AVC Reportagem n° 204

Botucatu, 17 de setembro de 2007

N° de fotos: 22 - Tamanho da página: 1,10 MB - Música de fundo: Tá Chegando a Madrugada.


Os antigos carnavais

 

Férias! Como eram boas!

Escreveu: Anibal Fagundes - "Tota"

 

 

Tota: sobrinho da Tia Thedinha (e filho de Annibal Fagundes com Arlete Faria) - São Paulo (SP).

 

 

A txurma em Botucatu!

 

Os grandões: Aluízio, Marco Antonio e Ariovaldo nas praças paquerando as garotas, fumando seus cigarrinhos inocentes, tomando uma inocente cervejinha, jogando snooker ou baralho.

 

As meninas grandonas: Maristela, Aniete, Elza e a Molila, só fofocando, contando causinhos e se emperiquitando para ir ao cinema (Paratodos, Roxy e Bruni (1), acho que eram esses). Iam também ao footing na Rua Amando para paquerar.

 

As meninas pequenas: Amarilis, Laís e algumas amiguinhas que não me lembro os nomes. Tinha uma tal de Taninha e a Valderez, não sei. Brincavam na rua de passa quatro (*), queimada, de casinha e bonecas.

 

(*) Da Redação: Num é passa-anel não, seu nó cego?

 

 

Botucatu - Rua Amando de Barros com o Bosque à esquerda.

 

 

Cine Paratodos. Já foi salão de dança e hoje é um bonito teatro.

 

Os moleques: Juninho Soneca, Tota Totinha, Olavo Lavinho e o Ari Arizinho, brincavam com o carrinho do Ari, descendo a Rua Quintino Bocaiúva a todo vapor. Não era carrinho comum, não!

 

Tio Lumina construiu um belíssimo carro, não de rolemãs, mas com rodas de pneus de lambreta com freio e tudo mais. Principalmente para facilitar a locomoção do Arizinho. Era ferramenta do Ari, além de cadeira de rodas. (2)

 

 

Vovó Tithéa (3) morava na Rua... "não sei o que lá Teles", defronte ao Tênis Clube e próximo do Cine Bruni. Era uma bela casa térrea com porão e uma escada enorme até o quintal.

 

Rua General Telles, esquina com a Rua Prefeito Tonico de Barros, onde a primaiada brincava.

 

Que quintal! Tinha árvores frutíferas de todos os tipos. Laranja, limão, bananeira, parreira e melancias. No vizinho, goiabeira e ameixeira, donde invariavelmente e inocentemente, roubávamos os frutos para comer ali mesmo. Molecagem normal...

 

Olavinho só pensava em ficar na piscina do Tênis Clube. Soneca e eu adorávamos brincar de carrinho no quintal da Vó Tithéa. Construímos uma imensa cidade em miniatura. Acho que foi daí que nasceu o talento do Soneca para a arquitetura. Tinha igreja, prefeitura, praça com coreto e até fonte luminosa! Tinha cadeia, fórum, cinema, escola e banco também. Acho que veio daí meu talento para bancário. Não cansávamos nunca.

 

 

Botucatu Tênis Clube hoje.

Esta foto é para que o pessoal que nadou, dançou e brincou muito carnaval neste clube.

 

Em época de carnaval íamos ao corso (4) na Rua Amando de Barros. Ou de carro ou a pé mesmo. Ficávamos defronte ao Peabiru Hotel (onde as mães marcavam com os pimpolhos para buscá-los). Ficávamos lá com nossas bisnagas plásticas, cheias de "sangue do diabo" para espirrar em quem passasse. Confetes, serpentinas e lança-perfume. Ai, que saudade! Santa inocência, não havia perigo algum naquela época. Era só festa!

 

 

O Peabiru Hotel na Rua Amando de Barros continua aí. Firme na paçoca!

 

Os marmanjos iam dependurados em jipes e kombis. Levavam até baldes d´água. Era uma farra! O Neto (Lumina) voltou como pinto molhado e cheio de farinha de trigo e ovos para casa. O Ariovaldo voltou só de cuecas. Foi muito engraçado!

