Capítulo 14Taylor foi cedo ao psiquiatra aquele dia, nem tinha ido à faculdade, nem nada. Ange seguiu seu caminho, depois de acompanhá-lo até a porta do consultório de Sr. Millus. A consulta foi como o de costume. Sr. Millus enrolou por um tempo, conversando bobagens com Taylor para distraí-lo. Ange apareceu na porta do consultório, achando que a sessão já havia acabado. Sr. Millus>> Ainda falta muita coisa, querida. - Deu um beijo na testa de Ange. Ange>> Posso ficar esperando aqui na salinha? - Apontando para a sala de espera. Sr. Millus olhou para Taylor, não queria de maneira alguma deixá-lo ainda mais constrangido do que ele já estava por causa das sessões. Taylor>> Por mim, sem problemas. - Sorriu pra ela. - Só se você me der um beijo antes.. - Ela riu, foi até ele, beijou seus lábios e correu para a salinha. Sr. Millus>> Vamos para a hipnose? Taylor o olhou, sério. Não queria ser hipnotizado novamente, tinha sofrido tanto da última vez. Mas, sabia que seria melhor desse jeito. Ele se deitou, colocou as mãos cruzadas em cima de sua barriga, dedilhando com os dedos. Olhou pro teto, olhava em volta, olhou para Sr. Millus e sorriu, fazendo-o rir. Sr. Millus>> Ansioso? Taylor>> Uhum.. E a sessão começou. Sr. Millus o fez voltar um pouco antes do dia da morte de sua mãe. E foi o que aconteceu. Sr. Millus>> Me conte.. o que você vê? Taylor>> Eu vejo um irmão mais novo que eu.. bem mais novo mesmo. Ele estava chorando.. o nosso irmão mais velho saiu de casa aos berros,.. a gente tinha discutido. Sr. Millus>> Você sabe o motivo?? Taylor>> Sei. Sr. Millus>> Então, fale.. Taylor>> O mais velho estava planejando o assassinato da mãe.... - Taylor fungava o nariz, como quem estava começando a chorar. Sr. Millus>> Foi o seu irmão mais velho que matou sua mãe, Taylor? Taylor>> Foi. Sr. Millus>> E você sabe o motivo? Taylor>> ELE NÃO PRECISAVA TER FEITO ISSO!!! ERA SÓ FUGIR, EU FUGI!!! Sr. Millus>> Qual o motivo, Taylor? Taylor>> ELE NÃO PRECISAVA!!! - Chorando. Sr. Millus>> QUAL O MOTIVO? Taylor>> Não me faz falar, não, não quero falar! Sr. Millus>> Taylor, por favor, o motivo. Taylor>> ELE ERA ABUSADO QUANDO CRIANÇA, SR. MILLUS. TODOS NÓS. EU, ELE, O MAIS NOVO. OS TRÊS. PRINCIPALMENTE EU. ELA FAZIA ISSO, SR. MILLUS.. ERA QUASE TODO O DIA. Sr. Millus>> A sua mãe fazia isso com você? Taylor>> ELA ERA UMA PUTA.. UMA MANÍACA DROGADA.. SE ELE NÃO TIVESSE FEITO ISSO, ELA MORRERIA DE TANTA DROGA QUE USAVA. E, SIM, ELA ABUSAVA DE MIM. ELA ABUSAVA DE MIM...!! - Taylor se debulhou em lágrimas, gritos que tiravam seu fôlego. Ange tampou a boca, chocada. Chorava. Chorava muito. Ela não agüentou e abriu a porta, indo até Taylor e o abraçando forte. Ange>> Tá tudo bem, tá tudo bem, eu te amo.. eu te amo.. isso passou.. agora é tudo diferente.. nunca mais ninguém vai fazer nada disso com você, eu não vou deixar.. não mesmo.. Ela o apertava com tanta força, que ele estava mole em seus braços, aos prantos. Ela já desconfiava disso, mas ter certeza é algo totalmente diferente. Como aquilo havia doído em seu peito, como havia doído! Ela nem tinha palavras para explicar como aquilo havia machucado seu coração.. quebrado em mil pedaços. Estava ali, o homem que ela amava, sofrendo, chorando, por causa de um passado horrível. Que mãe seria capaz de fazer isso com uma criança, meu Deus? Que mãe? Sr. Millus saiu dali indo para a sala onde Ange esperava os dois. Ele não queria interromper, até ele estava chocado com a situação. Nunca tinha presenciado um caso desses. Ange acariciou o braço de Taylor, que tremia todo encolhido em seus braços. Ela foi até o rosto dele, e fez com que ele a olhasse. Ange>> Eu te