All For Love

Nota da autora: Esse conto faz parte de uma trilogia, chamada All For Love. As outras duas partes também têm o mesmo nome desta aqui, mas são II e III. Embora seja um conto independente, é interessante ler as outras partes.

         AJ andava desnorteado pela rua. Pensava em todos os anos que vivera com Sarah, e como acabaram tudo tão rápido. As palavras que ouvira de sua amada martelavam em sua cabeça, e por mais que tentasse, não conseguia tirá-la do pensamento. As imagens vinham rápidas em sua mente, como se fosse um filme que se repetia inúmeras vezes.

 

Na manhã daquele mesmo dia...

         AJ chegou super animado na casa de sua namorada, Sarah. Estava levando um buquê de rosas vermelhas, e uma grande caixa de bombons. Também levava uma pequena caixinha vermelha, onde estava o anel de noivado, provando todo o amor que sentia por ela. Tinha finalmente tido coragem de pedi-la em casamento.

         Entrou de fininho, sem fazer barulho algum. Tinha uma cópia das chaves da casa, e entrou sem avisar. Notou que estava vazia, e nem tinha-se sinal dela nem das empregadas.

         “Deve estar dormindo” - pensou. Subiu silenciosamente até o quarto, e viu a porta entreaberta. Olhou cuidadosamente e a viu com um outro cara. Sentiu um choque enorme na hora, mas ficou ouvindo a conversa, mesmo com o coração na mão.

         - Quando poderemos ficar juntos? – perguntava uma voz masculina.

         - Assim que eu acabar meu relacionamento. Falta pouco para eu dar um chute na bunda daquele idiota. – respondia Sarah sorrindo.

         - E aquele idiota acha que você o ama? – perguntava rindo.

         - Acha! Mal sabe ele que só estou com ele todo esse tempo por causa do dinheiro dele! – dizia dando risada também.

         AJ sentiu-se um idiota. Tentou ser forte, mas as lágrimas foram mais fortes que ele, e rolavam incansavelmente pelo seu rosto. Abriu a porta com força, fazendo os dois se assustarem. Olhou para Sarah com raiva, e jogando as flores em sua cara, disse:

         - Pode ficar com ele agora. O idiota aqui entendeu que está fora da jogada. Não me procure mais, e fique com essa casa para você, pois não quero nada que foi tocado por você.

         E com o rosto todo molhado, saiu do quarto inconsolável. Começou a andar sem rumo pelas ruas, e colocando as mãos no bolso, sentiu a caixinha. Olhou com raiva para o anel, e pensou em jogá-lo fora. Mas viu um mendigo na esquina e deu a ele o anel. O mendigo estranhou, mas aceitou o anel com um sorriso.

 

De volta ao presente...

         Continuava andando sem rumo pelas ruas frias de Los Angeles. Estava anoitecendo, e os boys estavam preocupados com ele, ligando para seu celular, que foi desligado por ele mesmo. Não queria receber telefonemas de ninguém, queria somente pensar em como fora idiota.

 

Em um lugar não muito longe dali...

         Carla e Tati conversavam tranqüilas, enquanto Carla preparava o jantar de seu filho, Matthew, ou Matt, como era chamado pelos amigos. Ele brincava com seu game-boy, uma das únicas coisas que tinha de valor.

         - Miga, hoje você vai trabalhar? – pergunta Tati pegando queijo na geladeira.

         - Vou sim Tati... Se não trabalhar, não tenho como alimentar o Matt... – diz Carla com o olhar longe.

         - Eu queria tanto te ajudar, mas o que ganho não dá nem para mim direito, quanto mais ao Matt... – diz se sentindo culpada.

         - Não precisa ficar assim miga... Você não tem culpa de nada... Eu que sou uma idiota em apostar tudo em um amor. Por isso que nunca mais vou me apaixonar por ninguém.

         Carla era brasileira, tinha 26 anos e morava nos Eua desde os 20, época em que descobriu que estava grávida. Era bem bonita, com cabelos castanhos de altura média, olhos da mesma cor e um corpo de dar inveja a qualquer um. Trabalhava em uma das boates mais badaladas de LA, e ninguém sabia de seu emprego, só sua amiga, Tati.

         Seu filho, Matt, de quase 6 anos, era lindo. Tinha os olhos verdes, e um cabelo bem escuro. Era muito esperto para sua idade e entendia muitas coisas de gente grande. Ele nunca se importou em viver sem pai, mas ainda não se conformava em como ele pôde abandonar sua mãe.

         Tati era amiga de Carla desde quando eram pequenas. Também era brasileira e tinha 22 anos. Tinha acabado de se formar em advocacia, e ainda não ganhava muito dinheiro, pois algumas pessoas não gostavam de contratar novatas. Se mudou com Carla para os Eua, e a apoiava desde então. Também era madrinha de Matt, e gostava muito dele.

         - Matt, meu amor, venha jantar! – grita Carla da cozinha.

         - Já vai mãe! – grita ele de volta. Salva correndo seu jogo e desliga o game-boy. Em seguida vai correndo até a cozinha.

         - Tirou as pilhas do joguinho, filho? – pergunta Carla servindo um pouco de macarrão.

         - Não mãe... desculpa... – disse abaixando a cabeça.

         - Não precisa ficar assim Matt. Todo mundo esquece às vezes. – diz Tati levantando o rosto dele. – Não se preocupa que eu tiro pra você.

         - Obrigada tia Tati! – diz dando um beijo no rosto dela.

         - Filhote, coma rápido a comida, pois a mamãe tem que trabalhar e você tem que ir pra casa da Tati... – apressa Carla.

         - Tá mãe! – diz colocando um pedação de carne na boca.

         Carla ganhava muito pouco com o que fazia, e às vezes não dava para alimentar o filho direito. Era uma raridade poder comprar carne, e quando conseguia, Matt comia com muita vontade.

         - Mãe... Posso levar meu joguinho pra casa da Tati? – perguntou bebendo suco.

