lutas, não tinham tempo para cuidar dos assuntos de ordem econômica. A monotonia da vida, em época de paz, só era quebrada pelos trovadores que iam de castelo em castelo recitando infinitas canções de gesta e os romances de cavalaria. No campo da química é impossível de não comentar a figura dos magos, dos feiticeiros, dos senhores das coisas ocultas. Estamos falando sobre os ALQUIMISTAS. Esta "arte divina" floresceu em Alexandria por espaço de três séculos. Ela cessou por ordem de um imperador chamado Dioclesiano no ano de 292 d.C., que mandou queimar todos os escritos sobre este tema. Ressurgiu no Oriente e quando veio à Europa, muito havia se perdido. Os árabes proporcionaram avançados estudos práticos neste tema. Talvez o maior dos alquimistas árabes tenha sido Abu Musa Jabir ibn Hayyan al Suffi, conhecido por Geber (VIIId.C.). É do Oriente que veio um livro tomado por base pelos ocidentais, escrito por Rhazes chamado de "O Livro dos Segredos". Não se esqueça da dominação oriental na península Ibérica, por 5 séculos aproximadamente, que contribuiu para que a alquimia se transforma-se em ciência e fosse chamada de química. Na Idade Média, os alquimistas procuravam resolver o velho sonho de encontrar a pedra filosofal, substância que se supunha ter o poder transformar qualquer metal em ouro puro. Procurava-se também um elixir capaz de curar todas as doenças. Foi nesta procura que estes artistas descobriram muitos medicamentos, propriedades de muitos metais, ácidos, bases sais e óxidos. Conheciam o alumínio (Geber, Paracelso); Antimônio (Plínio, Geber, Basil Valentine); Arsênio (Alberto Magno); Bismuto (Basil Valentine); Boro (Latinos e Árabes); Cádmio (Plínio); Cálcio (desde antes dos Gregos); Carbono (desde antes dos Gregos); Chumbo, Cobalto, Cobre, Enxofre, Estanho, Ferro, Hidrogênio, Manganês entre outros. Tinham emprego prático o sal comum (NaCl), o Zinco junto com cobre para confecção de uma liga metálica chamada latão. Especial fascinação os alquimistas tinham pelo mercúrio, que acreditavam ser através deste metal líquido, um meio à pedra filosofal, e o ouro, a obsessão principal. Neste período é que se inventaram os frascos, os utensílios usados nos laboratórios de química até hoje. O frasco de destilação (lopas) está coroado por uma garrafa provida de cano (ambix) formando o que mais tarde os árabes chamaram de alambique. O kerotakis era um braseiro para carvão vegetal que aquecia uma chapa metálica usada para sublimação. Diz-se que muitos desses aparelhos foram inventados por Maria, a judia (a quem foi atribuída a invenção do banho de vapor, ainda conhecido entre nós como banho-maria), parte de cujos escritos foram conservados por Zózimo.
É na Idade Média que surgem as Universidades. Em 1254, Robert Sorbon, capelão de São Luís, comprou um terreno em Paris e aí fez edificar um colégio, a que chamou "Sorbonne". Imitando os franceses, os demais povos da Europa também iniciaram as fundações colegiais em benefício dos estudantes, dentre as quais se tornaram célebres a de Oxford (Inglaterra) e Bolonha (Itália). Não eram como as conhecemos hoje, uma reunião de cursos de capacitação, mas corporações de estudantes e professores, reconhecidas pelo estado, que disseminaram os conhecimentos da época.
Pense um pouco agora. Você acha que um sistema destes, em que o povo era notoriamente ignorado em suas necessidades básicas, como saúde, bem estar, educação (não pense que as universidades resolveram o problema). Os vassalos plantavam e praticamente davam tudo aos nobres e ao clero. Havia também a Santa Inquisição, que controlava o pensamento e atos de todos. Cientistas que descobriram coisas que confrontavam com a Santa Igreja, eram queimados ou se calavam. Você acha que um sistema destes persistiu por muito tempo? Bem, faça os cálculos: de 476 até 1453, são 977 anos. Mais de nove séculos com uma sociedade vivendo desta maneira! Nove séculos de uma economia parada, nove séculos de mortes e crueldades. Nove séculos em que a ciência praticamente parou, retrocedendo talvez alguns séculos atrás. De uma filosofia e ciências em progresso, a humanidade mergulhou no marasmo e no misticismo novamente. Mas acabou quando Maomé II (1430-1481) cercou Constantinopla. Este é o marco histórico que fincou estaca na Idade Média. É óbvio que não foi de uma hora para outra que isto aconteceu, e sim, um processo lento, cujo fato importante é a fuga dos sábios e artistas gregos para a Itália, onde então se desenvolveu o gosto pelas artes e ciências. Está percebendo para onde vamos na história agora? Será que é preciso dizer mais? Bem... lá pelos idos do século XII em diante, a situação dos camponeses começou a melhorar com as Fraternidades. Os camponeses fugindo da opressão, fundavam os burgos, que eram cidades livres, onde o comércio pululava e novas perspectivas se faziam abundantes. As concessões e franquias abertas pelos nobres, começavam a tornar-se freqüentes, enfraquecendo esta casta e tornando mais fortes os burgueses (os que habitavam os burgos), preparando o caminho para a Idade Moderna. Estamos no início da Renascença.
