For You

Nota da autora: Minha segunda songfic. Novamente com uma música do The Calling... Fazer o quê? As músicas se encaixam nas minhas histórias malucas e na personalidade do lindo Severo... Essa song não teve a inspiração imediata que a outra teve, mas a música, quando a traduzi, me fez ter umas idéias, que acho que ficaram boas. Espero que gostem e que tenham uma boa leitura.

 

         Severo Snape estava em sua masmorra, absorto em pensamentos. Desde o último dia letivo daquele ano, não teve nenhum outro pensamento em sua mente. Simplesmente não conseguia tirá-la da sua cabeça, e a cada noite sonhava com ela. Seu coração era injusto, pois teve sete anos inteiros para se interessar pela garota – que já era uma mulher! -, mas decidiu-se somente no último dia, quando nada poderia ser feito.

         Caminhou até sua mesa, e pegou uma foto, com os formandos daquele ano. Ela estava lá, linda e radiante, como nunca a vira antes. Também, nunca prestara muita atenção em qualquer aluno, ainda mais ela... Quem fazia parte do grupo mais intragável de toda Hogwarts. Não conseguiu refrear uma onda de raiva ao lembrar que ela namorava o tolo e pobretão do Weasley. Ele era um homem muito melhor que Ronald, era adulto, não fazia brincadeiras idiotas, e acima de tudo, sabia como respeitar uma moça.

         “Nem sempre, Severo, nem sempre...” disse para si mesmo, lembrando-se de todos os momentos que passou no tempo que estudava, como era rejeitado abertamente por aquela garota de cabelos acaju... Analisou cautelosamente, e reparou que ambas as mulheres que lhe tiraram o sono eram parecidíssimas. Não na aparência, naturalmente, mas no modo de agir, e nas características físicas e psicológicas. Ambas tinham longos cabelos, levemente ondulados. Olhos que transmitiam toda a ternura que uma mulher poderia emanar...

         “Você nunca foi disso, Severo Snape, nunca ficou elogiando e sendo meloso!” disse com veemência, disposto a não ceder a seus pensamentos. Involuntariamente, lembrou-se do baile de formatura, e novamente, suas lembranças foram povoadas por imagens...

 

I am a vision
(Eu sou uma visão)
I am justice
(Eu sou justiça)

 

         O Salão Principal estava decorado de maneira impecável naquela noite. Só se viam alunos e professores nos mais belos trajes de gala. Com Severo Snape não seria diferente, trajava um modelo de gola alta, em tom verde escuro. Vestira-se desta maneira sem perceber, mal imaginando o que seria armado por Alvo Dumbledore.

         Quando todos já estavam no salão, o diretor avisou a todos, que como acontecia todos os anos, os monitores-chefes e o chefe dos monitores abririam o baile, mas não dançando entre si, como era de praxe, mas sim com os diretores das casas. No mesmo momento Snape sentiu seu corpo gelar. “Eu não terei que dançar com ninguém, não irei dançar música alguma”.

         Dumbledore revelou quais seriam os pares, deixando muitos surpresos, e outros com sérios ataques de riso, no caso de Ronald Weasley. Harry Potter dançaria com Sprout; Draco Malfoy com Minerva; Padma Patil com Flitwick, e Ana Abbot não dançaria, pois estava com uma contusão no joelho esquerdo. O diretor mal precisou dizer o que o esperava, Severo sabia muito bem. Dançaria com Hermione Granger, a chefe dos monitores.

         Vários alunos sentiram pena de Hermione, por ter um destino tão cruel: uma dança com o temido professor de Poções, que todos pensavam ser um homem frio, que faria um vexame na dança. Os dois se aproximaram, a carranca do professor pior que nunca.

         Foi quando a música começou a tocar que ele reparou na garota. Seus cabelos castanhos estavam presos em um elegante coque, com fios soltos estrategicamente. Usava um belo vestido diamante, que mudava de cor, dependendo do ângulo em que era visto, e usava brincos e colar com a pedra. Sentiu que já conhecia aquilo de algum lugar, e quando começaram a valsar, Sirius Black e Remo Lupin se entreolharam, achando impossível tamanha coincidência acontecer.

         Hermione Granger percebeu que o professor dançava estranhamente bem, e achou que ele não era tão terrível como era pintado. Desde algum tempo, começara a sentir um sentimento engraçado por Snape, algo que era quase indefinível, mas sabia que o admirava por ter sido um Comensal e ter ajudado tanto o lado do bem.

         Ao final da música, Severo Snape deu um cordial beijo na mão da garota, antes de se reunir com os outros professores. Quando postou-se ao lado de Dumbledore, ouviu-o murmurar uma frase, mas o suficiente para causar calafrios no professor.

         - Estes acontecimentos já ocorreram antes.

 

Never thought that I could love
(Nunca pensei que eu poderia amar)

 

         Naquele ano aconteceria a formatura de uma das turmas que mais marcariam a vida de Hogwarts. Os professores sentiam até uma contida saudade, pois alunos como aqueles não encontrariam novamente. Os alunos se agruparam para ouvir os avisos do diretor Dumbledore, que avisou quais seriam os pares a abrir a valsa, todos monitores-chefes e chefe dos monitores.

         Tiago Potter, da Grifinória, valsaria com Sophia Pondbar, Corvinal; Madalena Sprout, monitora-chefe da Lufa-Lufa, que torcera o pé em uma aula de vôo, assistira somente ao baile; e Severo Snape, monitor-chefe da Sonserina, ficaria como par de Lílian Evans, chefe dos monitores.

         Tiago Potter ficara furioso por não ser o escolhido a valsar com sua namorada, mas Dumbledore explicou que alunos da mesma casa não poderiam valsar. Como Severo Snape era o único homem dos monitores-chefes, seria ele que dançaria com Lílian.

         Ele quase não se cabia de tanta felicidade. Por todos os anos na escola, tentara dizer à garota que era apaixonado, mas ela sempre o rejeitava descaradamente. A partir do momento em se juntara a Voldemort – por influência de seus amigos, incluindo Lúcio Malfoy -, acreditava que teria a garota só para ele, o que fora prometido pelo seu novo mestre. E para ele, aquela oportunidade era obra do destino, para uni-los finalmente.

         A garota estava muito bonita. Seus cabelos acaju estavam presos em um elegante coque, com fios soltos estrategicamente. Usava um belo vestido diamante, que mudava de cor, dependendo do ângulo em que era visto, e usava brincos e colar com a pedra. Parecia uma princesa. Ele, usava vestes novas, verde escura, com uma gola alta. Estava bem trajado, coisa que raramente acontecia.