         - Acho melhor mão filho... Se você perder, a mammy não pode comprar outro... Você sabe como foi difícil comprar esse, não sabe?

         - Sei mammy... Então posso levar meu ursinho? – pediu com carinha de choro.

         - Tudo bem Matt. Leve seu ursinho. – disse fazendo bagunça em seu cabelo. – Agora se arruma, pois já estamos atrasados!

         Matt foi correndo até seu quarto, pegou o ursinho e o colocou na bolsa. Depois foi até o banheiro e escovou os dentes. Enquanto isso, Carla se arrumava. Colocou um blusinha preta bem justa, e uma calça azul escura que definia bem suas curvas. Pouco tempo depois todos estavam prontos.

         - Então vamos? – pergunta Carla com a chave na mão.

         - Vamos. Bye mammy! – diz Matt dando um beijo na mãe depois um abraço.

         - Bom trabalho miga! – diz Tati a abraçando.

         - Obrigada! Espero que o Matt não dê trabalho. – diz Carla.

         - Ele nunca dá trabalho! – diz sorrindo.

         - Bom trabalho mammy! Espero que você ganhe muito dinheiro pra comprar bastante coisa pra gente tá? – diz Matt. Os olhos de Carla se enchem de lágrima.

         - A mamãe vai ganhar muito dinheiro e vai te dar mais um joguinho, tá bom? – diz dando um beijo nele.

         - Tá! – disse feliz. E Carla se despediu dos dois e foi em direção da boate.

 

         AJ continuava andando pela rua. Até que sentiu sede e resolveu beber alguma coisa. Parou em frente à boate Dreams. Teve um pouco de receio em entrar, mas acabou sendo vencido pela sede.

         “Por que não? Eu não estou fazendo nada de errado mesmo!” – pensou enquanto entrava.

         Sentou-se em uma mesa e pediu ao garçom uma Vodka bem gelada. Enquanto a bebida não chegava, começou a olhar a volta, e fixou seu olhar em duas mulheres que conversavam.

         - Olha lá girl! Tem um rapaz de olho em você! – diz Melanie apontando para o lado.

         - Tá maluca! Ele tá olhando é pra você! – defendeu-se Carla.

         - No, no, no! Ele tá de olho em você! – discordou Melanie. – Vai lá girl! Tu tá precisando de uma graninha hein?

         - Tem razão sabe! Vou lá mesmo! – diz se levantando e indo até o rapaz.

         AJ já estava no sétimo copo de Vodka, e continuava a olhar para a garota, que agora se aproximava dele. Ela sentou-se na mesa em que ele estava e começou a conversar:

         - Tudo bem com o senhor? – começava Carla.

         - O que quer aqui? – perguntou um pouco grosso.

         - Percebi que o senhor me olhava, então vim ver se você precisa de alguma coisa. – disse sensualmente.

         - Não preciso de nada não! – disse virando o copo de uma só vez.

         - Tem certeza? Acho que posso te ajudar em alguma coisa... – disse passando a mão em seu peitoral bem definido.

         - Em que uma prostituta como você pode me ajudar? – perguntou levantando o tom de voz.

         - Não sei... Só estou me oferecendo. Mas se não quiser ajuda, não precisa gritar! – disse levantando o tom de voz também.

         - Você sabe com quem está falando? – perguntou quase gritando.

         - Sei, sei sim! E se você acha que é superior só porque é um boyzinho cheio da grana, você precisa ir a outro lugar. Aqui não é lugar de brigas, e sim de prazer e felicidade! – e foi se retirando, com grande parte da atenção da boate voltada para eles.

         AJ segurou seu braço com força, e a puxou para junto dele. Ela o olhou com uma cara brava e tentou se debater, mas em vão. Ele era muito mais forte do que ela, e não havia jeito de tentar fugir. Tentando manter a calma, ela disse:

         - O que quer?

         - Pensando bem, acho que aceito sua ajuda. – disse a encarando.

         - Tudo bem. Mas eu tenho algumas condições. – AJ soltou o braço dela.

         - Que condições? – perguntou desconfiado.

         - São poucas. 1, nada de beijos na boca; 2, só com camisinha; e 3, não vai ser nada além de sexo, somente sexo. Então, topa? – propôs Carla.

         - Bom... a segunda com certeza, a terceira até pode ser, mas a primeira... por que sem beijo? – disse AJ.

         - Oras, por que sim! Se não aceitar as condições, procure outra. – disse Carla.

         - Tudo bem. Eu aceito. Vamos logo para a minha casa. – diz se levantando.

         - Se você quer assim... Vamos nessa. – diz se levantando também. Pegou sua bolsa e se despediu de Melanie, que já estava conseguindo um cliente.

         Pegaram um táxi para ir até a casa de AJ. Não trocaram nenhuma palavra durante todo o caminho. Assim que chegaram na casa dele, AJ a levou até o quarto dele. Ela sentou-se em uma almofada que estava ali, somente esperando ele começar.

         AJ se sentou na cama e colocou a cabeça apoiada nas mãos. Sentiu-se mal, e começou a chorar. Carla se aproximou dele com um pouco de receio, e levantou seu rosto, fazendo-o encará-la. Podia-se ver que ele estava sofrendo muito, mas ela não disse nada, somente o olhou com ternura.

         - Desculpe... Eu só ia te usar... – disse com a voz embargada. – Tome... Pegue o dinheiro e vá embora... Me desculpe novamente.

         - O que fez você ir até a boate? Acho que não faria isso se tivesse algum problema. – disse se sentando ao seu lado.

         - Como posso contar tudo o que sinto a você? Você transa com um cara por noite e... – ia dizendo AJ, mas foi interrompido por Carla:

         - Não é por causa do meu trabalho que você vai julgar quem eu sou. Posso ser usada por vários homens, mas tenho sentimentos como qualquer humano normal.

         - Como vou ter certeza disso? – perguntou a olhando.

