AV.
PAULISTA DAS ALFAZEMAS
Martim, menino descalço, corria feito louco pelos campos de alfazemas
que perfumavam sua infância.
Eram tempos em que não havia relógios para pontuar as horas. Tudo era
livre.
O sol iluminava sua cabeleira desmanchada pela brisa.
A árvore mais alta era seu mirante de onde vislumbrava o mundo.
A lagoa era seu mar de piratas com monstros a dominar.
O que se tinha de melhor era a imaginação: tornava-se um Dom Quixote
sem saber e lutava contra dragões.
Intitulava-se o Senhor dos Campos.
Um graveto, uma espada. Um trapo, uma capa. Uma vassoura, um cavalo
alado. A menina esquelética, a mais linda princesa.
A infância feliz.
Sua alma ficou marcada pelas mais belas lembranças.
Martim, hoje homem, engravatado, do alto do arranha-céu, atrás do
computador, passa por outros campos mais difíceis:
O relógio cassa-lhe o tempo, o Sol transformado em lâmpadas
artificiais, o prazer é conquistado com cartão de crédito, a luta
entre o “Bem e o Mal” deixa lugar para o “Lucro &
Lucro...”
Contudo, Martim, ainda sorri.
Ele tem a sua infância.
A infância do menino descalço correndo feito louco pelos campos de
alfazemas.
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