 

 

Juventude botucatuense se esbalda na rua durante o corso (desfile de carros com foliões dançando em cima).

 

Antes do baile noturno de carnaval, nossas mamães nos davam um belo banho. Todos juntos no banheiro e esse era outro momento de farra. Um bom lanche e... cama. Nem dava tempo de falar "boa noite". Desmaiávamos de tão cansados.

Dia seguinte nova rotina atarefada com matinê no cinema às 10 horas da manhã. À tarde, baile infantil de carnaval no Tênis Clube. À noite capotávamos na cama de novo.

 

Bons tempos! Isso não volta mais, não. A vida é uma só.

 

anifago@terra.com.br

 

 

Guerra de farinha de trigo pelas ruas de Botucatu. 1960.

 

 

Tem saudade de Botucatu? Eis aí a ladeira do Cine Casino. À direita, o Bosque.


 

(1) Com história contada após quase 40 anos, o Tota não poderia mesmo lembrar os nomes dos cinemas de Botucatu, que eram: Casino e Paratodos (para a classe média). Nota: no cine Casino só se entrava de paletó - e isso ainda na nossa época de guri, por volta de 1960.

 

O Cine Casino (à direita) já não existe mais. É esta fachada pintada de branco onde, no momento, o espaço não está alugado para loja alguma.

 

Cine Neli (o mais caro e o mais chique, com poltrona pullman e entrada reservada com antecedência).  Cine Vitória (o "pulgueiro" do Bairro da Estação, que tinha entrada barata e só passava filmes de bangue-bangue). Se alguém da classe média fosse lá paquerar as empregadinhas, apanhava das patotas do Bairro da Estação. Voltava com a cara moída para casa ou com os dois dentes da frente faltando.

 

Esq.: Praça onde se encontra o Cine Paratodos, que hoje virou um magnífico teatro. O Teatro Paratodos.

Os nomes Roxy e Bruni nunca existiram na cidade. Surgiram talvez na memória do Tota, enquanto ele escrevia suas saborosas lembranças acima.

 

(2) ARIZINHO, irmão do Tota, era deficiente físico, mas sempre que podia participava da bagunça da molecada. A turma tirava-o da cadeira-de-rodas, colocava-o no carrinho de rolimã e... pau na máquina!! - para desespero da mãe Arlette.

 

 

(3) VÓ TITHÉIA era mãe de Tia Thedinha e da Arlette. E Arlette é mãe do Tota, do Aluizio, da Amarilis, do Ariovaldo, Arizinho, etc. Por isso Tota é primo-irmão dos Faria Galvão (família do Zé Galvão).

 

 

Cine Neli.

Já foi muito chique, com entrada cara, poltronas pullmann super confortáveis e cadeiras numeradas. Mas hoje em dia os cinemas perderam espaço para as fitas de vídeo, DVDs, Homes Theaters... Assim os cinemas saíram de moda e estão desaparecendo aos poucos.

 

Corso

O carnaval da burguesia

AVC Reportagem

 

 Numa época em que poucas pessoas tinham carro (só os mais grã-finos é que tinham) as classes média e alta promoviam na Terça-Feira Gorda de carnaval um desfile de carros, a maioria deles conversíveis norte-americanos (sem capota) e fordecos com grandes estribos onde as pessoas se dependuravam e cujos bancos ficavam atulhados de jovens bonitas que, fantasiadas, cantavam e dançavam as marchinhas de carnaval que estavam na moda.

 

 

Corso no centro de São Paulo

 

Também atirava-se confete e serpentina uns nos outros e alguns faziam guerra com jatos de lança-perfume (cuja marca mais famosa era o "Rodometálico" - um frasco grande e dourado).

 

As calçadas e as janelas das casas que davam para as ruas ficavam cheias de gente que se aglomerava para ver o corso passar. E das casas também eram atiradas nas pessoas da rua muito confete e serpentina.

 

Espirravam também sobre os corsistas e passantes, o tal "sangue de diabo" (preparado químico que tingia a roupa branca das pessoas de vermelho - mas a mancha logo desaparecia, causando apenas um susto). Havia guerra de farinha de trigo também e os mais "espíritos de porco" atiravam ovos no meio.

