Para navegarmos nos mares turbulentos e complexos do novo século,
precisamos de líderes que tenham amor a sua causa e por ela lutem.
Foi numa Europa imersa em conservadorismo, intolerância e preconceito
que nasceu e viveu Teresa Ahumada de Cepeda, a Santa Teresa D'Ávila.
Mesmo procurando abstrair a dimensão religiosa, Teresa D'Ávila
é um exemplo de líder para homens e mulheres no século
XXI.
Reformar uma Ordem no seio da rígida Igreja Católica da
época não deve ter sido fácil. Podemos até
supor que ela enfrentou situações que se assemelham aos desafios
contemporâneos: vencer a rigidez dos modelos, desenvolver uma nova
cultura, gerir a mudança e formar novos líderes.
Livros sobre gestão? Nenhum. Recursos tecnológicos? Pena
e papel. Risco? Altíssimo. Mas como competência não
é fazer o possível com os melhores recursos e sim fazer o
melhor com os recursos possíveis, Teresa D'Ávila tem muito
a nos ensinar.
Em 1562, a construção do primeiro mosteiro, em Ávila,
por exemplo, foi marcada por ''contestações, revoltas, críticas
e perseguições'', afirma Jussara Lima Dias em Orando com
a Bíblia, Santa Teresa D'Ávila e Santa Terezinha. Aliás,
desafios não faltaram por ocasião das construções
dos outros dezesseis conventos, segundo Ana Carla Bessa, estudiosa da vida
desta Doutora da Igreja Católica.
Certa vez, quando as Carmelitas Descalças já se espalhavam
por várias partes do continente, ela foi indagada sobre que orientações
daria para as novas monjas. Sua resposta continua atualíssima para
os líderes de hoje em dia. O primeiro ponto enumerado foi o AMOR.
Fazendo analogias com as organizações, podemos chamar de
amor a elevação do nível de consciência, a responsabilidade
social, a missão, enfim, a "alma" da empresa. Qualquer grupo que
não tenha compromisso com a construção do futuro é
vazio de sentido.
O segundo ponto enunciado foi o DESAPEGO. Mas como uma empresa pode
aprender com este item? Quanto mais apegados a símbolos de sucesso,
aparências, vantagens momentâneas, menos uma empresa possui
independência. A busca de criar competências reais exige o
desapego de padrões vigentes. Quanto menos apego mais liberdade.
O terceiro foi a HUMILDADE, traduzida nas organizações
como aprendizado constante, evidenciada pela curiosidade, pela autocrítica,
pela consciência que nunca estaremos prontos e acabados. Uma empresa
humilde ouve as pessoas que nela trabalham, ouve os clientes, ouve a comunidade,
enfim, assume uma postura de ''eterno aprendiz'', na expressão do
Gonzaguinha.
Em uma recente música de Gabriel Pensador existe uma expressão
genial: ''Para quem sabe olhar para trás, nenhuma rua é sem
saída''. As lições de Teresa mostram que a História
está cheia de ''novidades'', tanto do ponto de vista teórico
como prático, visto que é na ação que percebemos
a consistência da liderança.
Para navegarmos nos mares turbulentos e complexos do novo século,
precisamos de líderes que tenham amor a sua causa e por ela lutem,
que sejam desapegados da necessidade de aprovação em tudo
que fazem e tenham humildade para aprenderem como as crianças. Pois
como disse o municipalista Américo Barreira, ''velho é quem
não tem compromisso com o futuro''.
Roberto Matoso é consultor, empresário
e apresenta o programa
''Novos Conceitos'' nas rádios Calypso
FM e AM do Povo
O POVO - 11 de fevereiro de 2002
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