ÓPERA
Certamente ele gritou Fígaro, Fígaro, Fígarooo!...
Onde
meus ouvidos estavam que não ouviram o auge do Fígaro, Fígaro, Figarooo?...
Do
camarote meus olhos secos, inertes, feito olhos de espião, fixavam aquela
mulher que brilhava como diamantes nas vitrines de Amsterdã.
O
seu semblante de realeza, com certo ar de inocência em contraponto com o
generoso decote a mostrar a ânsia dos seios estufados, me fascinavam.
Será
que estou tomado das manifestações do amor?
Não
perdi um ato daquela ópera feita mulher. Cada movimento seu era pura poesia.
Qual será o seu nome? Mas o que importa?
O
teatro tornou-se tão pequeno, tão vulgar, tão inadequado para aquela
beleza...
Ah!
Se ao menos eu possuísse um castelo em Sevilha. Iríamos passar longas tardes
pelos jardins, a visitar cada flor, a sentir cada perfume e a admirar todos os
tons. Quem sabe adormecer em seus seios?...
Mas,
de súbito, fecharam-se as cortinas. O clamor do BRAVO, BRAVO, BRAVO ecoou de
forma estridente. Todos se levantaram e a confusão foi generalizada. Onde está
o meu amor? Desci as escadarias desesperado à sua procura e nada...Seria um
sonho?
E
então, aos poucos, no meio da multidão, uma silhueta já familiar, veio em
minha direção. O que fazer? Para onde fugir?
Oh!
Meu Deus. Era ela mesma. Frente a frente.
Disse-lhe,
totalmente acuado e assustado:
-
Eu não
possuo um
castelo
em Sevilha,
mas tenho
as flores.
Eu não
tenho nem
sequer
a coragem de lhe beijar, mas estou febril.
Ela sorriu, sem nada entender, beijou minha face e se foi.
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