OS LIVROS APÓCRIFOS
Apócrifo é um vocábulo grego que significa “aquilo que está oculto”. Usado primitivamente em literatura para designar o que se achava em sigilo para os iniciados e revelado aos sábios. Séculos mais tarde, serviu para designar escritos de Segunda classe; nos dias de Jerônimo designava a literatura “falsa”. Isto é, não inspirada. Este sentido permaneceu. Hoje “apócrifo” significa “falso”. Como usualmente o entendemos, refere-se a coleção dos livros canônicos, incorporados a Setenta ou Septuaginta e Vulgata, rejeitados, entretanto, pelos Judeus e protestanrtes.
I. VELHO TESTAMENTO
Estes apócrifos
não tem nenhuma relação com os genuzim (livros reservados)
dos Judeus que não eram inspirados e eram guardados apenas, por razões
de piedade na gehizah das sinagogas.
Estes Livros refletem as duas correntes rabinicas: 1)
tipo halákico ou jurídico e 2) haggádico ou histórico,
inclinando-se para o apocalíptico. Escritos originalmente em hebraico
ou aramaico, mas conservados somente no grego. Dividem-se em três grupos:
a) Históricos - a) Livro dos Jubileus; b) Vida
de Adâo e Eva; c) Ascenção de Isaías; d) III Esdras;
e) III Macabeus; f) O Testamento de Moisés; g) Eldade e Medade; h)
História de João Hircano;
b) Didáticos - a) Testamento dos Doze Patriarcas;
b) Salmos de Salomão; c) Ode de Salomão; d) Oração
de Manassés; e) IV Macabeus.
c) Apocalípticos - a) Livro de Enoque;
b) Ascenção de Moisés; c) IV Esdras; d) Apocalipse de
Baruque; e) Apocalipse de Elias; f) Apocalipse de Ezequiel; g) Oráculos
Sibilinos.
A Igreja Romana, por resoluções do Concílio
de Trento (1545), aceita apenas os seguintes apócrifos: Judite, Tobias,
Acréscimos a Ester, Livro da Sabedoria, Eclesiástico, Baruque,
Acréscimos a Daniel, I Macabeus e II Macabeus.
II - NOVO TESTAMENTO
Nos primeiros séculos surgiram os seguintes apócrifos:
01 Itinerário
de Paulo
02 Itinerário de Pedro
03 Itinerário de João
04 Itinerário de Tomé
05 Didaché
06 I e II Epístola de S. Clemente
07 Epístola de Inácio
08 Epístola de Policarpo
09 Epístola de Hermas
10 Evangelho Segundo Tomé
11 História de Tiago
12 O Apocalipse de Pedro
13 Itinerário e Ensino dos Apóstolos
14 Cartas de Barnabé
15 Atos de Paulo
16 O Apocalipse de Paulo
17 Didascália de Clemente
18 Didascália de Inácio
19 Didascália de Policarpo
20 Evangelho Segundo Barnabé
21 Evangelho Segundo Mateus
22 Evangelho dos Hebreus, etc, etc...
A Igreja Romana, bem como as Igrejas Evangélicas, rejeitaram categoricamente todos os apócrifos do Novo Testamento.
III - CANONICIDADE DOS APÓCRIFOS
Resumidamente
aqui, um trecho de José Carlos Rodrigues, sobre o problema da canonicidade
dos apócrifos: “Assim a primeira versão latina da Bíblia
(Ítala) feita da LXX (Septuaginta) continha, segundo a opinião
dos melhores críticos, todos os apócrifos exceto III e IV Macabeus,
mas acrescentou-lhes IV Esdras, que corria em saparado. Na versão de
Jerônimo do original hebraico, ele excluiu, está visto, os apócrifos,
cingindo-se aos 22 livros daquele códice. Mais tarde porém,
disse (no seu Prólogo dos Livros de Salmos) que “como a Igreja lê
Judite e Tobias e os Livros dos Macabeus, apesar de não recebê-los
no Cânon das duas Escrituras, também deve ler estes dois livros
(Sabedoria e Eclesiástico) para mera edificação, não
para confirmação dos dogmas da Igreja”. Depois desta concessão
de parte do grande padre não é de admirar que todos os apócrifos
fossem obtendo reconhecimento geral. Nos concílios de Hipo (393) e
Cártago (397) dominados por Agostinho foram reconhecidos como canônicos:
Tobias, Judite, I e II Macabeus, além de Sabedoria e Eclesiástico...
repetimos que até o Concílio de Trento em 1546 ainda grandes
autoridades eclesiásticas dos Católicos se manifestavam contra
a canonicidade dos apócrifos, bastando citar S. Tomaz, no século
XIII. Esse concílio, porém, admitiu como canônicos III
e IV Esdras, Tobias, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, I e II Macabeus,
bem como os Acréscimos a Ester e Daniel. Dos chamados apócrifos,
que corriam, o concílio só excluiu o III e IV Livros dos Macabeus.
Para nós, todos os “apócrifos estão
no mesmo plano, isto é, são extra-bíblicos, não
são inspirados. A literatura “apócrifa” é pouco reconhecida.
“O seu estudo nos fascina”, afirma José Carlos Rodrigues - “por apresentar-nos
as idéias que flutuavam no Judaísmo, quando dele nasceu o Cristianismo”.
A literatura “apócrifa”, vem ao nosso auxílio neste estudo,
fornecendo-nos dados históricos e mostrando-nos o ambiente do Período
Intertestamentário, isto é, de Malaquias a João Batista.