         Enquanto dançavam, Lílian percebeu que Severo dançava estranhamente bem, talvez tão bem quanto Tiago. E teve que admitir que ele se ajeitara, não parecia o garoto acanhado que vivia atrás das prateleiras da biblioteca, com o cabelo lhe caindo sobre a face.

         - Está muito elegante hoje, Severo – comentou Lílian, sorrindo brevemente.

         - Obrigado Lílian, e você está linda, parece uma princesa – respondeu Severo educadamente, sem perceber que corara.

         Quem não parecia gostar muito da cena era Tiago, que não tirava o olho do casal, e quase não se continha de ciúmes. Sirius, Remo e Pedro comentavam em como o sonserino tentava persuadir Lílian de que Tiago era um mau-partido, enquanto Lúcio, McNair e Avery zombavam de Tiago, rindo com gosto.

         Após a dança, sem conseguir nada além da velha amizade, Severo se reuniu com o grupo, prometendo que teria Lílian, mesmo que tivesse que jogar sujo para isso.

 

Living in shadows
(Vivendo nas sombras)
Fading existence
(Negando existência)
It was never good enough
(Isto nunca esteve bom o bastante)

 

         Naquele baile, vinte anos depois, acontecera a mesma coisa. Hermione parecida com Lílian, tão parecida que trouxera à tona várias lembranças na mente de Severo. Enquanto dançavam, conseguiu reparar na cor dos olhos de Hermione, que não eram fáceis de definir. A um primeiro olhar pareciam chocolate, mas olhando melhor, veria-se a cor de mel.

         O fato da dança fez com que outras pessoas lembrassem-se do antigo baile, e sentiram um pesar por Lílian e Tiago não estarem mais entre eles. Após dançar com Snape, Hermione dançou uma música com Harry, que a cada dia parecia mais com seu pai, e depois passou a dançar com Rony, seu namorado.

 

         Aquele baile... Fez com que Severo desenterrasse parte de seu passado, e com isso, lembrasse do que prometera naquela noite, uma promessa de um adolescente, idiota e apaixonado. Sentiu seu coração apertar quando lembrou-se do dia em que Voldemort perdeu os poderes, e com isso, tirou a vida de duas pessoas. Naquela noite, Severo finalmente entendeu que por mais que tentasse, nunca teria Lílian de volta. Ela já pertencia a Potter, e ele nada podia fazer. Fora nesta noite que finalmente deixara de modo completo o lado das Trevas, nunca voltando realmente para ele.

         Mas agora, seu coração dito frio e impenetrável, voltara a sofrer com mais um amor. Desta vez, pelo que parecia ser o fantasma de seu antigo amor. Mas sabia que não era. Era somente a lembrança e o pesar pela morte de Lílian que o faziam pensar assim. Hermione era doce, estudiosa, e sempre preocupada com seus amigos, pessoas que ela amava com todas suas forças.

 

Within the darkness
(Dentro da escuridão)
You are the light that shines away
(Você é a luz que brilha em volta)

 

         Estavam cada vez mais difíceis aqueles tempos de Trevas. Voldemort avançava em uma velocidade incrível, e cada vez mais arranjara seguidores, uns por medo, outros que outrora já serviram às Trevas, ou até mesmo os que pensavam que teriam uma dose de poder quando o lado do bem caísse.

         Não era difícil saber onde encontrar Hermione Granger. Após se formar em Hogwarts, conciliou em seu tempo livre a responsabilidade de duas faculdades. Todos sabiam que ela completara ambas em tempo recorde, tendo se tornado a mais conhecida medibruxa aurora de toda a Grã-Bretanha. Nunca quis procurá-la, sabia que o destino haveria de arranjar este encontro. Ela, lutando contra as Trevas, e ele, trazendo informações para o lado da Luz, arriscando sua vida. Já não se importava com a morte, sabia que ela viria mais cedo ou mais tarde, mas agora tinha pelo que lutar. Lutava para encontrar-se com Hermione mais uma vez, para somente lhe dizer o quanto se importa.

 

You’re trapped in violence
(Você está presa em violência)
I can be the man that saves the day
(Eu posso ser o homem que salva o dia)

 

         A eclosão da guerra não tardaria a acontecer. Aurores do Ministério, chefiados por Alvo Dumbledore, estavam a postos, treinando incansavelmente, isto quando não estavam detendo algum ataque dos Comensais, sempre com a indispensável ajuda de Severo Snape.

         Hermione estava atolada de trabalho. Era cada vez maior o número de pessoas feridas, e pior, de mortas. Ela fazia o que lhe era possível, e com a ajuda secreta de um grande conhecedor de poções, conseguia curar a grande maioria dos feridos. E isto era algo que a deixava intrigada. Gostaria de saber quem ajudava tanto, com tentativas cada vez melhores. Eram antídotos contra as maldições, que não curavam, mas já amenizavam os efeitos da duas contornáveis.

         “Com certeza esta pessoa já possui anos de experiência, para conseguir resultados tão bons...” refletia Hermione, enquanto fazia um curativo em um garotinho. “Como eu gostaria de conhecer esta pessoa, poder ajudar com o meu conhecimento... Ou melhor, aprender com ele, e quem sabe, ensiná-lo também?” Riu-se só de pensar na expressão que o rosto do professor Snape tomaria, só por saber que existia alguém que era melhor do que ele...

         Mas seus pensamentos não se demoraram na expressão divertida. Tornou a ficar séria, pensando em como estaria o professor. Que ele continuava a passar informações para Dumbledore, isto ela já sabia. Mas gostaria de saber como ele estava, se continuava a dar aulas, ou passara a dedicar-se totalmente à vida de riscos, bancando o agente duplo.

 

I'm there for you
(Eu estou lá por você)
No matter what
(Não importa o que)

 

         Depois de um exaustivo dia no Hospital St. Mungus, Hermione Granger aparatara na porta de um grande prédio antigo, que não era visto por olhos trouxas. Adentrou no prédio, e cumprimentou o segurança com um aceno de cabeça. Já conhecia muito bem aquele lugar, e era conhecida por quase todas as pessoas dali. Quase toda semana precisava ir lá, para receber informações de Dumbledore.

         Mas naquela noite, algo diferente do habitual aconteceu. Ela já havia percebido que vez ou outra encontrava-se com algum membro da Ordem da Fênix, que fora chamado antes dela, como os membros que já faziam parte da Aliança desde muito tempo. Esbarra-se umas duas vezes com Flitwick e McGonagall, antigos professores de Hogwarts.

         Só que nunca encontrara-se com Severo Snape, professor de pior carranca possível, e que tinha fama de ser injusto e malévolo. Mas ela sabia que não era assim... Ele era injusto, isso era verdade, mas não era tão mau quanto o pintavam. Um dia já fora terrível, como Voldemort, mas agora, Hermione orgulhava-se da coragem e determinação do antigo professor, por resistir tão bravamente ao papel que exercia no mundo bruxo.