 

A guerra de farinha de trigo é de herança portuguesa, quando naquela época o carnaval era chamado de "Entrudo". Era brincadeira só de branco. Os negros ficavam longe só tocando tambor nas periferias (para onde tinham se mudado depois da escravidão) e o samba era considerado contravenção. Dava cadeia. Por isso o batuque foi proibido por uns tempos por ser "coisa de malandro" e porque dançar samba (também chamado de "umbigada") era considerado sensual demais para a moral da época. As negras e as mulatas rebolavam muito nas gafieiras, os casais esfregavam os ventres e isso não era considerado de bom-tom pelas senhoritas brancas, finas e educadas, que jamais ousariam dançar daquela forma.

 

 

Enquanto os carros conversíveis desfilavam pelas ruas, confetes e serpentinas caiam das varandas e janelas sobre o alegre corso que desfilava nas ruas das cidades por horas seguidas. Era hora de "brincar o carnaval".

 

A umbigada era considerada coisa de gente de periferia ("das negrinhas e das empregadinhas"), jamais das classes média e alta. Ainda valia a mentalidade de  "casa grande e senzala". Mas com o tempo o samba desceu dos morros e saiu dos güetos. Assim o  batuque, de alma tipicamente africana, levou seu "ziriguidum-praticumbum" (e sua rebolante alegria) para as ruas e avenidas da cidade. A partir daí deu-se a mistura  de negros e brancos no asfalto, acontecendo naturalmente a democratização do carnaval entre as classes sociais.

 

O samba tornou-se música popular - o som que vem da raiz - e passou a simbolizar o Brasil exótico e carnavalesco - fama internacional que dura até hoje.

 

 

Carro típico da década de 30, eis aí um Ford "último tipo" com foliões e muita serpentina. Os bigodões não são postiços e o carnaval brasileiro, derivado do Entrudo, teve origem lá na terrinha portuguesa com certeza, com muita guerra de farinha de trigo e lançamento de "limões de cheiro" (bexigas com água perfumada) na cabeça dos outros. Dos limões de cheiro derivaram a bisnaguinha cheia de água e o lança-perfume.

 

Com a popularização do automóvel a partir dos anos 50 (início da fabricação do Volkswagem no Brasil) e a fabricação de carros fechados (e sem estribos), o corso foi desaparecendo com o tempo, sendo substituído na rua pelos blocos, cordões de bichos, desfiles das Escolas de Samba e, mais recentemente, pelo trio-elétrico.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Moças fantasiadas de aviadoras desfilam em carro aberto, cujos grandes estribos ajudavam a levar os foliões. Naquela época cantavam-se marchinhas de carnaval. O samba crioulo com seus tambores e batuques só foram incorporados depois.

 

 

O corso na cidade de Santos. Assim era o carnaval dos brancos.

 

 

Brasil, década de 20 - A tradição do corso veio dos desfiles de carnaval na França, onde os nobres desfilavam em enfeitadas carruagens. Eis aí as senhorinhas (com muita roupa e elegância) brincando o seu recatado carnaval.

 

Outro carnaval muito tradicional (e chique de se ver) é o de Veneza (Itália). A Alemanha também faz um bom carnaval e em New Orleans (Estados Unidos), as moças que levantarem a blusa e mostrarem seus seios ganham um colar carnavalesco do admirador que pediu para ver.

 

 

Carrão jóia (chique no último) desfilando na Avenida Paulista. 1910.

 

Texto: AVC Reportagem

Fotos dos corsos antigos: sites diversos da internet

 

 

Botucatu - Cidade dos Bons Ares e das Boas Escolas

 

Vista aérea com as piscinas e quadras do Tenis Clube, Catedral e Avenida Don Lúcio. Hoje o footing não é mais na Rua Amando de Barros. Isso é coisa do passado. O point da moçada hoje é a Avenida Don Lúcio (acima), mas que também já está se mudando para outros lugares. Ao que parece, a periferia está tomando conta da Av. Don Lúcio (barulheira de motos, correrias, brigas, bebedeiras). Daí que os estudantes das faculdades estão indo mais para os bares e shoppings da Avenida Brasil.

 


 

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