Atos dos
Apóstolos. O Livro e seus Temas
Comparando
estes dois textos, posso dar início ao meu trabalho quem vem tratar do livro
dos Atos dos Apóstolos. Ao que parece,
estes dois livros, Evangelho segundo Lucas e os Atos dos Apóstolos, compunham
no início uma única obra, visto que a segunda é uma continuação da primeira.
“Eles foram separados quando os cristãos desejaram possuir os quatro evangelhos
num mesmo códice. Isto se deu muito cedo, antes de 150 d.C..”[1]
Foi enviado para um tal Teófilo e possuem uma linguagem idêntica em ambos e
desde o início a Tradição da Igreja concorda em apontar como autor Lucas,
companheiro de Paulo em suas viagens e situam o livro entre 70 e 80 d.C.. A
Bíblia de Jerusalém nos trás uma divisão em cinco partes do livro Atos dos
Apóstolos: a primeira parte é uma introdução (1, 1-11) à história da formação
da comunidade de Jerusalém (1, 12 – 5). A segunda conta-nos as primeiras
missões (6 – 12), o testemunho e martírio de Estevão como abertura, a conversão
de Saulo e o batismo dos primeiros gentios por Pedro. A ação de Paulo(Saulo) é
contada na terceira parte, é a primeira missão de Paulo e Barnabé, e o Concílio
de Jerusalém (13 – 15, 35). Entra Paulo definitivamente na história e a quarta
parte é toda sobre suas duas ultimas missões, que somam um total de três (15,36
– 19,20). Então Paulo é preso em sua ultima viagem para Jerusalém, sendo esta a
quinta e ultima grande parte dos Atos dos Apóstolos segundo a divisão da Bíblia
de Jerusalém, a qual aqui tomamos por base. Outra
divisão pode ser feita e tomada por base, para melhor entendermos este livro,
do ponto de vista literário, como nos apresenta a Introdução da Bíblia TEB aos
Atos dos Apóstolos. Agora duas partes. Como curiosidade, podemos comentar as
diferenças literárias que constam no livro. Ele começa contando, na primeira
destas duas partes (1 – 15) o nascimento e fortalecimento da Comunidade de
Jerusalém, como vimos no parágrafo anterior. Apresenta-nos estes fatos de
maneira justaposta, ou melhor, fragmentada, como no juntar de algumas histórias
que provavelmente tenha ouvido ou lido da Tradição, mas que não foi testemunha.
O que melhor nos confirma tal teoria são as indicações cronológicas que são
muito raras. Ainda nesta primeira parte, “a língua é de tendência semitizante e
mais de uma aspecto do pensamento parece aramaico”[2]
e a narração é em terceira pessoa do singular ou do plural(ele, eles). Mudanças
significativas podem ser notadas, a partir destes dados, na segunda parte (16 –
28), como o aparecimento de narrações em primeira pessoa do plural(nós) e a
linguagem “mais puramente grega”. Também surgem mais apontamentos cronológicos
em uma unidade ordenada dos fatos. “É preciso, enfim, acrescentar que, se o
autor do ‘diário de viagens’ e dos Atos são o mesmo, este personagem,
companheiro de Paulo, dispunha também de lembranças pessoais.”[3] Três
personagens Lucas destaca com seus respectivos companheiros. Pedro e João (1,15
– 5,42; 9,32 – 11,18; 12,1-25) que aparecem basicamente como início da
história, tendo Pedro como o principal. Os próximos são Felipe e Estevão (6 –
8) que, como já foi mencionado anteriormente, enfatiza-se o testemunho e
