SONETOS

ATRAVÉS DO TEMPO

A tua mão na minha, quantos anos

Andamos juntos, carinhosamente,

Sem conhecer a dor dos desenganos

E a vida transcorria alegremente.

***

Até que um dia os deuses decidiram

Testar nossa paixão e eu fui embora.

Tu ficaste a chorar, os deuses riram...

Como foi pavorosa aquela hora !

***

Mas, lentamente, o tempo foi passando,

Os deuses se acalmaram. Fui voltando,

E voltei. Tu já não estás sozinha.

******

E juntos, novamente, à luz da lua,

Entrego uma saudade que era tua,

Recebo uma saudade que era minha.

 

A RAZÃO DA MINHA VIDA

Querida, ao te fitar minha alma clama

Por todos os amores, por desejos,

Por todas as carícias, pelos beijos,

Que nos consumirão como uma chama.

***

Teu olhar traz de longe a melodia

Das harpas gregas, das canções romanas.

E eu sofro a fúria das paixões ciganas,

Embalada num mar de fantasia.

***

De momento à momento, como cresce

Este ardor que o coração padece,

Esta esperança verde tão querida,

***

De ver em teu olhar dez mil estrêlas

E de sentir, querida, quando ao vê-las,

Que elas são a razão da minha vida.

FUGA DO PENSAMENTO

Por que hei de acordar, se me levanto

Para sentir a amarga hipocrisia

Da vida, que na sua tirania,

Das ilusões mais nobres rouba o encanto ?

***

Passem-se as horas, que termine o dia.

Que surja a noite e venha com seu manto

Trazer a escuridão à cada canto

De uma existência, há muito já vazia.

***

Chegue-me o sono. Só neste momento

Eu me liberto de um viver tristonho

E desafogo o pranto do meu peito.

***

Pois quando durmo, foge o pensamento.

Deixa a morada, parte do meu sonho

E vai deitar-se à beira do teu leito

SOLIDÃO E SAUDADE

Tu te foste, nem sei em que sentido.

Ao derredor de mim, tudo gelado.

As paredes sem tom nem colorido,

Solidão e saudade, lado a lado.

***

Nem meus versos descrevem em que estado

D'alma eu fiquei, tão logo tinhas ido.

Teu perfume restou e, embriagado,

Pouco a pouco por ele fui vencido.

***

Vencido para então voltar em sonhos,

A viver da paixão todos ardores,

A sentir novas fontes de desejos;

***

A buscar nos teus olhos, tão tristonhos,

Permissão para dar-te mais amores,

E, de novo, afogar-me nos teus beijos.

 

SE DO INFINITO AZUL ...

Se do infinito azul São Pedro visse

Teus meigos olhos, certo sentiria,

Que dentre os anjos que no céu havia,

Igual a tí jamais um existisse.

***

E se a mitologia grega um dia,

Das lendárias colunas ressurgisse,

Talvez que ao ver-te Júpiter sentisse

Que outra deusa no Olimpo reinaria.

***

Mas eu, que não sou rei nem serei santo,

Nem céus nem reinos tenho que te acene,

Vivo sofrendo assim meu triste pranto.

***

E hei de sofre-lo pois, servo perene

Da flor do teu sorriso, doce encanto,

Da luz do teu olhar, gentil Marlene

O IMÃ QUE ME ATRAI PARA VOCÊ

(parodiando "Se do infinito Azul...)

Se lá do céu azul um santo visse

Este teu olhar. Certo sentiria

Que no infinito nenhum anjo havia

Tão belo que contigo competisse.

***

E se da bela Acrópole um dia

O deus maior do Olimpo ressurgisse

Talvez ao ver teu rosto ele sentisse

Que outra deusa ao seu lado sentaria.

***

Porém, simples mortal, sigo te amando.

Amor que a cada dia vai crescendo,

Sem que eu consiga definir porque.

***

E daí? Se eu gosto de estar gostando

Desta loucura que vem me envolvendo,

Deste imã que me impele até você.

 

DESEJO

Quantas horas de amor, quanta ternura,

Nos passamos nas sombras, lado a lado,

Nossas vidas trazendo, por moldura,

A tentadora capa do pecado.

***

Quantas vezes eu trago-te a tortura

De um desejo que jaz acobertado,

Mas que desperta em transes de loucura

E em nossos braços voa liberado.

***

Corre-te o corpo o ardor embriagante,

Que se transmite da paixão que eu gero

E te envolve em múltiplos ardores.

***

Vem, bem depressa, neste exato instante.

