Capítulo 02

Taylor entrou em casa, andou em direção ao quarto de sua mãe, que não morava mais lá. Era onde guardava sua coleção de borboletas, numa caixa de vidro comprida. Estava segurando uma borboleta que havia acabado de pegar e a espetou, junto às outras.

Ele estava meio nervoso, meio estressado, ficou rolando na cama antes de dormir e quando dormiu, teve pesadelos.

No outro dia, acordou para ir à faculdade. No caminho, pensava em Ange e como gostaria de não encontrá-la. Estava com medo, apreensivo.. sentimentos novos.

Ao entrar na sala, ouviu seu nome ser chamado..

Ange>> Taylor! - Ele olhou em sua direção, caminhando até ela. - Guardei lugar pra você.

Taylor>> Thanks. Sua mãe te perturbou muito?

Ange>> Nem um pouco. Te viu pela janela, sabia? Achou você extremamente bonito. - Ele sorriu, sem graça.

Taylor>> Agradece a ela.

Ange>> Eu tô com medo da prova.. - Fez cara de triste.

Taylor>> Não devia, estudamos muito.

Ange>> Mas não o suficiente..

Taylor>> Nunca é o suficiente, acredita em mim. Sempre vai ter alguma coisa que nem os professores sabem. Anatomia é assim mesmo, você só aprende com a prática.

Ange>> Prática?

Taylor>> É.. prática.

Ange>> E como que se pratica anatomia? - Começava a ficar com medo.

Taylor>> Indo no anatômico e estudando.. comparando as peças.. olhando no Atlas de Anatomia.. visualmente se aprende melhor, entendeu?

Ange>> Ahhhh..

Sra. Durke>> Bom, vamos dar início à nossa prova teórica.. apenas caneta na mão.. são muitas questões, para diminuir o peso delas e abrangir toda a matéria. Quem for terminando, vai pro anatômico pra prova prática... é 1 minuto e meio por pergunta.. é só seguir a ordem das peças. São só 20 questões, ok?

Ange>> Aaaai.. vou vomitar. - Taylor riu.

Taylor>> Calma.

Quem precisava se acalmar era ele, que não entendia porque ao ficar perto dela se transformava, demonstrava carinho e preocupação. Ele não era assim, fazia tempo que não agia assim com ninguém e aquilo o estava irritando tanto, mas tanto, que o estava levando à loucura. Estava vermelho, irado, as mãos suavam..

Ange>> Taylor? Calma.. - Tudo se acalmou, ele respirou fundo e a olhou completamente melhor.

Taylor>> Sim?

Ange>> Você tá suando..

Taylor>> Tava.

Ange>> Tudo bem?

Taylor>> Sim, sim.. já passou.

Assim que Taylor acabou as duas provas, sentou no meio fio. Ficou pensando se Ange havia se dado bem ou não na prova, relembrando das questões. Eles tinham estudado a maioria das peças que caíram.

E por que diabos eu estou me preocupando com isso? Bufou, lamentando. Estava começando a ficar nervoso novamente, até que viu Ange saindo do anatômico. Ela passou por ele, limpando o rosto, não parecia estar bem. Taylor levantou rápido e foi até ela.

Taylor>> O que foi???

Ange>> Snif.. nada. - Fungando o nariz.

Taylor>> Foi a prova?

Ange>> É.. snif. - Encostou no peito dele, para que ele a abraçasse.

Ele não compreendeu e ficou olhando pra ela com a cabeça em seu peito, manteve então as mãos para baixo. Ela olhou para cima, encarando-o. Taylor nem respirava.

Ange>> Me abraça. - Ele fechou os olhos, tinha medo que fosse isso.

Foi envolvendo devagar o corpo dela com o braço direito, e com o esquerdo tocou seu cabelo, apertando-a mais para o seu peito.

Taylor>> Está melhor, agora?

Ange>> Está.

Taylor respirava fundo sobre a cabeça de Ange, sentindo o doce perfume de seus cabelos. Ela olhou para cima novamente, percebendo que ele mantinha os olhos fechados.

Ange>> Você está diferente comigo.

Taylor>> Hmm?

Ange>> É, diferente..

Ele tossiu, Taylor>> Diferente como?

Ange>> Ontem no início você estava mais frio, mais arisco.

Taylor>> Sei. - Balançando a cabeça, concordando.

Ange>> E agora tá todo doce.

Taylor>> É? - Ela riu.

Ange> É.

Taylor>> Ange. - Tossiu novamente. - Eu meio que tenho alguns problemas que me impedem de ser assim o tempo todo.

Ange>> O que?

Taylor>> Ah sei lá.. não queria falar.

Steven>> Ihhhhhhhhhhhh...a lá! O esquisitão tá no maior amasso com aquela garota! - Ressaltou a voz em seu grupo de amigos. Taylor começou a respirar forte e rápido.

Ange começava a entender algumas coisas, ao olhar aqueles garotos caçoando dele.

Ange>> Calma, esquece.. são uns idiotas mesmo, vem! - Puxando-o pelo braço.

Ele ficou calado, não sabia explicar o que sentia ou pensava. Mas, ela demonstrava não ligar por ele se 'o esquisitão do colégio'. Isso o estava dando segurança e estava tirando o medo que ele tinha por pensar nela.