martírio de Estevão. Na maior parte do livro dos Atos dos Apóstolos, estão
Paulo e Barnabé somando quase dezoito capítulos dos vinte e oito, ou seja,
quase dois terços do livro (7,58b ; 8,1-3; 9,1-30; 11,19-30; 13 – 15,4; 15,30 –
28,30). Paulo e Barnabé se separam em 15, 36-40, passando Paulo a viajar com
diversas pessoas. Barnabé e Paulo ficam juntos apenas na primeira missão. Paulo
também será alvo de grande parte deste trabalho, pois assim achamos ser mais
interessante. Os Atos de Paulo: As Viagens Missionárias Como
já foi tratado anteriormente, vimos que Paulo fez três grandes viagens
missionárias. Cada uma delas de grande importância para a propagação e fixação
da pregação dos apóstolos e para o crescimento da Igreja Primitiva. Paulo usou
de um método bem interessante para cada uma delas, mostrando assim como era
organizado e sábio em seu ministério e como o levou a sério. Após sua
conversão, que também já foi vista, Paulo vai de Damasco para Jerusalém onde
recebe seu ministério e é enviado para Tarso. Ficou lá por trezes anos, mais ou
menos, em silêncio e preparação. Foi
então funda a Igreja de Antioquia, e Paulo é conduzido por Barnabé, de Tarso
até lá (11, 19-26) Já em Antioquia começa a primeira missão de Paulo junto com
Barnabé. Nesta primeira missão (13, 2 – 14, 26), sendo enviados
pelo Espírito Santo[4] (13,4) saem
de Antioquia para Chipre(13, 2-5), onde, como de costume, anunciavam nas
sinagogas. De Chipre puseram-se a caminho de Antioquia da Pisídia(13, 13-14) e
mais uma vez se dirigem aos judeus na sinagoga. Também em Chipre foi a primeira
vez que se falaram aos gentios(13, 44-52). Foram perseguidos e se retiram de
lá, sacudindo a poeira de seus pés e foram para Icônio(13,51). Em Icônio
tiveram mais sucesso entre os judeus e gregos, mas também foram perseguidos e se
refugiaram em Listra e Derbe(14,5ss) e ali continuaram a anunciar a Boa Nova.
Lá ocorreu a cura de um aleijado. Por causa disso tiveram problemas, pois foram
confundidos com deuses(14,8-18). Nestas primeiras viagens, Paulo buscou formar
as comunidades e anunciar a Palavra de Deus, lançar os alicerces da fé em
Cristo. Terminada as viagens, voltaram, Paulo e Barnabé, passando por cada uma
das cidades antes visitadas: de Derbe para Listra, Icônio e Antioquia da
Pisídia (14,21). Da Pisídia chegaram à Panfília, Perge e Atália e de lá
voltaram para Antioquia, de onde tinham saído (14,24ss). Depois de alguns problemas em Antioquia, por causa de
circuncidar ou não os gentios, Paulo foi a Jerusalém para se reunir com os
Apóstolos e anciãos e resolver a questão. Tudo resolvido, voltou com uma carta
à Igreja de Antioquia(15, 1-35). Depois de alguns dias, Paulo propôs a Barnabé
de voltarem visitando as cidades por onde tinham passado, mas se separaram lá
mesmo. Barnabé queria levar Marcos e Paulo não concordou. Saiu assim Barnabé e
Marcos para Chipre e Silas passo a viajar com Paulo(15, 36-40). “Paulo
atravessou a Síria e a Cilícia, confirmando as igrejas.”(15,41)Tal era seu
método para a segunda viagem: ficar um pouco mais de tempo em cada comunidade
para dar direcionamento e estabilidade aos dirigentes e aos novos convertidos.
