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GONZAGUINHA
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Dores, risos e revoltas

 

            Gonzaguinha era um homem de hábitos simples e sorriso envergonhado, que não conseguia fazer piadas, apenas ironias. Possuía plena consciência do equilíbrio precário da carreira de artista, e brincava que tinha o pé da largura do arame, e por isso devia cuidar demais de seu futuro como compositor. Tinha mania de tomar chope quente e anotar observações de amigos, e quando questionado da razão do último, dizia que isso fazia parte do seu trabalho. Viciado em gengibre, incomodava as namoradas com o cheiro forte da raiz, que usava para preservar a voz. Na juventude morria de vergonha de sua magreza e usava barba para disfarçá-la. Passado o tempo, foi-se aceitando mais e passou a considerar seus defeitos. Como não poderia deixar de ser, estas mudanças se refletiram em suas criações. Suas músicas se tornavam mais leves, mais líricas. No dia-a-dia, cultivava dois hábitos: apelidar as pessoas e dirigir em alta velocidade. No volante de um carro, corria feito louco. Apesar da vida saudável em Belo Horizonte – que se completava com as peladas jogadas com os amigos – não se livrava da hipocondria crônica que o acompanhou por boa parte da vida e se tornou viciado em vitamina de agrião com frutas.

            Durante muitos anos, Gonzaguinha conviveu com a crença de que morreria tuberculoso com pouco mais de vinte anos, como acontecera com a mãe, a dançarina e cantora Odaléia. Dela, o menino não guardava lembranças, apenas uma foto amarelada e um monte de histórias contadas pelas tias. Sabia que a mãe tinha sido apaixonada por Luiz Gonzaga e que a recíproca fora verdadeira. Também sabia que Odaléia, já tuberculosa, fugira do hospital, abandonando o tratamento, ao saber do casamento de Gonzaga com Helena, morrendo pouco tempo depois.