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TEXTOS DO ARAÚJO (LIVROS 1 -2- 3 4 5 )
O Andarilho e Sua CabeçaTexto incompleto...
Um livro de Renato Araújo, 19 anos.
Em nome de todo amor no mundo ilosório no qual vivemos, procurando outro melhor, dedico; À minha amiga: Júnia Cristina Vaz Vieira, à Sereia Valente: minha Teodora, uma mulher entre outras. E à mulher que me gerou: Edna Aparecida Araújo.
Renato Araújo
1992
ADVERTÊNCIA AO LEITOR
(O leitor que se julgar suficientemente “advertido” pode pular este trecho e ler a partir da INTRODUÇÃO)Eu Renato Araújo, falarei o que é o livro “O Andarilho e Sua Cabeça”: Trata-se de um surrealismo levado ao exagero. O livro é indicado somente a aqueles que acreditam que se o bom gosto e a leitura inspiradora são obras de arte, conjuntamente assim, a estética do mal gosto e a leitura enfadonha também o são – compreenderão nesta “estética” uma possibilidade de objeto de arte. Um livro escrito por Gyan Bem Gyan, essa personagem andarilha que nos remete ao seu mundo, compõe as estruturas de si partindo da centelha da possibilidade..
Se se admiti que há uma estética do bom gosto, afirma-se também, por conseqüência, que há uma de mal gosto. Gyan se mostra, por isso mesmo, um representante desta última. Esse livrinho trouxe-me naturalmente um probleminha de impasse no final. Minha “solução”, tomada de impulso, foi salvar o modelo inconcluso de Gyan, atenuando as conseqüências de seu fracasso como interprete do mundo. De qualquer forma, não queria deixar muito claro em quais momentos ele realmente se superou e em quais palavras se arruinou. Que os leitores tomem - para si - o melhor partido!
PRÉ-ÂMBULO[O livro “O Andarilho e sua Cabeça” são Fragmentos do séc.XII encontrados numa Sinagoga destruída na cruzada contra os infiéis.]
Para lhes contar algo a respeito de Gyan Ben Gyan, ou, mais especificamente, de sua cabeça, é necessário dizer que estive lá. O livro do Andarilho começa com um acorde em mi menor com nona – suspenção.
Era preciso que aprendesse a caminhar e para Gyan, naturalmente, esse aprendizado somente seria alcançado de uma única maneira: “caminhando!”
Fui levado a conhecer. Com Gyan, fui levado aos limites da realidade descritiva. Onde um abismo intranquilo, enfadonho, mas totalmente outro e irrepetitível, introduziu-me ao que eu chamei de terror.
Era assim, não somente o abismo intranquilo, isto é, sua cabeça, era terrorífica também o que é dado a chamar de conclusão possível para tudo que vi. E longe de tratar tudo realmente como queria, numa ordenação, por assim dizer,“humana” (porque não é assim exatamente que Gyan classificaria sua imaginação) vou tratar tudo de que vi, ao contrário, exatamente da forma como se me apresentou Gyan Ben Gyan, o andarilho:
Gyan inicia o confronto consigo mesmo, como diz Teodora, levantando-se até ele mesmo, ou seja, perguntando-se, “quem sou”?
-Então Gyan, o andarilho, abriu sua cabeça e viu que nela havia um palco teatral – um palco de teatro onde se representavam, “por si só” (por elas próprias) suas fantasias, muito embora, pouco depois, resolvemos nelas penetrar...
Particularmente é nesse furor teatral que rolará toda cena deste Andarilho. Este espetáculo, longe de ser apenas fantástico, como os outros, nutre-se especialmente de um prognóstico dado a tal cabeça, a tal mentalidade:-Disritimia ( DIS-RIT-MIA )
Isso, que Gyan chamou de “Sua doença querida”, não fora confirmado senão por ele próprio. Ouviu-se certa vez que Gyan sofria, na realidade, ou também, de uma degeneração [ ou inflamação (?)] dos nervos periféricos, caracterizado por uma neurite.
Quanto a isso, não posso dizer nada já que essa não é exatamente uma doença característica da idade média, especulações à parte, entretando, somente o faço de sua cabeça; sua arena de teatro:-E o deus Sol à Terra falou:
-“Todos temos algo mais a aprender. Pois o mistério da vida não finda rudemente. É...! Isso está escrito na ordem eterna das coisas...”