         - Se você observasse minha vida normal, nem perceberia que faço o que faço. Tenho uma vida normal, e só trabalho nisso para ganhar meu dinheiro para me sustentar, mesmo não sendo esse o melhor jeito de se sustentar. – disse calmamente.

         - Eu fui traído pela pessoa que eu amo. Ela só me usava por causa do dinheiro... Pensei que poderia fazer com você o mesmo que ela fez comigo. Mas como sou muito burro, não consegui separar as coisas.

         - Não é para tanto. Ela não merece nenhuma das suas lágrimas. Pense que não era para ser assim. E levante a cabeça e vá à luta, ache sua cara metade. – disse levantando a cabeça dele e passando levemente sua mão nele.

         - Obrigado. – disse enxugando as lágrimas que insistiam em cair.

         - Vai ficar tudo bem com você. – disse se levantando da cama e caminhando até a porta.

         - Espere! – ela olhou para trás. – Não me deixe, por favor. Não quero ficar sozinho.

         Carla não disse nada, somente se aproximou e deu um beijo nele. Como estava carente, retribuiu o beijo. Aos poucos os beijos foram aumentando e foram se despindo aos poucos. Logo estavam nus, e AJ estava se deixando levar por ela.

         Em pouco tempo ele já havia penetrado, e ficou dentro dela até atingirem o orgasmo juntos. Assim que acabaram, AJ caiu por cima de Carla, e ela deu um beijo nele, o que foi suficiente para ele fechar os olhos e dormir como uma criança carente.

 

No dia seguinte...

         Carla acordou com o despertador tocando. Olhou para o lado e viu-se sozinha na enorme cama de casal onde estava. Procurou AJ com o olhar, mas não o encontrou. Viu um pequeno bilhete em cima da cômoda, junto com o dinheiro. Levantou-se para lê-lo:

         “Querida... qual é o seu nome? Acabei nem ficando sabendo dele... Mas deixa pra lá... Tive que ir ao mercado comprar alguma coisa para comermos. Por favor me espere. Beijos, Alex. (PS: só não entendi porque você me beijou... Pensei que nas suas regras estava escrito que não devia ter beijos...)

         - Oh... que bunitinho... – disse dobrando o papel. – Mas não sei se devo ficar... O Matt está me esperando... – disse para si mesma. Acabou deixando um bilhete.

         “Querido Alex... Me desculpe não ficar, mas tenho muita coisa para fazer. Obrigada pela noite de ontem, foi uma das melhores que tive em todo o meu trabalho. Não vou aceitar o dinheiro, pois não acho justo. Se um dia você quiser falar comigo novamente, aqui está o meu telefone. Com carinho, Carla (se não conseguir falar meu nome, pode me chamar de Cá. Alguns americanos não conseguem dizer meu nome, e não sei se você consegue ou não)”.

         Deixou o bilhete junto com o dinheiro na cômoda e vestiu suas roupas que estavam espalhadas pelo quarto. Deu um pequeno suspiro antes de sair do quarto. Assim que saiu da casa de AJ, foi correndo para a casa de Tati buscar Matt.

         AJ tinha ido ao supermercado, e comprara muitas coisas gostosas, como doces, biscoitos e muitas outras coisas. Chegou em casa radiante de felicidade, e foi correndo até o quarto ver Carla.

         Decepcionou-se quando viu o quarto vazio. Procurou em todos os lugares possíveis, mas não a encontrou. Viu somente o bilhete que estava junto ao dinheiro. Sentiu os olhos encherem-se de lágrimas enquanto o lia. Em seguida pensou:

         “Não é justo ela ir embora, ainda preciso falar com ela.” – pegou seu celular e discou o número da casa dela. Chamou até cair na secretária eletrônica.

         “Obrigado por ligar para a casa do Matt e da Carla. Agora não podemos atender ao telefone. Então por favor deixe seu recado que a gente liga assim que der. Obrigado!” – dizia a secretária com uma voz de criança.

         “Que droga! Odeio secretárias eletrônicas!” – reclamou consigo mesmo. – Oi Carla. Aqui é o Alex, ou AJ, como preferir. Estou te ligando pois fiquei triste em você ter ido sem me esperar... Mas queria falar com você, e estou esperando um telefonema seu. Meu celular é... Beijos, AJ. – disse o recado. Em seguida lembrou-se de outra coisa e ligou de novo. – Ah, e desculpa incomodar de novo, mas... Quem é Matt?

         Carla foi na casa de Tati buscar Matt. Ele estava brincando com os carrinhos que tinham na casa dela. Enquanto ele brincava, as duas conversavam:

         - E aí girl? Como foi a noite? – perguntou Tati.

         - Ah, foi como sempre. Meu cliente foi um Backstreet Boy, sabia? Mas no final nem acabei pegando o dinheiro dele. – disse Carla se lembrando de AJ.

         - Como é que é? – perguntou não acreditando. Carla só balançou a cabeça afirmando. – Quer dizer que você não aceitou o dinheiro dele? Tá maluca é?

         - Eu fiquei sem graça... Você nem sabe o que aconteceu... – disse meio sem graça.

         - Então conta, oras! – disse Tati.

         - Depois eu conto, enquanto o Matt tá na escola. – disse baixinho. – Matt! Temos que ir para casa para você tomar banho e ir para a escola! – gritou em seguida.

         - Tá mãe! Já vou indo! – gritou também. Pegou suas coisas e logo estava pronto esperando para ir embora.

         - Tati, miga, eu vou levá-lo e depois volto, ok? – disse antes de ir embora.

         - Certo. Mas vou ficar te esperando, viu? Quero saber de tudinho! – disse rindo.

         Se despediram e Carla levou Matt até a casa dos dois. Ele vou correndo ver se tinha algum recado, e viu que tinham três. Um era de um amiguinho dele e os outros eram de AJ. Carla deu um leve sorriso quando ouviu a voz dele.

         - Mammy, quem é AJ? – perguntou Matt curioso.

