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Maria Rita
Desde criança, a ginecologista Cláudia Grilo é fã de
Elis Regina.Comprava Lps Da “Pimentinha”, como foi
apelidada carinhosamente a cantora de maior sucesso no
Brasil entre os anos 60 e 70.Ao escutar uma canção no
rádio com uma voz que lembrava muito a sua maior
referência na música, morta em 1982, ela sentiu um nó na
garganta, uma vontade imensa de chorar e correu atrás do
primeiro cd de Maria Rita, filha de Elis com César
Camargo mariano.”No começo, fiquei um pouco desconfiada.
Pensei primeiro na influência do pai e da mãe, muito
dna. Mas depois de escutar o disco inteiro posso dizer
que foram o talento e a musicalidade próprias que me
convenceram”, afirma a médica, que está tentando
assistir a cantora ao vivo há algum tempo, mas sempre
esbarra na falta de ingressos.
Os saudosismos dos tempos de ouro e ânsia pelo
aparecimento de uma nova voz resultam numa combinação
que agitou a MPB em 2003.Em 50 dias, o álbum de estréia
de Maria Rita vendeu mais de 350 mil cópias.o dvd,com
uma apresentação gravada no palco do Bourbon Street,em
agosto deste ano,pouco antes do furacão,saiu para as
lojas no Mês passado com 50 mil unidades reservadas.Os
shows da capital paulista no mês de outubro tiveram
lotação esgotada em duas semanas, os de novembro em
três.
Não é difícil encontrar personalidades e autoridades na
platéia “gostei muito de ter visto a Maria Rita. É ótimo
que tenha surgido uma voz feminina desse porte”, resume
a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy.
Para o produto musical e jornalista Nelson mota, o
sucesso superou as expectativas mais otimistas e mostra
a vitalidade da nova mpb.Além disso, a excelente marca
de cópias vendidas sem uma canção carro-chefe nas
paradas não pode ser explicada somente pela nostalgia de
Elis.”O disco teve uma fantástica promoção espontânea da
imprensa, que logo reconheceu as altas qualidades da
cantora. Marisa monte, antes dos tribalistas, também não
tocava muito em rádio e sempre vendeu acima de 500 mil
discos. Elas têm um público de um bom poder aquisitivo
que está ligado nisso ou em programas populares de
televisão”, explica Motta.
Com uma longa trajetória de trabalho com nomes do porte
de lulu santos e Daniela Mercury, o produto musical diz
que é possível “construir” uma estrela da música no
Brasil.”Mas é preciso que tenha muito talento, carisma e
seriedade. Não se cria um mito do nada. Alias, quando
uma gravadora resolve investir pesado em um artista,
procura os que têm algo mais. Além disso, como tudo é
preciso sorte e oportunidade. A pessoa, a música e há
horas certas. É o caso da Maria Rita”.
Porém a grande discussão que envolve a nova cantora
parte mesmo da inevitável comparação coma
mãe.Especula-se que a Warner Music gastou cerca de R$ 1
milhão no seu lançamento, o que dificilmente vai se
repetir com artistas sem os mesmos ramos da árvore
genealógica.”Com o talento e a herança que ela tem, acho
que era muito difícil não pensar em uma estratégia para
lança-la. É a indústria fonográfica e isso faz parte do
esquema”, afirma a apresentadora e jornalista Lorena
Calábria, que acha inconveniente a busca incessante de
traços da mãe na filha.”Nos shows, é algo que chega a
irritar. Aquelas pessoas que ficam dizendo apenas” esse
momento me lembrou tanto a Elis “. É uma coisa de
carência, completa”.
Já o compositor Francis Hime, autor de canções
eternizadas pela “Pimentinha” , como “Atrás da porta” e
“por uma amor maior” , acredita que Maria Rita não deve
dar bola para as analogias.Ele já assistiu a dois shows
da cantora e saiu emocionado.ӎ como se Elis Regina
tivesse voltado a terra.como isso pode ser uma coisa
ruim?”,questiona o músico,que fica imaginando a artista
cantando novas canções assinadas por ele.Hime leu
algumas críticas em relação à semelhança entre mãe e
filha e discorda do teor.”Muitos acreditam que ela busca
ser um clone da Elis, uma coisa programada. Mas não me
parece que seja isso. Para mim, justamente por ser filha
de quem ela é, Maria Rita não refreia as semelhanças”.
Outros importantes diferenciais do primeiro disco de
Maria Rita são os arranjos suaves, baseado na receita,
percussão, piano e baixo, e o repertório cuidadosamente
manejado por ela própria e pelo produtor Tom Capone.Apesar
de canções de autores de longa estrada, como Milton
nascimento, chama a atenção a opção por jovens
promessas, como Marcelo camelo,da banda Los Hermanos.”O
Tom mostrou pra ela um de nossos álbuns, o” bloco do eu
sozinho “, e queria gravar músicas do disco. Ele me
ligou e perguntou se eu tinha canções inéditas”, afirma
o músico, que não sabe se vai repetir a parceria.”Sempre
componho pra dizer alguma coisa. É a cristalização de
algum sentimento. Em primeira instância, tenho vontade
de cantar. Não consigo compor com um distanciamento. Se
eu tiver a oportunidade de ter músicas quando estiver
gravando, vou ficar muito feliz”,completa.
O PESO DA HERANÇA
No dia 9 de setembro de 1977, Maria Rita Mariano nasceu
na maternidade São Luiz, em São Paulo.Até o nome possui
relação estreita com a música.Elis Regina chamava amiga
Rita Lee pelo nome Maria Rita.Quando sua primeira filha
veio ao mundo, ela resolveu homenagear a precursora do
rock and' roll no Brasil.Após a morte da mãe, Maria foi
morar com o pai, César Camargo mariano e o contato com
as canções eram naturais.Os almoços e jantares eram
animados a batuques nos pratos, copos e talheres.Aos 13
anos, Maria Rita entrou para a banda do irmão Pedro,
fazendo backing vocal.No colégio, montaram um show de
duas vozes e violões.
Contudo, ela demorou para aceitar o destino como cantora
e foi estudar nos estados unidos.Carregar o peso da
herança da mãe não era uma tarefa simples.”Desde sempre,
tive consciência de ser a única filha mulher de uma
grande cantora. Depois de um tempo, percebi que era mais
um mito do que apenas uma intérprete. Minha mãe virou
uma coisa muito maior do que eu jamais compreenderia”,
afirma Maria Rita, em entrevista nos extras do seu
primeiro dvd.Ela diz também que não se sentiria bem se
começasse a cantar logo aos 14 anos, mesmo sabendo que
essa era a sua vocação “Eu me sentiria uma farsa”,
revela.
Mas quem acompanhou a trajetória da mãe afirma, que o
caminho de Maria Rita era inevitável.Walter silva
produto do celebre “dois na bossa” (1965), encontro de
Elis Regina e Jair Rodrigues que se tornou o primeiro
disco a vender uma milhão de cópias no Brasil, antecipou
o sucesso há dois anos, ao ouvir duas canções na voz da
nova diva da mpb em um disco cd-r. O resultado foi o
artigo “eu ouvi Maria Rita e chorei”, compilado no livro
”vou te contar” lançado pela editora Códex em 2002.”Para
é um privilégio vê-la continuar o que a mãe deixou”,
resume silva, que no mesmo texto deu alguns conselhos
para a nova cantora.De acordo com ele, alguns foram
seguidos outros não!
“MAS ELA TEM UM GRANDE FUTURO”, conclui.
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