
A Física Moderna
por
Carlos Antonio Fragoso Guimarães
Extraído do livro Percepção e Consciência

Uma Nova Visão de Mundo
Com os trabalhos de Michael Faraday e James Clerk Maxwell, no século XIX,
sobre o eletromagnetismo, a até então sólida concepção científica mecanicista
sofre um primeiro grande abalo: era possível que existisse uma forma de
realidade independente da matéria redutível a componentes básicos - o campo
eletromagnético. O conceito de campo é um conceito sutil. O campo não pode ser
decomposto em unidades fundamentias. Mas foi só com a descoberta dos quanta de
energia, por Max Planck, em 1900, que a visão de mundo, em Física, começou a se
transformar radicalmente. E Albert Einstein, em 1905, ao publicar sua Teoria
Especial da Relatividade - mais tarde ampliada na Teoria Geral da Relatividade
-, promoveu uma ruptura conceitual revollucionária entre a nova realidade de um
novo universo curvo e inserido num contínuum espaço-temporal e os conceitos mais
básicos da física newtoniana, como, por exemplo, o do espaço euclidiano rígido,
independente de um tempo universalmente linear, e de uma matéria inerte
constituida de minúsculas bolinhas indestrutíves, os átomos. Hoje sabemos que a
medida do tempo varia conforme a velocidade com que se deslocam diferentes
observadores, em diferentes referenciais, que o espaço é curvado pela presença
de matéria, que matéria e energia são equivalentes, etc. Nasceu assim, junto com
o século XX, a chamada Física Moderna.
O trabalho de Einstein
possibilitou uma nova mentalidade para o estudo dos fenômenos atômicos. Assim,
os anos 20 estabeleceriam uma nova compreensão da estrutura da matéria. Com o
desenvolvimento da Mecânica Quântica, através dos trabalhos de Niels Bohr,
Werner Heisenberg, Wolfgang Pauli, Erwin Schrödinger e outros, descobrimos uma
estranha propriedade quântica: os elementos atômicos, a luz e outras formas
eletromagnéticas têm um comportamento dual - ora se comportam como se fossem
constituídos por partículas, ou seja, por elementos de massa confinada a um
volume bem definido numa região específica do espaço, ora agem como se fossem
ondas que se expandem em todas as direções. E, ainda mais estranho, a natureza
do comportamento observado era estabelecida pela expectativa expressa no
experimento a que estavam sujeitos: onde se esperava encontrar partículas, lá
estavam elas, da mesma forma como ocorria onde se esperava encontrar a onda. Era
como se o esperado se refletisse na experiência. Como se poderia conciliar o
fato de que uma coisa podia ser duas ao mesmo tempo, e como manter a
objetividade se o tipo de experimento, e conseqüentemente a expectativa do
esperado, pareciam determinar um ou outro comportamento experimental? A solução
foi dada por Niels Bohr ao elaborar o princípio da complementaridade. Ele
estabelece que, embora mutuamente excludentes num dado instante, os dois
comportamentos são igualmente necessários para a compreensão e a descrição dos
fenômenos atômicos. O paradoxo é necessário. Ele aceita a discrepância
lógica entre os dois aspectos extremos, mas igualmente complemetares para uma
descrição exaustiva de um fenômeno. No domínio do quantum não se pode ter
uma objetividade completa... Ruiu, assim, mais um pilar newtoniano-cartesiano, o
mais básico, talvez: não se pode mais crer num universo determinístico,
mecânico, no sentido clássico do termo. A nível subatômico não podemos afirmar
que exista matéria em lugares definidos do espaço, mas que existem
"tendências a existir", e os eventos têm "tendências a ocorrer". É
este o Princípio da Incerteza de Heisenberg. Tais tendências
possuem propriedades estatísticas cuja fórmula matemática é similar à formula de
ondas. É assim que as partículas são, ao mesmo tempo, ondas. A Física deixa de
ser determinística para se tornar probabilística, e o mundo de sólidos objetos
materiais, que se pensava bem definido, se esfumaça num complexo modelo de ondas
de probabilidade. Cai o determinismo em Física. As "partículas" não têm mais
significado como objetos isolados no espaço; elas só fazem sentido se forem
consideradas como interconexões dinâmicas de uma rede sutil de energia entre um
experimento e outro (Capra, 1982, 1986; Grof, 1988; Heisenberg, 1981). Ficou
demonstrada que a certeza num universo determinístico era fruto do desejo humano
de controle e previsibilidade sobre a natureza, e não uma característica
intrínseca da mesma. A concepção newtoniana era apenas uma formulação lógica
sobre a natureza, refletindo uma idéia pessoal de mundo.
"O
mecanicismo, com todas as suas implicações, retirou-se do esquema da ciência. O
Universo mecânico, no qual os objetos se empurram, como jogadores numa partida
de futebol, revelou-se tão ilusório quanto o antigo universo animista, no qual
deuses e deusas empurravam os objetos à sua volta para satisfazer seus caprichos
e extravagâncias"
Sir James Jeans
A mais revolucionária descoberta, porém, foi
a demonstração experimental do pilar central da Teoria da Relatividade: as
partículas materiais podem ser criadas a partir da pura energia e voltar a ser
pura energia. A equivalência entre matéria e energia é expressa pela famosa
equação E=mc2. As teorias de campo transcenderam definitivamente a
distinção clássica entre as partículas e o vácuo. Segundo Einstein, as
partículas representam condensações de um campo contínuo presente em todo o
espaço. Por isso o universo pode ser encarado como um teia infinita de
eventos correlacionados, e todas as teorias dos fenômenos naturais passam a
ser encaradas como meras criações da mente humana, esquemas conceituais que
representam aproximações da realidade., pois, segundo a interpretação de
Compennhagem, formulada por Bohr e Heisenberg, não há realidade até o
momento em que ela é percebida pelo observador. Dependendo do ajuste
experimental, vários aspectos complementares da realidade se tornaram visíveis.