         - AJ é um amiguinho de mamãe. – respondeu sorrindo. – Agora apronte-se! Já estamos atrasados! – disse o empurrando.

         Em pouco tempo Matt tomou banho e vestiu o uniforme do colégio. Carla o levou até a escola, e em seguida voltou correndo para casa, para ligar para AJ. Anotou o número e antes de discar, começou a pensar consigo mesma:

         - Ele tem celular, e é rico. Não se importa em gastar uma fortuna com telefone. E eu ainda tenho que gastar ligando para celular... Só quero ver no que vai dar. – disse discando o número.

         - Hello? – disse AJ do outro lado da linha.

         - Alex? – perguntou Carla sorrindo. AJ também sorriu ao ouvir a voz dela. – Tudo bom?

         - Oi Carla! Eu estou bem sim, a não ser pelo fato de você ter ido sem se despedir e não ter aceitado o dinheiro... – respondeu mais ou menos, mas feliz por ela ter ligado.

         - Desculpa. Tinha que levar o Matt e... – tentou dizer Carla.

         - Quem é Matt? – perguntou curioso.

         - Matt? Bem... ele é meu filho. Na verdade seu nome é Matthew, mas os amigos o chamam de Matt. – respondeu um pouco insegura.

         - Filho? Uau... – disse sem fala. – Não sabia disso...

         - Você não sabe de nada sobre minha vida... – respondeu um pouco grossa, mas com vontade de chorar.

         - Calma! Também não pergunto mais! – e os dois ficaram em silêncio por um tempo. – Bom... eu tinha te ligado para saber se eu posso conversar com você...

         - Pode sim. Mas onde? – disse um pouco sem graça.

         - Que tal na praça perto da minha casa? – sugeriu.

         - Tudo bem. Te encontro em meia hora. – e já ia desligar, mas se lembrou de Tati. – Ah, e eu posso levar minha amiga junto?

         - Pode... – disse um pouco desapontado. – Então posso levar um amigo também?

         - Não te impeço de nada. – disse em tom de deboche.

         - Então nos encontramos em meia hora, ok? – disse tentando desligar. Se continuasse conversando nesse clima, poderia se descontrolar e falar alguma besteira.

         AJ ligou para Nick e perguntou se ele queria ir junto à pracinha. Ele estranhou um pouco, mas resolveu aceitar, pois era a primeira vez que ouvia ele falar animado depois que tinha terminado com Sarah. Se encontraram na casa de AJ e foram para a praça.

         Carla foi correndo até a casa de Tati. Explicou por alto o acontecido e a chamou para ir junto com ela. Tati tentava lutar contra o convite:

         - Mas eu vou ficar ouvindo os dois conversarem? Não quero servir de vela! – diz tentando enrolar.

         - Quando eu disse que você ia, ele disse que ia levar um amigo junto. Aí os dois conversam em um lugar e nós dois em outro. Aí quem sabe você gosta do amigo dele? – rebatia Carla. Quando ela queria uma coisa, ninguém conseguia impedi-la.

         - E se ele for um gordo feio que só come chocolate?

         - Se o AJ é bonito, o amigo dele também é! Agora vamos logo se não nos atrasamos! – diz a puxando para fora.

         No final não deu jeito: Tati teve que ir junto com Carla. Como não tinham carro, pegaram um ônibus e foram até a praça. Encontraram dois rapazes de pé esperando alguém. AJ e Carla sorriram assim que se viram, e Nick e Tati somente se olharam envergonhados.

         - Oi Carla! – disse AJ indo abraçá-la.

         - Oi Alex! – disse dando um beijinho no rosto dele.

         - Só isso? – perguntou fazendo cara de cachorro sem dono. Carla o olhou com cara feia.

         - Hey bro, não vai apresentar as girls não? – cochichou Nick dando um chutinho em AJ.

         - Ah claro! Carla, esse é meu amigo, Nick. Nick, essa é a Carla, minha amiga. – disse AJ.

         - Na verdade meu nome é Nickolas, mas pode me chamar de Nick. – disse estendendo a mão.

         - Prazer Nick. – disse Carla simpática. – Bom, essa é minha amiga, a Tati. Tati, você já conhece eles, não é?

         - Sim Cá... Meu nome é Tatiana, mas como é brasileiro, poucos americanos conseguem falá-lo, então me chamem de Tati mesmo. – disse Tati cumprimentando os dois.

         - Bom, então os dois vão conversar enquanto nós conversamos, ok? – disse AJ abraçando Carla por trás e a puxando para longe dos dois.

         - Nos encontramos depois. – diz Nick puxando Tati para um banco ali perto.

         AJ levou Carla até um banquinho um pouco isolado do resto do parque. Ficou olhando para ela sem dizer nada, e ela só esperava ele dizer alguma coisa. Vendo que ele não ia dizer nada, deu a iniciativa:

         - Então... O que quer falar comigo?

         - Ah... Eu queria saber porque você não aceitou o dinheiro. Você foi na minha casa, fez o seu trabalho e nem quis receber por isso? – disse um pouco sem graça.

         - Olha, eu vou ser sincera: Quando te vi chorando, senti pena, então resolvi te beijar, para ver se você melhorava. – ele a olhou espantado. – Mesmo eu não beijando nenhum dos meus clientes. E não peguei o dinheiro pois acho que você não fez aquilo em sã consciência, estava bêbado e abalado emocionalmente.

         - Você ficou com pena de mim? Eu não gosto que as pessoas tenham pena de mim. E ainda mais você que...

         - Olha, não precisa ficar jogando na cara o que eu faço não, tá? Se você não gostou ou se arrependeu, a culpa não é minha. – e começou a aumentar o tom de voz. - Você é que foi lá na boate, você que se encheu de Vodka, você que me levou até a sua casa e você que fez eu ter pena, pois estava chorando. A culpa não é minha, entendeu? É sua, somente sua.

