...Aprigio e Frederico são
diretos.Usaram a própria calçada como matriz de gravura e
tiraram cópia aproveitando-se do cavado do risco no cimento como
se fora rasgado na placa de madeira.
...Têm antes de tudo, tais gravuras, a força de testemunho
arrancado aos escombros de alguma remota civilização (que por
acaso é a nossa) e trazem na sua aspereza e contraste
negativo-como nas gravuras de Goeldi- a eloquência de gritos.
José Cláudio "Os caçadores de calçadas". 1981
...Esses trabalhos são fruto da
observação atenta de dois transeuntes cujos olhos se dispuseram
a "varrer" o chão por onde pisaram, detectando nas
calçadas uma série de acontecimentos registrados em signos e
escrituras feitas por anônimos.
...Quase diria que Frederico e Aprigio funcionaram como
verdadeiros arqueólogos do contemporâneo(...), que eles, os
artistas aqui em foco, realizaram um trabalho de historiografia
visual de registros recentes.
...Foi realizado uma espécie de mapeamento monotípico das
calçadas de Olinda, o que, sem dúvida, além do valor
artístico, histórico e documental, nos leva a pensar que
também se trata de um trabalho sociológico, já que os
desenhos, os textos, os signos, os símbolos e grafismos
texturais recolhidos constituem um excelente material de estudo
para a semiologia, a psicologia e as ciências sociais.
Montez Magno "A texturologia das calçadas de
Olinda". 1982
... Acho que foi um desses raios
fulminantes e reveladores que apanhou dois jovens Profetas - os
irmãos Aprigio e Frederico - diante das formas riscadas em
baixo-relevo por pessoas anônimas do Povo no cimento das
calçadas e nas lajes de cerâmica dos pátios de Olinda.
... Tiveram a idéia - tão simples e, por isso mesmo, tão rara
e difícil - de transformar os próprios riscos e trechos de
calçadas em matrizes de gravuras, obtendo um resultado que é
tanto mais importante na medida em que soma ao trabalho normal de
criação dos dois aquele através do qual o Povo expressa, da
maneira que lhe é possível, seu impressionante poder criador.
... Pois bem: ao ter pela primeira vez diante dos meus olhos, o
trabalho de Aprigio e Frederico fui assaltado por uma sensação
vertiginosa que parecia me fazer sobrepairar o Tempo e suas
arbitrárias divisões entre passado, presente e futuro.
Ariano Suassuna "Aprigio e Frederico, profetas das calçadas". 1989
Aprigio e Frederico irmãos de sangue e na arte, trabalham frequentemente juntos, sem prejuízo da obra, que um deles realiza individualmente.(...) De início, fizeram um levantamento das inscrições feitas nas calçadas de Olinda. A intenção não era documentar, mas realizar um trabalho de recriação estética, espécie de arqueologia existencial, memória da infância vivida nas ruas de Olinda, quando ambos iam deixando suas garatujas no concreto ainda mole das calçadas. Trabalho que remete, por sua vez, seja ao passado distante das inscrições rupestres, das lápides e estelas, seja à moda atual dos graffiti. Esse levantamento teve inúmeros desdobramentos em gravura, pintura e objetos.
Frederico Moraes "Arqueologia
existencial". 1992