Companhia diz ter protótipo de artefato eletrônico baseado em tecnologia alienígena
American Computer Company reproduz relato afirmando que transistor resultou de pesquisas num disco voador acidentado em Roswell em 1947
A história toda é muito estranha e recheada de tópicos dignos da mais bem elaborada teoria conspiracionista. Daria um belo roteiro de filme de ficção científica. O único problema é que tem gente até então tida como séria fazendo a afirmação mirabolante: todo o arsenal eletrônico desenvolvido pela humanidade é resultado do aproveitamento da tecnologia de uma nave alienígena que teria caído na cidade norte-americana de Roswell, no Estado do Novo México, em julho de 1947.
No ano passado o "Incidente em Roswell", como ficou conhecida a mais popular e até hoje polêmica história da Ufologia dos EUA, completou 50 anos, coincidindo com o cinqüentenário da própria era moderna da Ufologia, inaugurada pelo relato de Kenneth Arnold, piloto civil norte-americano, que ao sobrevoar o Monte Rainier teria observado uma formação de vôo de nove objetos discóides a grande velocidade.
E justamente no aniversário de 50 anos, o Incidente em Roswell ganhou duas novas versões, uma oficial e outra reforçando o caráter insólito do alegado episódio. A versão oficial ficou por conta da nota divulgada pela Força Aérea dos Estados Unidos, afirmando que realmente um objeto caiu em Roswell, mas que tratava-se apenas de um balão com um dispositivo de reflexão de ondas de radar. Segundo a USAF, o projeto, chamado "Mogul", era então secreto e acabaria sendo confundido com um disco voador pelos experimentados oficiais do 509º Grupo de Bombardeio de Roswell, na época o único grupo de bombardeio atômico dos Estados Unidos.
A versão que corrobora o caráter ufológico do incidente foi lançada primeiro pelo Coronel Philip J. Corso, em seu livro "The Day After Roswell" (O Dia Seguinte a Roswell), publicado pela Editora Pocket Books. No livro, o Coronel Corso afirma ter ele próprio comandado as operações de despacho dos destroços da nave alienígena acidentada para laboratórios de pesquisa civis e militares com o objetivo de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia de forma a parecer que tratavam-se de invenções terrestres.
A checagem das alegações de Corso logo gerou uma polêmica na Ufologia Mundial. A maioria dos informantes por ele mencionados já morreu. A confirmação só seria possível com a boa vontade do Governo dos EUA, de departamentos como o Pentágono, CIA e empresas para as quais teriam ido os destroços, como os Laboratórios Bell, AT&T, Motorola, General Electrics etc. Ou seja: a comprovação dependeria de tudo que os ufólogos do mundo esperam há 50 anos. No entanto, contra seus críticos, Philip Corso apresenta seu currículo e patentes militares, estas sim, confirmadas. Coronel do Exército dos EUA reformado em 1963, com 21 anos de carreira e 19 condecorações militares, foi oficial da Inteligência na equipe do General Douglas MacArthur, na Coréia; membro do Conselho de Segurança Nacional (durante o governo de Eisenhower) e diretor do Setor de Tecnologia Estrangeira do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento do Exército dos EUA, no Pentágono. Ao se reformar, o coronel tornou-se assessor especializado em segurança nacional para os senadores James Eastland e Strom Thurmond.
A American Computer Company e o Transistor
Mas o debate ficou mesmo quente depois que uma companhia que vende computadores entrou em cena. A American Computer Company (ACC), uma empresa de médio porte sediada no segundo andar de um edifício de estabelecimentos empresariais de Nova Jersey, nos EUA, lançou em seu site na Internet (http://www.american-computer.com/) uma versão nova para a história da invenção do transistor, dispositivo em que está baseada a quase totalidade dos aparelhos eletrônicos do homem, desde um simples rádio de pilha até os mais avançados computadores da atualidade. Conforme descreve a ACC em suas páginas na Web (http://www.american-computer.com/roswell.htm), o transistor teria sido desenvolvido na Bell Labs braço da pesquisa e desenvolvimento de ponta da empresa Lucent technologies, incorporada pela AT&T como parte de um projeto de pesquisa e aprendizado do funcionamento dos dispositivos encontrados no artefato alienígena acidentado em Roswell.
No site, o relato começou sendo apresentado de forma humorística, inicialmente apenas requisitando a opinião dos leitores, o que seria parte de uma estratégia depois explicada pelo presidente da ACC, Jack Shulman, durante entrevista concedida ao radialista Jeff Rense. Ao radialista, que comanda o popular programa Sightings, nos EUA (http://www.sightings.com/), Shulman relatou que a intenção era dar publicidade à história e ao mesmo tempo não prejudicar a imagem da companhia junto aos seus clientes, deixando a cargo de contribuições futuras dos leitores do site e contatos da ACC confirmar ou desmentir o material apresentado.
O presidente da ACC afirma ter recebido o relato de um consultor de sua companhia com o qual, como é praxe no mundo da Ufologia, ele comprometeu-se a não revelar o nome.
O mistério, assim como a computação e o gosto pela polêmica parecem fazer parte da vida de Shulman. O empresário é também diretor da ACSA American Computer Scientists Association (Associação Americana dos Cientistas da Computação), uma Associação que reivindica vitória por W.O. de seu sistema Valkyrie montado pela ACC sobre o Computador Deep Blue e reproduz em seu site até mesmo o manifesto do terrorista mundialmente conhecido Unabomber. Shulman tem uma página no site da ACSA (http://www.acsa.net/shulman.html) dedicada a apresentar seu currículo no ramo da computação. Ao invés de sua foto, no entanto, consta uma fotografia do monumento de Stonehenge, na Inglaterra. O site (http://www.acsa.net/shulman1.html), que reproduz um artigo de Shulman a respeito de inteligência artificial, refere-se a ele, entre outros adjetivos, como "um dos pais da tecnologia da computação", tendo desenvolvido trabalhos para a IBM, AT&T, HP, Bell Labs/AT&T, governo dos EUA e "dúzias de outros".