagre "tudo" tinha desaparecido. Estava tão feliz e tranqüilo naquele momento que tive a "cara de pau" de virar para ele e perguntar: "Meu olho está vermelho?". E a nossa conversa continuou mais deliciosa do que era antes. Pouco tempo depois estava no terminal do Paço Municipal
Valeu!!!!
Esta é a melhor palavra para explicar o que senti quando me encontrei no terminal de S.Bernardo. Valeu o Domingo de terror, valeu a noite mal dormida. Valeu o medo nas primeiras horas da manhã. Valeu a crise no meio do caminho. Naquele memento eu estava imune a qualquer sentimento de tristeza. Minha alegria era tanta, que me dei ao direito de ir ao Shopping Metrópolis dar um passeio. E como adorei aquele passeio.
Voltei para casa, e almocei com minha mãe. Contei em detalhe como tinha sido minha primeira exposição. Ela ouviu atentamente e me deu palavras de incentivo. Após o almoço, escrevi os acontecimentos na minha planilha, e com muita satisfação marquei um "x" no quadrinho "Realizada'. Quanto à nota, dei 5 (de 0 a 10), pois os sintomas tinham vindo.
A semana foi transcorrendo com as minhas tarefas a serem realizadas. Conforme iam se passando os dias, a nota final aumentava e as crises iam diminuindo até que no Domingo, ao voltar para casa com satisfação, dei a mim mesmo a nota máxima!!!! DEZ!!!!!!!!!!
Finalmente havia conseguido dar meu primeiro passo. Minha alegria era tanta, que tinha coragem para dar 10 passos seguidos, mas preferi me conter e continuar passo a passo, devagar, desfrutando alegremente da minha vitórias.
Me senti realizado quando, após um ano, realizei minha última tarefa programada. Ir a S.Bernardo de carro utilizando a Rodovia Anchieta.
3 anos depois
Depois da minha recuperação, praticamente terminaram todos os meus sintomas de pânico embora, eu tenha ciência de como fóbico que sou, estes sentimentos algum dia podem aparecer. E isso ocorreu mesmo.
Como faço sempre, após o jantar, procuro dar uma caminhada pelo meu bairro. Era uma noite de Domingo, as ruas estavam desertas, e já voltava para casa. Andava pela rua Cubatão até que me deparei com o viaduto que passa por sobre a avenida 23 de Maio. Antes de continuar, quero esclarecer que tenho medo de altura e este viaduto possui uma altura de aproximadamente 20 metro. O sentimento veio novamente e dei meia volta e procurei outro caminho.
Voltei frustrado para casa. Não queria entrar naquele processo vicioso novamente. Mas avaliei a minha atitude e cheguei a conclusão que havia tomado a decisão correta para aquele momento. Eu precisa respeitar o meu momento e o meu tempo. Mas veja bem; eu precisava respeitar mas não aceitar. Eu queria sim ter a liberdade de passar por sobre aquele viaduto. Para isso me programei novamente, marquei um dia e fui lá novamente. Cheguei em frente ao viaduto e olhando fixamente para frente comecei a andar. Já estava no meio do viaduto, quando o medo veio e tive vontade de dar meia volta e retornar. Então eu parei por um instante e pensei: "Bem, estou eu estou no meio do viaduto agora. A distância para voltar é a mesma que para continuar, portanto.....sigo em frente"........
Considerações Finais
Embora um simples livro não possa fazer milagres, saber o que estava se passando comigo foi crucial para que eu pudesse ajudar na minha própria recuperação, mas quero alertar que, embora eu tenha realizado a minha terapia sozinho, aconselho que seja procurado um profissional competente para uma avaliação e um acompanhamento adequado.
Hoje existem várias formas de tratamentos e terapias, mas o mais importante na minha opinião é que a pessoa que sofre de qualquer tipo de fobia acredite no tratamento proposto seja ele qual for.
Atualmente levo uma vida normal, embora eu saiba que sou fóbico, mas isso não me atrapalha. Procuro ver isso como uma parte de mim, portanto, não devo liquidá-lo mas sim saber conviver bem com este meu jeito de ser.....
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