O Dia dos 8 Anjos
Autora: Renata Alex «*ßHANK*»
Aquele dia... ah, aquele dia... me lembro como se fosse ontem... dia 5 de maio de 2001. Na noite passada não tinha pregado o olho, só pensando o que me esperava no dia seguinte; sabia que era grande, mas não sabia que era tanto.
De manhã cedinho eu pulo da cama para tomar meu banho, a trilha sonora
tinha que ser, obviamente, Black & Blue. Logo depois disso minha amiga chega
em casa, iríamos acompanhadas dos meus pais.
Enquanto eu acabava de me arrumar, pintando o meu cabelo de azul, minha mãe
resolve ligar a TV na Globo. Pra quê? Pra me colocar me pânico. Quando eu vi
toda aquela gente na frente do Anhembi, se espremendo, pensei “Meu Deus! Não
vai sobrar espaço pra mim!”. Arranquei meu pai do banho e saímos correndo de
casa, e acabei esquecendo tudo, menos a minha câmera.
Quando chegamos lá, entrei em pânico total, não via o fim da fila, eu
tinha certeza que não teria um lugar pra mim lá dentro, era pessoa demais pra
um lugar tão pequeno. Comecei a chorar desesperadamente, chorava tanto que não
conseguia conter os gritos, quando via o palco por cima das grades, chorava mais
ainda... tudo o que eu queria naquele momento era entrar lá dentro e garantir o
meu lugarzinho no show, não ligava pra mais nada nem ninguém.
Foi quando Deus me mandou 3 anjos. Havia 3 meninas na fila, que quando me
viram chorar daquele jeito, se comoveram e me cederam um lugar na fila. Não
sabia o que dizer, só conseguia chorar mais e abraça – las, dizendo “muito
obrigada!”. Se um dia eu pudesse encontrar estes 3 anjos novamente, cujos
infelizmente não sei os nomes, eu só teria a agradecer, e dar a elas tudo o
que elas quisesse, afinal elas me ajudaram a viver a melhor noite da minha vida.
Na fila eu passava mal, de ansiedade, de nervoso, de calor, de medo... de
tudo um pouco. Eram 13:25; na fila todas em pânico, pois ainda faltava muito
tempo para os portões se abrirem. Durante esse tempo, se ouvia os comentários
mais absurdos, como por exemplo a história de que as meninas do setor 5 da fila
estavam dando agulhadas em quem furasse fila.
15:10 – O portão se abre e a fila começa a andar. Começo a passar
pior do que antes, a ansiedade era imensa, parecia que eu ia vomitar meu coração.
A única coisa que eu lembro dessa hora era estar agarrando o braço do meu pai
(que estava na minha frente) e o braço da minha amiga (que estava atrás de
mim), correndo e tropeçando em roupas largadas pelo chão, das meninas que
acamparam lá.
A fila não tinha fim, eu estava agoniada. Estava frio, e quando eu
respirava minha garganta queimava. Quando finalmente cheguei nos corredores de
segurança (para que os responsáveis pelo evento pudessem examinar se eu tinha
alguma coisa errada) dei um grito. A moça que estava na minha frente achou que
eu era louca, ou que pelo menos estava ficando. Graças aos Céus estava tudo
bem com todos e pudemos entrar. Quando vi aquela multidão se espremendo perto
daquele palco enorme, não me contive e comecei a chorar de novo. Conseguimos
sentar no lugar perfeito, bem no meio da pista, e não muito longe do palco;
eram aproximadamente 15:20. Quando finalmente me acalmei, parei para analisar o
lugar: estávamos num estacionamento, com plásticos azuis cobrindo as grades,
algumas barracas do lado direito, junto com os banheiros; no lado esquerdo
estava o lugar especial para os deficientes físicos; atrás de mim as grades
que seguravam o sistema de som e algumas pessoas chegando... na minha frente?
Ah, na minha frente havia um monumento, uma obra dos Deuses, enorme, preto,
cheio de luzes piscando (sendo testadas)... ah meu Deus, em algumas horas eles
estariam ali...
Eram 15:30. Fiz amizade com todas as meninas sentadas em volta de mim,
duas delas vieram de Mogi das Cruzes, e dormiram lá por 2 dias, por isso
estavam meio que passando mal com tudo o que estava acontecendo, afinal ninguém
conseguia acreditar que os nossos ídolos máximos, os Backstreet Boys, estariam
ali na nossa frente, cantando e dançando só para nós.