-“Revivo em gestos esporádicos...Ao descer as linhas do continente flutuante , ir aos confins do planeta irrigescido, civilização patriarcal. Abarcar a todos e a tudo que o sentimento e a mente puderem conter.”
Mas Gyan buscaria melhor em outro citatório... “Pela luz divina que é pecado, me perdoa... mas eu hei de me vingar!” Ataulfo Alves solucionou o desequilíbrio injusto provocado pela falta de cultura do menino Gyan. Eis uma vingança da literatura contra a própria literatura.
Daqui, reproduziremos, na íntegra, o conteúdo das “cartas explicativas” segundo as quais Gyan reportava as explicações do seu modo de ser ( leia-se aqui modo de “escrever”) a amigos. Trata-se de uma justificativa por ter se utilizado da palavra para, em seu livro, inutilizá-la em sua cabeça. E também por querer ser compreendido pelos seus amigos, tratou de escrevê-las. Essas cartas se encontram na ordem de desenvolvimento das partes do livro. Foi o único meio que encontramos para torná-las acessíveis e de algum modo “úteis” para a “compreensão” do texto. Tratamos, pois, de incluir alguns títulos para que isso se estabeleça.( CONTEÚDO DAS “CARTAS EXPLICATIVAS”-GYAN CONTA SUA HISTÓRIA)
Carta 1.: Aspectos de Gyan ou “Sobre a forma” [crítica da literatura pela literatura]
Carta 2.: [A morte do velho]
Carta 3.: “Carta a toda culpada” [Carta de Gyan a Teodora, incluindo observações]
Carta 4.: [ Sobre o inferno do aqui e agora]
Carta5.: [Seguida de Gyan e sua impressão sobre o mundo, incluindo observações]
Carta 6.:
Carta 7.:
CARTA 1
Retrospectivamente, pode-se dizer que a experiência do amor pode ter dado o “ponta-pé” inicial na criação do meu “Andarilho”, mas não me privo de entender que existiram outros fatores também elementares – ou seja, não é por causa do amor que o Andarilho chegou até mim, fora antes o fato de que eu soube como caminhar até ele que me garantiu sua presença. Dito de outra forma; se a montanha vai a Maomé, não é porque Maomé não saiba caminhar...
A princípio meu modo de escrever, meu bombardeamento cerebral, significavam uma tonificação não na literatura (nunca tive objetivos práticos), mas na minha própria vontade e sensibilidade para tal.
É certo que ela [minha forma de escrever] representava nada mais que uma crença errônea; primeiramente em conseqüência da minha herança obscurantista e depois, a noção de inconsciênte perfeito ( memória e raciocínio) que me levou a acreditar nesta forma.
Inconstância, irracionalidade, diversidade, incalculáveis ambigüidades e etc. Eis a forma dos meus primeiros livros. Eu, levado por um acesso de exaltação e originalidade, quis exatamente assim. Certamente, eu conseguiria enunciar os argumentos favoráveis a tal acesso de loucura e satisfação. Mas o que eu quero aqui é dizer que ela teve origem numa crença errônea.
É sabido, em plena maturidade do pensamento, que são as personagens, jovens, sobretudo, os que alimentam tal crença no transporte da verdade através do inconsciente. Segundo eles, somente quando se dá plena liberdade de trânsito entre consciente-inconsciente é que as palavras, e mais raramente os conceitos (relacionados de forma associativa à verdade) fluem de modo satisfatório.
Tudo isto, conduziu-nos ao que eles chamam de “experiência única da catarse” – não que haja a única experiência, mas é esta experiência em especial que proporciona o prazer da limpeza que lhe é característico.
-“Análogo à dor, é o prazer satisfatório da catarse.” Gyan Ben Gyan
Tal prazer era sentido momentaneamente por mim e era dado sua total plenitude em meus escritos. Falo do prazer, evidentemente, sem levar em consideração a experiência do aqui e agora citada[mais adiante] na descrição dos infernos. Há muita inocência e inexperiência aqui. Mas quis que fossem assim. Poderia revisar essas provas mil vezes, tirar os erros de linguagem, sintaxe, colocação pronominal, flexão verbal, de uniformidade de tratamento e etc...etc. Mas não! Exatamente assim que eu as queria. Essa é uma maneira de dizer que à juventude tudo se perdoa. Nesta idade pode-se dizer o que pensa e como pensa ( se pensa ) e, sem peso na consciência, colocar para fora aqueles sons que se ouve na cabeça quando se é criança. Esses restícios de sons e vozes engendraram toda essa loucura e embora houvesse uma esperança de que esses sons significassem alguma coisa de anormal ( ou superanormal), na verdade, não passou de uma demasiada crença no profundo e incondicional mistério da vida “inconsciente”. E certamente, o inconsciente se abriu para mim...Como e abria e abre, para todos os inocentes.