Faz-me vibrar, meu bem, que eu também quero

Fazer vibrar a ti com meus amores

 

 

REENCONTRO

A mão que os mundos move pôs-me diante

De tí, a quem há muito já não via,

A chama que apagada então jazia,

Fazendo arder de novo, flamejante.

***

E tu, a quem o espanto emudecia,

Por um momento, pálida, ofegante,

Fitaste-me e eu julguei, naquele instante,

Que a flama de outros tempos ressurgia.

***

Porém, ao contemplar-te, novamente,

Eu ví em teu olhar indiferente.

Sentí no teu sorriso amargurado,

***

Que nada mais nos resta, infelizmente,

Se não viver em sonhos, no presente,

O que ficou perdido no passado.

PORQUE, MEU DEUS ?

Porque, meu Deus, não são padronizados,

As marcas e os momentos da existência ?

Por que não haverão os nossos fados

De ter a segurança por regência ?

***

Porque não age logo a consciência

Na decisão de fatos já julgados ?

Por que não resolvemos só baseados

Na lógica imutável da ciência ?

***

Porque, meu Deus, por que nossos destinos

Escravizados são aos desatinos

E às caprichosas voltas da mãe sorte ?

***

Porque, meu Deus, por que nós exitamos,

Se a dúvida, que hoje acalentamos

É a mesma que amanhã nos leva à morte ?

 

AS DUAS FACES DE EVA

A plácida mulher que, à luz do dia,

Espalha ao derredor tranqüilidade.

O meigo olhar sereno que irradia

Sensações de ternura e suavidade.

***

Mulher que nos conduz à fantasia,

Cujo terno sorriso é só bondade.

Uma musa que inspira a poesia,

Uma deusa que inspira uma saudade.

***

Mas, de noite, a paixão sacode tanto

A plácida mulher, que o que é rosa,

Desfolha-se num mar de amor e encanto.

***

E surge a fêmea, ávida e formosa,

Que, em vão tentando sufocar o pranto,

Suplica, geme, ordena, grita e goza!

OS DEUSES TAMBÉM PERDOAM

É nosso amor tão grande, incandescente,

Quando juntos estamos, lado a lado.

Não menor é a saudade impertinente,

Quando de tí eu fico separado.

***

Mas este nós, imenso, eternizado,

Ao próprio mundo em volta, indiferente,

Pode ser tido até como pecado,

Por um julgar, de deuses, inclemente.

***

E, se assim for, que punição teremos ?

Nenhuma, meu amor, posto que Atenas

Há de dizer á Zeus : "Esses humanos

***

São infantis, não sabem ser serenos,

E por castigo devem ter, apenas,

A obrigação de amar por dez mil anos"

. ALMA DE SATÃ

Nos ermos tempos do infiel cupido,

Em que os sinos versos repicavam,

Aos lábios teus vivia embevecido

E as pétalas do amor se desfolhavam.

***

No entanto, infelizmente, eu não sentia

Que a trama desse amor a mim cegava :

Pois tudo que era bom em tí eu via,

De tudo que era mal eu me culpava.

***

Porém, por esse amor já não pelejo.

E aquela à quem chamei gentil donzela,

Já não me inspira mais siquer desejo.

***

Pois ao fitar-lhe a face, sempre bela,

Por traz do seu olhar de santa eu vejo

A alma de satã que se revela.

 

DILÚVIO

Cai a noite no Sul e uma tormenta

Vai recobrindo tudo em negro manto,

Enquanto que o universo, por encanto,

Como que ruge, como que lamenta.

***

São lágrimas do céu por todo canto,

A demonstrar, de forma violenta,

Que até a natureza, por seu pranto,

À minha imensa dor se faz atenta.

***

E as lágrimas que caem lá do espaço,

Unindo-se às que rolam do meu rosto,

Afogam-me num poço de desgôsto.

***

E assim, a minha têmpera de aço,

Vai-se alquebrando nessa tempestade,

Até morrer num lago de saudade.

 

 

PASSADO E FUTURO

Nós somos, tu e eu, seres humanos

Vulneraveis a tantas desventuras.

Mas há amor em nossas carnes puras

E ardem em nós a chama dos ciganos.

***

Não vamos mais pensar nas amarguras,

Nem recordar a dor dos desenganos.

Nada do que passou nós lastimamos,

Pois conosco só seguem as venturas.

***

Não há entre nós dois nenhum pecado.

É tudo vida, encanto e fantasia.

O que foi ruim, que fique no passado.

***

Para o futuro, as nossas esperanças

De viver só do amor, dia após dia,

E só do amor guardarmos as lembranças.