         Reparou bem em como o outro estava. Não conseguia entender, mas ele não era o mesmo professor que deu aulas em seu tempo. Parecia mudado, e uma grande mudança. Não sabia dizer se era uma mudança física ou psicológica, mas havia sido para melhor. Por um momento achou ter visto ele lhe dar um pequeno sorriso, encorajando-a, mas depois percebeu que somente imaginara. Ele continuou andando, sem ao menos cumprimentá-la, saindo com passos apressados. Parecia estar guardando alguma coisa em seu bolso, mas ela não conseguiu distinguir o que era.

         Agora que o vira novamente, dois anos depois, sentiu algo estranho, algo que já a importunara por dois meses inteiros, e que ela não conseguia descobrir o que era. Só sabia que isto fizera terminar o noivado com Rony Weasley, por simplesmente não conseguir amá-lo como antes. Ele ficara muito chateado, mas ela sabia que seu destino não era ficar com ele, mas sim com outra pessoa. Só restava a ela descobrir quem.

 

I'm there for you
(Eu estou lá por você)
Never give it up
(Nunca desista)

 

         Toda semana ele encontrava-se com Alvo Dumbledore, ora para passar informações sobre os passos de Voldemort, ora entregando o que descobrira sobre suas poções. Mas naquela semana, em especial, não conseguira ir até o Ministério no dia de praxe, e estava profundamente irritado com isso.

         “Incrível como Voldemort consegue tirar todos do sério! Até me esqueci de me encontrar com Alvo!” dizia para si mesmo, enquanto guardava frascos disformes dentro de uma maleta.

         “Naquele dia eu realmente estava irritado. Fui para o Ministério, me encontrar com Alvo, na sala do Weasley-pai. Incrível como Alvo encontra os lugares mais bizarros para se esconder! Levei as poções comigo, tinha tido significativas melhoras, que poderiam ajudar as pessoas que estavam doentes, a curarem-se mais rápido. Conversei brevemente sobre Voldemort, estava transtornado para ficar dando detalhes, até que perguntei sobre Hermione e o Hospital St. Mungus.

         Alvo deu um sorriso, que quis me dizer alguma coisa, e não gostei nem um pouco. Ele sempre fazia a mesma coisa quando começo a falar sobre as poções. Parece querer zombar de mim, e naquele dia quase perguntei se era isso mesmo que ele queria. Ele disse que meus projetos continuavam ditos como anônimos, e Hermione estava cada vez mais curiosa para saber o autor das poções. Por um instante me senti orgulho de mim mesmo, por ter meu trabalho reconhecido por ela, que eu mais gostaria de encontrar... Despedi-me de Alvo e desci até a entrada, enquanto tentava guardar minha maleta no bolso da capa.

         Mas quando a vi, esqueci temporariamente do que deveria saber. Fiquei admirando a moça, que estava mais linda do que me lembrava... Como fui tolo! Tentei arrumar meu erro, e dei um sorriso encorajador – acabei piorando mais a situação. Decidi apressar meu passo, para ela não me bombardear de perguntas, como só ela sabe fazer.

         Senti-me abalado, com o coração palpitando em meu peito, impedindo de racionar como se deve. Descobri com os seguranças os dias em que ela se encontrava com Alvo, e passei a mudar minhas visitas para os mesmos dias. Prometi a mim mesmo que faria de tudo para encontrá-la sempre, para certificar-me de que ela estaria bem, até o dia em que teríamos a oportunidade de conversar”

 

I'm there for you
(Eu estou lá por você)
For You
(Por você)

 

         Por muitas semanas Severo Snape e Hermione Granger se trombaram no Ministério, mas sem nunca trocar uma palavra. Ela já estava acostumada com isso, e sempre esperava ansiosa pela próxima semana, para ao menos cumprimentá-lo por seu trabalho contra as Trevas, mas nunca tinha coragem suficiente. Naquela semana, porém, reunira toda a coragem que colocou-a na Grifinória, para finalmente trocar uma palavra, nem que fosse um ‘oi’, com Severo Snape.

         Teve a horrível impressão de que algo de errado acontecera, por não encontrá-lo passando pela porta, como era de costume. Mas sua impressão consolidou-se quando foi falar com Dumbledore, que dissera que Severo Snape não tinha aparecido por lá naquela noite. Ela sentiu-se desconsolada, temendo que algo tivesse acontecido com Snape. E estava certa.

§§§§§

         Naquela noite, a marca dos Comensais voltara a arder, e o mais rápido que puderam, trajaram-se e aparataram na mansão Riddle, novo esconderijo de Voldemort. Ele parecia pior do que o de costume, disposto a lançar um Avada Kedavra no primeiro que o desobedecesse. A grande maioria estava apavorada, tentando não cometer nenhum deslize, mas não Severo. Nunca teve medo de Voldemort, e não seria agora que teria.

         Voldemort começou a dar preciosas informações de todos os ataques que fariam nos próximos dois meses, esperando a reação de seus seguidores. Obteve o que esperava, e depois de uma longa hora de avisos e planos, liberou-os, exceto por um deles: Severo Snape.

         - A que devo este chamado em particular, Milorde? – perguntou Snape, em seu tom mais formal e menos letal possível.

         - Não venha perguntar o motivo que te chamei, traidor, você sabe muito bem – respondeu Voldemort rispidamente, fazendo uma cara feia para Snape.

         - Se soubesse não teria perguntado – retrucou com frieza. Se qualquer outro Comensal tentasse responder a Voldemort, levaria no mínimo um Crucio em resposta. Mas não Severo Snape. O Lord das Trevas sabia que ele não tinha medo, e uma simples maldição não o faria ter medo dele. Fora essa uma das qualidades se Snape que chamou sua atenção.

         - Não venha com suas tiradinhas tolas, Snape – cortou Voldemort, impaciente. – Quero que explique porquê manda informações para o velho caduco, me traindo.

         - Não sei do que está falando, Milorde – respondeu com indiferença, fingindo-se inocente.

         - Não finja-se de desentendido! – bradou Voldemort, agitando a varinha, furioso – Crucio! – gritou em seguida, apontando bem para o Comensal.

         Severo Snape agachou-se, tentando controlar a dor que atingia cada célula do seu corpo, e fazia-o queimar por dentro. Mesmo após tantos anos, ainda sentia dor quando era atingido pela maldição, ainda mais que Voldemort aumentara mais os seus poderes.

         Quando achou que estava suficiente, abaixou a varinha, deixando Snape respirar, ainda sentindo seus músculos se contraírem em protesto.

