POESIAS QUE FALAM DE ROSAS
UMA ROSA CHAMADA SAUDADE Quero por em tuas mãos apenas uma rosa, Nascida de um jardim em outro mundo, Que não fica em parte alguma, mas existe Escondido em meus sonhos, lá no fundo. Esta rosa que te dou, guarda-a contigo. Dá-lhe o beijo do amor e o afago da amizade. Pois quando ela nasceu, as outras rosas Batizaram-na com o nome de saudade.
A ROSA DA FLORESTA Rosa encarnada nascida na floresta, Que fazes tu perdida nesta festa, Que buscas tu num copo de bebida, Que estás a procurar assim na vida ? Será que tu não vês, cada momento Que passa assim, é mais um sofrimento, Que vai somar-se aos múltiplos de outrora, Sem que nenhum dos outros vá embora ? E não percebes mais, rosa divina, A quantos homens teu olhar fascina E que êsses homens passam, em seguida, A viver uma vida tão perdida Quanto a que tu te expões desde pequena ? Tu devias, ao menos, sentir pena Daqueles que, não tendo o teu domínio, Não podem compreender que o teu fascínio, Nada mais é que a pétala da rosa, Que desfila impávida e formosa Pelas ruas brilhantes da cidade, Enquanto a rosa, ela mesma, com saudade, Vive a pensar tristonha no seu mundo, Que é simplesmente um roseiral profundo ! Por que não regressar para a floresta ? Não sentes tu com que alegria e festa, As outras rosas te receberiam ? E quanto amor os lírios te dariam...
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AS DUAS ROSAS Guarda esta rosa contigo em algum canto. Sua estória é uma linda fantasia, Uma lenda gentil cheia de encanto : Esta rosa vivia, há muito tempo, Num jardim, no distante Paraíso. Parecia feliz, mas, contratempo, De repente perdeu todo o juízo. Apanhando um querubim adormecido, Esgueirou--se p'ra fora do jardim E fugiu para as terras deste mundo. Foi andando e andando, sem sentido, Até parar, fatigada, junto a mim, Mergulhando no sono mais profundo. Muitas horas após ela acordou. Olhou-me meigamente e perguntou : Onde estou? Onde está o meu jardim? Não sabia dizer. Fiquei calado, Vendo a rosa a chorar, triste, ao meu lado, Com saudades - quem sabe? - de um jasmim Pensei muito e depois, tomando a rosa Em minhas mãos, eu disse : flor formosa, Eu já sei, o que tens é solidão. Mas conheço quem pode, com ternura, Tirar de tí a trágica amargura, Trazer-te amor de novo ao coração. E foi assim que eu vim, devagarzinho, E em tuas mãos coloquei, com mui carinho, A vermelha flor, gentil e bela. Para que junto a tí ela sentisse Não estar só, e em teus olhos descobrisse Ter do lado uma rosa igual a ela.
ROSA LEMBRANDO ROSA Há dois anos, duas rosas se encontraram. Uma cresceu, cresceu...depois morreu. A outra foi crescendo, foi crescendo... E hoje em dia, meu Deus, como cresceu ! Sempre alegre, risonha, saltitante, Pelo mundo, feliz, cheia de vida, Em seus olhos brilhando, a cada instante, Ilusões de menina enternecida. Mas, as vezes reparo, num relance, ( Que ela busca esconder, mas não consegue ) Uma sombra fugidia de tristeza, Que por ínfimo segundo a persegue. Ela não diz porque, mas eu entendo Que a menina-flor está sofrendo E que o seu cantar emudeceu. E é então que eu sei que a flor-menina Está lembrando de uma outra, pequenina, Está chorando pela rosa que morreuu... |