Religião

Para o Espiritismo, reencarnar é
a forma de evolução da alma


FRANCISCO MADUREIRA
Editor de Informática da Folha Online

O Espiritismo, doutrina que surgiu em 1857 com o lançamento de "O Livro dos Espíritos" na França, tem por pedra fundamental a chamada reencarnação. Pela teoria, todos os seres humanos são espíritos reencarnados na Terra para evoluir. A morte seria apenas a passagem da alma do mundo físico para o mundo espiritual. No Brasil, estima-se que 10 milhões de pessoas assumam a crença.

Assim como no Cristianismo, doutrina da qual é derivado, para o Espiritismo Deus é a "causa primária", inteligência suprema que criou o universo e as leis que o regem. Uma delas, além da reencarnação, seria a lei de causa e efeito, também chamada "carma" pelos hindus.

Tal lei funcionaria ao lado da reencarnação. O objetivo do espírito, criado "simples e ignorante" por Deus, é chegar à perfeição. A falta de experiência o levará a erros durante esse caminho, e a lei de ação e reação o obrigará a reparar suas faltas para voltar ao bem. A reencarnação, portanto, seria a forma do espírito corrigir os erros que cometeu em outras vidas e dar mais um passo rumo à perfeição.

O Espiritismo também prega a pluralidade de mundos, baseado na frase de Cristo: " A casa de meu Pai tem muitas moradas". Todos os planetas do universo seriam habitados _pensar o contrário, segundo o Espiritismo, seria questionar a inteligência de Deus, que teria criado outros planetas apenas para embelezar o céu terrestre.

A doutrina também prega a inexistência do céu e do inferno como concebidos pelo catolicismo. Segundo o Espiritismo, existem vários planos vibratórios, dos mais inferiores aos mais elevados. Durante sua evolução, o espírito transita entre esses diversos planos.

Pensar na figura do Diabo para o Espiritismo também seria questionar o poder e a inteligência de Deus, já que o criador de tudo o que existe no universo não criaria um outro ser capaz de disputar com ele ou fazer mal às suas criaturas. A doutrina kardecista, como também é chamada, questiona também a existência do mal _assim como a escuridão é a ausência da luz, o mal seria a ausência do bem, do entendimento do bem.

Jesus Cristo também é diferente para o Espiritismo. O católico considera Jesus como a "encarnação" de Deus na Terra. O espírita acredita que Deus é criador, e Jesus é criatura. O Cristo seria um espírito muito evoluído, responsável pelo planeta Terra e pelos espíritos que nele habitam diante de Deus.

Comunicação com o além

A figura do médium também faz parte da crença espírita. O médium, como o próprio nome diz, seria um meio de comunicação entre o mundo físico e o mundo espiritual. O ícone da mediunidade no Brasil é Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, que, sem ter concluído o curso primário, escreveu 418 livros até hoje.

A mediunidade seria um dom que todos os seres humanos têm, em diferentes graus. Chico Xavier teria a capacidade de ver, ouvir e incorporar espíritos. Há os que só os vêem, há os que só os ouvem. Também há os que apenas sentem vibrações ou sonham _para o Espiritismo, todos são médiuns.

O Espiritismo também assume a existência de um espírito-guia, também chamado de anjo da guarda, além de espíritos amigos que nos acompanham nossa encarnação na Terra para nos auxiliar a vencer nossos defeitos. Por outro lado, aqueles a quem prejudicamos em outras vidas se tornam obsessores, espíritos que nos perseguem, com vibrações inferiores, procuram nos atormentar.

Em meados do século passado, quando da fundação da Federação Espírita Brasileira, a mediunidade era muito utilizada para a obtenção de efeitos físicos como a materialização de espíritos ou objetos. De lá para cá, as maiores instituições brasileiras relacionadas à doutrina _Aliança Espírita Brasileira e Fraternidade dos Discípulos de Jesus, por exemplo_ têm se preocupado com a fundação de escolas de ensino moral.

Allan Kardec

Tido como fundador da doutrina espírita, o professor Hyppolyte Leon Denizard Rivail, que adotou para suas obras espíritas o pseudônimo de Allan Kardec, nasceu em 3 de outubro de 1804, em Lion, França. Ele era filho de um juiz, Jean Baptiste-Antoine Rivail, e sua mãe chamava-se Jeanne Louise Duhamel.

Rivail estudou pedagogia com o célebre professor Pestalozzi, de quem cedo se tornou discípulo e colaborador. Falava alemão, inglês, italiano e espanhol. Membro de várias sociedades acadêmicas, foi autor de numerosas obras didáticas na área.

Em 1854, o professor ouviu falar pela primeira vez sobre os fenômenos das mesas girantes, moda nos salões europeus (algo parecido com a popular "brincadeira do copo"). No ano seguinte, interessou-se mais pelo assunto e passou a estudar os fenômenos.

Após algumas sessões, começou a questionar os ditos "espíritos" para descobrir uma resposta lógica que pudesse explicar o fato de objetos inertes emitirem mensagens inteligentes. As "forças invisíveis" que se manifestavam pelas mesas diziam ser almas de homens que tinham vivido na Terra.

A partir daí, Rivail começou a fazer perguntas para todos os homens que viviam no além com quem conversou. Dessas entrevistas nasceu "O Livro dos Espíritos", primeira obra espírita publicada em 1857. A partir de então, Kardec publicou mais seis livros, entre eles "O Evangelho segundo o Espiritismo" (1864) e "O Céu e o Inferno" (1865). Fundou também a chamada Revista Espírita, em 1858.