Tudo
estava parecendo um piquenique, todos conversando, sentados em rodas, comendo,
cantando... nada parecia de verdade, nada parecia o que realmente era pra ser
(um show)... era tudo um sonho... algumas vezes um cara falava conosco no
microfone, para ver se estava tudo bem com a gente, mas nem ligávamos pra
ele... afinal, o dia podia estar melhor?
18:00 – A tensão do lugar aumentou em 1000%, o pessoal lá trás tinha
levantado e estava empurrando todo mundo pra frente. Em meia hora eu andei mais
ou menos 5 metros para a direita, o famoso efeito de massa. Pra mim, na verdade,
não importava onde eu estava, mas sim que eu iria vê – los em breve.
Fomos mais lá pra trás, onde estava mais folgado. Um pouquinho mais
longe, mas uma visão ainda perfeita.
Às 20:00 em ponto as luzes se apagam. O sangue sobe à cabeça e você
fica completamente imóvel... não sabe o que esperar... aparece a Pollyanna. É
bonita, simpática, tem swing, mas não gostei de sua voz nem de sua música...
apenas não fazia sentido naquele momento.
20:30 o show da Pollyanna acaba, as luzes acendem. Todo mundo começa a
comentar sobre o show da irmã do Howie. Cada vez mais o meu coração disparava
e eu ficava mais nervosa... subia um arrepio por todo o meu corpo, uma vontade
de chorar quase incontrolável... mas eu agüentei firme, não podia fraquejar
agora, nem tinha começado o show ainda!
As luzes demoraram a se apagar novamente. Quando finalmente foram
apagadas, os telões ligaram. O Kevin aparece. Não consegui ouvir nada do que
ele falou, nem conseguir vê – lo, eram muitos gritos e flashes de máquinas.
O telão se apagou e as luzes do palco se acenderam. Nervosismo à flor da pele.
Krystal. Um amor de pessoa, coração e voz tão grandes que mal cabiam naquele
pequeno e frágil corpo. Sem vergonha de mostrar o carinho pelo país que está
visitando, carrega nossa bandeira, jogada em seu corpo, como se a bandeira
estivesse protegendo - a.
21:00 – As luzes se acendem novamente. O coração sobe à boca,
sabemos que o próximo show é o deles... a barriga começa a gelar, doer... as
mãos e as pernas tremem, na garganta um grito preso, esperando, esperando pra
sair na hora certa, os olhos atentos que brilham com todas aquelas luzes,
procurando algo, qualquer coisa que pudesse ajudar a conter a ansiedade. Na cabeça
um pensamento vago, vazio... esperando pra ser preenchido com as mais lindas
imagens, em cada uma das cabeças das 35 mil fãs que estavam ali naquela noite.
As luzes se apagam. Os gritos me sufocam. Flashes e mais flashes me
cegando. Estava completamente imóvel. De tanta emoção eu deixo a máquina
cair no chão, felizmente meu pai pegou e assumiu o cargo de fotógrafo.
Cai o primeiro meteoro, que queima meu rosto, assim como todos os outros.
Estava completamente petrificada, que coisa mais linda! Só os Backstreet Boys
pra fazer aquilo mesmo. O palco se torna azul. A qualquer momento meu sonho iria
se tornar realidade.
Aquele sentimento de agonia descrito acima volta, com muito mais força,
com toda a força possível.
Cinco pilastras começam a surgir do chão, bem devagarzinho. Finalmente
eu pude soltar aquele grito preso na minha garganta... e ele saiu muito mais
forte do que eu pensei.
Tenho aquele momento congelado em minha memória: na minha frente estavam
surgindo do chão 5 anjos, talvez os maiores de todos. 5 anjos enviados por Deus
naquela noite especialmente pra nós. 5 anjos enviados por Deus para aquecer 35
mil corações solitários. Aquele momento... quem não se lembra daquele
momento? Magia espalhada pelo ar, um sentimento completamente indescritível.
O momento tão esperado por 4 anos finalmente tinha chegado. Os anjos
começaram a dançar e cantar a mais bela música de todas, música cuja nunca
vai sair de nossas memórias nem de nossos corações: Everyone.
