Capítulo 03

Taylor>> Mais uma borboleta... - Alisando sua asa alaranjada. - Well, well.. - Espreguiçando-se. - Minha cabeça está estourando, preciso de um bom banho e uma noite de sono. - Riu logo em seguida. - Devo estar ficando louco, falando com borboletas mortas... - Lamentou, seguindo para o banheiro.

Horas mais tarde..

Ange>> Não! Para!! - Ela chorava no final da rua, a caminho da faculdade. - PARA!! SEU NOJENTO!! - Gritando para Bryan, que segurava um gato desacordado numa mão e um isqueiro na outra.

Ele já tinha acendido o isqueiro em algumas partes do gato, tentando fazê-lo pegar fogo sem obter sucesso.

Ange>> PARA!!! EU VOU CHAMAR A POLÍCIA!! - Ele não deu bola e saiu andando com o bicho.

Taylor escutou seus gritos, mas demorou um pouco para reconhecer a voz. Apressou o passo, surpreso. Será que alguém estava matando àquela hora? Como pode? Ao se aproximar, pôde vê-la.

Taylor>> Ange!

Ange>> Taylor! O Bryan! Ele tá com um gato, tá machucando o gato.. - Aos prantos. - Tá tentando pôr fogo nele!!!!

Taylor mal terminou de ouvir o que ela tinha pra dizer e correu até ele, dando um empurrão. Bryan se virou, não gostando nem um pouco do que vira.

Bryan>> QUE FOI, ESQUISITO?

Taylor>> Larga o gato!

Bryan>> Por que? Vai fazer o quê?

Taylor>> Larga a porra do gato, ou você vai ter uma aula de anatomia agora, com seu próprio corpo. - Tirando um estilete do bolso, rodando-o para armá-lo. Bryan arregalou os olhos.

Bryan>> Tá maluco??

Taylor>> Lembra da aula de dissecação??? Vamos dissecar alguém vivo agora. - Olhando-o firme nos olhos, Bryan largou o gato e saiu correndo.

Ange>> Tay.. - Aproximando-se. - Ainda bem que você chegou a tempo. - Pegando o gato no colo.

Taylor>> Ele tá bem?

Ange>> Eu não sei, tá desacordado..

Taylor>> Vamos levá-lo para casa.. - Ange concordou, os dois seguiram para a casa dela.

Eles deixaram o gato na cama e enquanto ela o acariciava, atenta para ver se ele dava algum indício de que ficaria bem, Taylor ia na vendinha comprar um pouco de ração. Ange separou um pote de sorvete vazio e botou água, ao lado botou um jornal.

Taylor>> Cheguei.. - Abrindo a porta do quarto, ela levara um susto. - Sua mãe abriu pra mim lá embaixo, desculpa não ter batido. - Ela sorriu, dizendo que sim com a cabeça. - Ele acordou?

Ange>> Ainda não.

Taylor>> É ele ou ela?

Ange>> Ela.

Taylor>> Será que tem dono?

Ange>> Não, acho que não. Tá sem coleirinha.. bom, qualquer coisa alguém vai dar falta e procurar. É só prestarmos atenção a algum cartaz ou algo do tipo.

Taylor>> É.. eu nunca cuidei de gato, mas eu sempre vejo comercial dessa ração aqui. Deve ser boa.

Ange>> Eu também não entendo nada. - Sorrindo de leve.

Taylor>> Comprei também essa comida mais molinha.. pra misturar.. e isso aqui que é pra tártaro e por junto com a ração. - Ela riu. - Que foi?

Ange>> Ah, você mimando a gata.

Taylor>> Ué, temos que cuidar, né? Não vou deixá-la de qualquer jeito. - Ela concordava, rindo.

Ange>> Mas ração pra tártaro?

Taylor>> E uns ratinhos de pelúcia... pequenos.. pra ela brincar.

Ange>> Tá, tá.. - Rindo.

Taylor>> Sua mãe deixou você ficar com ela?

Ange>> Não..

Taylor>> Droga.