Taylor nem percebera o caminho, tinha saído de si em seus pensamentos, 'acordando' somente quando ouviu ela abrindo um portão.

Taylor>> Onde a gente tá?

Ange>> Na minha casa. Vem, entra..

Taylor>> Não sei. - Estava acuado.

Ange>> Confia em mim, entra. - Ele relutou um pouco, mas acabou entrando. - Não tem ninguém em casa.. - Ele estava sério, olhando pra ela meio assustado. - Você não tá achando que eu que sou a assassina, está? - Ele riu.

Taylor>> Imagino que não.

Ange>> Ok.. vai subindo.. meu quarto é o primeiro do corredor. Vou levar uns lanches.

Taylor>> Prefiro ficar com você.

Ange>> Ah.. ok. - Os dois seguiram para a cozinha. - Você não devia se importar nem um pouco com aquilo, ok? É uma babaquice só. - Ele apenas ouvia, em pé, com as mãos nos bolsos de trás da calça enquanto ela preparava os lanches. - Eu às vezes me sinto meio parecida com você.

Taylor>> É? - Ele estava se sentindo mais a vontade.

Ange>> É... quando eu era pequena, eu era a mais gorda da turma. Tipo, era muito gordinha mesmo, parecia uma bolinha. - Taylor soltou um risinho, mostrando achar aquilo bonitinho. - Então, todo mundo me zoava. TODO mundo. Era na aula de Ed. Física, era no recreio.. sempre! As pessoas são muito más, sabe? Elas não pensam que podem estar ferindo os outros. Mas em todo lugar você vai encontrar gente assim, tentando te atingir direta ou indiretamente. Fazia tempo que eu não via uma cena dessas, pra ser sincera... a gente tá na faculdade, né? Mas, tem gente que não cresce! Eu resumo isso tudo à inveja.

Taylor>> Inveja?

Ange>> É.. por você ser tão bonito assim e não usar isso contra os outros.. tem gente que é bonita e se sente superior por isso.

Taylor>> Mas eu nem me acho bonito, Ange.

Ange>> Taylor.. agora eu concordo com o cara.. você é muito esquisito. - Eles riram. - Como assim não se acha bonito, garoto?? Cai na real!!! Olha.. - Arrastando-o até o banheiro de empregada, onde tinha um espelhinho. - Olha a cor dos seus olhos, é minha cor favorita. Você conhece alguém que não goste de azul? - Ele riu.

Taylor>> Você é boba.. - Ficando vermelho.

Ange>> E o seu rosto todo é bonito.. - Ela forçou um pouco a vista. - Não acredito que você não vê.

Taylor>> É.. - Os dois estavam um pouco perto, ela encarava seus lábios. - .. não vejo. - Voltando pra cozinha.

Ange>> Agora me explica por que você age estranho às vezes? - Ele bufou.

Taylor>> Eu acho que eu tenho síndrome do pânico.

Ange>> É?

Taylor>> É.. em certas situações eu meio que entro em pânico.

Ange>> E você sabe o motivo?

Taylor>> Não, geralmente essas coisas não têm motivo.

Ange>> É verdade.. tem uma sobrinha da mãe de uma amiga minha que também teve. Mas ela vai muito ao médico, e tá aprendendo a controlar.

Taylor>> Já fui no médico, não se preocupa. - Ela sorriu. - É por isso que não é o tempo todo.

Ange>> Entendi. - Terminando de fazer o lanche. - Pronto, vamos pro quarto?

Taylor>> Ok.

Eles sentaram na cama de Ange, um de frente para o outro, com uma bandeja entre eles. Nela tinha sanduíches e Toddy com leite quente.

Taylor>> Hmm, tá uma delícia.

Ange>> Brigada!

Taylor>> Nada..

Ange>> Você já namorou?

Taylor>> Não.

Ange>> E tem quantos anos?

Taylor>> 21.

Ange>> E não sente falta?

Taylor>> Não sei, eu não posso sentir falta de algo que eu nunca tive. - Ela riu, concordando.

Ange>> Mas.. você não se sente sozinho?

Taylor>> Mais ou menos, eu já meio que me acostumei a ficar sozinho.

Ange>> Hmm.. - Mordendo seu sanduíche.

Taylor>> Mas, se você quer saber.. quando você não está, eu sinto sua falta. - Ela sorriu, ficando vermelha.

Ange>> Sério?

Taylor>> Uhum. - Olhando pra bandeja, completamente envergonhado.

Ange colocou o sanduíche na bandeja e encostou sua mão no queixo de Taylor, fazendo-o olhar pra ela. Aproximou-se dele, fitando seus lábios. O coração dele parecia que ia pular pela boca, a mão suava fria, estava se sentindo estranho novamente. Moveu a cabeça pra trás, deixando de encará-la.

Ange>> Me desculpa, eu entendi errado..

Taylor>> Tudo bem.. - Levantou-se. - Tá tudo bem. - Encarou-a, sério. - É melhor eu ir pra casa.

Ange>> Ok, eu vou com você até a porta. - Os dois desceram as escadas em silêncio. Ele saiu, depois de dar um beijo na testa dela. - Droga!! - Ela murmurou, tampando o rosto.