A UMA ARTISTA PLÁSTICA,
SIMONETTA
...num tremendo rabisco em minha
mente, tentei montar letras, palavras e formas, a fim de
mostrá-las a alguém que, para mim, está numa condição totalmente
platônica. Talvez minha visão seja um tanto quanto a mesma dos
seguidores daquele filósofo grego. Por que será que entre eu e
as pessoas que me fascinaram sempre houve essa separação e
ausência de corpos, mesmo que em minha mente estivessem tão
presentes a ponto de tocá-las?
Em certos momentos pude relembrar
com o coração acelerado outros sentimentos e idéias trancafiadas
pela minha calculadora, mercado de capitais e tudo aquilo que
torna o homem menos homem e mais máquina.
Sabe, toda essa motivação ocorreu
só por ter pensado nos momentos em que pude estar em sua
companhia dentro da madrugada (“One day in your life”). Eu não
lhe disse, mas você estava linda...
Senti-me simplesmente feliz, com
você, à luz de vela no Terraço Itália (41º andar), nivelado com
as “estrelas” feitas pelo homem, dos prédios, pude deliciar-me.
Era um cenário com sabor de mistério (assim como o seu olhar).
Lâmpadas multicores, esbanjando beleza material, enquanto que
outras estrelas, as verdadeiras, muito mais ao alto, lançavam
seus raios penetrantes sobre nossos espíritos atônitos pela
pureza, pela limpidez e tranqüilidade que do supernatural
emana...
Ah! quando fui à fazenda fiquei
outra vez dentro da noite, porém só, tentando me encontrar ou
encontrar não sei bem o que, talvez você, mas só vi novamente
pequeninas luzes em forma de colar de puros diamantes bem
distantes (eram da cidade de Pirambóia-SP), contrastando com
aquela tremenda escuridão.
Quisera eu colocar aquela beleza em
seu pescoço seminu. Você ficaria supra-excitante. A sensação
que percorreu fortemente por uma espécie de túnel adentro de
minha alma foi algo delicioso, ao pensar em você na noite.
Mas, naquela escuridão, pude
perceber que todo artista está intimamente ligado, acoplado e
enamorado com sua própria arte e não pode haver interferências,
talvez fosse danoso...
Contudo sigo, até que esses
sentimentos relembrados e gostosamente provocados sejam
novamente guardados pelas leis dos negócios (dos “homens
sérios”), e voltar a ser menos homem e mais um alimento da
cidade grande e continuar nesta “commedia dell’arte”. E, a
contragosto, serei mais um entre os conformistas a comentar:
“comme il faut...”
Não sei se seria o caso de me
desculpar perante sua sensibilidade, mas sinto que estou caindo
no ostracismo. E, antes que isto aconteça totalmente, quero lhe
mandar um beijo todo especial e agradece-la por você ser a
responsável por momentos que me fizeram bem, muito bem...