         Carla sentiu seus olhos marejarem. Levantou-se correndo, tentando fugir. AJ não deixou, e segurou seu braço com força, fazendo-a encará-lo. Pôde ver que os olhos dela estavam se enchendo de lágrima, e não soube o que fazer.

         - Você pensa que eu escolhi ter essa vida? Você acha que eu queria fazer isso? Não, eu não quis! A vida não me deu outra escolha, e esse foi o único emprego que eu consegui que dava para alimentar a mim e ao meu filho e que dava para pagar o colégio dele. Você nunca passou dificuldade na vida, então não sabe tudo o que eu passei e sempre passo. VOCÊ NUNCA PRECISOU SE ESFORÇAR PARA SOBREVIVER! – disse começando a chorar.

         - Não é porque você tem problemas que vai descontar em mim e me julgar sem saber! – disse se alterando também.

         - Você não sabe o que é ter um filho que precisa sustentar, você não sabe como me dói não poder dar nada ao meu filho! Não sabe! – disse chorando desesperadamente.

         AJ ficou sem fala. Realmente não sabia o que era passar dificuldades para viver, ou então não se lembrava. Também não sabia como tinha sido a vida dela, e não podia julgá-la pelo que fazia. Sem nada a dizer, a abraçou bem forte.

         - Não sabe... você não sabe... – disse Carla quase sem voz.

         - Não sei... mas gostaria de aprender... – disse com os olhos se enchendo de água.

         Carla ficou sem reação quando ouviu o que ele disse. Parou de chorar na hora e o encarou. O viu com os olhos cheios de lágrimas, prestes a desabar em choro. Aproximou lentamente seu rosto ao dele. AJ fez o mesmo.

         Seus lábios se tocaram em um longo beijo. Não tinha paixão, pois os dois não sabiam o que estavam sentindo. Mas no meio do beijo podiam sentir um carinho especial da parte dos dois, e também um grande desabafo de sentimentos.

         - Você... quer... me ensinar... a viver... a sua... vida? – pergunta AJ a encarando.

         - Sim... mas primeiro você precisa me ensinar a viver a sua. – responde chorando silenciosamente.

         E os dois se beijam novamente. Desta vez mais demorado e com mais sentimento.

 

         Nick e Tati conversavam timidamente, mas era uma conversa animada. Viram os dois se beijando e riram. Depois se olharam e perguntaram o motivo do riso.

         - O AJ acabou de terminar com a namorada. Disse que nunca mais ia gostar de ninguém, e parece que se enganou. – explicou Nick.

         - Com a Carla é quase a mesma coisa. Ela disse que nunca ia beijar ninguém de novo, mas olhe só... parece que não conseguiu cumprir sua promessa. – explicou Tati.

         - Hahaha, parecem que os dois vão acabar juntos! – diz caindo na risada.

         - É! – disse rindo também. – E se eu pudesse ficar com você... – completou baixinho.

         - Disse alguma coisa? – perguntou parando de rir e a olhando.

         - Não... – disse corando. – Só disse que seria legal se eu achasse um cara que gostasse de mim... – respondeu impulsivamente, colocando a mão na boca quando percebeu.

         - Eu também procuro uma pessoa assim... – respondeu também corando.

         - Ah... – respondeu sem graça.

         Os dois ficaram se olhando em silêncio. Não sabiam o que falar, e estavam esperando o outro dizer alguma coisa.

         - Fica comigo? – pergunta Nick de repente.

         - Hã? – perguntou sem entender.

         - É... Quer ficar comigo? Eu te achei legal, e acho que poderíamos ser algo mais do que amigos... – respondeu vermelhinho.

         - Eu queria que fôssemos mais do que amigos, mas tinha medo de você não sentir o mesmo. – respondeu corando.

         - Então vamos nos entender muito bem. – disse a puxando para um beijo.

         Nick e Tati se beijam, e ficam fazendo isso por algum tempo. AJ e Carla param de se beijar, e Carla ainda chorava um pouquinho. Ele, carinhosamente, limpou todas as lágrimas com a ponta dos dedos.

         - Quer conversar? – perguntou carinhosamente.

         - Aham... Mas antes tenho que contar a minha história, se não você não vai me entender. – respondeu o olhando nos olhos.

         - Pode falar. Sou todo ouvidos! – respondeu se acomodando no banquinho.

         - Bom... Eu nunca quis trabalhar nisso, mas não tive muita escolha. Sou brasileira, e tenho 26 anos. Me mudei para cá quando disse ao meu namorado que estava grávida e ele não aceitou o bebê, ameaçando-me de abortá-lo a força. Não agüentei a pressão e vim para cá, pois sabia que quando ele crescesse, ia brigar por meu filho na justiça. E eu tinha medo de perder meu filho. Então vim para cá com minha amiga, a Tati.

         - Desculpe... Eu não sabia... – disse com remorso.

         - Você não precisa se desculpar de nada. Agora deixe-me continuar. Eu estava no terceiro ano de publicidade, e Tati estava começando a faculdade de direito. Tive que parar com os estudos, pois não conseguiria estudar com um bebê em minha barriga. A Tati continuou, e se formou faz pouco tempo. Procurei por emprego em todos os lugares possíveis, e não achava nenhum que pagasse muito. O único que pagava uma quantia maior que a outras era a de garçonete na boate. Tive que aceitar, não tinha escolha. Conforme o tempo foi passando e Matt foi crescendo, o dinheiro não dava para nada, e o dono do local me ofereceu o meu atual emprego. Estava tão desesperada em cuidar bem do meu filho que aceitei. Às vezes ganho uma quantia razoável, mas na maioria das vezes não. Só quando vou à luta. Ainda continuei procurando empregos, mas nunca achei um que pagasse mais e que me aceitassem... – terminou com os olhos cheios d’água novamente.

         - Me desculpe Carla... Mesmo. Não queria dizer nada que pudesse te ofender. – disse a abraçando forte. Ela não fez nada, só chorou mais ainda. Estava se sentindo bem em desabafar tudo com ele. Sentia-se protegida em seu abraço.

