Trem da vida (2001)


"Já não tenho muito tempo. Infelizmente não consegui chegar na hora combinada para comemorarmos nosso aniversário de casamento. Caso não possa voltar, saiba que, nesta vida, você foi a pessoa mais importante. A vida é uma eterna viagem. Durante 30 anos, viajei em um trem, tentando desvendar o mistério da vida. Meu primeiro embarque foi marcado por duas pessoas fantásticas. eram os maquinistas. Estes me conduziram, por algum tempo, ao mundo, mas partiram subitamente. Sem muitas opções de escolhas, preenchi meu vagão com várias crianças e instrutores desconhecidos. Passei boa parte do tempo com eles, aprendendo conduzir aquela máquina. A viagem, naturalmente, prosseguiu e em alguma estação resolvi deixá-los. Já estava preparado para seguir meu destino. Levei apenas os ensinamentos e as boas lembranças. Conheci várias pessoas, umas somente a passeio; queriam apenas conhecer o trem, outras acomodaram-se, porém, não deixaram grandes recordações. E assim continuava a viagem cheia de embarques e desembarques. Foi nesse imenso transitar que alguém marcou, definitivamente, o acento do trem. Sentamos um ao lado do outro, dando continuidade ao trajeto. Fraquejamos, tivemos atropelos, fantasias, sonhos e frutos. Almejei o sucesso e consegui um império de trem. Trabalhei, intensamente, para obter dinheiro, vitória e poder. Atrelei-me fortemente ao mundo material. Essa união não se prosperou por muito tempo. A tarifa cobrada, em uma das estações, para continuar a viagem, exigiu-me tudo que conquistei (inclusive o trem). Foi um apartar doloroso, porém necessário, pois para percorrer o novo trajeto era preciso renovar as habilitações da auto consciência e do mais nobre sentimento: o amor.
Roteiro: Rodrigo F. Almeida Coreografia e Direção: Waldéa Pinheiro e Valéria Carvalho Cenário: Lúcio Rodrigues Fotos: Geraldo Batista