O aspecto experimental em regência nominal e verbal, de fato, é uma das mais difíceis experiências promovidas por Gyan no campo da linguagem a seus leitores. Este é o sentido da Advertência de Gyan “Leitor, estais diante das mais repugnantes páginas!” Entretanto, sem querer defende-lo, é preciso fazer o registro de que é por razão de sua “paranóia”, sua obcessão pelo possível somente, que ele entendia poder “explicar o inexplicável” por palavras. A idéia de que o erro justifica-se a si próprio quando ornamentado pela experiência era lhe sempre presente – Gyan, por essa razão é o “experiente”, no sentido daquele que aprecia a experimentação.
Gyan, o herói doente mental, indignava, irritando a todos os leitores simplesmente para lhes estimular esses sentimentos. Considerando com isso que o sentimento do novo, embora não lhe fosse a todo tempo presente, era lhe não só o sentido da originalidade como também uma glorificação do sentido da repugnância.
Nunca gostei realmente dos livros com muita simbologia, com muita conotação e alegoria, mas tive por obrigação de tratar meu Andarilho por esta forma. Uma vontade louca por ambigüidade e desrespeito às normas, me levaram a esta juventude.
Fora um “devaneio consciente” se isso pode ser colocado assim, foi uma forma de me explicar já que tudo no mundo que encontrei com andarilho em sua cabeça era algo realmente mórbido e ambíguo. Portanto, para que qualquer justificativa possível se formasse, foi preciso dar ao Andarilho o aspecto nobre ao qual ele se propôs.
Esse aspecto, essa nobreza, era entendida por esta personagem, como um entendimento químico:
“O amálgama trará a nobreza desses gazes...”As personagens
Somente uma forte conotação e um forte sentido de desespero para com o simbólico é que poderia aproximar-nos, de qualquer modo, na descrição desse gênio complexo. Gyan, fortalecido por imagens sempre lúcidas, fingia a todo instante não poder interpretar as idéias que lhe ocorriam, pois ocorriam-lhe muitas. As personagens, confundidas consigo próprio, pois estão em sua cabeça, expressam-se tal como ele e aparentan-se a ele de alguma maneira. Quando há alguma distinção de caráter, pesonalidade, traços físicos e de humor entre elas significa que há uma pura representação dos estados de humor possíveis do próprio Gyan.
A fim de obter, contudo, alguma compreensão, ao menos, pode-se dizer que suas simbologias e conotações aos personagens que aparecem na peça referiam-se da seguinte maneira:
O Velho: como sua própria razão.
Teodora: como sua experiência sensível e às vezes como uma mulher real.
O Inferno: como o mundo ou a totalidade das coisas no tempo.
[As léguas]: representavam o próprio encontro com a verdade no caminho.
A Serpente: como o Conhecimento.
Por fim, este livro “O Andarilho e Sua Cabeça” é um romance de formação que deve ser interpretado ou classificado, (se isso for possível), como um romance psicológico inusitado. Destacamos a seguir os pontos que consideramos os mais importantes deste livro:a) Crítica da literatura pela própria “literatura”.
b) O ceticismo – ou a descrição da impossibilidade do conhecimento total que se resume na noção de que “toda filosofia é uma idiossincrasia romanceada (i.é, tornada livro)”.
c) Aceitação da criação do filosofar, assumindo a criação da Liberdade e Comunidade como os termos fundantes da cultura.
Quanto ao meu livrinho do Gyan, quero descrevê-lo como um requinte filosófico à prosa-poética do desespero.CARTA 2
Da mesma forma que não se achou resposta para tudo, onde aquilo que está no todo é filho do todo, embora encontre sua morte estando nele; a razão também encontra seu limite na morte.
Fala-se de um universo infinito, ainda assim, nesta abstração, este seria o limite da razão; sua incapacidade de chegar até lá exceto abstraindo; seu limite seria sua morte.
Ao contrário, deveríamos esperar para aqueles que bradam: “Não! A razão não morreu! Estes dirão que há um equívoco na morte da razão, pois, não é um limite para razão, todo limite se iguala a ela...” etc. Estes estarão apartados da natureza, estes estarão se quisermos, além da natureza. Serão quem como deuses.
