FUNDAMENTOS DE METODOLOGIA CIENTÍFICA
Referência Bibliográfica: Köche, José Carlos. Fundamentos de Metodologia Científica, Caxias do Sul, UCS, 1978.83p. (Coleção Ciclo)
Resumo: Objetivando a compreensão de ciência, como um processo crítico de reconstrução do saber, analisando os temas que enfocam os aspectos principais da ciência, como a sua natureza, suas teorias, leis, métodos e processos de investigação, como forma de instrumentalização para a pesquisa, visando o espírito crítico científico, é a finalidade do presente.
Palavras chaves: ciência, método, processo, sistematização, análise, hipótese, problema, investigação, lei, teoria, variáveis, pesquisa, metodologia.
1 – O CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Em sua existência, o homem tem que interpretar o mundo em que vive, e a si mesmo, desta forma, cria representações da realidade, essas representações cristalizam-se em conhecimento. Esse conhecimento pode ser classificado como: mítico, ordinário, filosófico, dogmático, e científico.
1.1 - O conhecimento ordinário ® Chamado de conhecimento comum, ou empírico, surge da necessidade de resolver problemas imediatos, caracteriza-se por ser instintivo, espontâneo.
O conhecimento ordinário é ametódico e vivencial, não tem unidade, não segue um método nem submete-se a crítica, seu surgimento se dá com o aparecimento dos problemas diários, proporcionando uma imagem fragmentária da realidade, o que gera grandes limitações, tendo em vista, a deficiência em proporcionar uma visão unitária, global, da interpretação dos fenômenos.
1.2 - O conhecimento científico ® Considerando o interesse do homem em ir além do comportamento meramente passivo, o conhecimento científico objetiva atingir o ideal da racionalidade, que consiste em atingir uma sistematização coerente dos enunciados, preocupando-se com o embricamento entre um e outro enunciado, lei, teoria, ou campo da ciência, procurando proporcionar uma visão global, coerente, corrigindo as contradições, e o ideal da objetividade, que se preocupa com a construção conceitual de imagens da realidade (evidentes) e impessoais, admitindo-se testes de falseabilidade.
O método crítico, consistindo na localização das dificuldades, dos erros, contradições, na tentativa de eliminá-las e explicá-las, produz o conhecimento científico, este, possui sempre um caráter provisório uma vez que pode continuamente ser submetido à prova, enriquecendo-se, reformulando-se, superando-se mediante o mesmo método.
O conhecimento científico só é alcançado, utilizando-se o método científico que permite a confiabilidade e segurança dos resultados alcançados, devido as características de ser crítico, sistemático, lógico, abrangente e passível de experimentação objetiva.
2 - CIÊNCIA
Neste século a ciência registrou dois fatos que surpreenderam a humanidade, o primeiro aconteceu em 1.919, quando cientistas comprovaram as teorias de Einstein através de um eclipse solar, o segundo ocorreu com a explosão das bombas atômicas em Hiroxima e Nagasáqui, em 1.945.
2.1 – Ciência como controle prático da natureza ® Uma das preocupações da pesquisa científica é de caráter prático, conhecer as coisas, os fatos, acontecimentos e fenômenos, visando prever os acontecimentos, na tentativa de guiar seu curso.
A ciência é utilizada como meio para satisfazer as necessidades humanas, o cientista, muitas vezes é interpretado como homem milagroso, ou seja, aquele que tem solução para todos os problemas humanos, assim, justificam-se os elevadíssimos custos em pesquisas científicas, destas, surgirão frutos que nutrem a tecnologia avançada.
2.2 – Ciência como busca do saber ® A curiosidade intelectual, a necessidade de compreender o mundo e a si mesmo impulsiona o homem à investigação científica, e onde não há ciência o homem cria mitos. Na antiguidade na Grécia, ciência era puro saber, baseada na filosofia e na especulação racional. Com a divergência entre filosofia e ciência, provocada pela experimentação no Renascimento, surge o cientificismo. Após este fato, a simples confirmação experimental proporcionava a verificabilidade ou a confirmação dos enunciados cintíficos, ignorou-se a necessidade da revisão crítica.
No século XX compreendeu-se que a ciência possui aspectos subjetivos e objetivos, há a necessidade da troca de informações entre filósofo e cientista.