Ange>> Fica você! - Esperançosa. - Você parece ter jeito.

Ele relutou um pouco, não queria nenhum animal de estimação. Pra ser mais exato, não queria companhia. Olhou para a gata e em seguida olhou para Ange. Não tinha como negar..

Taylor>> Tá.. - Acariciando o pêlo da gata, bem preto.

Ela não era magrela, era daqueles gatos robustos com a face média. Todas as patinhas eram brancas, como se fossem sapatinhos.

Ange>> Vamos escolher um nome.

Taylor>> Angel.. - Ange o encarou. - Em homenagem a você. - Ela riu, ficando vermelha.

Ange>> Sério?

Taylor>> Huhum! - Sorrindo.

Taylor encostou-se na cabeceira da cama e ficou olhando a gata, acabou pegando no sono. Ange alternava o olhar entre os dois, acariciando-a, seguindo até a perna de Taylor, que estava perto da gata. Ficou alisando sua perna, atenta para ver se ele se movia ou dava algum sinal de que estava acordado. Tocou sua mão, seguiu pelo ante-braço, sorrindo para as suas pintinhas que ressaltavam-se naquela pele branca. Estava nervosa, mas queria arriscar. Subiu até o braço, pulou para o rosto, levando um susto ao vê-lo se mexer.

Ange>> Taylor? - Perguntou baixo. Ele não a respondera.

Ela desistiu de continuar a tocá-lo, encostando-se na cabeceira ao lado de Taylor. Balançava o pé, entediada, olhando para todos os cantos do quarto. Foi deitando a cabeça no ombro dele, devagar, pois não queria acordá-lo e dormiu.

Passou um tempo, já estava entardecendo com a mãe de Ange entrou no quarto e viu os dois dormindo.

Sra. Millus>> Queridos! - Sorrindo de leve. Os dois deram um pulo.

Taylor>> God.. - Olhou em volta. - Acabei dormindo, desculpa Sra. Millus não foi a intenção. - Ela riu.

Sra. Millus>> Por que você tá se desculpando, menino?

Taylor>> Ah sei lá.. talvez a senhora achasse desrespeito, algo assim.

Ange>> Não, tá tudo bem.

Sra. Millus>> Que bom que a gatinha acordou. - Os dois olharam para a borda da cama, onde ela brincava com um pedaço de lençol.

Ange>> Olha!! Ela tá bem!

Taylor>> Putz.. ainda bem. - Pegando-a no colo.

Ange>> Aquele cara é um monstro..

Sra. Millus>> Que cara?

Ange>> Ah o tal de Bryan.. ele tava tentando por fogo no gato. - Sua mãe arregalou os olhos.

Sra. Millus>> Esse cara bem deve ser o assassino, sabia? - Taylor a olhou, prestando atenção.

Taylor>> Você acha?

Sra. Millus>> Acho.. quem mais faria uma maldade, uma crueldade daquelas?

Taylor>> Não sei. - Olhou para Ange.

Ange>> Já tava falando que era ele há muito tempo! Vocês têm que ver os acessórios satanistas que ele anda.

Sra. Millus>> Como você sabe dessas coisas??

Ange>> Ah.. eu vi num filme que falava de bruxaria... e falava das bruxas da natureza e das bruxas satanistas.. e tinha uns amuletos lá.. um tal de pentagrama pra baixo.. e o Bryan usa isso tudo!!

Sra. Millus>> Então já sabe, né? Ai.. toma cuidado, filha.. eu fiquei tão assustada com essas notícias de assassinatos.. cada dia encontram mais e mais..

Taylor>> Não se preocupe, Sra. Millus.. nada vai acontecer à sua filha. Ela vai ficar bem. - As duas sorriram.

Ange>> Tay, você quer lanchar algo?

Taylor>> Hmmmmmm..

Ange>> Pensou demais! Levanta! - Ele riu, os dois levantaram.

Taylor>> Tá tá.. - Sendo empurrado por Ange, os três foram para a cozinha.