         - E então? Sente-se mais confortável a contar? – perguntou ironicamente, já preparado para um novo ataque.

         - Admito que passo algumas informações, mas somente para ele achar que estou do lado dele, para no momento mais propício eu renegar o lado do bem – disse Snape, medindo as palavras.

         - Mentira! – rugiu Voldemort, lançando novamente a maldição em Snape.

         A dor fazia com que seu corpo doesse cada vez mais, tornando-se difícil manter-se de pé. Sabia que tudo estava acabado, que fora descoberto, e era questão de tempo para Voldemort matá-lo. Mas sentia que alguma coisa em seu peito parecia não concordar, e lutar para continuar vivo, ao menos respirando.

         - Quer dizer que não está bom o bastante, não é? – provocou o Lord, dando uma risada sombria, sem sentimento.

         Lançou mais duas vezes a maldição, fazendo com que Severo caísse no chão, derrotado. Não podia com a fúria de Voldemort, e deixou-se cair, esperando somente o que viria a seguir. Caiu de bruços, com o rosto encostado não chão gelado.

         Voldemort aproximou-se, com uma expressão de triunfo no rosto de cobra. Com um chute, virou Severo de cabeça para cima, e apontou a varinha para seu peito, dizendo:

         - Você realmente foi um bom servo, um dos melhores, se me permite dizer. E mesmo sendo um traidor, serei generoso. Afinal, você será mais útil para mim vivo do que morto. Espero que veja o quão tolo foi em me trair, e que sofra o que merece.

         Severo ainda ouviu Voldemort proferir um longo feitiço, que o fez sentir que perdeu alguma coisa muito importante. Após a sensação de vazio, desmaiou, sem conseguir ver nem sentir mais nada.

 

Someone has changed me
(Alguém me mudou)
Something save me
(Alguma coisa me salvou)
I'm missing who I am
(Eu estou esquecendo quem eu sou)

 

         Já fazia um mês que Severo Snape estava desaparecido, e esta era uma grande preocupação para o lado do bem, principalmente para Dumbledore. Voldemort atacava com mais afinco, e era impossível prever onde seriam os ataques, fazendo o lado do bem ter perdas terríveis.

         Todo dia, Hermione procurava Dumbledore, para ver se tinha alguma notícia do Comensal, mas a resposta era sempre a mesma. “Estou preocupado com Severo, receio que alguma coisa aconteceu a ele. Hermione, se tiver alguma notícia avisarei a todos da Ordem” era o que ele respondia, todas as vezes.

         Tornara-se um tormento ter que tratar de todos os feridos, sem saber onde estaria Snape. Os avanços das poções contra as maldições haviam parado, e ela receava que o responsável por elas seria Snape. Sentiu um baque quando Harry foi visitá-la, dizendo ter notícias dele.

         - Harry, qual o motivo de sua visita tão inesperada – perguntou, assim que o viu chegar.

         - Conseguimos informações sobre Snape, Mione – revelou Harry, receando contar tudo à amiga.

         - O que aconteceu, Harry? – perguntou, desconfiada – Me diga, não esconda nada.

         - Bem... – ele ainda receou, ao responder – Capturamos um Comensal, e ele revelou que Voldemort descobriu que ele era um traidor, e o aprisionou, de uma forma terrível, como ele disse.

         - E... como foi essa forma? – perguntou Hermione, com a garganta seca e um aperto no coração, que estava ficando incômodo.

         - Ele não revelou, parecia ser uma coisa terrível, pois preferiu ser jogado aos dementadores – disse Harry parecendo cansado. – Mas não fique assim, Mione, ainda conseguiremos resgatá-lo, pois sabemos que ainda está vivo.

         - O que quer dizer com isso, Harry? – ela olhou para ele, surpresa, e com os olhos marejados.

         - Eu e Rony percebemos que você está uma pilha desde que ele sumiu, e sabemos que você gosta dele, talvez até mais do que pensa – respondeu, confortando-a com um abraço.

         - Nunca pensei que iria sentir isso – respondeu entre lágrimas, torcendo para ele estar bem, mesmo com tudo o que poderia estar sofrendo.

§§§§§

         “Eis estou, em mais um dia de minha vida. Pelas minhas contas deve ser julho, e um mês aqui nesta prisão. Finalmente entendo o que aconteceu quando Voldemort proferiu aquele feitiço, a pior maldição que já ouvi falar. Ele me aprisionou, tirou tudo o que eu mais me importava na vida, fez com que ela se tornasse um inferno.

         Mais uma vez, escrevo nestas folhas de pergaminho, completamente desordenadas, mas o suficiente para ficar registrado tudo o que estou passando. Já não consigo mais dizer uma só palavra, parece que ele me tirou isto também. Com aquele feitiço, me fez pagar por ter o traído, tirando minha voz, principal meio de comunicação, além de todos os sentimentos bons que me restaram. Se bem que não foi uma grande perda, não consigo recordar de nada bom em mim. Somente o amor por Hermione que me faz continuar vivo, dia após dia.

         Se dependesse de mim, já teria desistido de tudo, o que me deu imensa vontade de fazer, mas gostaria de ao menos poder revelar meu amor por ela, nem que isso cause minha morte. Pois sim, sei que Voldemort fez isso justamente para me impedir de avisar Alvo sobre os ataques, e ele mesmo disse que se tentasse dizer alguma coisa, toda minha vida seria sugada e transferida para ele. Isso inclui meus poderes, e nunca admitiria de transferi-los para ele, que só anseia por mais e mais poder. Sou um bruxo poderoso, todos dizem isso, e tenho poderes para enfraquecê-lo, mas não posso sozinho. Se eu desse todos meus poderes para ele, nem mesmo Potter conseguiria derrotá-lo de uma vez por todas.

         A cada dia sinto-me mais fraco. Acho que Voldemort suga um pouco de minhas forças a cada dia que passa. Também faz questão de mandar um Comensal por dia para me atacar, usar-me de saco de pancadas, treinando suas maldições. Só não deixa me matarem, insiste que ainda precisa de mim. Espantei-me por ser atacado até por Lúcio, quem fora meu amigo por tanto tempo. Ele está cego, e só pensa em ter mais poder. Lastimo por ele, pensei que teria algum jeito de salvá-lo.

         Meu corpo já não responde por mim, e mal consigo me mover. O excesso de Cruciatos me deixou fraco, cheio de ferimentos. E como estou sob controle de Voldemort, não consigo usar minhas defesas, que me ajudaram tantas vezes... Minha mão dói, avisando que já devo parar de escrever, e que está chegando a hora de mais um pouco de tortura. Não sei se voltarei a escrever aqui, mas quero deixar registrado, pela última vez:

         Hermione Granger, eu te amo”.

