Como a nossa guria chegou lá

Moisés Mendes
Revista ZH Donna
13/08/00

- Parte 1 -

A nova cara do século 21

A cena vai completar um ano agora, dia 10 de setembro. Gisele Bünchen circula pelo estúdio da fotógrafa Annie Leibovistz, em Nova York, enquanto Claudia Schiffer, Naomi Campbell, Kate Moss, Iman, Christy Turlington, Lauren Hutton, Patti Hansen vão chegando. Há cordialidade, conversas nos cantos, risos, mas há também uma ansiedade no ar.

A legendária Annie, com seu rosto vincado e os cabelos loiros em desalinho, tem a missão de enquadrar as 13 maiores modelos do mundo numa única foto para a revista Vogue. Gisele é uma guria em meio a mitos, circula entre algumas das mais lindas balzaquianas do século.

Gisele está toda de branco. Inicia-se o demorado ritual de quem fica onde, diante de um infinito cinza. Annie pede que Gisele se sente no chão, à frente de Kate Moss. A demorada montagem da cena, com a escolha da posição das modelos, revela um mistério a cada gesto de Annie. A foto é para uma capa especial, com dobras, com três faces.

Quem estará na primeira, quem sairá na capa? Quem ficará nas outras duas, escondidas dentro da revista.

A inquieta Gisele senta-se, ajeita-se.

Annie ajusta os detalhes, calibra a iluminação. A sessão toma uma tarde inteira e, na cena final, Gisele está no centro recostada. Escora o corpo com a mão direita, põe a esquerda sobre o joelho e mira a câmera com um olhar de canto de seus olhos azuis.

O suspense se esvai. Ela estaria na capa, em primeiro plano, na superedição norte-americana da Vogue do Milênio, que sairia em novembro. A bíblia da moda concedia sua moldura e institucionalizava o que todo mundo já sabia. Gisele já havia saído no rosto da Vogue, mas não como daquela vez.

Ali, Kate Moss, Lauren Hutton e Iman, que aparecem na capa, em segundo plano, faziam reverência a número 1. As lentes de Annie, a autora do clique que em 1981 flagrou John Lennon e Yoko nus, anunciavam: a nova cara do século 21 era de uma gaúcha sardenta de 19 anos.

continua