Ah! Idade Moderna. É nesta época que o homem realmente fez avanços fantásticos em todas as áreas. É deste período que vieram do oriente muitas idéias que fizeram a Europa precipitar em cultura. É claro que a humanidade chegou onde chegou pelas participações dos seus antepassados, mas a Idade Moderna foi "da hora"! Foram várias as mudanças político-sociais que fizeram a transição, tais como a dinâmica da economia, o teocentrismo dando lugar ao antropocentrismo, acentuado poder real, e várias também as invenções: pólvora, papel, imprensa, bússola, caravela. É deste período que temos nomes célebres como: Fernão de Magalhães, Colombo, Vasco da Gama, Johann Gensfleich Gutenberg, Américo Vespúcio, Botticelli, Leonardo da Vinci, Rafael Sanzio, Mighelangelo Buonarrotti, são marcantes. O Renascimento surgiu na Itália, mais precisamente em Florença. Quanto a química, podemos considerar Robert Boyle o fundador da ciência química estudando-a como única finalidade e não para transformar metais ordinários em ouro ou para encontrar o elixir da vida eterna. Introduziu o método experimental em bases rigorosas para comprovação exata das teorias e fatos. Foi ele quem deu derrocada às doutrinas gregas dos quatro elementos e dos alquimistas da idade anterior. No fim do século XVIII foram descobertas novas substâncias, principalmente por Karl Wilhelm Scheele (Suécia). São atribuídos a ele a descoberta: do cloro, ácido clorídrico, ácido arsênico, ácido láctico, ácido oxálico, ácido cítrico, ácido tartárico, ácido tungstico. Outro químico importante é Joseph Priestley ele preparou em estado puro, com instrumentos que inventou e aperfeiçoou, o oxigênio, óxido nítrico, gás clorídrico, dióxido de enxofre, tetrafluoreto de silício, amônia e óxido nitroso. Seu maior papel foi na descoberta do oxigênio que derrubou a teoria do flogístico (mas ele mesmo era simpático ao flogistico). Outro de importância enorme chamava-se Antoine-Laurent Lavoisier. Este homem acabou com Stahl e o seu flogístico, em 1789 no seu Tratado Elementar de Química, em que fala das suas experiências com calcinação de metais e outros elementos. Ele observou que o aumento da massa não é por perda do princípio inflamável, mas sim pela absorção de uma certa quantidade de ar (mais precisamente de oxigênio). Sempre havia uma redução do volume gasoso, que ele sabiamente soube perceber através dos métodos rígidos de medição da massa. Foi ele quem nos forneceu a noção precisa de elemento e substância pura, a lei da conservação da matéria (Na natureza nada se perde, nada se cria. Tudo se transforma.), a generalização da idéia de ácido, óxido e sal e a nomenclatura química juntamente com Guyston, Morveaus, Fourcroy e Berthollet. Os trabalhos de análise quantitativa, ajudaram Proust a estabelecer a lei das proporções fixas, e foi através destas leis e observações que Dalton estabelece a sua teoria atômica em 1808. Os pesos atômicos de quase todos os elementos foram calculados por Berzelius. Avogadro (lembre de 6,02 x 1023) diz que todos os gases têm um número igual de moléculas se observado um mesmo volume. Ele também estabeleceu a diferença entre molécula e átomo.
Como se vê a Idade Moderna, a Renascença, trouxe-nos uma noção mais ampla do mundo e fez o homem avançar intelectualmente.
E hoje em dia?
A química esta presente em tudo o que fazemos. Os avanços proporcionados à humanidade por este segmento do conhecimento humano são fantásticos. Os supercondutores, os polímeros, combustíveis, pigmentos, tecidos sintéticos, peles sintéticas, pastas de dentes, shampoos, detergentes, cosméticos, etc.
É óbvio que nem tudo é lindo e maravilhoso. O uso dos conhecimentos em química já trouxe ao homem problemas sérios. O mal uso da química por homens sem escrúpulos causa danos à natureza, ao próprio homem, ao planeta como um todo.
O lixo químico é um problema que tem proporções alarmantes. A poluição causada pelas indústrias assusta qualquer pessoa, mesmo que não seja um cientista. As usinas nucleares que usam a fissão nuclear são tecnologias, que ao meu ver, deveriam ser repensadas quanto a segurança (lembra de Chernobyl?).
Cabe a nós, cidadãos comuns não deixarmos que tais coisas fujam do controle e nos ameace. O bom uso da química é possível e hoje é uma realidade cada vez maior, começando por nós mesmos. Exigir dos pecuaristas carnes sem hormônios, "sprays" sem CFC (Cloro, flúor carbonos que atacam o ozônio), mais segurança onde se usa dispositivos radioativos, exigir das indústrias apenas produtos biodegradáveis, computadores com tecnologia "green", meios de transporte mais limpos, exigir dos agricultores que combatam às pragas sem usar agrotóxicos, etc.