         Ficaram abraçados por um tempo, e estava um silêncio um pouco tenebroso, mas também um pouco confortável.

         - Vamos para casa. Você precisa descansar. – diz AJ.

         - Não, tenho que pegar o Matt na escola. – responde sem olhar nos olhos dele.

         - Nós buscamos ele juntos. Agora vamos, você precisa descansar.

         AJ levou Carla até onde estavam Nick e Tati, e os dois estavam no maior clima, que foi quebrado com a chegada dos dois.

         - Kaos! Man, eu tô levando a Cá pra casa, depois os dois vão embora, ok? – diz AJ.

         - Tá, tá! Agora vai logo! – disse um pouco irritado.

         - Atrapalhei algo? – perguntou rindo.

         - É atrapalhou! Agora vai! – disse bravo.

         - Cá, você tá bem? – perguntou Tati preocupada.

         - Tô sim. Não é nada de mais. Aproveite a tarde com o Nick, nós já vamos. – diz Carla puxando AJ para longe dali.

         - Por que nos tirou de lá? Estava legal ver o Nick irritado! – disse com um sorriso lindo.

         - Mas os dois estavam se beijando, você gostaria que eles fizessem o mesmo? – disse fingindo-se brava.

         - Sabia que você fica linda quando está irritada? – disse a beijando.

         Os dois foram a caminho da casa de AJ. Não trocaram quase nenhuma palavra. Carla, quase que do nada, pergunta:

         - Você namoraria uma pessoa como eu?

         - Como assim? Como você? – perguntou não entendendo a pergunta.

         - Ah, você sabe... que trabalha no que eu trabalho... – disse receosa.

         - Mas você não trabalha nisso porque quer, mas sim porque não tem opção. – disse a abraçando. – E é claro que eu namoraria com você. – quando percebe o que fala, cora, e Carla faz o mesmo. – Eh... Desculpe...

         - Tá, tudo bem... – disse parecendo um pimentão. – Podemos ir para a escola? O Matt sai daqui a pouco... – completou tentando mudar assunto.

         - Vamos. Onde que é a escola?

         - É perto da minha casa. Não demora muito tempo para chegarmos. – disse o puxando.

         - Eu tava falando sério. Eu namoraria com você na boa. E nem ia ligar para o que o mídia ia dizer sobre isso. – comentou enquanto os dois iam até a escola.

         - É sério? – perguntou parando de repente.

         - Claro que é. Eu não ligo para as aparências, ligo somente para o que a pessoa é por dentro. – respondeu olhando dentro dos olhos dela.

         - Você sabe como deixar uma mulher sem palavras e encabulada. – diz Carla.

         - Hahaha! Não fique assim linda! Só estou sendo sincero! – disse a abraçando.

         - Vamos logo! O Matt já deve estar nos esperando! – disse desviando o assunto.

         Chegaram na escola e Matt estava saindo da sala naquele exato momento. Carla foi correndo abraçá-lo, e AJ ficou parado esperando. Depois ela o pegou no colo e foi apresentá-lo a AJ.

         - AJ, esse é meu filho... – ia dizendo Carla, mas os dois a interromperam:

         - Meu nome é Matthew, mas pode me chamar de Matt. – apresentou-se Matt.

         - E eu me chamo Alexander James, mais conhecido com AJ. Ou também Alex, você escolhe. – disse cumprimentando Matt.

         - Você parece ser legal! – disse Matt. – Olha mãe! Ele tem um monte de tatoos!

         - Você gosta de tatuagens? – perguntou AJ curioso.

         - Claro! Quando eu crescer, vou trabalhar bastante, pra ganhar bastante dinheiro e fazer um monte de tatoos! – disse empolgado.

         - Enquanto você não é gente grande e não pode fazer permanente, podemos fazer uma que dura alguns meses. – comentou AJ.

         - Não sonha AJ! – disse Carla o pegando no colo. – Ele só vai fazer tatuagem quando for grande e eu não poder fazer nada para mudar a idéia dele. Mas enquanto isso, ele não faz nada!

         - Ah mammy! Deixa de ser chata! O tio AJ tem um monte, e por que eu não posso? – disse Matt fazendo careta.

         - Por um simples motivo: Ele já tem 20 e... quantos anos você tem? – disse Carla com um pouco de dúvida.

         - Tenho 24 Carlinha... – disse AJ rindo.

         - Hahaha! Cara, tu é mais novo que a minha mãe! – disse Matt gargalhando.

         - Mas isso não significa que eu sou menos experiente! – revidou AJ.

         - Será que os dois podem parar com essa conversa boba! – perguntou Carla impaciente.

         - Tá bom mamãe! – zombou AJ. E em seguida cochichou com Matt. – É melhor não discordar da mamãe, se não ela não vai deixar a gente ir comer no Mc...

         - Oba! McDonald’s! Mammy, vamos no Mc? – disse Matt animado.

         - Filho, a mamãe já disse que não dá para ir no Mc sempre... e hoje a mammy tá sem dinheiro. – disse Carla com o coração na mão.

         - Eu pago. – disse AJ.

         - Ebaaaaaaaaaaaaa! Vamos mammy! O tio AJ paga! – pedia Matt.

         - Filho... Eu não quero te acostumar com coisas que eu não posso te dar... – diz Carla.

         - Vamos Carla. Uma vezinha só não vai matar ninguém. – ajudava AJ.

         - Ah tá bom! Mas não vai se acostumando, viu Matthew? – disse vencida.

         E os três foram até o McDonald’s. Matt ficou pulando de alegria o tempo todo, e também conversando muito com AJ. Os dois já tinham se tornado muito amigos. Carla só olhava os dois, e pensava em como ele estava feliz e o quanto uma figura paterna fazia falta.

 

Enquanto isso, em algum lugar de LA...

         Nick e Tati andavam de mãos dadas pelas ruas de Los Angeles. De vez em quando davam alguns beijinhos, mas nada muito chamativo. Foram nesse clima até a casa de AJ.