"Está claro que o objetivo da ciência é tentar tornar inteligível o mundo, é atingir um conhecimento sistemático do universo".pg-18
Até a Renascença, a ciência era compreendida como o conhecimento oriundo de leis e teorias acabadas, completas, que davam a imagem do mundo real, concreto, que seria sempre imutável. Atualmente, a constante modificação, revisão, reavaliação de resultados, investigação permanente, e a consciência da sua falibilidade, regem a concepção de ciência.
Dois aspectos são relevantes para a ciência: O subjetivo – que cria, projeta, constrói a representação de seu mundo, e o objetivo – que serve de teste, de confronto.
3 – MÉTODO CIENTÍFICO
A evolução do conhecimento, desde o conhecimento mítico, passando pela preocupação das religiões em explicar os fenômenos da natureza, a utilização do processo silogístico, a investigação racional da filosofia em Aristóteles, essas formas de conhecimento aliadas ao senso comum propiciavam uma imagem do universo, porém, o homem começou a preocupar-se com um conhecimento mais exato, um conhecimento científico.
3.1 – O método científico indutivo-confirmável ® Galileu teorizou o método chamado experimental, que prioriza o conhecimento da lei, salientando que as ciências naturais são ciências da quantidade, e assim iniciou o método da indução experimental que sintetizamos logo abaixo:
observação do fenômeno;
análise dos elementos constituintes do fenômeno, estabelecendo-se relações quantitativas entre eles;
indução de hipóteses a partir de análise da relação dos elementos constituintes do fenômeno;
verificação das hipóteses através de experimento;
generalização do resultado do experimento, obtendo-se uma lei a partir da confirmação das hipóteses.
Na mesma época, Bacon registrou o seguinte método para se atingir o conhecimento científico:
experimentação;
formulação de hipóteses;
repetição da experimentação;
repetição do experimento para a testagem das hipóteses;
formulação das generalizações e leis, após seguir os passos anteriores, o cientista formula a lei que descobriu.
3.2 – A dedução de Descartes ® Descartes afirma ser verdadeiro o método dedutivo, tendo como modelo a matemática, salienta-se dois momentos, a intuição e a dedução.
3.3 – Análise da indução ® O método indutivo e o dedutivo provocaram o surgimento de duas grandes correntes no pensamento moderno: o empirismo, e o racionalismo.
Hegenberg apresenta alguns tipos de inferências indutivas: generalização indutiva; generalização estatística; estatística direta; singular; preditiva padrão; preditiva estatística; preditiva singular, de consequências verificáveis de uma hipótese para a própria hipótese.
Hempel, demonstra quatro etapas que fundamentam a investigação científica indutiva: observação e registro dos fatos; análise e classificação desses fatos; derivação indutiva de generalizações a partir deles; verificação adicional das generalizações.
3.4 – O método científico dedutivo-falseável ® Este método é o da tentativa e erro, propicia condições para a correção ou a refutação da hipótese, fundamenta que o critério da falseabilidade demarca a ciência da não ciência.
Uma teoria que ainda não foi rejeitada, ou seja, foi corroborada manterá sua validade.
Citamos o ("modus tollens") como padrão da inferência dedutiva: Se A é verdadeiro, então B também o é, se B não é verdadeiro, A também não o é.
3.5 – O que é método científico ® Não existe uma receita mágica ou uma fórmula segura para ser aplicada gerando resultados, cada investigação tem sua peculiaridade carecendo de hipóteses e habilidades distintas conforme o problema a ser analisado. No entanto caracterizamos método científico como uma certa sequência na utilização de critérios básicos utilizados na investigação científica.
4 – NATUREZA E OBJETIVO DAS LEIS E TEORIAS
"As leis e teorias surgem da necessidade de se ter que encontrar explicações para os fenômenos da realidade." Pg.40
As teorias caracterizam-se pela possibilidade de estruturar as regularidades e uniformidades de um sistema, que são explicadas e corroboradas pelas leis. Há uma preocupação abrangente, no sentido de sistematizar, concatenar, relacionar com a totalidade dos fenômenos. Para Popper, as teorias são redes, cabendo a nós o esforço de estreitar as malhas cada vez mais para obter uma compreensão de mundo mais racional, na tentativa de dominá-lo. Kerlinger afirma que teoria é um conjunto de "construtos", interrelacionados que objetivam a explicação e a predição.
As leis expressam enunciados particularizados, ou seja, limitados a fenômenos da realidade.
4.1 – As vantagens que oferecem as teorias ® A sistematização e a interrelação de diferentes teorias, permite eliminar proposições infundadas, mantendo as necessárias válidas e fidedignas. A falseabilidade e a relação com as implicações empíricas generalizadas, proporciona submeter um vasto campo à prova.
