MEGALÓPOLE
...ao passar pela via expressa da marginal unissonamente com os
demais carros, para quem ia em direção da monotonia, o frio do leito
do rio subia pelo meu olhar apático, quando, de súbito, como num conto
de ficção, a cidade feito um monstro ergueu-se assustadoramente junto
à madrugada nublada, vindo do horizonte e tomando conta dos espaços.
Que
impacto!
A cidade se portava como um animal selvagem, quando não sabemos
prever suas ações e reações. Tudo é enganador e suspeito: da mesma
forma quando
a fera nos olha melancolicamente como criança triste querendo
carinho, ou
se está somente prestes a atacar a qualquer descuido fatal.
Sensação de medo e insegurança foi o que, entre outras coisas,
senti.
Com o sentimento de espanto foi incrível observar
a cidade, fera disforme com a pele cinzenta, encardida, com luzes
berrantes iluminando lugares estratégicos (iscas). Era como se a
tivesse conhecido naquele momento.
É,
tive repúdio àquela pobre coitada, agonizante em solidão, onde
as suas vítimas, todas devoradas, estavam aprisionadas em seu interior
por grades feitas de ganâncias, egoísmos, orgulhos, interesses,
acomodações e de todas as possíveis degradações conseqüentes da
neurose dessa sociedade, vítima do sistema.
E, naquele momento, tomei consciência de que também estava
sendo devorado já quase totalmente...
Como
fugir das garras desta fera?
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