         Parou de escrever, deixando-se deitar no banco frio em que se encontrava. Minutos depois, a porta abriu-se, e por ela entrou Lord Voldemort, sem nenhum servo ao seu lado, e sem rodeios nenhum.

 

Although I was blinded
(Embora eu estive cego)
My heart let me find it
(Meu coração me fez encontrar isto)
A truth makes me a better man
(Uma verdade me fez um homem melhor)

 

         Aquela reunião parecia ser definitiva. Duas semanas após ser descoberto que Severo Snape fora capturado por Voldemort, Dumbledore tomara a decisão mais importante para todo o mundo mágico: Fora marcado o dia da luta final contra as Trevas.

         - Espero não ter transtornado muito os compromissos de vocês – começou Dumbledore, tentando deixar os outros à vontade. – Mas é realmente muito importante esta reunião.

         Os presentes olharam-se, intrigados. Alguns estavam nervosos, mas ninguém estava tão inquieta quanto Hermione. Estava ao lado de Rony e Harry, mas nenhum dos dois conseguia acalmá-la, nem que fosse um pouco.

         - Gostaria de apresentar a vocês todos, o responsável pela informações sobre Voldemort – o coração de Hermione deu pulos -, Lúcio Malfoy!

         Ela sentiu como se tivesse levado uma bofetada no rosto. Ansiava que fosse Severo Snape quem sairia da sala ao lado, mas decepcionou-se ao ver o homem arrogante que aparecera.

         Mas ela não fora a única a se surpreender. Grande parte dos membros da Ordem ficaram confusos, outros desconfiados. O único a demonstrar um sentimento mais profundo foi Sirius Black, que levantara-se de seu lugar, possesso.

         - Alvo, como pode aceitar ele de volta? Não sabe que ele é amigo íntimo de Voldemort?

         - Não lhe diz respeito sobre minha vida pessoal, Black – retrucou Malfoy com frieza, olhando com superioridade para Sirius.

         - Acalmem-se, acalmem-se – pediu Dumbledore, fazendo-os sentarem-se. – Realmente, Lúcio fazia parte do círculo de Voldemort, mas arrependeu-se de tudo o que fez, e nos deu todas as informações sobre o plano final dele.

         - Duvido que se arrependeu – resmungou Sirius. – Só quer é mais poder e fama.

         - Gostaria que todos ouvissem por ele mesmo o que irá acontecer – avisou Dumbledore, dando a palavra a Lúcio Malfoy.

§§§§§

         A tensão naquela noite chegava ao extremo possível. Todos os aurores, junto com os membros da Ordem da Fênix, estavam a postos, para deter o ataque de Voldemort a Hogwarts, que era um lugar que todos os bruxos passaram boa parte de sua vida, ou ao menos ouviram falar. Cada membro teria uma função específica, mas cabia a Harry Potter acabar de uma vez por todas com o Lord das Trevas.

         Hermione Granger estava aflita, pulando na ponta dos pés, ou andando em círculos, impaciente. Quem estava no mesmo local que ela facilmente se irritava, e com Sirius não seria diferente.

         - Hermione, pare de rodar. Snape não merece tanta aflição assim.

         Ela parou de andar, e olhou para Sirius com um olhar assassino. Harry aconselhou o padrinho a não repetir a piadinha, pois ela podia ficar irritada.

         Pouco tempo depois, Dumbledore apareceu na sala, avisando que a hora do combate chegara, e eles deveriam estar a postos.

         - Mione, tenha boa sorte, e tome cuidado com os Comensais – avisou Rony, abraçando-a ternamente.

         - Rony, me desculpe por não ter feito você feliz, mas garanto que alguém irá fazê-lo ser o mais feliz do mundo – disse a garota, correspondendo ao abraço.

         Despediu-se também de Harry, Sirius e Remo, antes de sair por uma outra porta, ficando na retaguarda.

 

         Quando Voldemort e os Comensais aparataram na floresta proibida, foram pegos na emboscada, e logo Lúcio tirou a roupa de Comensal, para mostrar a roupa da Ordem. Voldemort ficara muito irritado por ter sido traído, e jurou que ele iria pagar caro.

         Começou a pior luta entre o bem e o mal. Vários feitiços e maldições foram pronunciados, e muitos foram atingidos. Em meio a tanta luta, Hermione não sabia ao certo o que fazer. Concentrou-se com toda sua força na Mansão dos Riddle, e aparatou, a tempo de não ser atingida por um Cruciatos.

§§§§§

         Apareceu em um local aparentemente deserto, pouco conservado. Tomou a última dose que possuía das poções anti-maldições, e adentrou na mansão, empunhando a varinha. Reparou como o local era luxuoso por dentro, cheio de objetos caros, e alguns elfos, trabalhando na limpeza do local. Usou um feitiço do silenciamento, e fez com que todos se calassem, não emanando um ruído sequer.

         Precisava ser rápida, e encontrar o local em que Severo fora aprisionado. De acordo com o que Lúcio dissera, estava em uma das masmorras, na parte sul da mansão. Era a mais fria de todas, e sentiu um aperto só de pensar em como ele poderia estar se sentindo.

         Levou quase uma hora para encontrar a passagem para as masmorras, e mais dez minutos para chegar na última, na parte sul. Fazia muito frio ali, ela desconfiava que a temperatura devia ser negativa.

         Abriu a pesada porta com um Alorromora, e ela rangeu ao ser escancarada. Encontrou a cela vazia, a não ser por um vulto encolhido em um canto, uma pena, e um punhado de pergaminhos. Soltou uma alta exclamação ao reconhecer Severo Snape como o monte de vestes.

 

I didn't notice
(Eu não fui avisado)
That you were right infront of me
(Que você esteve certa na minha frente)
A mask of silence
(Uma máscara de silêncio)
Won’t let me put away so we can see
(Não me deixaria pôr de lado, então poderíamos ver)

 

         - Severo!

         Ela chamou por ele, fazendo-o acordar de seu cochilo. Com grande dificuldade, ergueu a cabeça, para ver quem o chamara. O fantasma de um sorriso surgiu no seu rosto, e pareceu a Hermione que ele usara todas suas forças naquela tentativa de sorrir.

         Aproximou-se o mais rápido que pôde, tentando ampará-lo. Tentou segurá-lo e levantá-lo, mas ao tentar tocá-lo, viu se contrair, em claro sinal de dor. Procurou apressada em seus bolsos por um antídoto, uma poção reanimadora, ou qualquer coisa que pudesse ajudá-lo, nem que fosse um pouco.