         - Tati, você tem certeza do que vamos fazer? – perguntou Nick inseguro.

         - E o que vamos fazer? – perguntou Tati desligada.

         - Você sabe baby... Vamos aproveitar a noite. – respondeu Nick com paciência.

         - Não sei Ni... você não acha que está cedo demais?

         - Por isso mesmo que estou perguntando. Se você não quiser, podemos assistir um filme ou algo do tipo. – sugeriu.

         - Acho melhor, né? Quem sabe amanhã nós já não nos conheçamos melhor?

         Nick aceitou, e ligou para AJ avisando. Ele nem se importou, estava muito entretido com Matt e Carla. Chegaram ao McDonald’s conversando animadamente. Foram procurar uma mesa para sentarem-se, mas Matt estava tão impaciente que queria logo comprar o lanche.

         - Mas temos que achar um lugar para sentarmos. – insistia Carla.

         - Depois achamos um Carla! Não se preocupe com isso! – diz AJ sem preocupação.

         - É mammy! Temos que comprar o lanche primeiro! – ajudava Matt.

         - Já vi que é impossível contrariar os dois... – disse dando de ombros.

         Os três foram em direção do caixa. Não tinha muita fila, e logo foram atendidos.

         - Então... Vão querer o quê? – pergunta AJ pegando sua carteira.

         - Eu quero um cheddar e um big mac! – diz Matt empolgado.

         - Matt! – diz Carla o repreendendo. – Escolha um só!

         - Ah mãe... – diz fazendo carinha de choro.

         - Vamos mamãe. Deixa ele comer à vontade. – diz AJ se segurando para não rir.

         - AJ... – diz fazendo-se brava. – Ok, pode escolher os dois.

         - E você vai querer o quê? – pergunta AJ.

         - Eu não quero nada. – responde Carla.

         - Como nada? Você tem que comer alguma coisa! Não comeu nada o dia todo! – insistia.

         - Não quero nada não! Não se preocupa! – diz decidida.

         - Hey Matt, o que a mamãe gosta de comer? – pergunta baixinho.

         - Ela gosta de cheddar, quarteirão e mc chicken. – responde Matt no mesmo tom.

         - Então eu vou querer dois cheddar, dois big macs e um quarteirão. – diz AJ para o caixa.

         Em seguida os lanches chegaram. Encontraram logo uma mesa, e sentaram-se para comer. Carla ficou olhando Matt comer com muita vontade o lanche dele, e deu uma espiadinha em AJ. Viu ele abrindo o cheddar, e em seguida ele olhou para ela.

         - Tó. Esse é o seu. – diz entregando o quarteirão a Carla.

         - Eu já disse que não quero! – diz Carla tentando se fazer de difícil.

         - Vamos, eu sei que você está morrendo de fome. – diz dando um pedaço para ela.

         - Ai, ai. Já vi que é impossível dizer não a vocês... – diz comendo o pedaço que estava na mão de AJ.

         - Hahaha! Que legal! – diz Matt rindo. Os dois olham para ele confusos. – É que eu sempre imaginei alguém dando comidinha na boca da mamãe! E essa pessoa seria meu novo pai, já que o verdadeiro não nos quis.

         - Matthew! – diz Carla brava e corada ao mesmo tempo.

         - Esse garoto é muito esperto! – diz AJ rindo.

         - Estão esperando o quê? Vamos logo! AJ, dá batatinha na boca da mammy! – diz Matt impaciente.

         AJ fez o que Matt pediu, e Carla só queria matar os dois com o olhar. O clima era animado, e logo estavam voltando para casa. Estaria tudo bem se Carla não se lembrasse de seu trabalho.

         - Mas você não precisa ir! – disse AJ.

         - Preciso sim AJ! Se não como vou sobreviver? – diz Carla. AJ ficou calado, pois ela estava certa. – Viu? Eu tenho que trabalhar!

         - E se eu for junto com você e falar que você vai comigo? Aí você vai embora como se fosse qualquer outro cliente! – sugeriu AJ.

         - Ai, ai! Acho que vou fugir para não precisar mais ser vencida pelos dois! – diz sem escolha.

         - Hahaha! A mammy tá tão engraçada! – diz Matt gargalhando.

         E fizeram como combinado. Deixaram Matt esperando no carro de AJ (tinham ido na casa de AJ buscar um carro). Carla foi marcar presença e pouco tempo depois AJ chegou. Ficou conversando com Melanie um pouco até AJ entrar. Ela o viu entrando e disse:

         - Parece que o bonitão gostou e quer bis!

         - Não seja boba! – diz dando um tapinha nela. – Eu vou lá ver o que ele quer! – e foi caminhando na direção dele.

         Os dois fizeram como combinado, e Carla avisou Melanie que estava de saída. Ela fez um sinal de boa sorte para ela. Os dois saíram da boate e entraram correndo no carro. Matt ficou olhando para os dois rindo.

         - Que foi Matt? – perguntou Carla.

         - É que esse lugar parece com aqueles onde tem muita bebida e etc, aí eu imaginei vocês dois num desses lugares e... – deu uma risadinha maliciosa.

         - Matthew! – diz Carla o repreendendo.

         - Hahahaha! Esse garoto vai ficar pior que eu quando crescer! – diz AJ rindo.

         - Muito engraçado AJ! E se depender de mim, o Matt não vai ser como você não! – diz Carla brava.

         - Mas mudando de assunto, onde vamos agora? – perguntou parando de rir.

         - Você vai para a sua casa e nós vamos para a nossa! – respondeu Carla séria.

         - Mammy, nós não podemos dormir na casa do AJ? – pergunta Matt com carinha de cachorro sem dono.

         - É uma boa idéia! – concordou AJ.

         - No way! Amanhã o Matt tem aula, e nós não estamos com roupa para dormir na sua casa! – diz Carla tentando ser durona, mas sabia que no final ia acabar cedendo.