Ange>> Aqui tem bolo, tem.. - Ele ficou olhando em volta, a cozinha branca, bem iluminada. Tinha uma decoração levemente marrom, mais para tons de bege, com algumas verduras decoradas em azulejos. Lembrou-se de sua mãe. Não tinha muitas lembranças dela, apenas leves lampejos de memória. Não sabia ao certo porque, mas aquela cozinha o lembrava de 'mãe' e aquilo o deixou nostálgico, progredindo para 'nervoso'. Respirou fundo, não dando muito certo, respirou fundo novamente. Olhou em volta mais rápido, não enxergando nada. Estava tudo nublado, embaçado. Foi respirando devagar, o ar faltava, apressando a respiração gradualmente. Viu a silhueta de sua mãe, distante, não dava para ver direito. - Tay? Tá tudo bem?

Taylor>> Ahn?

Ange>> O que foi?

Taylor>> Nada.. tá tudo ótimo.

Ange>> No que você estava pensando?

Taylor>> Não sei. Esqueci.

Ange>> Sério?

Taylor>> Ahan.. você pode repetir?

Ange>> Claro! - Sorrindo de leve. - Tem bolo de laranja, tem geléia, pão, queijo.. presunto.. patê... suco..

Taylor>> Ahhhm.. - Tentando decidir.

Ange>> Deixa que eu te sirvo..

Taylor>> Tá! - Sorrindo.

Eles sentaram à mesa e Taylor observava Ange pegando várias coisas da mesa, preparando seu prato, botando de tudo um pouco.

Taylor>> Nossa, tá com uma cara boa esse sanduíche!!

Ange>> Sanduíche de queijo e presunto, Tay? Cê tem cada coisa! - Ele riu.

Taylor>> Tava sendo gentil.. - Mordendo o bolo. - Hmmmm foi quem que fez?

Ange>> Eu! - Servindo-se.

Taylor>> É de caixinha, né? - Ela riu.

Ange>> Bobo.. sei cozinhar, tá?

Sra. Millus e Taylor>> Ahan, tá.. - Rindo logo em seguida.

Ange>> Nem vou falar nada porque sou educada, tá?

Taylor>> Tava muito bom, hein? - Terminando de lanchar.

Ange>> Quer mais alguma coisa?

Taylor>> Não, tá ótimo. Obrigado.

Taylor esperou Sra. Millus e Ange terminarem de lanchar e ficou conversando com elas durante mais um tempo.

Taylor>> Bom.. tá na minha hora. - Disse se levantando.

Ange>> Eu te ajudo a pegar as coisas do gato!! - Subindo, chamando Taylor com a mão. Os dois desceram com as coisas. - Vamos, vou até o portão!

Taylor>> Ok. - Sorrindo.

Eles foram andando em silêncio. Saíram da casa, passaram pelo primeiro portão e pararam, olhando um pro outro.

Ange>> Ainda bem que ela é calminha, vai dar para levar no colo. - Ele olhou para a gata.

Taylor>> É. - Sorrindo de leve.

Ange>> Bom..

Taylor>> Er..

Ange>> Tchau. - Sorrindo também.

Taylor>> Tchau. - Deu dois beijos no rosto dela, seguindo seu caminho logo em seguida.

'É uma índia com um colar
A tarde linda que não quer se pôr
Dançam as ilhas sobre o mar
Sua cartilha tem o a de que cor
O que está acontecendo?
O mundo está ao contrário e ninguém reparou
O que está acontecendo?
Eu estava em paz quando você chegou

E são dois cílios em pleno ar
Atrás do filho vem o pai e o avô
Com o gatilho sem disparar
Você invade mais um lugar
Onde eu não vou
O que você está fazendo?
Milhões de vasos sem nenhuma flor
O que você está fazendo?
Um relicário imenso desse amor

Corre a lua, por que longe vai?
Sobe o dia tão vertical
O horizonte anuncia com o seu vitral
Que eu trocaria a eternidade por esta noite
Por que está amanhecendo?
Peço o contrário, ver o sol

Relicário - Cássia Eller'