4.2 – O caráter hipotético das teorias ® Uma teoria é inverificável quando apesar de submetida a prova, não possa ser confirmada. A teoria é hipotética a medida que apresenta grande volume de conteúdo, o que lhe dará maiores oportunidades de falseabilidade, permitindo assim, ser corrigida, reformulada, ampliada, e deverá sempre instigar a indagação, a investigação.
5 - HIPÓTESES E VARIÁVEIS
5.1 – Definição de hipótese ®
"A hipótese é a explicação, condição ou princípio, em forma de proposição declarativa, que relaciona entre si as variáveis que dizem respeito a um determinado fenômeno ou problema."Pg.50
No processo de investigação de um problema a hipótese é apresentada como proposta de solução provisória, cabendo a investigação científica corroborá-la ou falseá-la. Porém, manterá o caráter hipotético mesmo sendo corroborada.
5.2 – Características das hipóteses ® Tuckmann apresenta três características da hipótese:
apresentação clara, ausente de ambiguidades, de forma declarativa.
estabelecer relações entre variáveis.
deverá ser testável.
Bunge dá algumas dicas para dificultar ou inviabilizar a testabilidade das hipóteses:
não formular suposição.
ater-se a proposições fenomenalistas.
propor hipóteses vagas, restritivas.
propor hipóteses inescrutáveis
Existe ainda outra forma, a "ad hoc", que seria a sustentação de uma hipótese para defender outra.
5.3 - Níveis de conjeturar ® Bunge classifica as hipóteses em quatro níveis:
Ocorrências – São hipóteses, palpites apresentados sem justificativa, ou muito duvidosas, sendo utilizadas em pesquisa exploratória quando não há algo melhor.
Empíricas – Tem a seu favor algumas evidencias empíricas que justificam a escolha das suposições, mas não tem consistência lógica, não atinge a racionalidade.
Plausíveis – Interrelacionam-se com as teorias existentes com consistência, coerência e lógica, são produto do conhecimento corroborado.
Convalidadas – Apresentam os dois ideais da ciência: racionalidade e objetividade.
5.4 – Variáveis: conceituação e tipos ®
"Variáveis são aqueles aspectos, propriedades ou fatores, mensuráveis ou potencialmente mensuráveis, através dos valores que assumem, discerníveis em um objeto de estudo."
Tuckman classifica as variáveis em:
variável independente–é aquela imprescindível para se obter um determinado resultado.
variável dependente – esta, é o resultado, consequência ou resposta de algo que foi estimulado, não é manipulada.
variável moderadora – é menos importante que a variável independente, porém, também é condição, causa, estímulo ou determinante para o acontecimento de um feito.
variável de controle – esta neutraliza-se ou anula-se propositalmente em uma pesquisa para não interferir na análise da relação entre a variável independente e a dependente.
variável interveniente – é aquela que teoricamente, afeta o fenômeno observado, não pode ser manipulada ou medida, é hipotética, teórica, não concreta, é inferida a partir da variável independente ou da moderadora.
5.5 – Conceitos e construtos ® A expressão da abstração intelectualizada da idéia de uma coisa ou fenômeno observado, recebe o nome de conceito.
Conceito e construtos são quase semelhantes na significação, diferem pelo fato do construto possuir significado construído intencionalmente, permitindo a delimitação observável e mensurável.
5.6 - Definições ® Na ciência as definições objetivam proporcionar a passagem do teórico para o empírico, Hempel descreve quais são os seus fins:
"a) enunciar e descrever o que se aceita como significado (...) de um termo já em uso;
b) atribuir por estimulação, um significado especial a dado termo..." Pg. 57
A definição constitutiva é a substituição de um termo que deve ser definido por outros que já possuem um significado claro.
A definição operacional indica a ação ou a operação pela qual o significado de construto se manifesta.
A definição empírica caracteriza-se pela falseabilidade.
6 - O FLUXOGRAMA DA PESQUISA CIENTÍFICA
O processo de investigação deve ser planejado para que se obtenha conhecimentos sistematizados e seguros. A flexibilidade permitirá a criatividade e a imaginação crítica do investigador.
Apesar de haver vários tipos de pesquisa, dependendo do problema a ser investigado, sua natureza, espaço-temporal, etc, salientamos três:
A pesquisa bibliográfica – tenta-se explicar o problema a partir do material publicado já existente, analisando as contribuições que já foram apresentadas.