         Teve que segurar seu queixo para despejar o líquido ardente. Sentiu uma grande dó do professor, por ter sofrido tanto tempo, e ter conseguido agüentar, mesmo que estivesse por um triz da morte. Seus olhos encheram-se de lágrimas. Enfim tinha conseguido certificar-se de que ele estava vivo, e preparava-se para declarar seu amor, quando ele levantou uma mão, pedindo para ela alcançar-lhe pena e pergaminho.

         Ela fez o que lhe foi pedido, e observou, aflita e curiosa, o que ele iria escrever, e por que não falava nada. Conforme escrevia, ela conseguia ler o que estava escrito, e não conseguiu segurar as lágrimas, mais persistentes que nunca.

         “Obrigado por vir me salvar. Receio que não tenha mais jeito de me salvar. Provavelmente a batalha eclode lá fora, e nada posso fazer. Peço que me deixe aqui, e vá lutar contra Voldemort, pois sei que você será quem o derrotará”

         Hermione arrancou a pena da mão de Severo, chorando um rio de lágrimas. Ele olhou-a, confuso, mas determinado a deixá-la ir embora.

         - Não irei a lugar nenhum sem ouvir isso da tua boca. Não perdi todo meu tempo para te deixar aqui, congelando – disse com veemência, como só ela conseguia dizer.

         Severo fitou-a, exasperado. Tentou, então, dizer alguma coisa, mas as palavras não saíam. Por mais que se esforçasse, não saía nenhum som de sua boca. Concentrou suas últimas forças na esperança de que iria acabar tudo aquilo, e finalmente poderia ser feliz, e encontrou sua voz, mas ainda falando com dificuldade.

         - Não quero atrapalhar... Você deve... deve ajudar Alvo... ele precisa de você...

         - Severo Snape, não queira ser orgulhoso ao ponto de rejeitar ajuda! Se vim aqui, levarei você comigo, além do que Dumbledore disse que você é a pessoa que vai acabar com Voldemort! A pessoa que trair Voldemort e ter coragem de voltar para ele, enganando-o, é quem tem o poder para desnorteá-lo!

         - Hermione, pouco me importo com isso – revelou, ofegante, e apontando para os pergaminhos. – Vá, leve esses pergaminhos, e leia quando tudo isso acabar.

         - Já disse que não vou sem você! – exclamou, sem querer dar o braço a torcer.

         Antes que esperasse nova tentativa de defesa de Severo, apontou a varinha para ele, o fazendo recuar, receoso. Disse duas palavras em tom baixo, e um jorro de luz prateado saiu de sua varinha, acertando-o no peito.

         Mas ele não gritou. Somente sentou-se olhando confuso para a mulher. Sentia-se com mais energia, pouca, era verdade, mas o suficiente para levantar-se e andar devagar. Já Hermione ofegava levemente, parecendo cansada.

         - O que pensa que está fazendo?

         - É um feitiço, que cura a pessoa que o recebe, doando parte da energia de quem o executa. É útil em situações extremas, como esta – respondeu ofegante.

         - Você não devia ter feito isso – repreendeu Severo, olhando-a seriamente.

         - Depois você briga e me humilha, mas agora, temos que ajudar Alvo!

         - Espere! Preciso da minha varinha! – avisou, puxando-a pelo braço.

         - E onde ela está?

         - Na sala principal de Voldemort, venha, eu te mostro.

         Severo levou Hermione até uma imponente sala, lotada de estátuas ao estilo sonserino. Ela ficou encantada com a grande quantidade de livros que estavam dispostos nas paredes, mas contentou-se em abrir a gaveta e pegar a varinha de Severo, entregando-a.

 

I'm there for you
(Eu estou lá por você)
No matter what
(Não importa o que)
I'm there for you
(Eu estou lá por você)
Never give it up
(Nunca desista)
I'm there for you
(Eu estou lá por você)
For you
(Por você)

 

         A batalha estava pior do que Dumbledore imaginava. Grandes aliados da Ordem tinham sido atingidos, e muitos deles eram grandes amigos do velho diretor. Olhou para os lados, preocupado. Se perguntava onde Hermione e Severo estavam, e por que demoravam tanto. Desviou-se de um feitiço, e usou um feitiço estuporante em um Comensal que se aproximava. Procurou Harry Potter com os olhos. Encontrou-o lutando com fibra, junto de seu melhor amigo, Ronald Weasley. Admirava-se por ver o garoto tão determinado em vencer, e ansiava pela chegada de Severo.

         Só ele pode imobilizar Voldemort, em um duelo que prometia ser acirrado. Mas era fato notório que Harry era o único que acabaria com o mal, mas ninguém sabia que quem o ajudaria era Severo Snape, que fora um professor que o garoto não pretendia encontrar novamente.

 

         - Onde pensa que está indo? – perguntou Snape acidamente, enquanto seguia Hermione por um caminho escuro.

         - Estou tentando achar o caminho certo – resmungou a moça, mordendo um lábio.

         - Quer dizer que estamos perdidos? – perguntou exasperado, olhando com incredulidade para Hermione.

         - Não estamos perdidos – respondeu Hermione, olhando para os lados. -, só não sabemos onde estamos.

         - Então estamos perdidos! – disse Snape com veemência.

         Continuaram caminhando, somente com o feixe de luz que era emanado pela varinha de Hermione. Vez ou outra ouvia Snape resmungar, com palavras que soavam irritantes aos ouvidos da garota. Em uma burificação, ela usou sua varinha como bússola, e escolheu o caminho da esquerda.

         - Estamos quase chegando – informou, apressando o passo.

         - Chegando em que lugar? – perguntou Snape, seriamente.

         - No local da luta. E não faça mais comentários.

         Andaram apenas por mais dez minutos, e logo chegaram em um amplo campo, iluminado pela lua, que mostrava vários corpos inertes no chão. Severo Snape sentiu seu coração apertar – o que não acontecia há anos -, ao ver tantas pessoas mortas, graças à cobiça de um único homem.

         Aproximou-se o mais rápido possível de Dumbledore, que suspirou aliviado. Estava entregando uma fórmula para Snape, mas este o parou, entregando um punhado de pergaminhos.

         - Alvo, quero que, assim que tudo isso acabar, entregue isto à Srta. Granger – disse Severo Snape, com uma expressão impassível.

         - Você está querendo dizer que... – disse Dumbledore, olhando receoso para o amigo.

         - Independentemente do que aconteça, quero que ela leia isto – confirmou, não dando chance ao antigo diretor.

 

For you
(Por você)
For you
(Por você)

 

         Voldemort lutava com Arthur Weasley, que não teve nenhuma chance, e logo caiu no chão, inconsciente. Severo Snape aproximou-se, determinado, com a varinha empunhada com força em sua mão.