VAMOS VIVER DE AMOR

Eu te convido p'ra uma caminhada

Por um lindo universo encantador.

É uma mágica e bem longa estrada,

Marginada por mil jardins em flor.

***

Eu te ofereço uma feliz jornada,

A ser trilhada, por nós, dia a dia.

Eu te conclamo, amor, p'ra fantasia

E ao devaneio que a paixão inspira.

***

Eu levarei comigo uma esperança.

Tu, eterno sorriso de criança,

Que me faz extasiar com ardor.

***

Namorados, até a eternidade,

De mãos dadas, unidos, de verdade,

Vamos sonhar, vamos viver de amor!

 

SONHO, JARDIM E CARNAVAL

Em meu sonho eu te vi, toda de branco,

Caminhando num jardim todo florido.

Um estranho lugar, cheio de encanto,

Que, a princípio, julguei desconhecido.

***

Olhei ao derredor : tudo pulsava

No compasso do teu andar, querida.

Eu não sabia ao certo aonde estava,

Porém sentia em tudo muita vida.

***

Mas quando tu chegaste junto a mim,

Ao sentir teu perfume ou do jardim,

Tive um vislumbre de compreensão :

***

Meu amor, estiveste caminhando,

Ou melhor, estiveste desfilando

Na passarela do meu coração.

SE

Se num arroubo forte de ousadia,

Eu te dissesse que desejo imenso

Me pulveriza o sêr, sempre que penso

Nas carícias trocadas noutro dia.

***

Se eu confessasse que vibrar intenso

Eu sofro e vivo, em plena fantasia,

Ao recordar a doce rebeldia

Do teu querer, desenfreado e extenso.

***

Talvez que então, também nesse momento,

O mesmo arroubo que me desespera,

Viesse a possuir teu pensamento.

***

E assim, por este mundo de quimera,

Iríamos andando em passo lento,

Vivendo toda a vida numa espera..

A TUA AUSÊNCIA

Quando te vais, o sol parte contigo,

Deixando atrás a noite escura e fria.

E eu volto à solidão do meu abrigo,

Sem luz, sem som, sem Deus...alma vazia.

***

Quando te vais, vão junto as esperanças

E os pensamentos fazem-se tristonhos.

Se sobrevivo, são só pelas lembranças,

Que ficaram no mundo dos meus sonhos.

***

Mas quando voltas...é o despontar da aurora.

É a escuridão da noite que vai embora,

É o dia renascendo em esplendor.

***

Todo meu sêr palpita de alegria.

É tudo encanto, beleza, fantasia.

É a vida ressurgindo para o amor.

 

AMOR OCULTO

Quisera ter de um Cícero a fineza

E da eloquência grega um outro tanto,

Para cantar em odes teu encanto,

Para brindar-te em versos a beleza.

***

Para fazer-te ver que, se entretanto,

Em nosso amor não crês, em sã firmeza,

Ele é real, existe com certeza

E da amizade pura veste o manto.

***

Para ensinar-te, nesta doce espera,

Que amar não é produto de quimera.

Nem a paixão é sonho e sim verdade.

***

Para dizer-te ; vê, procura, sente !

Pois junto a tí ela se faz presente,

A cada instante em que tu tens saudade.

MUSA INSPIRADORA

Inspiradora musa, de repente

Tu te tornaste a deusa que ora canto.

Tu me envolveste sem que, no entretanto,

Fugir pudesse eu deste amor crescente.

***

Ao lado teu, a contemplar-te o encanto,

A vida é toda uma ilusão ardente,

É sonho que a paixão faz consciente,

Quimera que me envolve em meigo manto.

***

Mas quando partes e a ilusão se acaba,

Parece-me que a terra então desaba

E o próprio sol se põe em pleno dia.

***

Reduz-se-me a existência à atroz deserto.

Pois levas, sem que saibas, estou certo,

Meu coração em tua companhia

 

DÚVIDA

Se a dúvida que aflora o pensamento,

A cada instante em que estou contigo,

Não me seguisse os passos, qual castigo,

Que me tortura e rouba-me o alento.

***

Talvez, então, o afeto que comigo

Oculto trago, neste atroz tormento,

Eu confessasse a tí, neste momento,

Livrando o coração de um pêso antigo.

***

Porém, enquanto a indecisão que n'alma

Se abriga intransigente, não se acalma,

Eu finjo...meus olhares são risonhos.

***

E sigo nesta espera impaciente,

Teus rubros lábios a beijar ardente,

Nas ilusórias mágicas dos sonhos.