A pesquisa experimental – analisa o problema manipulando as variáveis e fatores referidas ao fenômeno, através das hipóteses levantadas.
A pesquisa descritiva – estuda as relações entre duas ou mais variáveis de um fenômeno sem manipulá-las, tenta localizar situações ou condições existentes, no seu habitat natural, avaliando o tipo da relação.
A primeira fase do fluxograma de pesquisa é dedicada a delimitação do problema, sendo que a escolha do tema deve estar condicionado a :
Interesse de quem investiga;
Qualificação intelectual, o tema proposto deve estar ao alcance da capacidade e nível de conhecimento do investigador;
Existência de bibliografia especializada.
A delimitação requer a relação de no mínimo duas variáveis que formará uma ou mais perguntas, após será feita a revisão de literatura e documental, para então, formular a crítica do material analisado com vistas a construção, montagem e exposição da análise do problema investigado. Feito isso, traça-se o curso que a investigação deve seguir, se for bibliográfica, monta-se o plano do relatório da pesquisa, se for experimental ou descritiva, deve-se testar as hipóteses propostas seguindo o seguinte roteiro:
problema e justificativa;
revisão de literatura;
objetivos;
hipóteses, variáveis e definições empíricas;
metodologia especificando o "design", a amostra, os instrumentos e o plano de coleta, tabulação e análise dos dados;
descrição do estudo piloto;
orçamento e cronograma;
7 - A ESTRUTURA DO TRABALHO CIENTÍFICO
Deve estar consistido em três partes:
7.1 – Introdução ® Deverá situar o leitor no contexto da pesquisa, informando a finalidade do trabalho, devendo ser considerado os seguintes aspectos:
a apresentação do problema deve ser clara;
os objetivos delimitam o alcance da investigação, que aspectos se pretende analisar, e o que se propõe fazer;
a justificativa que destaca a importância do tema abordado, suas divergências, e contribuições;
as definições devem ser esclarecidas;
a metodologia deve ser esclarecida;
a revisão de literatura, deve ser demonstrada;
as hipóteses devem ser apresentadas;
as dificuldades, quando relevantes, devem ser expostas;
7.2 - Desenvolvimento ® O desenvolvimento retoma o problema inicial da introdução, seguindo uma exposição lógica, estabelecendo relações entre as variáveis, apresentando o resultado dos testes, avaliando as hipóteses e formando as principais conclusões, utilizando-se dos capítulos, seções e subseções, porém, sem perder a unidade.
7.3 – Conclusão ® Através da reunião sintética das principais idéias e conclusões parciais obtidas, a conclusão apresenta o resultado final, tendo em vista o problema inicial, no entanto, é comum não esgotar por completo o tema investigado, apontando problemas para futuras investigações.
8 - NORMAS TÉCNICAS DE APRESENTAÇÃO DO RELATÓRIO DE PESQUISA
Os resultados obtidos na investigação científica são comunicados através do relatório de pesquisa que apresenta algumas normas técnicas, conforme segue:
8.1 – Distribuição da matéria ® Constitui-se da seguinte maneira:
folha de rosto;
prefácio;
sumário;
lista de tabelas, gráficos ou ilustrações;
introdução, desenvolvimento e conclusão;
apêndice;
referências bibliográficas e bibliografia.
8.2 – A ordem dos elementos bibliográficos ® Está minuciosamente explicado através de exemplos nas páginas 78,79 e 80 a ordem dos elementos que devem ser apresentados em ordem, conforme a referência, se for um livro, parte dele, periódicos, artigos de jornais, etc.
ANOTAÇÕES PESSOAIS ® O presente fichamento deixou claro a importância da utilização de métodos na investigação científica.
Percebemos as várias regras e procedimentos possíveis de ser empregados na pesquisa de um fenômeno ou problema, no entanto, há um arquétipo único que talvez caberia tacharmos de "soberano", que tolhe a criatividade quanto a forma de apresentar a pesquisa, esta, cabe ao pesquisador a responsabilidade de apresentá-la de forma clara coerente e inteligível, utilizando seus métodos peculiares, desta forma, aqueles que apresentarem trabalhos feitos com comprovada competência e reconhecimento científico receberiam o mérito, independente do método utilizado.
Ao conhecer estes procedimentos rigorosos e apresentados como métodos infalíveis para se chegar ao conhecimento científico verdadeiro, fico aberto ao conhecimento da existência de outras formas de se realizar o mesmo trabalho que deverão surgir, ou já existem e eu desconheço.