 Ivarlindo
Albuquerque Luna
"Luna... amigo querido e companheiro. Enriquecemos nosso espaço no Ateliê
da Alma, com o Soneto 30 - (Shakespeare,
com tradução de Bárbara Heliodora) e também com o texto:
Procura-se um amante! (Dr. Jorge Bucay - tradução
do original "Hay que buscarse um Amante"),
que você nos enviou."
Quando
à corte silente do pensar
Eu
convoco as lembranças do passado
Suspiro
pelo que ontem fui buscar,
Chorando
o tempo já desperdiçado,
Afogo
o olhar em lágrima tão rara,
Por
amigos que a morte anoiteceu;
Pranteio
dor que o amor já superara,
Lastimando
o que desapareceu.
Posso
então lastimar o erro esquecido,
E
de tais penas recontar as sagas,
Chorando
o já chorado e já sofrido
Tornando
a pagar contas já pagas.
Mas,
amigo, se em ti penso um momento,
Vão-se
as penas e acaba o sofrimento.
(Shakespeare,
com tradução de Bárbara Heliodora)
Procura-se um amante!
(Dr. Jorge Bucay - tradução do original "Hay que buscarse um
Amante")
Muitas pessoas têm um amante e outras gostariam de ter um. Há também as que
não têm, e as que tinham e perderam.
Geralmente são essas últimas as que vêem ao meu consultório para me contar
que estão tristes ou que apresentam sintomas típicos de insônia, apatia,
pessimismo, crises de choro ou as mais diversas dores. Elas me contam que suas
vidas transcorrem de forma monótona e sem perspectivas, que trabalham apenas
para sobreviver e que não sabem como ocupar seu tempo livre.
Enfim, são várias as maneiras que elas encontram para dizer que estão
simplesmente perdendo a esperança.
Antes de me contarem tudo isto, elas já haviam visitado outros consultórios,
onde receberam as condolências de um diagnóstico firme:
"Depressão", além da inevitável receita do anti-depressivo do
momento.
Assim, após escutá-las atentamente, eu lhes digo que elas não precisam de
nenhum anti-depressivo; digo-lhes que elas precisam de um AMANTE! É
impressionante ver a expressão dos olhos delas ao receberem meu conselho.
Há as que pensam: "Como é possível que um profissional se atreva a
sugerir uma coisa dessas?! "Há também as que, chocadas e
escandalizadas, se despedem e não voltam nunca mais.
Àquelas, porém, que decidem ficar e não fogem horrorizadas, eu explico o
seguinte: AMANTE é "aquilo que nos apaixona".
É o que toma conta do nosso pensamento antes de pegarmos no sono e é também
aquilo que, às vezes, nos impede de dormir. O nosso AMANTE é aquilo que nos
mantém distraídos em relação ao que acontece à nossa volta. É o que nos
mostra o sentido e a motivação da vida.
Às vezes encontramos o nosso amante em nosso parceiro, outras, em alguém que
não é nosso parceiro, mas que nos desperta as maiores paixões e sensações
incríveis. Também podemos encontrá-lo na pesquisa científica ou na
literatura, na música, na política, no esporte, no trabalho, na necessidade
de transcender espiritualmente, na boa mesa, no estudo ou no prazer obsessivo
do passatempo predileto...
Enfim, é "alguém" ou "algo" que nos faz
"namorar" a vida e nos afasta do triste destino de "ir
levando".
E o que é "ir levando"? Ir levando é ter medo de viver. É o
vigiar a forma como os outros vivem, é o se deixar dominar pela pressão,
perambular por consultórios médicos, tomar remédios multicoloridos,
afastar-se do que é gratificante, observar decepcionado cada ruga nova que o
espelho mostra, é se aborrecer com o calor ou com o frio, com a umidade, com
o sol ou com a chuva.
Ir levando é adiar a possibilidade de desfrutar o hoje, fingindo se contentar
com a incerta e frágil ilusão de que talvez possamos realizar algo amanhã.
Por favor, não se contente com "ir levando"; procure um amante,
seja também um amante e um protagonista ... da SUA VIDA...
Acredite: o trágico não é morrer; afinal a morte tem boa memória e nunca
se esqueceu de ninguém. O trágico é desistir de viver; por isso, e sem mais
delongas, procure um amante .
A psicologia, após estudar muito sobre o tema, descobriu algo transcendental:
"PARA SE ESTAR SATISFEITO, ATIVO E SENTIR-SE JOVEM E FELIZ, É PRECISO
NAMORAR A VIDA."
Ivarlindo
Albuquerque Luna

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