CARNE E OSSO

Compara-se a mulher ao paraíso,

De seu olhar versejam-se os encantos,

Mas se ela não acolhe com sorriso,

Um tolo Don Juan se esvai em prantos.

***

Aos seus cabelos, raro não pintados,

Penhora-se a razão e a própria vida,

Mas se ela não recebe com agrados,

Um pobre louco vira um suicida.

***

Porém, em cumprimento da verdade,

É bom fazer sentir que este "colosso".

Não vale, muitas vezes, a metade.

***

Porque, quem causa assim tanto alvoroço,

Não tem siquer do ouro a majestade,

Pois como nós, são elas carne e ôsso.

 

ADORMECER E SONHAR

Fizemos amor. Cansada, estás adormecida.

E eu, acordado, o silêncio da noite escutando,

Fico a te olhar. Penso em nós, na nossa vida,

No que os deuses estão nos reservando.

***

Respiras bem de leve, ressonando,

Entre os lábios que eu beijo e tanto quero.

Fico pensando : que será que estás sonhando ?

Talvez com nosso amor, assim espero.

***

Sinto sono. A madrugada vem chegando.

Adormeço afinal e então eu sonho.

É um sonho claro, vívido e profundo.

***

E nele eu vejo os deuses trabalhando :

Estão levando p'ra longe o que é tristonho

E nos trazendo toda a paz e amor do mundo

 

. O SONHO QUE ACONTECEU

Sonho real : beijo tua boca e tuas costas.

É o início do nosso ritual de amor.

Eu começo a te acender. Abrem-se as portas

Para esse louco frenesi embriagador.

***

Ávidos, meus lábios descem na procura

De trazer novas sensações aos teus desejos.

Pego teus seios, claros como a luz da lua

E sinto eles crescerem diante dos meus beijos.

***

Bem lentamente as emoções vão-se somando

E vou sentindo a excitação ir aumentando,

Ao ver teu corpo sacudindo em longo espasmo.

***

Tuas pernas se abrem : estás me recebendo.

Minha boca se move. Estás toda tremendo,

E eu vou sugando até a explosão do teu orgasmo!

E AS ESTRELAS ?

Lentamente a noite vem se chegando

E com ela a saudade e a solidão.

Em meu peito, o coração se afogando

Nos mares revoltos desta paixão.

***

Levanto a cabeça e olho para o alto,

À procura das luzes das estrelas.

E, atônito, percebo, em sobressalto,

Que elas não estão lá. Não consigo vê-las.

***

Não as vejo porque elas sumiram,

Trazendo a escuridão ao firmamento.

Para onde foram, Deus, porque partiram ?

***

Eu fico tonto sem saber porque.

Mas, súbito, clareia o pensamento :

Elas foram em busca de você

 

FANTASMAS

Rondam-me às noites lúgubres figuras,

Oriundas das brumas do passado,

Evocando um carrossel de amarguras

Que eu julgava, há muito, sepultado.

***

Mas, afinal, quem são essas visões,

Vultos sem rosto ? Serão desafetos

A me cobrar vingança ? Ou são paixões

A quem, talvez, eu recusei afetos ?

***

Será que, um dia, do meu pensamento

Se apagará este cruel desgosto,

Que me faz ansioso e impaciente ?

***

Não, jamais fugirei deste tormento,

Posto que essas visões, vultos sem rosto,

São fantasmas do meu inconsciente.

"XAMEGO"

Eu curto cada segundo

Passado com meu bemzinho.

Ela é o sol do meu mundo

E a estrela do meu caminho.

***

Eu entrei em sua vida,

Matreiro, devagarinho,

Até senti-la vencida

Por força do meu carinho.

***

Mas no fim fui desabar

Numa tremenda paixão

Que acaba com meu sossego.

***

Pois não paro de pensar,

Nem na sua sedução

Nem no seu doce "xamego".

 

MEU AMOR ESTÁ DORMINDO

É muito bom te ver adormecida,

O teu corpo jogado assim de lado,

Cabelo solto, a colcha descaída,

Deixando a coxa à mostra, que pecado!

***

Que dúvida me assalta o pensamento

Ao sentir acender o meu ardor :

Deixar-te dormindo por mais tempo

Ou te acordar para fazer amor ?

***

Minha mão toca de leve no teu seio

Enquanto eu tento, em meu profundo anseio,

Advinhar o que, em teu sono, estás sonhando

***

Mas desisto. Mulher, tú és indecifrável.

Colo o meu corpo no teu corpo adorável

E vou apagando, te amando e divagando ...