amo, ok? Ele a olhava com aqueles olhos azuis claros, brilhando, com esperança e medo. Ele segurava os braços dela, enquanto ela os mantinha esticados, segurando o rosto dele, fazendo-o encará-la. Ange>> Eu te amo muito. Tá? - Ele fez que sim com a cabeça. - Agora que o Sr. Millus sabe o que aconteceu, será tão mais fácil, baby.. tão mais fácil tratar você.. e você vai ficar bom.. - Sorriu. - Vai ficar bom, tudo vai ficar bom.. você vai ver.. Ele balançou a cabeça positivamente mais uma vez, respirou fundo, beijou as mãos de Ange, respirando fundo mais uma vez. Sr. Millus apareceu ali com uns comprimidos e indicou que Taylor os tomasse. Era um coquetel com calmantes, e uns remédios para dormir. Bem pesado. Ele foi apagando ali, na frente dos dois. Ange estava inconformada, voltou a chorar, olhando para Taylor deitado, todo desprotegido. Ela não conseguia deixar de sentir pena dele. Sr. Millus a abraçou de lado, acariciando seu cabelo. Ange>> Cara.. eu sentia que era isso.. eu no fundo sabia.. mas.. é tão diferente quando a gente tem certeza. - Sr. Millus só concordava. Sr. Millus>> Ele deve ter sofrido muito, coitado.. deve ter sido muito difícil pra uma criança passar por isso.. ver um irmão mais novo sofrendo também.. - Bufou. - Agora precisamos saber o que aconteceu com os outros irmãos.. talvez estejam precisando de ajuda também.. - Ange prestava atenção em tudo o que seu tio falava. - Ou, talvez, eles morreram.. se mataram.. sei lá, é algo bem difícil. Imagina se o Taylor passou por isso tudo e ainda perdeu os irmãos? Ange>> Com certeza que perdeu de alguma forma, já fui inúmeras vezes na casa dele e não tem nada sobre os irmãos. Nem sabia que ele tinha irmão. - Sr. Millus concordou. Sr. Millus>> Cada vez descobrimos mais traumas que esse menino passou.. - Acabou rindo. - Tem gente que tem dificuldade de superar a perda de um familiar.. de um irmão por exemplo. Imagina.. perdeu os irmãos.. viu a mãe ser assassinada.. foi molestado pela mesma.. presenciou os irmãos sofrendo do mesmo problema. Ange arregalou os olhos, concordando. Nem tinha o que dizer. Sr. Millus>> Olha, eu preciso falar uma coisa com você.. não queria te preocupar.. mas, é que.. Ange>> Fala.. Sr. Millus>> Taylor tem mais do que um motivo pra ter problemas psicóticos.. e certos problemas o tornam até uma pessoa perigosa.. Ange o encarou, séria. Ange>> O que você quer dizer com isso? Sr. Millus>> Que ele pode, perfeitamente, ser aquele assassino que tem rondado a sua faculdade.. matando mulheres.. Ange>> É, eu imaginei que você iria chegar a essa conclusão.. já fiz isso várias vezes.. você acha que ele é perigoso mesmo se tratando? Mesmo com remédios controlados? Sr. Millus>> É.. sim e não. Ange>> Sim e não? - Franziu as sobrancelhas. Sr. Millus>> Quem vai garantir que ele vai tomar tudo direitinho? Ange>> Eu! Sr. Millus>> Ok.. então lembre-se que isso será pra sempre. Ele NUNCA vai poder deixar de tomar esses remédios.. porque se ele for realmente esse cara, ele devia agir inconsciente.. pois o motivo estava no inconsciente.. agora, fiz com que ele se lembrasse de tudo. - Ange gelou. Ange>> Ok. Ange ficou sentada ao lado de Sr. Millus, os dois em silêncio, olhando Taylor repousar. Ela se lembrava da noite que ele mais a assustou, que a perseguiu e tudo mais. Ele não conseguia deixar de sentir pena de Taylor. Ange>> Você acha que ele tem cura, tio? - Ele a olhou. Sr. Millus>> Você superou, Ange. Por que ele não? Ela baixou a cabeça. Sim, ela tinha superado. Sr. Millus>> E o que não se supera... Ange>> Se controla. - Voltou o olhar pra ele, que sorriu, concordando.
"Segunda
de manhã, Out of control, U2" |