         - Você! – rugiu Voldemort, apontando seu dedo magro na direção de Snape – Você me traiu, você novamente me traiu!

         - Traí, e isso você já sabe – Snape sustentava o olhar de ódio do outro - mas, infelizmente, não fui eu quem marcou o dia da sua queda.

         - Mentira! – Voldemort descontrolara-se, não aceitava a idéia de existir outro traidor entre os Comensais – Agora vou te matar! Avada...

         - Traitus Forcus! – Snape fora mais rápido, e jogou o feitiço antes de Voldemort concluir a maldição.

         O jorro de luz dourada atingiu Voldemort no peito, fazendo-o cair no chão, gritando de dor. No mesmo momento, Harry chegou correndo, e junto com Dumbledore, Severo e Ronald, lançaram o feitiço que finalmente acabaria com aquela guerra...

 

         Hermione olhava para tudo confusa. Cegou-se com a grande luz branca que surgiu, quando Voldemort foi atingido. Não conseguia enxergar nada, mas sentia um alívio por finalmente ter acabado.

         Abriu os olhos lentamente, mas não encontrou-se no campo de batalha, muito menos ao lado de ninguém. Estava deitada em sua cama, rodeada de folhas de pergaminho.

 

Within the darkness
(Dentro da escuridão)
You are the light that shines away
(Você é a luz que brilha em volta)
In this blind justice
(Nesta justiça cega)
I can be the man who saves the day
(Eu posso ser o homem que salva o dia)

 

         Duas semanas haviam se passado desde o fim do reino das Trevas... O mundo mágico estava mais aliviado, e as pessoas podiam caminhar sem preocupações pelas ruas...

         Entre mortos e feridos, muitas pessoas foram prejudicadas pela guerra. Hermione tentava conciliar isto com as aulas de reforço que estava tendo, e ainda com seu coração, que estava pior do que o possível...

         Dois dias após o término da guerra, Dumbledore veio procurá-la, e entregar algo que ele dizia ser muito importante. Não segurou de curiosidade, e começou a ler aqueles escritos, com uma letra que demorou a reconhecer...

         A cada palavra que lia, sentia seu coração ser cortado, em mil pedacinhos. Achava que ele tinha sofrido, mas não tanto quanto estava registrado. Seu coração saltou pela boca quando leu que ele a amava... finalmente tinha seu sentimento correspondido, e quase não cabia de felicidade com isso, mas queria dizer que também o amava, que quer tentar ter algum relacionamento, nem que fosse amizade. Mas estava cada vez mais difícil.

         No St. Mungus, os médicos continuavam a receber os avanços para os mais afetados com as maldições. Hermione tentava se encontrar com Severo no Ministério, mas ele parecia evitá-la, já que nunca se trombavam. Perguntou a Dumbledore, e este disse que ele aparecia sem avisar, e ia embora antes que pudessem dizer mais alguma coisa.

§§§§§

         Os dias estavam cada vez mais frios naquela mansão. Severo Snape voltara a morar no que herdara de seus pais, depois de mais de 20 anos longe. Os elfos ainda tinham disposição para enchê-lo de mordomias, mas ele já não precisava mais disso...

         Seu quarto era o local mais gelado, na opinião dele. Nem com todas as toras na lareira esquentavam o local... Mas sentia um frio maior em seu coração, que ansiava por alguma demonstração de afeto pela garota.

         Inconscientemente, passara a evitar encontrá-la nos locais comuns. Alternara completamente os dias de visita a Dumbledore, que se tornara o novo Ministro da Magia, mesmo contra sua vontade. Somente o visitava quando tinha alguma novidade com as poções, o que poderia levar semanas ou dias.

         Mas queria encontrá-la mais uma vez, nem que fosse para ser humilhado por seus sentimentos. Passou a observá-la discretamente, decorando cada movimento que fazia. Era sempre a mesma coisa... Pela manhã, fazia as aulas de reforço em Harvard, em sua área bruxa, depois, almoçava na casa de Potter, junto com o Weasley. Passava o resto do dia no St. Mungus, e só saía após as nove. Uma vez por semana encontrava-se com Dumbledore, e depois ficava um bom tempo na biblioteca, antes de voltar para casa.

         “A verdade é que me afastei com medo de ser rejeitado por meus sentimentos, tão explícitos naqueles pergaminhos... Mas agora estou determinado a enfrentar meu amor de cabeça erguida, mesmo que sofra humilhação”

 

I'm there for you
(Eu estou lá por você)
No matter what
(Não importa o que)
I'm there for you
(Eu estou lá por você)

 

         Caminhava pela rua, apressada, o vento batendo em sua face e bagunçando seu cabelo. Atrasara-se para uma reunião urgente no hospital, que fora marcada há uma hora. Nem olhava por onde ia, somente arrumava seus papéis dentro de sua pasta.

         Assim que virou uma esquina, bateu com força em outra pessoa, que ia na direção contrária. Todos seus papéis voaram, e ela caíra no chão, exasperada. A pessoa que trombara nela continuava de pé, com as mãos no bolso de seu sobretudo.

         - Desculpe, eu estava distraída e... e... – começou Hermione, ao mesmo tempo que tentava tirar uma mecha de seu rosto e arrumar todas as folhas novamente.

         - Não foi nada – respondeu a pessoa, de modo formal.

         Ela levantou a cabeça, para olhar melhor em quem trombara. Seu olhar se cruzou com o da pessoa, e seu coração parou. Finalmente encontrara-se com ele, depois de tanto tempo procurando-o! Sentia-se extasiada, sem saber o que pensar. Ficou imóvel por uns segundos, perdida nos olhos negros que sempre quis observar...

         Saiu de seu transe quando o viu se abaixar, ajudando a pegar os papéis do chão, e juntando-os sobre a pasta.

         - O que está fazendo? – perguntou a mulher, olhando-o num misto de surpresa e interrogação.

         - Parece estar com pressa, então estou ajudando, afinal também bati na srta. – respondeu, olhando-a sério, mas sem sua frieza habitual.

         - Oh... – sua voz mostrava grande desapontamento.

         - Espero não ter te atrasado muito – disse ele, levantando-se e entregando as folhas para a garota, que ainda estava um pouco abobada.

         - Será que podemos conversar? Não o vejo há tempos, e tenho muito o que falar sobre as poções e... – ela estava ansiosa, como se ainda fosse uma adolescente.

         - Poderá me encontrar na cidade de Oxford, estou morando lá – interrompeu, dando um breve sorriso. – Até mais ver.

         E aparatou, deixando uma Hermione Granger totalmente confusa naquela esquina, tentando digerir o que acabara de acontecer.