A ONÇA PINTADA

Uma onça pintada "pintou" na minha vida.

Sorrateiramente "ferrou" minha razão.

Minha mente paralisou, ficou perdida

E ela foi comendo meu tolo coração.

***

Quando a pintada sussurra, no meu ouvido,

Coisas que nem sequer me atrevo a revelar,

Aí nada em volta de nós faz mais sentido

E eu fico "pirado", doidinho p'ra transar.

***

Então a onça vem, com a lingua deslizando

Pelo meu corpo e eu vou ficando enlouquecido,

Até que tudo explode, alucinadamente.

***

Exaurido, busco da "fera" ir me afastando.

Em vão. Não há como lutar, estou vencido.

A onça veio p'ra me "ferrar" eternamente.

 

RANCOR E AMOR

Se a mim alguém dedica uma bondade,

Eu a retenho sempre em minha mente.

Mas se o que chega a mim é uma maldade,

Então, entrego a Deus e sigo em frente.

***

Pois quem odeia é a si que se tortura.

Sentir rancor é um sofrer eterno,

Que acompanha o infeliz à sepultura

E vai junto com ele até o inferno.

***

Nossa vida é uma curta trajetória

No tempo percorrido pela história;

Um segundo na vida do universo.

***

Amemos, pois, com toda intensidade.

E já que o resto é só banalidade,

À magia do amor dedico o verso.

CHEGA-TE A MIM !

Chega-te a mim ! Por que não me convidas

Ao aconchego morno do teu seio ?

Pois se, ardentemente, em louco anseio,

Quero viver contigo cem mil vidas.

***

Chega-te a mim ! Mas vem com todo o amor

Que as nossas doces horas têm gerado.

Chega-te juntinho, deita ao meu lado,

E à minha carne entrega a tua em flôr.

***

Sobre o meu colo, deita tua cabeça.

Dá-me a boca. Mata este meu desejo,

Do amanhecer até quando anoiteça.

***

Vem amor, vamos fundir nossos seres

E sufocar, juntos, em um só beijo,

Gemidos sussurrantes de prazeres.

O SONETO DA PRIMEIRA VEZ

Estamos na cama; paira a tensão.

Não se sabia como iniciar:

Medo, incerteza, bloqueando a tesão.

Enfim, lentamente, sem me apressar,

***

Fui começando o seu corpo a excitar

A fêmea, tocada, foi acordando,

O macho, sentindo, foi se esquentando

E o tempo se deteve em seu olhar.

***

Desejos, carinhos, ânsia e ternura,

E a nossa tesão virando loucura,

Bocas se abrindo num ávido arfar.

***

Dedos crispados, você sussurrando,

Gemendo, pedindo, rindo, chorando:

Penetra. Vai fundo que eu vou gozar!

 

A DUPLA VIA DA PAIXÃO

Quero-te tanto e a cada instante mais;

Chama que me consome internamente.

Um paixão que, eu sei, nunca, jamais,

Irá deixar de arder intensamente.

***

Disseste-me que louco eu ficaria

Ao sentir do teu corpo o doce gosto.

Se negasse não estar, eu mentiria;

Sem ti eu morreria de desgosto.

***

Mas a paixão tem mais de uma só mão

E, se eu queimo, de certo estás ardendo,

Com igual tara, com igual tesão.

***

Assim, quanto mais eu vou te querendo

E quanto maior for minha paixão,

Maior amor tu me estarás cedendo.

 

O QUE É QUE VALE NA VIDA ?

As vezes fiico pensando

Nos valores desta vida

E passo o tempo indagando

Se são válidos, querida.

***

Quantos há, obcecados

Por bens, dinheiro, tolices.

E quantos são "fissurados"

Em absurdas crendices.

***

Mas eis que por um lampejo

De luz, a verdade eu vejo.

Sei o que vale e porque:

***

Vale mesmo neste mundo

O sentimento profundo

Que me envolve com você.

ESTRANHO ALGUÉM

Surgiste de baixo, do lodo social.

Prostituída, machucada e malferida;

Assustada, qual indefeso animal

Açoitado ferozmente pela vida.

***

És as vezes humilde, as vezes altiva,

Mas sempre calada, com ar tão sofrido;

Uma estranha mulher, que tanto cativa

A mim, já tão desgastado e tão vivido...

***

Em teu rosto rude, exótica beleza

De Madona sem o riso enganador,

Paira permanentemente uma tristeza.

***

Pelo dilema a que vives atrelada:

OO receio de se entregar toda ao amor

E o desejo de se sentir muito amada!