Quando Rubi conhece Rico
Certa tarde, na casa de Lola...
Rubi está na janela, olhando o movimento, Lola, atarefada, limpa a casa, D. Dolores chega e reclama:
- Mas que sangria desatada é essa, não? Parece até que vai me tirar o pai da forca!
- Ah, mãe! Daqui a pouco o Enrico tá aí com os móveis e a casa nesse estado, ah meu pai! - diz Lola enquanto esfrega o chão.
- Enrico... que Enrico? - pergunta sua mãe.
- Enrico PUENTES, meu noivo. Ou a senhora já se esqueceu de que eu vou me casar?
- Claro que não, filhinha. Como é que a mamãe ia esquecer que justo a minha filha q ia ser freira tá realizando o meu sonho. Não é igual umas e outras aí que só me dão desgosto.
Rubi olha:
- Ôôô, que que é, hein? Vai começar a pegar no meu pé?
- Ô mãe, deixa a Rubi, coitada. Me dá uma mãozinha aqui.
- Claro, filhinha... Enrico Puentes. Só pelo nome percebe-se que se trata de um homem fino e educado.
- Deve ser um chato, isso sim - reclama Rubi.
- Rubi! Quer fazer o favor de não ofender o MEU noivo?
- Ah! Eu vou é tomar um ar, isso sim. - explode Rubi.
Ela desce até o andar de baixo e fica na varanda.
Nisso, chega um caminhãozinho velho, carregado de coisas. O caminhão pára. Rico, que estava na carroceria, dá um salto para fora e grita:
- Que que é isso? Precisava dirigir tão mal? Pensei que eu fosse cair.
Uns homens saem do veículo e começam a descarregar a mudança. Rico os observa:
- Vâmo tomá cuidado, gente! Isso aí é tudo coisa cara e fina, hein?
Rubi presta atenção nesse homem alto, de cavanhaque, que fala e gesticula sem parar. Seu coração dispara, ela nunca havia sentido isso antes.
- Vâmo, gente! É pra hoje! Me dá aqui, vai. - grita Rico enquanto pega uma mesa do caminhão.
Ele sobe as escadas, esbarra em Rubi, que parece hipnotizada.
- Opa, desculpa. Machuquei você? - pergunta Rico.
Rubi não consegue falar, tamanha é sua emoção. Ela apenas nega com a cabeça.
- Num fala? Num tem língua?
Rubi sorri.
- Vem cá, cê pode me dizer se a Lola mora aí em cima? - fala Rico.
Ela não diz nada.
- Ô mocinha! Que que foi? Cê num conhece a Lola? Lola Calderón? É uma baixinha que é a coisa mais linda desse mundo. Ei, tô falando com você!
Rubi fica sem graça diante daquele homem grande, não sabe o que dizer.
- Ah, deixa pra lá, eu me viro - diz ele subindo as escadas.
Rubi o segue com o olhar, ainda sob o efeito daquela sensação estranha.
- Ô de casa! Lola?
- Rico? Já chegou, meu amor? Ah, minha Nossa Senhora! Não deu tempo de limpar o chão ainda.
- Faz mal, não, môzinho. Depois a gente dá um jeito. Eu tenho que descarregar logo o caminhão, que o homem já tá bravo lá.
- Deixa aí então, Rico. Mãããããeeee!
D. Dolores chega:
- Que é que foi?
- Mãe, esse aqui é o Enrico.
Rico beija a mão de D. Dolores e diz todo sorridente:
- Enrico Puentes, seu criado. Opa! Agora eu sei quem a Lola puxou em boniteza. Prazer!
- Ai! Educado, ainda por cima. Onde foi que você achou esse tesouro, filhinha? - pergunta D. Dolores encantada.
- Já esqueceu, mãe? Foi ele quem me achou. Lá na igreja.
- E tirei a sorte grande! - conclui Rico. Vem cá, você não tinha uma irmã não?
- Tenho sim. Rubiiiiiiii!
Rubi aparece na porta esbaforida, quando vê Rico, pára:
- Chamô, Lola? - pergunta timidamente.
- Chamei sim. Rubi, esse aqui é o Rico.
Rico olha surpreso para Rubi:
- Ah, mas então é você? Você fala, é?
- Claro que eu falo, queria o quê? Que eu mugisse?
- Hahaha, brincalhona ela, né? - diz Rico.
- Que que é isso, Rubi? Que modos são esses? - interfere Lola.
- Ué? Ele fez uma pergunta e eu respondi, que é que tem? - responde Rubi.
D. Dolores intervém:
- Eh... Liga não, essa daí puxou o pai, só falta a ferradura.
- Mãe! - interrompe Lola.
Rubi perde a paciência:
- Então, Lola? Me chamô aqui pra quê?
- Como pra quê, Rubi? Pra apresentar o meu noivo.
- Então, agora que já tâmo tudo presentado, eu tenho mais o que fazer.
E vai embora.
- Esquentadinha ela, não? - comenta Rico.
- Ah, deixa pra lá, Rico. É o jeito dela, fazer o quê?
- É falta de homem, isso sim - fala D. Dolores.
- Mamãe, por favor! - pede Lola.
Rico sorri e pega na mão de Lola:
- Já isso não acontece com a sua outra filha aqui, que é uma flor.
Rubi ouve tudo do lado de fora e desce as escadas com raiva. Lá embaixo olha o caminhão e relembra o momento em que viu Rico chegar. Nisso, seu Manolo aparece.
- Hum... que cara é essa, Rubi?
- Ô, que que é? É a minha cara de sempre, ué?
- Credo, que mau-humor! Eu só perguntei porque nunca vi você com essa cara antes.
- Posso saber que é que tem a minha cara?
- Tá com cara de "meu Deus! Como ele é lindo!"
- Êêê... tá me estranhando, tá, seu Manolo? Eu só tô com cara de "que desgracera de vida".
- Então tá... - seu Manolo vai embora.
Rubi fala sozinha, olhando para sua casa:
- Tô é perdida... perdidinha... Meu Deus... que que eu faço agora?