 

Never give it up
(Nunca desista)
You know it’s true
(Você sabe que isto é verdade)
You were there for me
(Você esteve lá por mim)
And I’m there for you
(E eu estou lá por você)

 

         Uma batida na porta revelava que alguém estava querendo entrar. Os elfos logo se ouriçaram, todos querendo abrir a porta ao mesmo tempo. O dono da casa estava na sala de estudos, tentando se concentrar na leitura de um livro sobre poções específicas.

         - Senhorita, senhorita, seja bem-vinda! Entre, entre! – exclamaram os elfos, todos ao mesmo tempo, assim que abriram a porta.

         - Quer biscoitinhos de mel, senhorita? – perguntou um baixinho, que tinha orelhas curtas.

         - Ou quem sabe um chazinho? – perguntou outro, que usava uma toalha de mesa cristal.

         - Obrigada, mas não vou me demorar – disse a moça muito encabulada.

         - Venha senhorita, sente-se na sala de visitas, vamos chamar nosso mestre! – um outro elfo puxara a borda de seu vestido, a puxando para a sala.

         - Nosso mestre não se demorará, está na sala de estudo! – avisou o primeiro elfo, enquanto corria atrás dos outros, todos querendo avisar sobre a visita.

         Enquanto esperava pelo dono daquela luxuosa mansão, começou a observar o local com curiosidade. Era um aposento de estilo antigo, quase medieval. Tudo estava bem limpo, e haviam poucos objetos de grande valor, somente alguns quadros e móveis de época. Teve que admitir que quem mobiliara aquela casa tinha muito bom gosto, e deixaria qualquer pessoa confortável, mesmo com todo o nervosismo que sentia no momento.

 

         - Mestre, mestre! A senhorita está na sala de visitas! Ela veio nos visitar! – exclamaram os elfos, adentrando a sala fazendo muito barulho.

         - O que foi? – perguntou sério, não entendendo muito bem o que eles disseram.

         - Ela veio, meu senhor! Ela finalmente veio!

         - Ela quem? – seu coração começara a bater mais forte.

         - A moça, meu senhor, a moça que mestre observa todos os dias! A moça que trará mais vida a essa casa!

         - Mas o que estão esperando? Façam um chá, bolinhos, qualquer coisa! – disse, sua voz ligeiramente trêmula, ao mesmo tempo que levantava-se, desamassando sua roupa.

         Os elfos saíram com euforia, rumo à cozinha. Ele suspirou fundo, antes de caminhar nervoso até a sala de visitas, lutando contra a vontade de desmanchar ali mesmo, pelo simples fato dela estar em sua casa.

 

         - É muita honra tê-la em minha humilde casa – disse formalmente, tentando esconder sua felicidade.

         - Sua casa não é humilde, mas sim uma mansão! – exclamou, virando-se surpresa.

         - Foi a única coisa que meus pais me deixaram – respondeu, ficando sério de repente. – Mas qual o motivo desta agradável visita?

         - Queria conversar com você, mas parece que está fugindo de mim... – comentou com voz chorosa.

         - Não estou fugindo, só nos desencontrávamos – defendeu-se, franzindo a testa.

         - Mas e naquele dia qu...

         - Senhor, senhor, aqui estão os bolinhos! – exclamaram os elfos, entrando eufóricos na sala, e colocando tudo em cima da mesinha, e oferecendo o máximo que podiam para Hermione.

         - Obrigada, obrigada! – a garota tentava segurar tudo o que recebia.

         - Muito obrigado, mas ela consegue se servir – disse Severo calmamente.

         - Mestre, não quer também? – perguntou um dos elfos, saltando com a bandeja para junto de Severo.

         - Obrigado Sport, mas gostaria de conversar com ela um minuto – disse gentilmente.

         - Gente, vamos! O mestre quer conversar! – exclamou Sport, chamando todos os elfos, saindo o mais rápido que puderam.

         - Você possui elfos em sua casa? – perguntou Hermione espantada, com uma ligeira desaprovação na voz.

         - Eles fizeram parte de minha família por várias gerações. Quando abandonei a casa, quis libertá-los, mas eles gostavam muito da casa e da família, então resolvi dar um salário de cinco galeões por semana, para eles manterem a casa – respondeu com o olhar distante.

         - Ah... E parece que se gostam muito, não é? – ela tentava puxar assunto.

         - Digamos que nos relacionamos bem – respondeu pouco à vontade. – Me conhecem desde que nasci, e me conhecem melhor do que ninguém...

         - Queria ter esse privilégio... – sussurrou Hermione, nem percebendo o que dizia.

         - O que disse? – perguntou curioso.

         - Nada, nada! – desconversou, corando.

         Ficaram em silêncio por algum tempo, tentando descobrir um jeito de iniciarem o assunto que mais queriam resolver. Com muita vergonha, Hermione começou.

         - Dumbledore me entregou os pergaminhos que pediu...

         - Entregou? – perguntou Severo, começando a tremer levemente.

         - Sim... e bem... Não pensei que tivesse sofrido tanto...

         - Não foi tanto, já aconteceu outras situações parecidas – disse, sentindo-se muito envergonhado por ter escrito com tamanha veracidade o que sentira.

         - Mas achei que você agüentou bem... e... bem... – agora ela começara a se embaraçar, esperando ele começar a falar novamente.

         - Estou ouvindo – Severo falou suavemente, enquanto tentava diminuir o batimento de seu coração.

         Ela parou antes de dizer. Seu coração estava prestes a explodir, mas sabia que tinha que dizer, pois ninguém mais o faria.

         - Eu sinto o mesmo que você – sua voz saiu em quase um sussurro.

         - O quê?! – perguntou surpreso, olhando-a com um misto de esperança e felicidade.

         - Eu... eu... te amo...

         - Hermione, você não sabe o quanto eu sonhava com esse momento! – exclamou Severo, não se contendo de tanta felicidade.

         - Eu também! – Hermione também não se contia, e pulou nos braços de Severo.

         Os dois ficaram abraçados por algum tempo, com Severo acariciando o cabelo da garota, enquanto ela acariciava suas costas. Afastaram-se lentamente, e ela viu os olhos dele brilharem de uma maneira que ela nunca vira antes.

         - Fiquei dias e dias imaginando como seria o seu beijo.

         - Mas só há um jeito de descobrir – respondeu divertida, aproximando seus lábios dos dele.

         Aproximaram-se lentamente, beijando-se apaixonados. Não importava o que acontecera, nem o passado de nenhum dos dois, o que importava é que eles sempre estariam presentes para ajudar-se mutuamente, não importando a gravidade do problema.

 

For you
(Por você)
For you
(Por você)
For you
(Por você)

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