Ana Maria Rosatto Servelhere    

 

 

 
Membro da Associação dos Escritores de Bragança Paulista.
 
PUBLICAÇÕES - ANA MARIA ROSATTO SERVELHERE - ASES

 

 



A QUESTÃO DO NÃO SER 

 Antologia Del Secchi vol V/1996

 

Nesta vida fui de tudo

Fui mendigo, vagabundo

Fui menor abandonado

Fui adulto explorado

Político exilado...

"Fui criança sem escola,

                    no vício de cheirar cola."

Fui a mulher desamável

Na força, discriminada

Viúva, mal aposentada

Prostituta explorada...

"Fui no ventre do pecado

                    O aborto condenado."

Nas longas horas da noite

Faminto, sofri o açoite

Da desnutrição que consome

As energias de um homem...

"Enquanto ladra a matilha

                    Passa a caravana faminta."

Das calçadas fiz abrigo

Perambulando perdido

Tive meu crânio esmagado

Entre o lixo amontoado...

"Passageiro das ruas, ao léu,

                    Fui catador de papel."

No leito de um hospital

Conheci a dor mortal

No cárcere da prisão

Visitou-me a solidão...

"Parceiro constante da dor

                    Da maior delas: o desamor."

Excluído, analfabeto

de todo e qualquer projeto

Herdeiro só da esperança

Das santas bem-aventuranças!...

"Cheguei sempre tarde na vida:

                    A vaga já foi preenchida!"

A dura questão de não ser

Não sei se é tributo ou se é sina

Mas, se é de livre arbítrio o viver,

como é que fica a chacina?!...

 
 
 
 
 


DEUS, QUEM SOIS?

  2°Lugar - Litteris Editora/RJ-1996

 
 
 
DEUS,
 
Para mim sois a chama
 
Do amor e das paixões
 
Que incendeia e que inflama
 
De alegria os corações.
 
 DEUS,
 
Para mim sois todo instante
 
De sonho e fantasia
 
Que me vêm e que se vão
 
Como versos de uma poesia.
 
DEUS,
 
Para mim sois a nota forte
 
De uma suave canção
 
Ou o fremitude do som
 
No prazer e na emoção.
 
DEUS,
 
Para mim sois o trabalho
 
Que se traduz em conquista
 
Meu talento que sustenta
 
A confiança benquista.
 
DEUS,
 
Para mim sois a saúde
 
Que me destes em gratuidade
 
A firmeza dos meus passos
 
Segurança em qualquer idade.
 
DEUS,
 
Para mim sois a lealdade
 
Que afasta qualquer empecilho
 
A fidelidade dos esposos
 
O amor entre eles e seus filhos.
 
 
DEUS,
 
Para mim também sois a dor
 
Da derrota ou da loucura
 
Pois quando às vezes me assistem
 
Põem-me à vossa procura.
 
DEUS,
 
Para mim sois a fome
 
Que nunca experimentei
 
Mas que conheci nos olhos
 
Dos irmãos com quem cruzei.
 
 
DEUS,
 
Para mim sois o diálogo
 
Que emudece os canhões
 
E reúne novos homens
 
Em um acordo de mãos.
 
 
DEUS,
 
Para mim, dentre os sentimentos
 
Sois o mais nobre: o perdão
 
Terapia de autocura
 
Meta para a reconstrução.
 
 
DEUS,
 
Sois para mim sobretudo
 
A inspiração que não veio
 
A frase de arrebatar.
 
Porém bem sabeis de tudo
 
Sois a constante energia
 
A chance do recomeçar...
 

 


NOS PALCOS DA VIDA

Litteris/1996

 
 
Poeta não sou eu
 
que busco a inspiração,
 
na tentativa poética de descrever com perfeição
 
os brilhos da minha ilusão...
 
 
Poeta é você, meu astro,
 
que brilha feito uma luz,
 
o sonho menor reproduz,

na fantástica euforia de uma nação-alegria...

 
 
Poeta não sou eu
 
que na síntese da trova,
 
ou na poética prosa,
 
vou dando à luz novos versos,
 
que constroem meu progresso...
 
 
Poeta é você, meu ator,
 
que no palco se ilumina
 
e faz descer com as cortinas
 
toda cruel frustração;
 
e, na mais eficaz terapia,
 
transforma a melancolia em forte determinação.
 
 
Poeta não sou eu
 
que busco na rima florida
 
ou na cena consagrada
 
reprogramar minha vida, descortinar minha entrada.
 
 
Poeta é você, meu atleta,
 
solto, exposto, qual gigante, com passos de sete léguas,
 
ensinando com grandeza
 
que, às vezes, se deve dar trégua ao competir e vencer.
 
 
Poeta não sou eu
 
que requinto o meu bom gosto
 
e dou o tom ao meu rosto
 
das cores do ouro e roxo, como as primícias de agosto.
 
 
Poeta é você, meu artista,
 
que no circo vira palhaço e com seus estardalhaços
 
mostra o melhor pedaço da vida, que com maestria,
 
entre sonhos, fantasias, se renova, nunca morre...
 
 
Poeta não sou eu
 
que exercito a leitura
 
de sábios pensadores
 
pra lapidar a textura na perfeição dos valores.
 
 
Poeta é você, meu cantor,
 
você que interpreta, de fato, a vida, em seus melhores tons,
 
com suas letras e canções, renova a sonoridade,
 
quando a má competitividade quer calar as vozes firmes de uma sábia geração.
 
 
Poetas são tantos talentos,
 
que vestem a vida de encanto,
 
travestem anseios e dores, enfrentam adversidades,
 
erguendo alto as bandeiras da justiça e da verdade.
 
Astros também são os nomes dos cidadãos contra a fome..
 
 
 

 


CARNAVAL...
 
(Publicado no portal português CEN, fevereiro_2003)
 
 
 
No lusco-fusco das paixões carnavalescas
 
Rompi as arestas de um pudor frio e machista
 
Que concede à mulher, desde a mais terna idade,
 
Ares de gazela ...vaidades chovinistas...
 

 Extenuada em quatro noites de folia
 
Rasguei meu coração, insossa fantasia
 
Vesti meu tererê, rodei minha baiana
 
Fantasiei de cinderela a meretriz....
 

Descolorindo ébria o fogo da paixão
 
Desafiei, inebria a minha triste sorte,
 
Me fiz errante, amante vil, fiel consorte
 
De um prazer escravo que esfumaça em cinzas...
 
 
 
E venham outros carnavais, se curem as marcas
 
Deste amor louco, que num certo carnaval
 
Me fez mulher, sem poder antes ser menina!
 

 

Ana Maria Rosatto Servelhere

 


 

 
 
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