O Ecumenismo
Pós-Vaticano II
Talvez
este seja um dos assuntos mais falados nos dias de hoje. Com grande iniciativa
a Igreja preparou este projeto que é vontade de Cristo: “Promover a
reintegração de todos os cristãos na unidade(...) Embora a Igreja tenha sido
fundada por Cristo como única, diversas comunhões cristãs se propõem hoje como
a verdadeira herança de Jesus Cristo. Todos se dizem discípulos do Senhor, mas
têm sentimentos diversos e seguem caminhos diferentes, como se o próprio Cristo
estivesse dividido. Essas divisões, evidentemente, contrariam a vontade de
Cristo, são um escândalo para o mundo e prejudicam enormemente a pregação do
Evangelho a toda criatura”[1]. Assim
começa o Decreto Unitatis redintegratio,
do Concílio Vaticano II, que ajudou a fomentar esta discussão ecumênica,
tentando tira-la do papel. “Nesta Igreja de Deus, una e única, surgiram, desde
o início, algumas fissuras”[2]
– relembra a história. Toda esta divisão que vemos hoje e que vêm ao longo dos
séculos, causaram conflitos e perdas para todos. Neste Decreto a Igreja tenta
apontar alguns dos vários problemas e indica, como proposta, primeiro para si
mesma, soluções e atitudes a serem tomadas[3].
Faz menção às Igrejas Orientais, lembrando de suas tradições, disciplinas e
doutrina. Fala também de igrejas e denominações separadas no Ocidente[4]. É,
comparado aos outros documentos do Concílio, um documento pequeno, mas contem
um assunto vasto que merece nossa atenção e ação. Demonstra a preocupação da
Igreja diante das divisões e distâncias entre as diversas confissões cristãs.
“O Concílio deseja ardentemente que as iniciativas dos filhos da Igreja
Católica progridam em conjunto com as iniciativas dos irmãos separados, sem que
ninguém coloque obstáculo aos caminhos da providência nem prejudique às futuras inspirações do Espírito Santo”[5]. Junto
da proposta do Ecumenismo está a Nova evangelização e o Diálogo Religioso. Em
um artigo para a REB/47 de 1987, Pe. Frei Félix, OFM, faz uma abordagem
histórica, doutrinária e prática sobre o assunto, sob uma visão também de
protestantes e judeus. Lembra ele que o desejo de unidade não começou com o
Vaticano II. Já era forte em meio de lideranças evangélicas, principalmente
para missões[6]. E faz
importantes análises da doutrina conciliar sobre o Ecumenismo. Lembra
também de diversas iniciativas para o Ecumenismo no Brasil e na América Latina
como CESE e CONIC, mostrando como progrediu a causa ecumênica na vida e ação da
Igreja Católica. Este artigo foi muito feliz em suas análises e comentários. Um livro de vasto assunto trata da
Pastoral de Ecumenismo da Arquidiocese de São Paulo – Caminhos para a Unidade
Cristã. São Paulo, Ed. Paulinas, 1987 – formulado pela Comissão de Ecumenismo e
Diálogo Religioso (CEDRA). Conta com a ajuda de outras confissões cristãs –
Anglicana, Metodista e Luterana. Tem como objetivo ajudar a aprofundar no
conhecimento da problemática ecumênica. Foi dividido em seis partes, sendo a de
maior destaque a que trata da ação: “Questões Catequéticas a Pastorais”. Um
pouco sobre o Ecumenismo no Brasil escreve o Reverendo Zwinglio M. Dias, pastor
da Igreja Metodista Unida do Brasil. “A proposta ecumênica tem sido colocada e
pensada de forma unilateral em termos das relações entre a Igreja Católica e as
Igrejas protestantes mesmo quando se procura distinguir os diferentes níveis em
que se dão ou podem se dar essas relações.”[7] Muito
interessantes suas análises, pois trás e acrescenta uma visão do outro lado,
não católica. Conclusão: Destes
diversos textos que li sobre o assunto, Ecumenismo, me chamou a atenção a
primeira colocação do Revdo. Zwinglio, em seu artigo para a REB: “A
vivência ecumênica é um chamado à experiência pascal, pois coloca o desafio de
uma nova forma de ser Igreja para todas as propostas eclesiásticas ao longo dos
séculos. Por isso mesmo exige uma abertura decisiva às experiências culturais,
políticas e religiosas que nem sempre correspondem aos critérios estabelecidos
pelas formas eclesiásticas, institucionalizadas, embora não deixe de conter e
manifestar, à sua maneira, os valores fundamentais da proposta evangélica.” Todos
nós somos chamados a viver a proposta do ecumenismo. Este é o grande desafio do
nosso tempo, pois mexe com valores estagnados e que precisam ser mudados e
desacomodados para cumprirmos a vontade de Jesus Cristo: que todos sejamos um só
povo em seu amor. Os cristãos de todas as confissões, Igrejas diversas, não
podem viver desunidos buscando viver um mesmo ideal, pois assim se contraria
esta proposta de Nosso Salvador. Não
podemos dizer que é fácil ou será fácil. Só não podemos desanimar logo no início
da caminhada. “Um só povo” não é utopia humana, mas necessidade e realidade,
testemunho visível da presença de Cristo no nosso meio. “No mundo de hoje, em várias
partes da terra, sob o sopro da graça do Espírito Santo, muitos se esforçam
pela oração, pela palavra e pela ação, para alcançar a plenitude da unidade
almejada por Jesus Cristo.”[8] Trabalhando
juntos, por este mesmo ideal, buscando sempre no amor e no Espírito Santo, esta
esperança será alcançada. E posso até repetir: “... que as iniciativas dos
filhos da Igreja Católica progridam em conjunto com as iniciativas dos nossos
irmãos separados”[9]. Motivados
pelo amor a Cristo e ao irmão, caminhemos para o Ecumenismo. Fontes Bibliográficas: Concílio Vaticano II. Decreto Unitatis redintegratio. Roma,
novembro de 1964. NEEFJES, Pe. Frei Félix, OFM. A Nova Evangelização, o Ecumenismo e o Diálogo
Religioso. REB 47, 1987, p. 145. DIAS, Revdo. Zwinglio M. Ecumenismo no Brasil: Questões e
perspectivas. REB 44, 1984, p. 534. CEDRA. Caminhos para a Unidade Cristã. São Paulo, Ed. Paulinas, 1987. [1] - UR 1 [2] - UR 3 [3] - cf. UR cap. II [4] - cf. UR 14-18 [5] - UR 24.2 [6] - cf. REB 47 – 1987. p. 147 à 151 [7] - REB 44 – 1984. p. 535 [8] - UR 4 [9] - cf. nota 5
Autor: Marcos Lemos |
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