Boletim Mensal * Ano VII * Janeiro de 2009 * Nº 66

           
Alinhamentos Inadequados

Cor. Luís Alves de Fraga

 

Para matar saudades da Escola Primária, em Portugal, nos anos 40.

Estamos no mês de Setembro,... Tudo me recorda os tempos da minha juventude quando, de férias, ainda tinha quase um mês para gozar. Pois é, é disso que hoje vou escrever.

Quando eu era criança, mais tarde já um jovem e, depois, um homem no limiar de uma vida de trabalho, o ano letivo começava depois do dia 5 de Outubro e acabava, com os exames já concluídos, lá para o meio de Julho (para quem não tinha exames acabavam a 10 de Junho. Os exames é que se prolongavam até finais de Julho)— os melhores alunos ou os que por ordem alfabética estavam no início das pautas até se despachavam antes! — começando um longo e retemperador período de férias: todo o mês de Agosto e de Setembro. Uma maravilha!

            Os nossos pais podiam escolher o tempo de ir, ou para a praia ou para o campo, repousar, enquanto nós, dentro dos limites impostos pela época, estávamos disponíveis para “noitadas”, bailaricos e outras distrações, ...

...Nessas épocas já distantes nós sabíamos de cor a tabuada e aprendíamos equações, logaritmos, química e física, sabíamos o que era o caso notável da multiplicação e discutíamos o binômio; muito cedo, aprendêramos o que eram números primos e sabíamos operar com potências; multiplicávamos, somávamos, subtraiamos, radicávamos, e fazíamos tantas outras operações com numeros; resolvíamos problemas da física e sabíamos acertar uma formula de química inorgânica; também estudávamos biologia, filosofia, francês, inglês, latim e português. Numa palavra, muito ou pouco.

E tínhamos quinze dias de férias pelo Natal e outros tantos pela Páscoa. Os nossos professores eram produtivos e ensinavam-nos e sê-lo.

E tínhamos férias de Carnaval! E chegávamos ao fim do ano letivo e sabíamos! Uns passavam com 14 ou 15, outros com 10 ou 11, mas passavam e os que reprovavam eram porque não sabiam ou não tinham estudado o suficiente. Ninguém entrava na Faculdade de Ciências sem saber a tabuada de cor ou com média negativa a matemática, ou a física, ou a química, ou a qualquer outra disciplina.     Em Portugal, na minha infância, juventude e começo da idade ativa podia não haver produtividade em mais nada, mas no ensino ela era real… O que estudávamos era para ser sabido!

E tínhamos quase três meses de férias de Verão! E os professores do ensino — de qualquer tipo de ensino — tinham, também, as suas merecidas férias de Verão. ...Nesse tempo era possível um aluno fazer num só ano letivo o exame dos anos que equivalem hoje aos 7.º, 8.º e 9.º. E muitos adultos concluíam em três anos letivo os sete que constituíam o curso do liceu. Era preciso estudar muito, mas isso não era impossível. 

            ...Depois de Abril de 1974 e, especialmente, em seguida à adesão à CEE, ...Hoje vejo-me obrigado a ensinar na universidade coisas que eu aprendi na instrução primária!

Hoje a produtividade dos alunos baixou e também a dos professores. Como é possível?

A ânsia de alinharmos pela Europa há vários anos levou a que o Governo decretasse uma igualdade horária que em Agosto nos punha com dia claro às vinte e duas horas! Uma loucura!

Outra loucura é começarem as aulas em Setembro! Que isso aconteça na Alemanha, na Holanda e, até em França, onde as temperaturas descem significativamente, onde as chuvas se fazem sentir de forma acentuada, onde o sol desaparece no horizonte antes das dezenove horas, compreende-se… Mas em Portugal?! Por quê? Só para rendermos mais? Só para dizer que alinhamos pelos padrões dos outros Estados europeus? Isso é uma prova da mais completa cretinice. É um alinhamento inadequado e inapropriado.

            Tivessem os Alemães, os Suecos, os Dinamarqueses o nosso Verão e veríamos se as aulas não começavam lá para meados de Outubro, como já aconteceu quando éramos iguais a nós mesmos e não desejávamos ser como os europeus!

Não é por o burro estar mais tempo atrelado à carroça que ele a puxa mais depressa!

... mas nós, os Portugueses, estamos sempre dispostos a apagar-nos perante os outros, a inferiorizar-nos diante dos estrangeiros! Nacionalismo não é sinônimo de fascismo e só por uma distorção mental o pode ser. Nacionalismo é o sentido de defesa e orgulho do que é nacional, do que nos identifica como Povo, do que nos caracteriza.

Saibamos impor ao nosso Governo a diferença. Saibamos exigir o direito de poder gozar férias de Verão com os nossos filhos no mês de Setembro como acontecia há quarenta ou cinqüenta anos atrás. Não arranjemos desculpas impróprias para privarmos as nossas crianças e os nossos jovens de gozarem o excelente Verão português. Sejamos nós mesmos com verticalidade. Comecemos pelo que parece pouco importante para conseguirmos chegar às reivindicações mais notórias e significativas.

Será assim tão difícil?

Transcrito, com a devida vênia da pág. http://portugalclub.org.br

 

Nota do Editor:- Por motivos editoriais pedimos desculpa ao autor de termos omitido  algumas frases que, sem tirarem o sentido do texto nos permitem colocar a fonte de renda deste Boletim, os anúncios. Infelizmente, a função de Editor por vezes a isso nos obriga. Com as nossas desculpas esperamos que não tenha desgostado da adaptação.