         - Mas não custa nada faltar um dia só na aula... E nós vamos no shopping e compramos roupas, não tem problema. – resolveu AJ.

         - Mammy please! Eu nunca dormi na casa de nenhum amigo! – diz Matt. Carla ficou sem saber o que dizer, pois nunca tinha dado muita coisa ao filho. Abaixou a cabeça, em um gesto de vencida.

         AJ deu um beijo na testa dela, em forma de gratidão. Deu partida no carro e os três foram para o shopping. Carla não falou quase nada o caminho todo, enquanto Matt e AJ falavam mais do que a boca.

         Chegaram no shopping. AJ comprou um pijama para Matt, que o pequenino tinha se apaixonado na hora. Comprou uma linda camisola de seda branca para Carla, mas ela não queria aceitar, pois era muito cara. No final (como sempre), ela acabou sendo vencida. AJ comprou para ele algumas boxes (uh-la-la), dois pijamas e mais algumas calças e camisas.

         - AJ, pra quê tanta roupa? – pergunta Carla inconformada.

         - Para eu usar amanhã. – responde parando em uma loja de videogames.

         - Mas você não vai usar três calças e cinco camisas só amanhã! – diz Carla.

         - É para no caso de eu fica na dúvida. – responde fazendo um sinal para entrarem.

         - Mammy! Pappy! Vamos entrar nessa loja? – pergunta Matt pulando de alegria.

         - Matt, o AJ não é seu pai! – diz Carla meio sem graça.

         - Não é só porque ele não é meu pai de sangue que eu não possa chamá-lo assim. E eu tenho certeza que ele ainda vai ser meu pai e que vocês dois vão ter um irmãozinho pra mim! – responde Matt com pose de gente grande.

         - Vamos entrar sim! Eu estou procurando um jogo no qual eu possa ganhar do Nick! Ele é um viciado, e eu nunca ganho dele! – diz AJ puxando os dois para dentro.

         - Duvido que esse Nick ganhe de mim! – diz Matt se gabando.

         - Matt! Não fale assim! – briga Carla.

         - Mammy, não precisa esconder. Eu sei que você morre de vontade de desafiar ele também! E não tente negar, pois eu sei que quando eu vou dormir você pega o meu game-boy e fica jogando, tá? – diz Matt. Carla ficou vermelha de vergonha.

         - Você gosta de videogame? – pergunta AJ surpreso.

         - É... sim... – diz envergonhada.

         Os três ficaram quase uma hora naquela loja. AJ comprou dois jogos para Matt, que ficou radiante de felicidade. Também comprou um game-boy para Carla, que não queria aceitar de jeito nenhum, mas que no final (novidade) cedeu.

         Foram para casa de AJ conversando bastante. Chegaram lá e viram Nick e Tati vendo um filme. Matt pulou correndo no colo de Tati, e foi logo mostrando tudo o que tinha ganho de AJ. Ela olhou para Carla, que fez um olhar de ‘não tive escolha’.

         - Quem é ele, Tati? – perguntou Nick inseguro.

         - Ele é o Matt, filho da Carla. – responde bagunçando o cabelo de Matt.

         - E aí Matt! Tudo em cima? – diz Nick o cumprimentando. – Eu sou o Nick, prazer!

         - Ah, então é você que é viciado em videogame? – pergunta fazendo pose.

         - Sou sim! Quer uma partida? – diz animado.

         - Oba! Quero sim! – diz se empolgando também.

         - Então vocês fiquem jogando aí, pois eu e a Carla vamos lá pra cima. – diz AJ com um sorrisinho.

         - Divirtam-se! – diz Matt sem tirar os olhos do jogo que se iniciava. – Ah, e se não quiserem me dar um irmãozinho hoje, não esqueçam de tomar cuidado! – completa começando a jogar.

         Tati dá uma bronca em Matt, Nick dá risada. AJ também, mesmo tendo ficado um pouco constrangido. Carla fica vermelha, pois não sabia que o filho sabia tanta coisa. Os dois foram até o quarto de AJ, que estava quase do mesmo jeito da noite passada.

         - Não sabia que o Matt sabia tanta coisa assim! – diz AJ puxando assunto.

         - Nem eu. Ele é muito esperto, mesmo sendo tão novo. – responde envergonhada.

         - Por que está assim, desconfortável? Pensei que fôssemos amigos. – diz segurando o rosto dela, fazendo os dois se encararem.

         - É que mesmo não querendo, eu estou me apaixonando por você. – diz segurando as lágrimas que queriam descer.

         - E o que tem de mais nisso? Eu já estou completamente apaixonado por você e não tenho medo de dizer. – responde a encarando. – Não precisa esconder seus sentimentos.

         - Você não se preocupa em namorar uma prostituta? – pergunta insegura.

         - Você não é uma prostituta. Você só faz isso pois não tem escolha. E eu posso arranjar um emprego para você como publicitária, já que você estava fazendo faculdade. Você poderia ajudar minha mãe nesses negócios de marketing.

         - AJ... você não sabe como está ajudando eu e o Matt... – diz começando a chorar.

         AJ enxugou cuidadosamente as lágrimas que escorriam pelo rosto de Carla. Ela aproximou se rosto ao dele e se envolveram em um longo e apaixonado beijo. O clima foi esquentando, e logo os dois estavam nus, se amando apaixonadamente.

         Sentiram o clímax juntos, e AJ caiu em cima dela esgotado. Deram mais um beijo para selar o amor dos dois. Ficaram abraçadinhos sem dizer uma palavra só curtindo o momento. AJ olhou nos olhos dela e disse:

         - Te amo.

         - Eu também te amo! Muito, muito! – diz o beijando.

         - Quer ser minha namorada? – perguntou a olhando com ternura.

         - Mas é muita responsabilidade cuidar de um filho... O que a imprensa vai dizer? – diz meio receosa.

         - Eu faço tudo por amor! – diz a beijando.

         - Então eu aceito! – e os dois se amam novamente, com todas as forças que tinham.

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