Foi para Derbe e Listra. Lá conheceu Timóteo, que passou a ser companheiro de
Paulo(16, 1-5). Abramos um
pequeno parêntese aqui para comentarmos dois versículos interessantes que
seguem no capítulo 16, v. 6-7. Na travessia da Ásia Menor, Paulo e seus
companheiros atravessaram a Frígia e a Galácia(v.6). Chegaram à Misia e
tentaram ir à Bitínia(v.7), mas em nem uma destas regiões, como o próprio autor
menciona, o Espírito Santo (Espírito de Jesus) os impediu de anunciar a
palavra. Na nota 4 deste presente trabalho, tentamos explicar um fato parecido,
mas isolado. Como explicação para este fato aqui mencionado, o que melhor
podemos dizer é que o autor faz uma releitura, à luz da fé, a partir de certos
acontecimentos e fatos que os cercavam ou um discernimento espiritual ou, até
mesmo, uma mudança de planos que parecia mais acertado que o primeiro. Não
descartamos aqui a ação direta ou indireta do Espírito Santo, mas queremos
apenas notar como tal ação poderia ter acontecido. Continuando a
viagem da segunda missão de Paulo. Por uma visão, Paulo decide ir para a
Macedônia. Embarcaram em Trôade e seguram em linha reta para Samocrácia, no dia
seguinte, para Neápolis e tomaram rumo de Filipos e lá ficaram alguns dias. E
Pregaram junto ao rio para algumas mulheres, entre elas Lídia.(16, 11-15) Lá
também foram perseguidos por libertarem uma mulher que tinha um espírito de
adivinhação e que trazia lucro para seus amos. Foram torturados e presos e
depois soltos por serem cidadãos romanos(16, 16-39). Chegaram a Tessalônica e
partiram a noite, pois corriam risco de perseguição, para Beréia. Novos
problemas, fizeram Paulo partir para Atenas. Lá esperou por seus companheiros e
pregou no Areópago(17, 10-34). Só encontrou seus companheiros em Corinto, para
onde foi depois de Atenas. Em Corinto, fundou a Igreja e foi entregue à justiça
pelos judeus, mas não foi condenado. Terminando assim sua segunda missão e
voltando para Antioquia(18, 1-22). “Passado algum tempo, partiu de novo e percorreu sucessivamente o território da Galácia e da Frígia, confirmando todos os discípulos.”(18,23) Conheceu Apolo em Éfeso e lá foi fundada uma comunidade (18,24 – 19,10). “Assim a palavra do Senhor crescia e se firmava poderosamente.”(19,20) Paulo, então, como método para esta terceira missão, se fixa em Éfeso, um lugar central e de lá trabalha de acordo com as necessidades das comunidades. Depois de um certo tumulto em Éfeso, partiu para a Macedônia, atravessando a região e chegando à Grécia, ficando ali 3 meses. Voltou para a Macedônia. “Foram seus companheiros de viagem:” Sópatro, Aristarco e Segundo, Gaio, Timóteo e ainda Tíquico e Trófimo. Deixou Filipos por mar e chegou em Trôade, onde seus companheiros o esperavam (20, 1-5). De Trôade para Mileto(20, 13-16). Voltou a Éfeso para se despedir dos anciãos. De lá navegou até Tiro onde ficou por sete dias (21, 7s). Então termina sua terceira missão chegando em Jerusalém( 21, 15-26). A conversão de Saulo De três maneiras Lucas nos apresenta o testemunho da conversão de Saulo(Paulo), onde podemos perceber certas particularidades em cada uma das narrações, mesmo sendo elas apresentações do mesmo fato. No primeiro texto (9, 3-9), o autor dos Atos é quem nos narra o ocorrido, em terceira pessoa do singular(ele). Nos outros dois textos, é o próprio Paulo quem conta sua conversão (22,6-11; 26,13-18). Nestes dois, podemos ver uma diferença ao contar o que lhe aconteceu no caminho de Damasco. Na primeira vez que conta seu testemunho, Paulo se restringe a apenas contar o fato se fugir muito do que Lucas já havia nos narrado, contando de maneira simples. Já na ultima, conta o fato acrescentando termos gregos como “É duro para ti recalcitrar contra o aguilhão”(26,14c) e justifica sua pregação aos gentios, dizendo que foi escolhido pelo próprio Jesus para tal missão(26,16b-18). Observando os três relatos, vemos a força da tradição quando ouvimos dizer que Paulo caiu do cavalo. Este fato não está contado em nem um dos três textos, mas mesmo assim se conserva esta idéia na tradição do povo. Montando um quadro sinóptico, ou melhor, colocando estes três textos em paralelo, podemos notar melhor as diferença e semelhanças entre eles. Veja Quadro Sinóptico abaixo. As cores indicam as diferenças e semelhanças entre os textos.
[1] Introdução dos Atos – A Bíblia de Jerusalém [2] Atos dos Apóstolos. Introdução da Bíblia TEB de Estudo [3] Ídem. [4] Diversas vezes Lucas apresenta a ação do Espírito Santo, ao que parece, para mostrar a importância da missão que não surge apenas como vontade da comunidade, mas também como motivação do Espírito
Autor: Marcos Lemos |
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