CORDA, ROSÁRIO, SALVAÇÃO!
Habituei-me
a deitar meu corpo alquebrado sobre a cama amigável, não antes de um
esticar felino; minha alma
também pede descanso e um livro sempre faz as vezes da boa
pousada.
É verdade que minha alma, a danada, fica mimada, exigente, não
aceita sempre o mesmo estilo de leitura; a cada dia, conforme seu
“estado de espírito”, reclama conteúdo mais sarcástico; outra vez
mais poético; ou mais brutal...
Nos meandros dessas leituras - fontes de
prazer -, chega a comover com certas sutilezas que, às vezes,
para mim, dizem mais que o todo da obra; verdadeiros choques internos
sobressaltam a imaginação, o intelecto e as emoções. Como conseguem
certos escritores colocações tão geniais, divinas?
Em um conto de 1.955, “Caminho de Ilusão”, de Antonio G. de
Linares, o autor descreve de forma magnífica um episódio de resgate
numa geleira:
“... vencidas as últimas ruazinhas e atingidos os primeiros
barrancos do monte, começou a ascensão épica. Lá seguiam os
valentes. Iam talvez em busca da morte, e em silêncio. Unia-os comprida
corda, formando assim um quebrado rosário humano, em cada uma de cujas
contas palpitava um coração sereno...”
Não é bela essa visão?
Comparar a comprida corda a um quebrado rosário humano foi
demais...
Imaginei as nossas próprias vidas.
Que simbologia aquele “cordão”.
Podemos por analogia explicar
tantas variantes da vida humana.
Estamos todos interligados, não é mesmo?
Atados numa mesma corda, para não nos perdermos e encontrar a
salvação; procuramos seguir unidos na mesma direção; aqueles mais
fortes vão à frente servindo de guia, dando perseverança aos demais
que seguem seus passos - que responsabilidade - principalmente nos
momentos de borrascas, de dificuldades que assaltam e levam o ânimo, o
vigor, as certezas. E,
quando os “guias” falham, levam com eles os demais.
Um cordão humano, um rosário, ainda que
quebrado, sabemos
que as contas são vidas repletas de esperanças como são as orações...
Vamos refletir sobre nossa posição e atuação nessa corda da
vida.
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