história - parte III

Em vez de bancar horas em algum super-hiper estúdio de L.A., eles escolheram uma velha mansão nas colinas californianas, com fama de mal-assombrada. Em vez de usar a última tecnologia em gravação, Rubin mandou buscar velhos amplificadores valvulados, mesas de som empoeiradas e todo tipo de velharia apta para captar a atmosfera da casa, das gravações e da banda. Bingo!!! BloodSugarSexMagik foi lançado em 91 e trouxe o primeiro grande sucesso comercial da banda: a balada Under The Bridge. Baseado em sua experiência com heroína, Kiedis escreveu esta letra e a escondeu em seu caderno de anotações, considerando-a sentimental demais. Rubin leu, vislumbrou cifrões e mais cifrões e pediu que ele a mostrasse aos companheiros. Imediatamente, eles pegaram seus instrumentos e começaram a fazer o som. Com os clipes de Under The Bridge, Breaking The Girl e Give It Away sendo repetidos incansavelmente pela MTV e as mesmas músicas rolando toda hora no rádio, não teve jeito. BloodSugarSexMagik vendeu mais de dois milhões de cópias nos Estados Unidos. Finalmente, muita grana, fama no mundo todo e tudo o que o mega sucesso traz. Incluindo a insatisfação de um dos integrantes.

Talvez ainda muito jovem pra agüentar as turnês pelo mundo, entrevistas e loucura, muita loucura, em forma de sexo e heroína, o menino John anunciou sua saída em 92. Entregue a seu destino, Frusciante se exilou do mundo e tornou-se um viciado por opção. Puto da vida com o ex-colega, Kiedis não quis saber de choradeira e logo achou substituto pouco brilhantes para o John. Entre eles, um amigo de Flea, o não tão genial Arik “The Freak” Marshall, que tocou com a banda no Brasil em 93. Em 94, vestidos como o Lampadinha, mascote do Professor Pardal, da Disney, estrearam no festival de Woodstock 94 com seu novo guitarrista: o todo pose Dave Navarro, ex-Jane’s Addiction. Rapidamente sua influência sobre a banda pôde ser sentida. Em One Hot Minute (95), sons como Warped lembram demais Jane’s - uma queda no nível de originalidade dos Peppers. Navarro pareceu dominar a área e acentuar o clima gay do RHCP, que sempre existiu. Sobretudo por conta da bitoca que dá na boca de Kiedis no clipe desse som. One Hot Minute não surtiu o mesmo efeito que BloodSugarSexMagik, mas valeu.

Em abril de 98, para a felicidade de muitos fãs, Navarro saltou fora do barco alegando incompatibilidade criativa. Depois de deixar a banda, declarou que se sentiu ridículo ao vestir traje de lâmpada em Woodstock e que se demitiu porque não conseguia fazer caretas. Como se não bastasse, Anthony Kiedis e Chad Smith sofreram acidentes com suas Harley Davidson em L.A.. Kiedis, que havia voltado à heroína, embutiu a moto na caranga de uma velhinha, fraturando os punhos e Chad chapuletou o ombro depois de tentar desviar de um carro em freada brusca. Longe da cena após sua saída do RHCP, John Frusciante havia se enfiado na jaca até o pescoço. Depois de lançar dois discos tão legais quanto estranhos – Niandra Lades  & Usually Just A T-Shirt (95), dedicado a Clara Balzary, e Smile From The Streets You Hold (97) – mas sem nenhuma repercussão – ele decidiu que iria acabar com a vida de qualquer jeito. Injetava heroína, cocaína, fumava crack, tomava valium, bebia vinho todos os dias e nem chegava perto da guitarra. Quando Flea para Anthony que Frusciante deveria voltar, Kiedis, ainda corroído pelas brigas de anos antes, recusou a idéia. Mas foi só o baixista dizer a frase mágica “a volta dele é a única coisa que pode manter-nos vivos e juntos”, para o vocalista se ligar.

Encontrado no chalé de Los Angeles sem os dentes, os cabelos caindo, as unhas podres, quase sem voz e envelhecido uns 30 anos em apenas quatro, Frusciante decidiu se internar para salvar sua vida. Para celebrar sua volta, o Chili Peppers chamou mais uma vez Rick Rubin e fez Californication (99). Não o melhor mas o mais inspirado e melódico disco de sua carreira. Recheado de baladas em que Kiedis destila sua voz limitada e com Frusciante provando ser um dos guitarristas mais expressivos desde que apareceu, o disco é uma visão musical de uma banda madura que não é mais o grupo da vez. Quando se fala em Red Hot Chili Peppers, não se pensa mais nos termos “moda” ou “sucesso”. Se outros revezes podem entrar no caminho, ninguém sabe. A certeza é que, por enquanto, eles ganham, e feio, a batalha contra o fim, lutando como bravos mulekes californianos que se tornaram.                   

Fim