ALMA DELICADA
Hèlade!
Hélas!
Sou
helênico, ou melhor, tornei-me helênico. Pertenço a Hèlade, Grécia antiga.
Exclamo
minha saudade, minha dor, exclamo hélas!, dos franceses poetas.
Quem
sou eu agora?
Qual
partido toma minha maior porção?
Helênica!
Helênica!
O
diamante é o
metal invencível usado pelos deuses ao fabricar suas armas.
Perguntei
a mim mesmo por algum tempo: Qual é arma?
Para conquistar o quê?
A
resposta veio quando você surgiu, porta adentro, em minha vida.
Seus
traços, seus contornos, são o que há de melhor das origens helênicas.
Do
Olimpo, veio a arma feita mulher para conquistar os homens poetas.
Ser
diamante na construção, nos objetivos, na pureza helênica, eu até posso
entender. Mas como consegue alma tão delicada?
Como
condenar os troianos pelo rapto, abismados
pela rara jóia helênica?
Terei coragem de fazer o mesmo?
No
cavalo moderno puxado pelos cabos de aço, no sobe e desce do arranha-céu, nos
beijamos mais uma vez. E, não mais que de repente, foi-se. Onde fica esse tal
de Olimpo?
Quando
nos amarmos, como será?
Tornar-me-ei
um deus mitológico?
Tornar-se-á
minha deusa helênica uma mulher de carne e osso repleta de desejos para serem
saciados?
Simplesmente humana?
Qual
é o medo?
A metamorfose terá dor? Terá gozo? Toda dor tem um pouco de gozo. Todo gozo tem um pouco de dor. Nada que os moinhos de ventos não
possam sanar - transe de ilusão e desejos.
Se
disserem que seus traços são romanos, não estarão errados...
As
romanas também usam túnicas. Suas gentes andaram pela Grécia antiga.
Eu
avanço meu olhar sobre o poço de desejos. Tento alcançar o melhor ângulo das
brancas e delicadas porcelanas; rara beleza.
Beijo
sua boca com volúpia, na verdade quero alcançar todos os lábios.
Desça
do Olimpo, venha me visitar em sonho. Acorda-me.
Vamos nos amar.
Seja
minha aos poucos, quando puder, jóia helênica.
Seja
minha, alma de deusa e mulher.
Seja
minha, alma delicada.
|