É o fato de se observar que gera os paradoxos! Por isso a realidade é fruto do
trabalho mental e ela tenderá a ter os contornos de quem a observa e que escolhe
o quê e o como observar.
Fritjof Capra assim se expressa
em relação a esse fenômeno: "A característica principal da teoria quântica é que
o observador é imprescindível não só para que as propriedades de um fenômeno
atômico sejam observadas, mas também para ocasionar essas propriedades. Minha
decisão consciente acerca de como observar, digamos, um elétron, determinará, em
certa medida, as propriedades do elétron. Se formulo uma pergunta sobre a
partícula, ele me dá uma resposta sobre partícula; se faço uma pergunta sobre a
onda, ele me dá resposta sobre onda. O elétron não possui propriedades objetivas
independentes da minha mente. Na física atômica não pode ser mais mantida a
nítida divisão entre mente e matéria, entre o observador e o observado. Nunca
podemos falar da natureza sem, ao mesmo tempo, falarmos de nós mesmos" (Capra,
1986, destaques meus). Eugene Wingner, prêmio Nobel de Física, também concorda
que "a consciência, inevitável e inevitavelmente, entra na teoria" (Di Biase,
1994).
"É a mente que vemos refletida na matéria. A ciência da Física
é uma metáfora com a qual o cientista, como o poeta, cria e amplia significado e
valor na busca por entendimento e propósito... O que torna a ciência útil para
nós e que nos faz apreciá-la - previsibilidade, objetividade, consistência,
generalidade - não existe de fato em alguma realidade externa, independente da
consciência. É parte de nossa experiência e interpretação do mundo. Vejo a obra
monumental de Newton como uma monumental criação mental, um sistema de mundo
concebido humanamente, incorporando consistência e ordem causal, que satisfaz a
mente humana e a ajuda a aplacar o medo de um universo caótico. Seu trabalho é
tanto uma obra de arte como uma obra de ciência. Protestar que a concepção de
Newton é validada por inúmeras observações do universo físico não é argumento,
pois minha idéia é que a concepção ou teoria e as quantidades são criadas
paralelamente para a corroboração mútua (não necessariamente sem conflito e não
necessariamente consciente). Além disso, as próprias quantidades se baseiam em
uma definição e procedimentos de medida, que são fundamentalmente subjetivos"
.
Roger Jones
Todos os principais teóricos da Psicologia
Transpessoal estão interessados profundamente nas implicações das
descobertas e contribuições teóricas da Física moderna, pois elas alargam
amplamente nossa concepção de mundo, nela se discutindo fortemente o papel da
percepção e da consciência, incluindo-se até mesmo um ambiente mais favorável
para a aceitação dos chamados fenômenos psíquicos parapsicológicos (Charon,
1981; Andrade, 1987 LeShan,1993). E, reciprocamente, físicos de ponta estão
interessados nas profundas implicações do movimento Transpessoal e nas
similaridades entre a visão de mundo que emerge da Física moderna e o pensamento
oriental. David Bohm e outros físicos chegam a declarar que a consciência deverá
ser incluída numa teoria abrangente que una a realidade Quântica com a Teoria da
Relatividade, numa explicação unificada do universo. O físico brasileiro Mário
Schenberg declarou que "a Física e a Psicologia são aspectos diferentes de uma
mesma realidade, vista sob ângulos diferentes".
"No conceito moderno
da física (...) não existe a possibilidade de uma existência desligada,
autônoma".
Alfred North Whitehead
"O homem moderno tem utilizado
a relação de causa e efeito do mesmo modo como o homem da antiguidade usava os
deuses, isto é, para ordenar o universo. Isto não ocorria apenas porque se
tratava do sistema mais verdadeiro, mas porque era o mais
conveniente".
Henri Poincaré
"O homem dispõe a si mesmo e constrói
essa disposição com o mundo".
Sir Arthur Eddington
"A razão pela qual nosso
ego pensante, perceptivo e consciente não se encontra em nenhum lugar, na imagem
que temos do mundo, pode ser facilmente explicada em sete palavras: ele PRÓPRIO
é a imagem do mundo. Ele é identico ao todo e, portanto, não pode estar contido
nele"
Erwin Schröndiger
"O ser humano vivencia a si mesmo,
seus pensamentos, como algo separado do resto do universo - numa espécie de
ilusão de ótica de sua consciência. E essa ilusão é um tipo de prisão que nos
restringe a nossos desejos pessoais, conceitos e ao afeto apenas pelas pessoas
mais próximas. Nossa principal tarefa é a de nos livrarmos dessa prisão,
ampliando o nosso círculo de compaixão, para que ele abranja todos os seres
vivos e toda a natureza em sua beleza. Ninguém conseguirá atingir completamente
este objetivo, mas lutar pela sua realização já é por si só parte de nossa
liberação e o alicerce de nossa segurança interior".
Albert Einstein
Bibliografia Sugerida
Capra, Fritjof. O Ponto de Mutação Ed. Cultrix, São Paulo,
1986.
Capra, Fritjof. O Tao da Física Ed. Cultrix, São Paulo,
1985.
Di Biase, Francisco. O Homem Holístico Ed Vozes, Petrópolis,
1995.
Guimarães, Carlos. Percepção e Consciência, Ed Persona, João
Pessoa, 1996.
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João Pessoa, Paraíba, 04/01/1997
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