Mas o Velho morreu. A morte do Velho inicia, por assim dizer, o livro propriamente dito. O conteúdo dela como é sabido é a morte da razão, mas o que é curioso mesmo sob o ponto de vista assim de um certo racionalismo é que o capítulo começa com uma discussão sobre o pessimismo, isto é, a razão não se demonstrou totalmente capaz de dar aquiela tranquilidade almejada para almas ditas delicadas, “românticas”, e o Velho então relata sobre o valor da aceitação daquela espécie de acaso necessário que é a vida e também de seu corolário fundamental – sem o qual não – verdadeiro valor à vida – a morte.
Ora, em que sentido específico o Velho vai permitir o avanço de seu discípulo. Em que pontos equidistantes permitiu aquilo que ele chama “ tornar-se em paradigma”? Isso é sustentado mais adiante, na sua impressão do mundo, o que o Velho permite a Gyan finalmente é estar para além do pessimismo e da razão. É isso exatamente o que na linguagem do Gyan é “ tornar-se um paradigma.”
Para Gyan, a morte do velho não representava de maneira alguma o mais completo irracionalismo, significava antes uma observação grosseira a respeito da noção da filosofia moderna quanto a emancipação da idéia de razão como centro de tudo. Ele (Gyan) procurará no sentimentalismo romântico, sua salvação centro-unitária e não encontrará.
Ao Velho caberia dizer como é o homem em sua natureza uma vez que o Gyan será “indeduzivel” – impossível de se dizer quem ou o quê é. O Velho deverá, assim, mostrar isso a Gyan de modo que ele substitua seus temas “religiosos” para temas que assumem o aspecto reflexivo e os temas conseqüentes da angústia.CARTA 3“Carta a toda culpada”
(não encontrada)
CARTA 4 Sobre o inferno do aqui e agora
(incompleta)
O Andarilho surgiu quando, entre outras coisas, aconteceu-me o amor, e quando, entre outras coisas, entendi o amor como possibilidade.
Mas também é preciso dizer-lhe, quando alguém me disse que os grandes poetas dão luz a grandes poemas somente escrevendo, sem pensar. Simplesmente, pensando me poeta, comecei a escrever sem pensar muito desde 1992 e só parei quando achei que devia, ou seja, quando o enjôo que me trouxe esse livro ao escrevê-lo. E o que é pior, lê-lo, deixou-me de cama por mêses. Mas é bem verdade, é preciso dizer, teria continuação se não fosse sensível à náuseas aterradoras e vômitos de fazerem sangrar até os ossos.
Enfim, como disse a uma jornalista polonesa amiga minha:
“ - O livro trata-se de como emagrecer vomitando(...) São quinhentas e tantas páginas enfadonhas...” E ela riu-se.CARTA 5: “Seguida de Gyan e sua impressão sobre o mundo”
Gyan começa sua seguida e sua impressão do mundo com uma confissão. Diz que o mundo é dor e que ele é louco, mas é sobretudo um cansado da existência. O que faz dele de alguma forma um “inocentado”. Quando Gyan disse que “o Mundo é dor”, ele queria dizer “ o mundo é dor, a realidade é dor. O prazer eu fantasio...Mas eu também quero a realidade, eu também quero o mundo, eu necessito da necessidade...”
Ele vai mais além, quando mesmo não acreditando poder encontrar a verdade, como era seu desejo de início, propõe a exaltação da verdade em si mesma, o que significa que mesmo se ele não a encontrar ele praticará o culto à ela e se tornará submissamente seu mais fiel adorador.
Esse otimismo, mesmo que eu não tenha colocado de forma direta no livro, é a verdadeira bandeira do meu Andarilho, a diversidade que se segue, aquele voluntarismo ao múltiplo como concebe Gyan, o mundo, representa sua tentativa por assim dizer, Aquilo que ele chama, logo de início de “ expansão” – “ tenho de expandir” – trata-se de um aniqüilamento de seu conhecimento prévio daquilo que pode ser entendido por ele sobre a verdade, sumamente: - Se o que conheço não é a verdade, por que não tento na diversidade (expansão) para tentar compreendê-la?
É claro que tudo isso significou para Gyan, um abastecimento de sua própria loucura, mas ele a aceita, acreditando na possibilidade de também encontrar nela uma verdade.