"Já não tenho muito tempo. Infelizmente não consegui chegar na hora combinada para
comemorarmos nosso aniversário de casamento. Caso não possa voltar, saiba que, nesta
vida, você foi a pessoa mais importante.
A vida é uma eterna viagem.
Durante 30 anos, viajei em um trem, tentando desvendar o mistério da vida.
Meu primeiro embarque foi marcado por duas pessoas fantásticas. eram os maquinistas. Estes
me conduziram, por algum tempo, ao mundo, mas partiram subitamente. Sem muitas opções de
escolhas, preenchi meu vagão com várias crianças e instrutores desconhecidos. Passei boa
parte do tempo com eles, aprendendo conduzir aquela máquina.
A viagem, naturalmente, prosseguiu e em alguma estação resolvi deixá-los. Já estava
preparado para seguir meu destino. Levei apenas os ensinamentos e as boas lembranças.
Conheci várias pessoas, umas somente a passeio; queriam apenas conhecer o trem, outras
acomodaram-se, porém, não deixaram grandes recordações. E assim continuava a viagem cheia
de embarques e desembarques.
Foi nesse imenso transitar que alguém marcou, definitivamente, o acento do trem. Sentamos
um ao lado do outro, dando continuidade ao trajeto. Fraquejamos, tivemos atropelos,
fantasias, sonhos e frutos. Almejei o sucesso e consegui um império de trem. Trabalhei,
intensamente, para obter dinheiro, vitória e poder. Atrelei-me fortemente ao mundo material.
Essa união não se prosperou por muito tempo. A tarifa cobrada, em uma das estações, para
continuar a viagem, exigiu-me tudo que conquistei (inclusive o trem). Foi um apartar
doloroso, porém necessário, pois para percorrer o novo trajeto era preciso renovar as
habilitações da auto consciência e do mais nobre sentimento: o amor.
Roteiro: Rodrigo F. Almeida
Coreografia e Direção: Waldéa Pinheiro e Valéria Carvalho
Cenário: Lúcio Rodrigues
Fotos: Geraldo Batista