O ano de Gisele Ela está em capas de revistas e por toda Nova York Não há como escapar. Ela está em toda parte, mais onipresente que Saddam Hussein nas ruas de Bagdá. Passa um ônibus da linha M101 ( Terceira Avenida e Lexington ) e lá está ela, presa à lateral, bronzeadíssima, contornos que um biquíni multicolorido mais acentua do que encobre, olhar hipnótico, fazendo o nosso acompanhar o veículo até que este se perde na distância e não podemos mais ver o par de faróis elípticos com que ela nos persegue. Mas, minutos depois, voltamos a encontrá-la, a poucos metros da parada de ônibus, agora numa cabine telefônica. Sentada à beira-mar, os longos cabelos molhados, está ainda mais sedutora, talvez pelo contraste dourado da pele e o azul-turquesa do biquíni. Alguns passos adiante, numa banca de jornais, ela se multiplica em três, uma delas com um biquíni, sumaríssimo para os padrões daqui, adornado com a bandeira norte-americana . A sereia agraciada com o dom da ubiqüidade é a gaúcha Gisele Bündchen, 19 anos, que de algumas semanas para cá tomou conta de Nova York. Em meio à aridez de uma paisagem que à primeira vista parece ser constituída únicamente de ângulos retos, suas curvas ( por falar nelas, Gisele é, segundo um estilista, "a mulher que devolveu as curvas à moda" ) são um acréscimo, no mínimo, muito bem-vindo. Estrela da campanha publicitária de verão da rede de lojas H&M, que tem mais de 600 filiais na Europa e escolheu Nova York como ponto inicial de sua ofensiva em território norte-americano, fotografada por Mikael Jansson em praias brasileiras, Gisele exibe o corpo perfeito de um extremo a outro em Manhattan, em incontáveis painéis de propaganda. Mas ter sido escolhida ícone da blitzkrieg lançada pela cadeia sueca não é a maior das últimas façanhas de Gisele. Espantoso mesmo é encontrá-la simultaneamente nas capas de três revistas de circulação nacional. Ela está na capa das edições de maio da Vogue e da Elle e ornamenta a capa da edição de junho da George, a revista fundada por John kennedy Jr. Nas páginas internas da Vogue, dezenas de fotos de Gisele, assinadas por Mario Testino, ilustram uma reportagem deVicki Woods sobre o Rio de Janeiro, da qual é possível extrair algumas pistas que explicam, pelo menos em parte, o sucesso de modelos brasileiras no exterior. Européias e norte-americanas, constata Vicki, têm medo de expor o corpo e, mesmo quando o exibem, não o fazem com sensualidade. Sua falta de naturalidade tem raízes num constrangimento inato, que aprendizado algum consegue eliminar. Na passarela ou diante das lentes dos fotógrafos, modelos provenientes de países cujas culturas ensinam a reprimir manifestações de sexualidade perdem feio na comparação com a expontaneidade das brasileiras, diante das quais mais parecem meros cabides de roupas. Na Elle, que proclama ser este o ano de Gisele, a top model posa para Gilles Bensimon no litoral paulista. "Mulheres querem ser como ela. Homens que não sabiam distinguir Tom Ford de Marc Jacobs conhecem seu nome", diz a reportagem. Terminada a leitura conclui-se que devemos a Gisele o fim do estilo heroin chic, que cultuava magreza extrema, pele amarelada, cabelo escorrido e sem vida e o olhar vago. Finalmente, na George, Gisele ilustra uma reportagem de Michael Gross sobre o alto preço , traduzido não só em contas médicas, mas em graves problemas de saúde, que muitas mulheres pagam quando decidem transformar-se a qualquer custo na personificação de um ideal de beleza inatingível, pelas mãos de um cirurgião plástico. Xico
Reis |