Uma palavra pra descrever aquele momento: êxtase. A partir daquele
momento eu saí do ar, já não era mais dona dos meus movimentos, já não
sentia mais o meu corpo. Não sei ao certo o que eu fiz durante o show. Esqueci
o mundo, nada mais me importava, já não existia mais ninguém em volta de
mim... parecia que era só eu e eles... nada mais me importava, só aquele
momento.
Aproximadamente 23:00. As luzes do palco se apagam e as luzes acendem. Os
5 anjos tinham ido embora. Mal conseguia acreditar no que tinha acontecido.
Naquela hora comecei a sair do “transe”. Meu corpo todo estava doendo, doía
em lugares que eu nem imaginava que existia!
Só tinha noção que estava indo embora porque meu pai estava me puxando
pelo braço. Mas espere um pouco! Não podia sair dali sem uma lembrança
material do melhor dia da minha vida! A única coisa que eu lembro de ter falado
foi “ninguém me tira daqui antes de eu comprar alguma coisa”. Ganhei um
chaveiro de presente. O maia lindo que eu já vi, com o logo da turnê Black
& Blue.
Minha amiga estava falando que nem uma louca, mas eu não conseguia ouvir
nada do que ela falava, eu ainda estava em choque, eu só conseguia concordar
com ela e sorrir. Pra sair daquele lugar estava insuportável, ninguém
conseguia se mexer.
Demoramos mais ou menos 35 minutos pra chegar até o carro, que estava
estacionado muito longe do lugar do show e estávamos muito cansados também,
afinal passamos mais de 2 horas pulando, cantando, gritando, dançando. Sabia
que estavas conversando com os meus pais no caminho de volta, mas não tenho idéia
do que era.
Fomos jantar (um belo lanche de McDonald´s) mais ou menos meia noite.
Nem lembro o gosto da comida.
Todos tomamos banho e fomos deitar. Mas quem disse que eu conseguia
dormir? Todos quase quebrando a cama, de tão pesado que era o sono deles, mas
eu estava acordada... eu ainda não
conseguia acreditar no que tinha acontecido! Os meus ídolos lá na minha
frente! Ai meu Deus! Foi o melhor dia da minha vida! Eu sei que sou nova demais
pra dizer isso, afinal eu só tenho 14 anos, mas eu tenho idéia do que foi bom
e do que foi ruim pra mim.
Lembranças do show? Sinceramente não tenho muitas, apenas alguns
flashes que passam na minha cabeça. É impossível lembrar de tudo, a mágica,
a energia que aqueles 5 anjos transmitiam era suficiente pra congelar sua mente
e perder os sentidos. Aposto que nenhuma das 35 mil pessoas que estavam lá
lembram perfeitamente do show inteiro.
A parte mais marcante? Everyone. Garanto que esse foi o momento mais
lindo do show inteiro, e é o único momento que todas as fãs se lembram
igualmente. Quando coloco o CD e ouço essa música, parece que volto no tempo,
que volto para o show e volto a ver os 5 anjos dançando na minha frente,
cantando aquela música. O corpo todo se arrepia, sobe do coração uma vontade
de chorar, as lágrimas vem aos olhos, um sorriso aparece no rosto.
Parece que se eu voltar ao Anhembi naquele momento, o palco ainda estará
lá, os 5 anjos estarão lá em cima cantando, aquela multidão maravilhosa
gritando ainda estará lá... mas não estão. Estão lá apenas os fantasmas de
tudo isso, os fantasmas de nossas lembranças ainda estarão lá... e se você
procurar você vai achar. Gostaria de voltar o tempo, para ver tudo de novo...
para viver de novo o dia dos 8 anjos.
Quando leio ou assisto qualquer coisa sobre os shows que eles fizeram
aqui no Brasil, depoimentos de fãs, vídeos, fotos ou qualquer coisa, aquela
vontade de chorar volta de novo. Não gosto muito de lembrar daquele dia com
outras pessoas, porque eu me emociono muito, me aperta o coração... quero
voltar àquele lugar, naquele dia... quero ouvir aquela multidão gritando de
novo... não existe som mais lindo que aquele...
Ah, o que eu não daria para ver os 5 anjos de novo! O que eu não daria
para sentir tudo aquilo de novo... ah, o que eu não daria pra viver de novo o
dia dos 8 anjos!